Eskalith escrita por haru


Capítulo 3
Paredes desbotadas


Notas iniciais do capítulo

(por favor, nunca, em hipotese alguma, levem a sério os nomes dos cap, pff D:).
Eu estou um pouco insegura sobre esse cap. eu havia terminado ele atarde, e quando fui postar meu pc reiniciou e tive que re-escrever tudo! (céus, conspirações do alem nao queria que eu postasse o cap, só pode).
enfim.
Espero que agrade :3



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Eu não tinha muito o que fazer em casa. Meu apartamento estava quase todo vazio. Em minha pequena sala, havia um carpete piniquento e de cor horrível amarelada, o qual eu frequentemente chutava para um canto, preferindo me sentar no chão; um sofá velho, de cor avermelhada escuro, e um odor insuportável, uma mistura de suor e mofo, muito empoeirado; e um pequeno raque, onde havia uma televisão de 14 polegadas -não muito velha, mas a poeira a consumira tanto que lhe dava um aspecto de antiga - e alguns dvds falsificados espalhados, grande parte fora de suas capas. Havia também alguns livros sobre física e informática e alguns pratos e tigelas sujas, da qual eu nem me lembrava quanto tempo estavam lá. No chão, havia ainda mais poeira e várias meias e pares de tênis surrados espalhados. Eu usei os pés para tirar os que eu estava usando e chuta-los para um canto.

Minha mochila também foi deixada no chão, ao lado do raque. Eu não tinha animo nenhum para fazer nenhuma espécie de limpeza, e nenhum dinheiro para gastar com faxineiras. Shigeto parou na porta e olhou para tudo com ar de desaprovação. Seus dedos finos passaram pelo raque quando ele entrou, vendo a camada de sujeira que ele havia tirado.

– Você nunca vai limpar isso, não é?

– Shigeto, se esta tão incomodado, fique a vontade para limpar quando quiser - respondi, me sentando no chão, puxando o controle de debaixo do sofá e ligando a tv. Nunca passava nada que realmente prestasse, mas eu não gostava do silencio.

Shigeto foi até a janela. Eu o observei olhando para fora, como se esperasse ver alguma coisa "nova". Antes que eu pudesse abrir a boca para perguntar o que diabos ele estava fazendo em meu apartamento, ele falou:

– Suzuno Fuusuke, não é?

Meus olhos se arregalaram para ele. Shigeto me olhou por cima do ombro, como se esperasse ver alguma reação suspeita de mim ao ouvi-lo dizer o nome de Suzuno.

– O que tem ele? - perguntei, tentando disfarçar qualquer sentimento de nervosismo que eu poderia sentir.

– Me diga você - ele se virou. A luz da lua entrava pela janela, mas era ofuscada pela luz da lâmpada, mesmo assim, eu podia ver um certo brilho azulado nos cabelos brancos encardidos de Shigeto, como se eles estivessem brilhando. Ele me olhou como se esperasse que eu lhe contasse algo. Assim como um pai olha para o filho, quando descobre que o mesmo fez algo que não devia, ou pretendia fazer, e estava esperando que a criança confessasse- Você tem agido um pouco estranho desde que ele apareceu.

Arranquei a camisa e a joguei no sofá logo atras de mim. Olhei para ele com desinteresse, como se ele houvesse falando alguma idiotice sem importância, da qual eu já estava acostumado a ouvir. Mas a verdade é que eu estava um pouco surpreso. Eu não havia notado que estava agindo tão diferente a ponto de Shigeto notar, e ainda pior, saber do que se tratava, de alguma forma.

– Eu não sei do que você esta falando.

Ele fez uma careta.

– Tudo bem, se não quer falar sobre isso - ele andou até a porta, e voltou a se virar para mim - só espero que saiba o que esta fazendo, dessa vez.

– Você se preocupa atoa.

Shigeto lança um olhar para mim, e depois para o trinco quebrado da porta.

– Você devia arrumar isso antes que alguém se machuque - ele sai.

Olhei para minhas mãos. Havia vários pequenos ferimentos.

Houve um tempo em que eu não me sentia tão entendiado em meu apartamento. As paredes desbotadas, cor de pêssego, nem sempre foram alguma preocupação para mim. Mas, como eu era incapaz de ter um emprego fixo, foi necessário vender meu computador e meus jogos, e qualquer tipo de laser que eu tinha em minha casa foi sacrificado para que eu pudesse continuar tendo uma.



Acordei cedo na manhã seguinte e fui procurar um emprego. Não importava o quanto eu me esforçasse para arrumar meu cabelo, ou se eu estava usando meu par de roupas mais "social e descente", as pessoas no ônibus continuavam me lançando olhares desagradáveis.

Tentei ignorar o sentimento de mesmice que eu sempre sentia ao andar pelas ruas de sempre. Era uma cidade pequena, não havia para onde fugir. O centro da cidade era repleto de pessoas que eu tinha a impressão de ver todos os dias. Talvez porque todo mundo era tão igual? Como se fossem as mesmas pessoas que eu encontrava a caminho da padaria, nas manhãs em que eu tinha uns trocados e alguma disposição para andar dois quarteirões por alguns pães. As mesmas que eu via ao pegar o ônibus de casa para a escola e vice-versa. As mesmas que eu podia ver da janela do meu apartamento.

De qualquer forma, havia sido uma manha perdida e eu continuei sem emprego. Parei em uma birosca qualquer e comprei o que dava para comer, e fui direto para a universidade.

No caminho, alimentei minha nostalgia ao passar pela escola que costumava frequentar no ensino fundamental. Ela era grande e fora recém reformada. Agora sua cor era um verde escroto, quase marrom, meio acinzentado. Eu jamais saberia o nome daquela cor infeliz. Costumava ser um prédio laranja e branco, muito sujo e desbotado, mas aquilo dava a ela um "ar" de escola animada, ou pelo menos é o que você pensava quando era mais novo.

Segui meu caminho me sentindo um pouco decepcionado. A melhor parte de minha infância se passou naquele prédio. Quando eu era uma criança irritante e mais baixa que a maioria dos meus colegas de classe. Eu arrastava Shigeto comigo para todo o canto, e vivíamos reclamando de nossas vidas. Mal sabíamos o quanto eramos felizes naquele tempo. Sem responsabilidades, sem compromissos. Não precisávamos correr atrás de trabalho, ou pagar aluguel. Tínhamos tempo para correr na rua e jogar bola, cair e ralar o joelho.

Minha avó, a pessoa que me criou, sempre fazia meus caprichos, ou ao menos, até onde sua condição financeira permitia. Eu era um garoto mimado e briguento, pirracento, ridículo. Se ela ainda estivesse viva, provavelmente diria como eu cresci, e mudei, mesmo que no fundo, ambos teríamos certeza que eu sou o mesmo de sempre, só que sem as mordomias que eu tinha. Ela provavelmente enlouqueceria se visse a situação de meu quarto, e reclamaria por eu não parar em um emprego. Pensando bem, ela agiria de forma semelhante a Shigeto.

Foi naquela escola que eu conheci Hiroto também. Ele é uma espécie de "pior Melhor Amigo" que eu poderia ter. Sempre se sobressaia em tudo que fazia, e eu sentia como se sempre ficasse em segundo lugar. Eu o odiei boa parte de minha infância, pelo fato dele sempre aparecer e me impedir de fazer alguma besteira. Pelo fato dele ser tão inteligente e das pessoas simpatizarem com ele com muita facilidade. Pelo fato de que ele era tudo que eu nunca poderia ser.


Havia vários alunos na entrada da universidade. Muitos parados, jogando conversa fora, outros entrando e saindo. Faltava alguns minutos para as aulas começarem, e eu preferi conferir meu horário e ir direto para a sala.

Abri um sorriso sem sentido ao ver que minha ultima aula era Língua Portuguesa.

Eu tive a impressão de que por descobrir isso, as outras aulas pareciam infinitas. Cada dia que se passava, o dia aumentava algumas horas. Eu estava tão agitado, que saía da sala a cada 10 minutos, apenas para dar uma volta pelo corredor, olhando a paisagem do campus pelas janelas de vidro.

Passei pelo mesmo corredor em que vi Suzuno pela primeira vez. Não havia nenhum sinal dele e de mais ninguém. A grama nascia verde pelo lado de fora, o céu estava azul e possuía poucas nuvens.

Andei despreocupado para o pátio. Dei uma olhada a minha volta e a única pessoa que eu vi foi um calouro cabulando aula para fumar.

– Você quase nunca assiste uma aula, não é? - perguntei, me aproximando.

Suzuno me lançou um olhar desconfiado, desagradável. Parecia que ele pretendia me afastar com sua expressão, mas a verdade é que eu apenas havia achado atraente.

O cheiro do tabaco era perturbador, e eu fiz uma careta quando ele sobrou fumaça em minha direção. De repente seu olhar passou a ser mais curioso.

– Você esta de marcação comigo, não é? - perguntou ele.

Eu esbocei um sorriso ao saber que ele havia se lembrado de mim, durante a aula de português quando eu o alertei sobre os fones. Ele pareceu indiferente e virou o rosto para o lado, passando a ignorar minha existência.

– Bem.. - eu queria dizer alguma coisa, mas parecia que qualquer palavra que eu dissesse me faria parecer um idiota.

Ele procurou um lugar com sombra para se sentar, e evitar o sol. Havia uma árvore enorme logo acima do banco do qual ele estava sentado, meio de lado, ocupando todo o espaço. Seus dedos brincavam com o cigarro enquanto ele observava a fumaça sumir pelo ar, e então, ele voltava a tragar.

Passou-se alguns instantes e eu ainda estava sem palavras. Qualquer outro teria saído dali vencido, mas não eu.

Uma das coisas mais raras que poderia me acontecer era me interessar por alguém. Eu sempre via as pessoas como um bando de gente comum e sem graça. Eu pensava comigo mesmo que eu merecia alguém melhor.. diferente. E Suzuno Fuusuke me dava a sensação que eu estive procurando todos esses anos. Ele era como um quebra-cabeça. Seu olhar parecia esconder alguma coisa, e cada pequeno e leve movimento que ele dava, seja para puxar outro cigarro do bolso ou passar as mãos em seus cabelos, parecia me encantar de uma forma tão estupida, que eu me sentia irritado com ele o tempo todo. E ao mesmo tempo, eu me via disposto a saber tudo sobre ele. Conhecer cada um de seus segredos, seus pensamentos, seus desejos. Eu sentia como se ele fosse uma espécie rara e única. Ele era como um desafio, e eu estava disposto a vence-lo, e ele séria o próprio prêmio.

– O que você quer? - ele perguntou, notando que eu ainda estava ali, parado, o olhando como um tolo.

– Eu estive pensando se não podíamos ser amigos.

Ele começa a tossir, como se tivesse se engasgado com a fumaça do próprio cigarro. Seus olhos me olhavam como se eu fosse um monstro asqueroso, prestes a ataca-lo.

Eu senti uma certa sensação de raiva crescendo em mim. Mas tentei ignora-la, afasta-la. Qualquer coisa podia me deixar com raiva, era muito fácil. Ela simplesmente surgia do nada, e eu precisava manter-me firme para não deixa-la me controlar.

– Você esta brincando comigo, não é? - ele perguntou, sarcasticamente.

– Não, é sério - eu continuei, começando a suar frio - porque eu brincaria com isso?

– E porque você iria querer seu meu amigo?

Ele jogou o cigarro no chão e se virara para mim, tirando as pernas do banco e sentando normalmente, como se estivesse prestes a fazer um interrogatório.

Eu engoli em seco. O que eu poderia responder? A irritação que começara a crescer em mim foi substituída por uma espécie de sentimento confuso. Senti minhas mãos começarem a tremer.

Suzuno me encarava, aguardando a resposta. O sinal devia estar prestes a bater. A próxima aula estaríamos na mesma sala. Mas isso não me confortava.

– Porque eu queria me aproximar de você - falei, tentando me manter sério, sem demonstrar o certo nervosismo que eu estava sentindo.

Ele mais uma vez me olhou feio, nada do que eu dizia parecia afetar ele ou coisa do tipo. Ele simplesmente ergueu a sobrancelha, fazendo uma expressão de "É mesmo, é?" e balançou a cabeça.

– E porque? - perguntou. Seu tom de voz era arrogante, desagradável.

Eu queria tirar aquela expressão dele. Prometi a mim mesmo que um dia ele me olharia com ternura, e se arrastaria aos meus pés para ter um pouco de minha atenção.

Seu jeito havia revivido minha irritação. Eu serrei os dentes, de uma forma que ele não poderia perceber. Um vento leve e quente sobrou entre nós, fazendo com que Suzuno levasse as mãos ao cabelo, como se tentasse impedir os fios de se desarrumarem. As mangas de sua camisa estavam erguidas, como sempre. E seu tênis era impecavelmente limpo, que se eu não soubesse que ele voltava para casa a pé, diria que ele nunca havia andando numa estrada de terra na vida.

Eu me sentia dividido.

Uma parte de mim, queria segura-lo pela camisa e dar-lhe um soco em seu estomago. Sua feição fria me irritava intensamente cada vez que eu olhava para ela mais de perto. Porém, a outra parte, queria apenas sair correndo, para longe.

Dei um suspiro, e olhei dentro de seus olhos azuis. Chega de enrolação, pensei comigo mesmo.

– Porque eu estou gostando de você, Suzuno Fuusuke.


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Notas finais do capítulo

críticas e críticas, fiquem a vontade para xingar minha história ♥ q



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