Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 111
Você Não Vai Se Livrar de Mim...




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Damian sentou-se novamente na poltrona que era de seu pai, ficou em silêncio pensando, resolveu aproveitar a morte que por todos os cômodos passeava, ela estava em cada canto daquele lugar, liberava seu cheiro pútrido e repulsivo por onde se esgueirava e agora este aroma estava abraçando-o de forma tão terna, o enfeitiçando calidamente. A dor havia atingido seu ponto mais alto e finalmente... Havia sumido.

Nada mais doía, exceto seu ombro deslocado. Sua mente esvaiu-se em deleitosa harmonia interior como o arco-íris que surge após a tempestade. O ar quente que saía de suas narinas que aquecia seus lábios era ameno como uma brisa, suas pálpebras se abriram como janelas a contemplar o céu azul. Foi então que Damian pôde sentir, pôde saber... Estava vivo.

Ateara fogo em tudo, móveis e paredes sendo ardorosamente envolvidos por mortais chamas, todas as lembranças boas, ruins e trágicas estavam ascendendo com a fumaça, quanto às cinzas... Elas também iriam embora, para algum lugar onde nada poderia nascer delas.

Pegara um cavalo no estábulo, o moço encarregou-se de tomar extremo cuidado para que o fogo não atingisse outro lugar senão a moradia, antes de montar, Damian voltara seu ombro no lugar exalando um rápido gemido e logo após um suspiro de alívio. Cavalgou rapidamente até a mansão Voiculescu.

Chegando lá, decidiu passear um pouco pelo palacete, a presença da morte ainda estava por ali e naquela noite era a coisa mais sublime que já pôde sentir em toda a sua vida. À esta altura a prostituta já devia ter ido embora, não podia sentir o cheiro de seu sangue pela casa, mas ainda sentia o da outra meretriz, o odor vinha da sala de estar, correu para o cômodo e surpreendeu-se ao não encontrar o corpo da garota sobre o rico tapete.

Por um momento elogiou Grigore mentalmente, a sua capacidade de ser tão rápido e caprichoso, soturnamente preciso e calculista, assim fora com Tristan, com a empregada, com Viorica e agora com esta pobre e desconhecida meretriz, seria Damian capaz de pensar em cada detalhe se fosse presenteado com a imortalidade? Talvez não, um jovem tão perdido e confuso como ele entraria em pânico, precisaria de um alguém tão sábio e paciente ao seu lado lhe auxiliando em tudo.

Sentou-se na poltrona, o móvel em que ficara cara a cara com o próprio pai há apenas algumas horas, o cheiro de Benjamin estava naquela sala, estava em seu corpo, o rosto dele iluminava-se nos quatro cantos, até quando fitava o transparente vidro da janela podia vê-lo, os olhos azuis e brilhantes em meio ao luar... E nas profundezas do silêncio, nascia o som irritante de seu sarcástico riso ecoando por todo o local.

Tudo, das paredes aos móveis gritavam o nome de Benjamin Grigore, a voz que ouvia chamando era de si próprio, como se na escuridão pedisse para ele voltar. Fechou os olhos para ouvir melhor os chamados, era sua voz, tão branda e suplicante, viu-se então deitado em sua cama, em seu quarto, em sua casa, era mais uma noite de tempestade, raios e trovões que faziam tremer seu pequeno e frágil corpo que carregava apenas 10 anos em seus ossos.

Como se projetasse as imagens, porém com uma realidade absurda, estava lá contorcendo-se entre os lençóis, perdido na morbidez de um pesadelo, um nome saía de sua boca...

Benjamin... Benjamin... Benjamin...

E mesmo mergulhado no mais profundo sono, sentia os olhos amargurados de Grigore pousando sobre seu corpo e sussurrando-lhe sua tão conhecida e tranquilizante canção de ninar. Podia ouvir claramente o sussurro grave ao pé d’ouvido, só assim voltava a dormir. Sempre soube desde o princípio, ele era sua fraqueza e sua força, sua alegria e sua tristeza e ao terminar o último verso da cantiga, sempre a mesma frase:

Você não vai se livrar de mim...


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