A Rainha de Copas escrita por Kaya Terachi


Capítulo 1
O Incêndio.




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Estava escuro, não havia como negar isso, uma grande massa negra no meio de uma cidade com tantas luzes, mas não estou falando de uma queda de energia ou coisa do tipo, estou falando do escuro que todo tipo de pessoa já conheceu uma vez na vida, o ódio, a inveja, e a luxuria pairavam, se entrelaçando e se perdendo pelo vento da imensa e exuberante Paris. Talvez os moradores já soubessem onde encontrar essa terrível podridão escondida por trás de muros de bondade e escudos humanos que eram chamados de famílias, mas nenhum nunca comentava sobre isso, não, nunca na mesa de jantar ou sentados em frente a televisão vendo todos os acontecimentos terríveis e inacreditáveis, nenhum ousava descerrar os lábios com outra intenção que não fosse para soltar um longo suspiro cansado e conformado de que tinha que seguir sua vida inútil e pacata sem se dar o direito de se incomodar com o crime organizado. Mas eles tinham ali, em Paris, algo maior do que qualquer monumento, algo maior do que qualquer sonho, ou qualquer esperança de qualquer criança cujos olhos, presos as luzes sonhavam em viajar por elas até um mundo de paz, sem saber o que lhe espera lá fora, essa podridão que a espera lá fora, que tristeza fora, encontrá-la nos olhos de um anjo tão precioso quanto aquela criança.
O cair da noite era encantador e desesperador ao mesmo tempo, talvez fosse maravilhoso,para os turistas que ali visitavam o lugar, tirando milhares de fotos com ícones da cidade, mas não era tão atrativo aos moradores já sabidos dos ladrões e vilões que espreitavam pelas ruelas da bela cidade, de certo modo, Paris, era linda e assustadora, perfeita e imperfeita, iluminada e obscura.
– Meu Deus! É um incêndio! Chamem os bombeiros!
Talvez não houvesse começado tão rápido, ou talvez houvesse, uma simples faísca, um simples cigarro ou restos de um charuto jogado indevidamente, um simples fósforo, de fato realmente cheirava a pólvora, ou talvez fosse gasolina, mas ninguém teve muito tempo para apreciar o cheiro desse belo desastre, de qualquer maneira, o fogo, com sua incrível magnitude e destruição, pôs a baixo aquela casa, bem ali, em uma das esquinas onde tudo era possível acontecer a noite, as pessoas corriam desesperadas e algumas apenas olhavam de suas janelas, algumas intactas e frias, como mármore, as mesmas que ignoravam o barulho dos disparos que se seguiam a varias noites, de fato, a guerra talvez houvesse acabado com a morte de um dos chefes da máfia.
O dinheiro corria solto, de mão em mão naquele lugar, todos achavam que algum dos sujos e sofridos dependentes químicos um dia cairia ou seria morto, mas foi uma surpresa quando a enorme mansão da esquina fora vista em chamas, “Com certeza, foi um dos mafiosos.”comentou uma das almas mortas na janela, que só eram preenchidas de vida pelo fogo que refletia em seus olhos, aquecendo-os com um sutil medo que não transparecia em suas faces imóveis e inabaláveis.
– A mulher e o marido morreram, chefe. – Comentou o policial a retirar o quepe que usava no topo da cabeça, e cheirava a fumaça, como todo o resto da rua.
O outro suspirou, pesadamente, o policial com os cabelos curtos e castanhos, a velhice já tomava conta de seu corpo, era visível nos olhos fundos e com olheiras e as rugas expressivas próximas aos olhos.
– É o segundo mafioso morto essa semana... Se não fizermos algo logo as pessoas vão começar a se questionar sobre o poder da policia. Precisamos rastrear o restante o mais rápido possível.
– Bem, chefe, seja lá quem for, consegue achar eles melhor do que nós. – Disse o policial a colocar novamente seu quepe e tomando seu rumo em direção ao carro dos bombeiros, procurando buscar mais informações.
– Senhor... – Chamou a mulher, vizinha a casa, a senhora Dupont tinha a irritante mania de se meter na vida de todos, e não fora surpresa vê-la ali fora, com seus cabelos presos num coque mal feito no alto da cabeça e o roupão fechado a cobrir o pijama no corpo.
– Sim?
– O que aconteceu?
– Senhora, não podemos dar muitas informações, apenas sabemos que os dois moradores morreram.
– Mas e a criança?
– Que criança?
– Eles tinham uma filha.
O olhar fora rápido para dentro do local, podendo ver todos os bombeiros a tentar apagar o fogo, cumprindo seu trabalho, mas com a expectativa de que todas as pessoas já haviam sido resgatadas, ou pelo menos todos os corpos carbonizados.
– Esperem! – Gritou o homem. – Tem uma criança lá dentro! Não eram só os pais!
O outro homem, a pouca distancia, o policial que a pouco conversara com ele se aproximou, em passos rápidos a alcançar o chefe da policia, que já se preparava para adentrar a casa, mesmo em chamas para salvar a garota que ficara sabendo que ali estava.
– Chefe! Chefe! A casa foi revistava duas vezes. Não há crianças, não há mais ninguém.
O silêncio pairou pelo ar, mas somente na mente de ambos, a duvida tomou conta, e era mais alta evidente do que as sirenes que soavam, perturbando a paz dos moradores da rua. Onde aquela criança poderia estar?


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