Laura está em choque... De repente parece que o chão está fugindo de seus pés... Edgar está ali... descobrira onde mora e... está de mãos dadas com Daniel... Não sabe o que  fazer... sente uma mistura de raiva... ressentimento... medo... sente-se como uma menina  que acaba de ser pega fazendo uma traquinagem... não consegue encarar Edgar... 

Edgar também está nervoso... está na casa em que seu filho mora... ele não devia morar ali... devia estar com ele... bem como sua mãe... mas ela é tão teimosa... não sabe nem por onde começar... o que dizer... tem de falar abertamente com Laura sobre tudo... sente-se arrependido e ao mesmo tempo ressentido... isso tudo não deveria estar acontecendo.. só por Daniel vai tentar controlar-se e agir com naturalidade... se é que isso é possível...

Edgar (tentando parecer calmo): Boa Tarde... desculpe a invasão... mas Daniel insistiu para que eu entrasse...

Laura (irritada com a situação) Daniel,meu filho, eu estava preocupada com você... onde vocês estavam?

Daniel: Na loja de brinquedos... a dindinha me deu um bilboquê... e o Edgar me deu isso (mostrando o trenzinho para Laura e olhando logo em seguida para Edgar) vamos montar...quero ver logo ele começar a andar....

Laura: O brinquedo é lindo... mas não precisava se incomodar... 

Edgar: Não é incomodo... é o primeiro presente que dou a meu.... amigo... já devia ter dado muito mais coisas a ele...

Daniel (puxando Edgar pela mão): Vem... me ajuda a montar...

Laura: Meu anjo... o Edgar tem  de ir agora... não é Edgar? Você vai levar a Sandra para casa...

Edgar: Na verdade... se me permitir eu vou ajudar o Daniel  a montar os trilhos... a Sandra poderia esperar...

Sandra: Desculpa... mas já está tarde..preciso ir

Daniel: Mas eu quero montar meu trem... e quero que o Edgar me  ajude...

Laura: Eu posso te ajudar...

Daniel: Mamãe... construir estrada de ferro é coisa para homens... meu amigo vai montar comigo..

Sandra: Laura.... eu já vou indo... Boa noite...

Laura vendo que Daniel não iria sossegar se não montasse o brinquedo acaba por concordar... o menino e Edgar sentam-se no chão da sala de estar e começam a construir a estrada de ferro do trenzinho...

Daniel: E agora... que peça vai?

Edgar: Acho que é essa aqui... olha... aqui podemos fazer uma curva... e depois..

Daniel: Depois da curva quero colocar uma ponte... vai passar um rio... como o que tinha lá na  fazenda...

Edgar (olhando com ternura para o menino): Claro... como você quiser... ah.... tem mais essa peça aqui e logo terminamos... (ajudando Daniel a colocar a parte que  faltava do trilho...) pronto... 

Daniel: temos que colocar os vagões...

Eles seguem montando o trenzinho... Laura observa os dois... em seu íntimo sempre quis ver isso... pai e filho juntos...brincando... rindo... Edgar demonstra por Daniel talvez até mais carinho e atenção do que o viu dispensar a Melissa... apesar de todo o ressentimento não pode negar que aquilo lhe afeta profundamente... está com os olhos marejados...

Laura: Bem.. rapazinho... está na hora de se arrumar para dormir... despeça-se do seu amigo e vá para seu quarto... a Gertrudes vai te ajudar....

Daniel: Você não vai me contar uma história?

Laura: Daqui há pouco eu vou... 

Daniel: Adorei conhecer você... quando vai vir brincar comigo de novo?

Edgar (sorrindo): De agora em diante... sempre que puder vou vir brincar com você... agora obedeça sua mãe... Boa noite, Daniel... 

Daniel: Boa noite...

Daniel vai para seu quarto... Edgar e Laura estão sozinhos... ambos tem muito a dizer... mas não sabem por onde começar...

Laura: Eu ....nem sei o que dizer...

Edgar: Mas eu sei... me perdoa.... até pouco tempo eu não imaginava que o Daniel era meu filho... aliás ..  eu nem imaginava que nós tivéssemos um filho...

Laura: Não soube hoje? Há quanto tempo sabe disso? Quem contou?

Edgar: Tem mais ou menos umas duas semanas... eu ia  te procurar antes,mas descobri que não morava mais com a Isabel e não tinha ideia de que estava morando aqui...e  tive de viajar no dia seguinte ao que eu soube.... não podia cancelar os compromissos que tinha...

Laura: Eu sei... vi nos jornais o julgamento em São Paulo... por sinal...parabéns... conseguiu provar que seu cliente estava com a razão...

Edgar: Obrigado... não é engraçado? Eu consigo resolver os problemas dos outros mas faço tudo errado quando se trata  dos meus problemas... principalmente quando eles envolvem você...

Laura: Por que diz isso?

Edgar: Por que eu fui um imbecil... errei muito Laura... um erro atrás do outro...

Laura: eu também errei... 

Edgar: Por que não me contou?

Laura: Logo que soube eu  queria ir atrás de você em Portugal para contar... mas não me deixaram... aí quando você voltou com aquela mulher... e não consegui te falar... depois veio o divórcio...mas eu depois de um tempo, com a cabeça um pouco mais fria, resolvi contar... na carta... 

Edgar: Antes da carta... você tinha que ter me contado...você engravidou antes de eu ir para Portugal... apesar de estar zangada  quando voltei devia ter me falado... você sabia o quanto eu  queria esse filho...

Laura: Queria mesmo? Não parecia... eu pensei em  te contar... mas você estava sempre tão ocupado com a Melissa e com aquela mulher... só de pensar me dá uma raiva... 

Edgar: Não desvie o assunto... minha  filha  estava doente... e eu queria  sim... ou não lembra mais de todos os planos que nós tínhamos?

Laura: Planos que eu acabei realizando sozinha... com o divórcio tive medo que se você soubesse do Daniel quisesse tira-lo de mim...

Edgar (alterado): Eu jamais faria isso! Como você pode pensar que faria  algo assim... ainda mais contigo...  não sabe o quanto me dói não ter visto o  nosso filho nascer... crescer... se eu soubesse antes isso não estaria acontecendo....talvez hoje a gente ainda seria uma família...ou... como você mesma disse... a nossa situação não teria mudado... mas pelo menos Daniel e eu teríamos nos conhecido antes e convivido... 

Laura: Espera aí... como sabe que eu disse isso? Você leu a carta! (alterada) E ainda vem me dizer que não sabia que o Daniel existia? E eu estava quase acreditando em você... você nunca pensou em conhece-lo... será que você tem ideia do que foi enfrentar isso sozinha? Eu criei, eduquei, dei amor e carinho ao meu filho... coisas que você nunca se importou em oferecer a  ele...

Edgar: Eu li a carta sim... mas não é como está pensando... e não diga que não me importo.... eu amo meu filho desde que soube de sua existência... e hoje... depois que o conheci realmente... não posso mais viver um dia sequer longe dele...

Laura: Fique longe de nós... a gente estava muito bem sem você por perto...

Edgar: Não Laura... eu não vou me afastar... e quanto a carta... eu li há duas semanas....antes de viajar... 

Laura: E você quer que eu acredite nisso? Primeiro você diz que não leu por que foi extraviada... e agora milagrosamente ela surge  para você ler? Por favor...

Edgar: Eu sei que é inacreditável... mas se não acredita peça a Matilde... no dia que recebi essa carta estava muito atordoado... tinha ido há um tempo para Petropolis e te vi...

Laura: Você me seguiu?

Edgar: Não... fui tentar espairecer um pouco e acabei te vendo... e ouvi você falando de alguém que iria chegar... e entendi que tinha uma nova pessoa na sua vida...

Laura: Daniel

Edgar: Mas eu não sabia que era um bebê... quando chegou a carta ainda estava ressentido... abalado... morrendo de ciúme... pode dizer que eu sou uma besta... reconheço isso... e acabei pondo a carta fora sem ler...

Laura: Você fez o que? Realmente não dá para acreditar nisso... mas então... continue...

Edgar: a Matilde achou a carta e guardou... e só me entregou agora... por que me ouvir conversando com o Guerra a respeito dela... Laura...pelo amor de Deus... me perdoa... eu tinha que ter lido isso no momento que me chegou nas mãos a primeira vez... eu fui um  idiota... tudo pelo meu ciúme desmedido...

Laura: Mas você não leu... e o tempo não volta...

Edgar: Eu sei... mas me deixa mostrar que posso ser um bom pai para ele... me deixa ajudar você a cria-lo... não posso recuperar o tempo que perdi... mas pelo menos  daqui diante ele vai ter todo o meu amor e todo o meu afeto... e tudo o que ele precisar...

Laura: Ele não precisa de você... ele tem a mim... e isso basta... e agora... saia da minha casa... Boa noite...

Edgar: Eu vou... mas a gente ainda não terminou essa conversa...

Laura: Não... ela terminou aqui...

Edgar: Laura...Eu não vou desistir do meu filho..... acalme-se... pense em tudo o que falamos hoje e principalmente no Daniel... eu sou paciente... vou te dar um tempo para pensar... Boa noite...