Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 69
No Escuro Ele Vem




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Ao chegar à mansão Voiculescu, o garoto não queria fazer outra coisa a não ser cair sobre o colchão e adormecer no intuito de esquecer-se de que aquela noite realmente existira, mas seria impossível, ela iria lhe assombrar pelo resto de seus dias e em seus sonhos o rosto dela tão meigo e tranquilo estaria, pois naquela noite esteve tão próximo de cometer algo que jamais se perdoaria.

Subiu silenciosamente as escadas e antes de tocar na maçaneta da porta do quarto principal, onde dormia junto de Andreea todas as noites desde que se mudara, ouviu uma voz sussurrante e rouca, um tom semelhante a uma voz masculina, porém não conseguia distinguir de quem poderia ser, e logo depois a voz trêmula e cansada da viúva também murmurante, entretanto conseguia saber o que ela estava dizendo, colocou o ouvido sobre a madeira para poder ouvir melhor.

______... Faça o que quiser comigo, mas não deixarei que nada aconteça a ele... Pode me matar, mas nunca o terá, ele nunca será seu... Nunca...

Aquelas palavras soaram estranhamente, Damian não compreendia o que aquilo significava e com quem Andreea estaria conversando. Repentinamente o rapaz abrira a porta e para sua surpresa não encontrou nada nem ninguém ali, exceto a mulher olhando para ele com uma expressão de espanto.

___ Oh, Damian, que bom que está aqui, meu querido!

___ Quem estava aqui?

___ O que?___ indaga a viúva sem entender a pergunta.

___ Estava falando com alguém, um homem, onde ele está?

___ Não há ninguém aqui, draga mea.

___ Pude ouvir claramente por detrás da porta, estava conversando com alguém.

___ Isto é apenas fruto de sua imaginação, meu bem, pode verificar, não há ninguém aqui.

Petrescu dirigiu-se até a janela aberta e olhou para o horizonte, tudo ao seu redor era apenas silêncio e escuridão, então fechando cuidadosamente as vidraças e puxando as cortinas, indagou:

___ Por que a janela ainda estava aberta?

___ Nenhum dos empregados entrou para fechá-la, estava com tanto frio.

___ Precisa de alguma coisa?

___ Uma taça de vinho seria ótimo.

___ Eu já vou trazer para você.

___ Ah, muito obrigada, meu querido.

Damian desceu até a cozinha, precisamente até a adega onde havia dezenas de garrafas de vinho, um de cada país e de diferentes anos, os mais saborosos eram os que vinham da Itália, eram seus favoritos, mas também desenvolvera uma “paixonite” pelos oriundos da Espanha, pegou uma garrafa e despejou o líquido dentro de uma taça de cristal que pegara no armário, eis que ouviu a voz fina de uma das criadas perguntando:

___ Ele já foi?

O adolescente se virou e viu que a mulher estava amedrontada, encolhida junto à porta da adega.

___ Quem já foi?___ inquiriu o rapaz, curioso.

___ O homem mau.

Franzindo a testa em desentendimento, o menino indaga:

___ Que homem mau?

___ Ninguém aqui nunca viu o rosto dele, mas escutamos sua voz na quarto da senhora e sempre quando ele vem alguma coisa ruim acontece, da última vez que esteve aqui, o jardineiro Radulet morreu.

O ferreiro ouviu atentamente o relato da empregada, suas palavras saíam roucas com um tom de suspense e seus olhos arregalados tão negros quanto a noite apontavam para o adolescente, porém não conseguiu entender, mas uma coisa era certa, não fora o único que ouvira uma voz no quarto de Andreea.

___ Você acha que esse homem matou o jardineiro?___ perguntou Damian demonstrando interesse às palavras da criada.

___ Sim, senhor, ouvimos de novo a voz dele e passos pela casa e na manhã seguinte, a senhora estava doente.

Damian percebeu que havia pânico na voz da criada e sentia que estava falando a verdade, arriscou fazer mais uma pergunta:

___ E quando ele vem?

___ Antes do senhor se mudar, ele vinha todas as noites, agora ele só vem quando o senhor não está e quando o senhor chega ele vai embora.

O silêncio do jovem indicava confusão, não podia compreender tal qual relato, pois nunca havia ouvido ou visto nada de estranho desde que se mudara para aquela mansão, exceto seus incomuns devaneios, mas já estava acostumado, pois os tinha desde criança.

___ Ninguém nunca o viu?

___ Apenas uma pessoa, senhor.

___ Quem?

___ O jardineiro Radulet.

Ficara espantado com a resposta da humilde mulher.

___ Ele por acaso chegou a descrevê-lo?

___ Não teve tempo, o homem mau foi mais rápido.

Um breve silêncio se formou na cozinha, o garoto não soube o que dizer, não estava entendendo, tudo isso lhe parecia tão estranho que por um momento poderia julgar que era apenas fruto da imaginação daquela criada, mas era fácil de ver o mortal medo nos olhos dela.

___ Por favor, senhor, não nos deixe! Quando a noite cai ele vem, não nos deixe, senhor, por favor, não nos deixe...

___ Mary? O que está fazendo acordada a esta hora? Amanhã será um longo dia, vá logo dormir antes que eu informe à senhorita Voiculescu de que está tendo um péssimo comportamento ___ disse o mordomo com ar sombrio surpreendendo-os de maneira soturna e silenciosa.

___ Desculpe, é que eu...

___ Não quero ouvir nem mais uma palavra sua, vá agora.

___ Sim, senhor.

A empregada retirou-se cabisbaixa e em silêncio.

___ Perdoe-me por isso, senhor Petrescu, estes empregados não conseguem saber quais são seus devidos lugares.

___ Tudo bem ___ respondeu o rapaz encarando o homem atentamente, porém sem muito se importar com suas feições, estava cansado demais.

Subiu até o quarto levando consigo a taça cheia até a boca do rubro e doce vinho, entregou-a a viúva que bebeu até a metade.

___ Está delicioso, obrigada, querido.

O garoto despiu-se e deitou do lado direito da cama de frente para a porta, até que ouve a voz da mulher dizendo:

___ Me abrace, Damian, por favor.

Ele então virou-se e a envolveu docemente em seus braços, procurou fechar os olhos e adormecer, mas o restante das horas se seguiu lentas e a noite parecia interminável, o jovem conseguiu pegar no sono apenas na última hora antes do sol nascer.


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