Eskalith escrita por haru


Capítulo 16
Sem iluminação.


Notas iniciais do capítulo

ok ok, esse cap pode ter saído meio pequeno. Mas, bom, ele puxa para o proximo... e o proximo... ahhh céus, só posso dizer aos pervos de plantão que a contagem para o maldito lemon já pode ser inciada.
Não vou dizer que começa no proximo cap, mas provavelmente vai vir depois dele DDD:

"PROVAVELMENTE"



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– Ninguém mais vai te machucar, Fuusuke.


Minha voz pareceu o acalmar de uma forma um tanto mágica. Senti ele me abraçar de volta com toda a força que possuía, e então, eu consegui finalmente reergue-lo. Seu rosto estava realmente vermelho, mas não de vergonha, e sim por causa do choro. Ele me olhou sem expressão e tentou limpar-se com a própria camisa, quase a tirando.

– Eu só quero te ajudar – tornei a falar, no tom mais calmo e doce que eu era capaz de fazer, e então, estendi a mão ao rapaz.

Ele a olhou por uns instantes. Eu já havia notado que não conseguiria lidar com ele se não usasse de toda minha paciência. Qualquer coisa parecia machuca-lo naquele momento.

– Vamos – sorri quando ele finalmente pegou minha mão.


–-

Não foi nada fácil tira-lo de lá, passando por tanta gente e tanta bagunça. Ao menos, minha dor de cabeça havia diminuído consideravelmente e eu podia ver melhor e sem o incomodo zumbido em meus ouvidos. Mas o som continuava insuportavelmente alto.

Espiei Suzuno por cima do ombro algumas vezes. Ele apenas me seguia sem olhar para os lados. Espremia-se junto comigo entre as pessoas, em silencio. Algo me dizia que sua mente estava bem longe dali, mas eu não me importava naquele momento com isso, contando que eu estava o segurando para não escapar.

Quando finalmente chegamos à saída, foi um grande alivio poder respirar e sentir a brisa fria soprar em nossos rostos. Eu nunca imaginaria o quanto um ventinho gelado poderia me fazer tão bem. Mesmo com o cheiro das ervas e das pessoas que se plantaram e conversavam no portão, aquele ar era realmente limpo comparado ao que havíamos inalado do lado de dentro.

Fuusuke pareceu despertar. Ele olhou para mim um pouco confuso e depois balançou a cabeça e olhou para o céu. Seus olhos pareciam mais brilhantes agora. Não sei dizer se era o brilho da lua que se refletia neles ou o fato dele parecer mais consciente e com vida. O albino suspirou.

– Onde você mora? – perguntei, depois de observa-lo um tempo, logo depois que nos afastamos consideravelmente do som insuportável da “boate”.

Ele me fitou por um tempo e fez uma careta um tanto incomodado com tal pergunta.

– Vamos, me diga, eu te levarei em casa, só isso – insisti.

Ele suspirou outra vez e não olhou em meus olhos.

– Eu não posso voltar – falou sério.

Pelo menos ele parecia mais “normal” agora.

– Como assim? – me aproximei um pouco.

– Eu não tenho casa, pelo menos, não mais...

Minha expressão era um tanto indignada.

“Como assim Suzuno Fuusuke não tem casa? Isso já foi longe demais!”

– Onde você dorme, então?

Fuusuke hesitou por algum tempo, e do nada começou a andar, com as mãos no bolso. Continuei calado e o segui.

Andamos um bom tempo em silencio, até que ele parou de repente.

Devia ser por volta das oito e meia da noite. O céu estava bastante estrelado e a noite agradavelmente fresca. Estávamos num lugar um tanto escuro, e era de um silencio medonho. Sem falar no aspecto que tinha. Muros altos e velhos. Tudo parecia tão cinza ali, como numa cena de filme antigo. Mas um filme de terror. Não havia casas, e sim, algumas espécies de estabelecimentos. Eu realmente não consegui reconhecer aquele lugar até notar que se tratava de um prédio muito antigo, que a anos havia sido condenado a demolição.

Costumava ter uma livraria naquele lugar, há muito tempo atrás.


Com minha distração, nem tinha notado Suzuno avançar em direção ao prédio velho e acabado a nossa frente. Arregalei meus olhos para tal coisa, abismado, e pensei em gritar com ele, mas meus pés foram mais rápidos e correram em sua direção.

Segurei seu braço com força.

– Espere, que porra você pensa que esta fazendo? – perguntei, incrédulo.

Ele me lançou um olhar um pouco perturbado.

– Me largue – deu um tapa em meu braço.

Um tapa leve, mas, por alguma razão, foi o suficiente para me fazer soltá-lo e o observar entrar.

Olhei para os lados verificando se alguém estava nos vendo. Eu tinha certeza de que Suzuno acabaria morto se entrasse em um lugar como aquele sozinho, e ainda mais se pretendesse dormir lá.

Ele provavelmente esperava que seu canivete fosse o suficiente para protegê-lo.

Passamos por varias barreiras entre as entradas. Havia muitas caixas e entulhos amontoados por todo o canto. Vidros quebrados, papelões velhos, poeira. Muita poeira. Algumas prateleiras e coisas relacionadas, que fazia-me lembrar vagamente do lugar que costumava ser.

Apesar de que, eu realmente não me lembrava em nada de já tê-lo frequentado.

– Hei, Fuusuke... – chamei-o baixinho.

Ele não me olhou, apenas continuou caminho adentro por uma espécie de corredor, até encontrar uma portinha.

Poderia ter sido uma dispensa ou uma salinha há anos atrás. Não dava realmente para saber. O mais estranho de tudo é que possuía um banheiro ao lado. Algo um tanto conveniente

Havia muitas coisas ali, provavelmente de Fuusuke. Uma espécie de linha, ou arame, havia sido esticada pelo cômodo, e pendurava-se nele vários papeis, que só depois de me aproximar bem notei serem fotografias. Havia alguns lençóis amontoados num canto. Cômodas velhas cheias de papeis e livros. Um balde, que provavelmente continha as louças de Suzuno. Estava escuro demais para que eu pudesse notar muita coisa, mas o que eu vira já era o bastante para me sentir um tanto espantado.

– Fuusuke...

Ele se aproximou e me interrompeu a fala, levantando um dedo e o colocando em meus lábios.

– Não faça barulho... não fale nada, Haruya.

Eu obedeci. E como não o faria, os olhos de Suzuno pareciam me hipnotizar, de uma forma tão estranha, que eu apenas estremeci no momento.

Ele saiu e foi até o banheiro. O segui.

A porta ficou entre aberta. Por um instante, não entendi porque ele a deixara daquele jeito, só depois de um tempo observando não muito de longe, que notei que aparentemente ela não fechava mais do que aquilo.

Fuusuke não parecia se importar em tirar a camisa, sabendo que eu podia vê-lo bem. Ele se olhou num espelho e eu pude ver as feridas que ele tinha.

Vários cortes em seu braço, o que explicara o porquê que ele havia alimentado o habito de usar mangas longas. Ele abriu a torneira e lavou o rosto, passando as mãos molhadas também nos cabelos. Em algum momento, percebi que ele olhara para mim pelo canto do olho, mas deu de ombros para minha presença ali.

Seus movimentos eram tão lentos, ali. Como ele pegava suas coisas e cuidava de sua higiene, escovando os dentes. Mesmo naquele lugar horrível, ele era um pouco vaidoso ainda. Por mais que qualquer outra pessoa jamais notaria isso. Ele também retirou seu canivete do bolso – eu sabia que ele o carregava para cima e para baixo – e abriu, o olhando por alguns minutos.

Agora era seu reflexo na lamina que o encarava.

Dei alguns passos para frente.

“Se aquele maldito pensar em se cortar aqui e agora, eu vou bater nele” bufei para mim mesmo.

Ele olhou para mim e esboçou um sorriso. Totalmente falso, em minha opinião.

Guardou a faca em cima da pia, e então foi até o chuveiro, fechando uma velha cortina atrás dele.

Sai ao ouvir o som da água caindo. Pelo barulho que fazia, parecia que o chuveiro era mais uma espécie de cano, cuja água vinha com força. Voltei para o cômodo em que eu poderia chamar de “quarto”.

Aproximei-me e tentei examinar as fotografias. A iluminação era péssima naquele lugar, se é que se pode dizer que havia alguma.

Eram fotos antigas, talvez até meio amareladas já. Rostos, paisagens. Era difícil reconhecê-los naquele escuro.

Me distrai – de novo – tentando decifrar algumas delas. Eu tinha certeza que em varias uma mulher estava presente, e provavelmente era a mãe de Suzuno. Também havia tido a impressão de ter algumas com crianças.

“Seriam fotos escolares?” Me perguntei.

Meus pensamentos foram interrompidos quando Suzuno apareceu.

– Você pode ir para casa se quiser – falou em tom baixo, passando por mim e deixando a toalha que usara pendurada em algum prego na parede.

Não respondi. Nem precisava. Eu não iria embora. Não podia deixa-lo naquele lugar horrível.

Não apenas porque havia dito a Kurione que tentaria ajuda-lo, mas também, porque eu simplesmente não queria. Aquela noite, eu ficaria ali, cuidando dele, ele querendo ou não.

E Fuusuke pareceu perceber isso, pois resmungou alguma coisa e ajeitou sua cama improvisada feita de lençóis e colchas velhas empilhadas em um canto, no chão. Depois de um tempo, ele lançou um ultimo olhar em minha direção e se deitou, de costas para mim.

O observei por alguns minutos. A maneira como ele havia se encolhido naquele canto realmente me tocava por dentro. Eu senti pena de Suzuno Fuusuke. Algo que eu nunca imaginei sentir por alguém, tão pouco por ele.

A imagem do calouro tão arrogante que passou por mim no corredor em um dia de sol de brilho laranja se passou pela minha cabeça como um flashback. O lindo, limpo e arrumado Suzuno Fuusuke, tão serio e com seu ar de superior. Não importava o quanto eu tentasse, eu não conseguia mais vê-lo naquele cara.

Será que ele desapareceu? Junto com toda a vida que Suzuno deveria ter dito a algum tempo atrás. Eu realmente não tinha como saber, pelo menos, não ainda.

Tudo o que me restava fazer era me deitar ao seu lado, e acariciar seus cabelos, agora tão grossos e mal cuidados, da forma mais delicada que eu conseguia, até ter certeza que o albino havia adormecido. Só então, eu descansei minha cabeça ao lado da dele e adormeci.

Eu sabia que não o perfume de seus cabelos não era o mesmo, mas... mesmo assim para mim ele ainda cheirava muito bem.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Não gostou? Não deixe de deixar uma review, mesmo que seja me xingando qqq ou com criticas, não sei !

De qualquer modo, obrigado por ler ;3