Olho pra faca suja de sangue na minha mão... não acredito que finalmente criei coragem para fazer isso... Olho pro meu pulso em igual estado... de onde fluía boa quantidade de sangue de um corte profundo...
Agora, o outro pulso seria mais fácil... com um rápido movimento com a faca de lâmina afiada, corto agora o pulso direito...
Só me resta agora esperar... esperar pela tão almejada morte... Sento no chão, aguardando pelo momento que finalmente partirei desse mundo...
O motivo pela qual estou fazendo isso, pode não ser compreensível para maioria das pessoas, afinal, por quê uma garota jovem e consideravelmente bonita jogaria sua vida fora?

A questão é que eu sempre tive a sensação de que minha vida já era um desperdício. Meus pais não ligavam pra mim, não se importavam se eu chegava em casa seis horas ou às duas da madrugada; meu namorado me largou pela piranha da escola e ainda jogou na minha cara que eu não merecia um cara como ele... realmente não merecia...
Minha professora sentia prazer em me humilhar em público; meus ‘colegas’ gostavam de fazer piadinhas sobre mim, pelo mero fato de que minha mãe fora um dia prostituta, embora tenha largado essa vida logo após conhecer meu pai... Por isso não tenho amigos, não confio em ninguém...
Isso aliado ao fato de que meu tio tentou abusar de mim uma vez e ninguém acreditou em mim, foram apenas alguns dos motivos que me levaram a situação atual. Eu caí em depressão profunda, não sentia prazer em nada... não ria, nem me divertia em nenhum lugar que me levassem. Logo não queria mais comer... meus pais começaram a se preocupar e eu lhes dizia que estava tudo bem... Estranho, agora eles lembram que têm uma filha...

Eu não queria mais viver, e só o que fazia dia e noite era pedir a Deus que me levasse embora... Mas como parece que nem ele quis me ajudar, tive que fazê-lo sozinha...
Olho o chão manchado de sangue à minha volta, formando agora poças em volta de mim. Já perdi uma boa quantidade do líquido precioso... tão vermelho... o vejo sair...e minha vida vai com ele...

Dizem que se suicidar é um pecado imperdoável perante Deus...então acho que não vou para o paraíso afinal...Embora eu não tivesse intenção de ir pra lá desde o início, se eu puder descansar em paz já é o suficiente...
Olho novamente para os meus pulsos... já quase não sai sangue... sinto frio...minhas extremidades não obedecem mais meus comandos.... não consigo mover minha mão... estou ficando com sono... Então morrer é assim..? Não é tão ruim... Começo lentamente a fechar meus olhos... sinto como se estivesse em outro lugar... uma lugar calmo, tranqüilo...
Ouço gritos... parece a voz da minha mãe... sinto alguém me levantar e me colocar em uma cama... Não! Não me levem...deixem-me aqui...eu não quero ir....me deixem morrer em paz...

OoOoOoOoOoOoOoO

Ouço sons distantes, que vão se aproximando cada vez mais... Sinto uma luz em meu rosto...começo a abrir meus olhos lentamente...uma imagem borrada começa a se formar e logo vai ficando nítida...
Vejo teto e paredes brancas...estou num lugar estranho com roupas que não são minhas...após analisar alguns equipamentos do lado, percebo que estou em um hospital... Noto algo estranho e resolvo olhar meus pulsos, agora estão enfaixados...ao meu lado um saquinho com uma fina mangueira pinga lentamente um líquido incolor em minhas veias...

Fui salva...mas quem disse que eu queria ser salva? Será que nem posso descansar em paz? Será que até o meu direito de morrer me foi tirado? Por que não me deixam partir, já que não me deixam viver como eu quero?
Deixo uma lágrima teimosa rolar pelo meu rosto...Sinto-me como uma prisioneira da própria vida. Por quê eu tive que nascer nesse mundo pra sofrer assim?
Ouço passos silenciosos vindo em minha direção e trato imediatamente de secar aquela lágrima teimosa. Olho para a porta e vejo uma enfermeira, toda de branco. Vem em minha direção e diz com voz doce:

- Ah! Finalmente você acordou. Seus pais estão muito preocupados, posso chamá-los?

Olhei pra ela analisando a pergunta, pensando na possibilidade de pedir que não os chamassem aqui, não queria ver ninguém, mas não poderia fugir pra sempre...

- ...Sim, por favor... – respondi vacilante.

Assim que a enfermeira saiu, me arrependi da resposta que lhe dei. Agora teria que explicar-lhes por que fiz aquilo, e não estava a fim de falar sobre isso...
Levantei-me da maca, fiquei um pouco surpresa, ainda estava fraca, precisei me esforçar um pouco....mas consegui sentar. Olhei em volta procurando uma saída...mas antes que pudesse encontrar algo, meus pais entraram no quarto exasperados e muito preocupados.
Minha mãe veio me dizendo pra me deitar novamente, pra não me esforçar. Eles me abraçaram, choraram...e não me perguntaram o motivo da tentativa de suicídio...Disseram-me que ia ficar tudo bem, que tudo ia melhorar...eu queria acreditar nisso...

OoOoOoOoOoO

Quatro meses depois do ocorrido, eu estava levando uma vida normal...não, melhor que isso. Eu estava fazendo terapia, meus pais estavam mais carinhosos e atenciosos comigo; também mudei de escola e estou fazendo novas amizades.
Estou reaprendendo a gostar da vida, já estou até rindo novamente...
Às vezes, quando penso em tudo aquilo que passou, imagino por que eu não morri....será que foi mera coincidência minha mãe aparecer naquela hora em que minha vida estava quase se esvaindo? Talvez, Deus tenha me dado uma segunda chance, pra me mostrar que estava errada...Pois agora acho que a vida é muito preciosa, e não quero mais desperdiçá-la, e agradeço a Deus por ter me permitido viver mais um pouco, apesar da besteira que quase fiz.
Hoje só o que restou daquele dia foram as cicatrizes, essas eu levarei comigo até o ultimo dia da minha vida, uma dolorosa lembrança do que se passou, mas só lembrança...

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Final meio patético né? -_-

Era pra ser um final diferente mas acabou ficando assim

Espero q tenham gostado mesmo assim ^^