Os olhos de Damian se levantam novamente, havia calma e sanha, ambas confrontando e unindo-se ao cálido brilho azulado.

___ Ele não era meu amigo ___ uma voz rouca e certa, fora assim que emitira sua resposta.

___ O que tens a dizer, então? Parece que o frágil e tolo Damian agora é um assassino ___ Grigore tapara a boca numa expressão de espanto um tanto irônica ___, e se descobrirem? Oh meu Deus, virão atrás de você, o deixarão apodrecer na cadeia ou... Até coisa pior, pior do que se pode imaginar.

___ Mas eu não queria... Eu...___ sua voz trêmula e amedrontada retornara.

___ Tolice, meu caro! É claro que queria, dava para sentir seu sangue borbulhando cada vez que lançava um olhar na direção de Tristan e de sua bela Rosalind, você o devorava até os ossos com estes venustos olhos azuis tão idênticos aos meus.

As palavras de Grigore faziam a dor voltar mais forte, a confusão e a tristeza se enroscavam como em um ninho de serpentes, um estranho nervosismo percorria-lhe o corpo acompanhado de um desconfortável calor, o calor do ódio e da culpa, ambos se tornando apenas um.

___ Eu não queria, ele me provocou, foi um impulso e quando menos percebi...

___ O sangue dele estava em suas mãos ___ concluiu Ben ____, agora você entende como é? Sabe como me sinto? A fome e a sanha são coisas incontroláveis para um vampiro, um forte e dominador estado de transe e quando menos se espera... Há sangue e carne em suas mãos e o sabor doce da vida em seus lábios. Você sempre soube, Damian, só era fraco o bastante para se deixar convencer. Foi assim com Mihaela, com Viorica e com Tristan... Você amou e odiou e não parou enquanto não estivessem inertes em seus braços.

___ Viorica? O-o que houve com ela?___ perguntou o ferreiro atento ao olhar do outro.

___ Não se lembra da noite em que ambos estavam deitados em seu quarto, você lhe proporcionando prazeres de que nem ao menos ouvira falar, até que não pôde resistir à sua pele tão jovem e ao seu sangue tão inocente?

Como um dia claro surgindo por detrás de nuvens cinzentas, tudo começara a se esclarecer e aquela noite agora lancinava em sua mente, cada segundo era um golpe fatal em seu crânio como se os vivesse em tempo real, sentia-se tão fraco e dolorido, àquelas lembranças só lhe deixaram pior.

O moço não mais sentia o chão sob seus pés, sentou-se no sofá com uma das mãos pousadas suavemente sobre a testa, as sobrancelhas franzidas, emitira um fino gemido de dor, estava tudo ali bem dentro de sua cabeça, o calor e maciez de sua jovem cútis, o gosto agridoce do sangue dela e o soturno semblante de Benjamin ao flagrá-lo a tempo. Tudo girando e acontecendo de novo. Olhou para o lorde e vira que sua face estava paciente, apenas esperando que dissesse algo tão óbvio e que pudesse responder com ainda mais clareza.

___ Como surgira em meu quarto naquela noite?

___ Já disse... Eu nunca me afastei de você, mesmo quando pensava estar sozinho, era quando eu mais estava próximo...

___ Disse para esperar na carruagem que cuidaria dela.

___ E eu cuidei.

___ Você a matou!___ gritou Damian levantando-se subitamente e sem tirar seus olhos dos de Grigore.

___ Não, draga mea, você a matou ___ respondeu Ben com sua estranha placidez.

___ Não, eu...

___ Você se alimentou dela, se não fosse movido por este seu lado humano e deixasse o vampirismo falar mais alto, saberia que mais alguns segundos e a respiração dela cessaria.

___ Mas você disse que não fora uma ferida grave ___ defendeu-se mantendo o controle das lágrimas.

___ Eu apenas não quis assustá-lo.

O olhar do adolescente fitou um ponto inútil do lugar, apenas repassando a cena em sua cabeça mais uma vez, como se ainda não soubesse do que se tratava, apenas para fugir do olhar de Grigore.

___ Se eu não tivesse chegado a tempo... Sua primeira refeição teria sido um completo desastre.

Benjamin percebeu quando o filho voltou o rosto para si, havia dúvida envolvendo suas brilhantes safiras.

___ Não podemos beber sangue morto, adoecemos e teríamos de repousar por um longo período ___ explicou ele ___, aprendi da pior forma possível.

___ O que fez com ela?

___ Sabia que tinha um grande carinho por aquela criada, meu de tineri, enterrei-a no jardim entre as flores murchas, pelo menos nada nem ninguém violará sua memória.

___ E meu pai, como ele não desconfiou do sumiço de Viorica?

___ Eu o convenci de que ela havia fugido, estava desolada pela morte da mãe e pela sua partida, não mais queria continuar nesta casa ___ dizia Ben tentando controlar um satisfatório sorriso que queria brotar em seus lábios.

___ Como pôde fazer isso?___ perguntou Damian boquiaberto com os fatos.

___ A eternidade nos dá dons incríveis, meu de tineri... Pode deixar um humano sob controle com apenas um toque, um sussurro, um olhar... Eu o fiz esquecer, eu fiz todos esquecerem.

___ Você é um desgraçado... Eu odeio você, odeio toda esta tua raça imunda de mortos-vivos que atormentam o mundo! Onde quer que vá, não importa quando... Eu irei encontrá-lo e tirarei a cabeça de seu corpo, é uma promessa que farei questão de cumpri-la.

___ Por que não tenta fazer isso agora? Eu não vou fugir...