Os guerreiros se entreolharam enquanto foram tomando distância, a raiva que o adolescente sentia do amigo era mais forte que ele, sentiu um certo poder percorrer-lhe as veias como um líquido quente e energético quando retirou a espada da bainha e levantou-a em direção ao céu.

Todos sentaram-se em seus lugares e em silêncio começaram a assistir ao torneio, seus olhos arregalados para que nada, nem sequer um mísero movimento passasse despercebido.

Um correu em direção ao outro e com um golpe no qual as duas espadas se tocaram e tremeram soltando um ruído metálico deu-se início à competição. Movimentos leves e sincronizados como em uma dança, ninguém estava aflito, como o próprio nome da modalidade dizia, nada era real, era apenas um divertimento saudável entre os jovens, um delicioso entretenimento que ainda possuía premiação.

O público calado, alguns até cochichavam com a pessoa ao lado, mas ninguém emitia sons altos, estavam entretidos, atentos, ansiosos aguardando quem seria o vencedor, ouvia-se apenas os sons metálicos dos golpes e algumas vezes até nada se via por causa da poeira que subia e como uma cortina, ocultava os corpos dos adversários permitindo ver apenas suas silhuetas amarronzadas.

Golpes leves e treinados, ambos ensaiaram o inverno todo para este dia, tudo estava saindo conforme o combinado, pelo menos era o que Tristan pensava. Estava concentrado, acertando o amigo levemente para não feri-lo e mesmo que o ferisse não seria nada sério, apesar das espadas serem de ferro não possuíam fio, eram apenas feitas para esta ocasião.

Damian não estava conseguindo dominar seus pensamentos, as imagens criadas por sua mente o estavam enlouquecendo, o que poderia haver entre Tristan e Rosalind naquela noite? Por que ela foi destinada justo ao seu melhor amigo? Lutava para manter o foco na disputa, porém estava fraquejando, não conseguia parar de pensar em ambos juntos banhados pela noite, a noite na qual lhe era tão terna e acolhedora quanto uma mãe e agora era tão perversa e cruel quanto uma feiticeira.

E se Tristan ganhasse? Além de levar duas mulheres para a cama entre elas a garota pela qual o herdeiro Petrescu morria de amores, levaria também o carinho do vilarejo, algo que se arrastaria até o ano seguinte, não podia deixar que isto acontecesse, já perdeu sua amada donzela para o amigo naquele dia, não perderia sua honra.

Estava cada vez mais difícil manter a concentração nos golpes, nos movimentos, tantos pensamentos lhe atormentavam, cortavam sua atenção como o gume afiado de uma adaga de prata, uma linda e refulgente adaga cravejada por um único rubi tão vermelho quanto o sangue, um lindo e escarlate rubi bem no centro de seu punho...

Não importava em que pensasse, todas as suas fantasias e pensamentos seguiam apenas por um único caminho que terminava na nítida imagem da adaga de prata, aquela arma pequena e ainda em processo de fabricação lhe atormentava desde o dia em que aquele rico e desconhecido sujeito a encomendara, por quê?

Damian sentiu leve em suas costas, algo irrelevante todavia que o fizera voltar a si espantando-lhe estes pensamentos, olhou à sua volta, estava caído no chão de areia, a espada estava longe de sua mão, porém o escudo ainda permanecia junto ao seu tronco, fitou Tristan, a imagem estava um pouco distorcida, sua cabeça latejava e a poeira que subia fazia o burguês flutuar num espaço entre a realidade e a fantasia, um lugar que existia apenas dentro da mente do ferreiro, Dumitrescu estava sorrindo para o público que aos poucos ia levantando-se para aplaudi-lo, gritos afogados, pois parecia que o jovem estava debaixo d’água e sorrisos por todos os lugares contemplando o vencedor daquele irreal duelo.