Laura e Edgar- Um romance desde o Início escrita por Nanda


Capítulo 102
O Almoço




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Laura olha com estranheza para o conteúdo daquela caixa branca de papel resistente... Retira com cuidado e desdobra aquela peça, analisando cada detalhe meticulosamente, tentando chegar a um parecer a respeito do que vê... Edgar jamais comentara que tenha servido as forças armadas... No período de alistamento obrigatório já eram namorados, é verdade, mas até onde sabia, o esposo tinha sido dispensando do serviço militar devido à viagem iminente a Portugal pelos estudos, e, até onde lembrava, o alistamento foi junto ao exército e não à marinha... A moça está tão absorta em pensamentos, mentalmente tentando desvendar o mistério que tem nas mãos, que não ouve quando Gertrudes bate a porta... A empregada, vendo a mesma aberta, e percebendo que Laura não responde, adentra o quarto..

Gertrudes: Está bem, menina Laura? Precisa de ajuda?

Laura (virando-se assustada segurando a farda contra o peito): Gertrudes! Me assustou...

Gertrudes: Perdão!.. Não foi minha intenção...Vim chamar os meninos para o lanche... e vendo que estava aqui pensei que poderia estar precisando de alguma coisa...

Laura: Oh... desculpa babá.. mas é que estava tão distraída...

Gertrudes: O que te perturba, menina?

Laura (mostrando a Gertrudes) Isto!... Estava arrumando as coisas do Daniel na cômoda e encontrei... Estava naquela caixa..

Gertrudes: Uma farda? Não é do DR. Vieira?

Laura: Gertrudes, o Edgar nunca foi para a força naval!..Aliás ele se alistou para o exército, mas foi dispensado....O que uma farda da marinha brasileira... legítima... e de um posto superior... pois isso não é uma fatiota de marinheiro... está fazendo aqui?

Gertrudes: Filha...o Dr. Vieira deve ter uma explicação para essa farda estar guardada... talvez nem seja dele...

Laura: Mas se não é dele... de quem é? Sei que tinha um cliente dele que era oficial da Marinha... mas o que uma farda desse senhor estaria fazendo aqui?

Gertrudes: Eu não sei....Se ele nunca te disse nada... talvez não tenha importância... ou ele não pode te contar...Só sei que você não devia ter mexido.... Se o Dr. souber pode se zangar... Dê graças a Deus que fui eu quem entrei aqui e não ele!.. Que, por sinal, não deve tardar em chegar...

Laura: Tem razão!...Quando vi essa caixa, a abri movida pela curiosidade e nem tomei o cuidado de fechar essa porta!... Vou dobrar essa farda e guardar exatamente onde estava... Mas vou tentar tirar isso a limpo!... Preciso saber por que esse uniforme está aqui... Algo me diz que o Edgar está me escondendo algo importante...

O final da tarde e a noite passam sem maiores novidades, bem como os dias que seguem. O final de semana chega enfim... Naquele sábado de verão, o sol aquece a cidade, dourando as folhas das árvores. Seus raios brilhantes iluminam o interior daquele quarto antes vazio e agora ocupado pelo filho do casal Vieira. Lá dentro, o menino é ajudado pelo pai a vestir-se... No quarto ao lado, Laura também ajuda Melissa na mesma tarefa... Após arrumadas as crianças e feita a primeira refeição do dia, reúnem-se na sala de estar... Daniel principia uma brincadeira com dados enquanto Melissa procura uma das cinco marias que perdera pelo caminho... Edgar dobra o jornal que folhara até então e cruzando o olhar com o da esposa conclui que é hora de conversar com os pequenos sobre os acontecimentos daquele dia e sobre o futuro...

Edgar: Melissa... Daniel... Venham até aqui!.. Laura e eu precisamos conversar com vocês...

Melissa: O que foi papai?

Edgar: Minha florzinha...nós queremos contar sobre algo que vai acontecer aqui algum tempo...

Daniel: O que vai acontecer, mamãe?

Laura: Daniel.. Melissa... logo vai haver mais uma criança nesta casa!... Tem um bebê... aqui... crescendo na minha barriga... Vocês vão ter um irmãozinho ou uma irmãzinha!

Daniel: Tem um bebê aí? E como ele cabe?

Laura: Tem.. Ele é bem pequenininho ainda... mas logo ele vai crescer... Você vai ver!... A barriga da mamãe vai aumentar... Quando chegar a hora certa ele vai nascer e eu quero pedir a vocês dois para me ajudarem a cuidar dele, está bem?

Melissa: Vai ser supimpa, tia Laura! Eu quero ajudar em tudo...

Daniel: Eu também...

Laura: E quando ele for maior... Vocês três vão brincar muito juntos!.

Daniel: Vai ser batuta, mamãe!.. Se for um menino ele vai jogar futboll comigo!

Melissa: É... mas se for menina... vou ter com quem brincar de casinha!

Edgar: Tem mais uma coisa que a gente quer falar com vocês... Esse bebê vai trazer muita alegria para todos nós... O papai e a Laura estão muito felizes por ele estar a caminho... e ele vai ser muito amado;. mas podem ter certeza que a gente ama muito vocês... Nunca duvidem disso!

Daniel: Eu também amo vocês! (abraçando a mãe e o pai)

Melissa: E eu também!(juntando-se ao abraço)

Enquanto na casa do advogado as crianças voltam a brincar e os pais conversam sobre o cotidiano, na rua dos Cáceres, a Baronesa da Boa Vista está entusiasmada... Em frente ao espelho, dá uma última conferida no vestido... Concordando que está bem para a ocasião, desce as escadas da residência, encontrando com seu marido e seu filho, que a esperam na sala...

Assunção: Já não era sem tempo!.. Vamos... já devem estar nos esperando

Constância: Nem estou acreditando nisto!... Estou indo a um almoço... na casa de minha filha e meu genro!... Finalmente essa família está entrando nos eixos.. O único porém vai ser a presença daquela bastardinha...

Assunção: Controle-se Constância!... A menina é filha do Edgar... e Laura já tem muito carinho por ela... Não faça insinuações ou comentários maldosos...

Constância: Não se preocupe... sei como me comportar em uma situação assim!... Laura finalmente está fazendo o que deveria ter feito há cinco anos atrás... Como sempre eu tinha razão!...

Albertinho: Mãe... por favor!... A situação era outra... E para que ficar remoendo o passado... Ele não volta mesmo...E agora vamos...Não pretendo me demorar muito... tenho um compromisso importante à tarde...

Constância: Um compromisso? Será com uma das moças com que te vi na Colonial naquela tarde catastrófica?

Albertinho: Se fosse, nada me deixaria mais feliz!... Mas não... tenho uma partida de futboll... ainda mais que Teodoro está pela cidade... Vamos todos nos encontrar... pena o Edgar não jogar mais... mas já achei um back para o lugar dele...

Constância: Bem... o match de vocês não me interessa... Albertinho... afinal.. quem eram aquelas moças?

Albertinho: Por que o interesse?

Constância: Por acaso não posso querer saber com quem meu filho anda flanando por aí? São duas belas moças... mas nunca as tinha visto... Não são do Rio de Janeiro...

Albertinho: São amigas de Laura e Edgar...

Assunção: Por Deus... continuem com esta conversa pelo caminho... Já estamos atrasados...

Na casa dos Vieira, o industrial e a esposa também preparam-se para sair... Margarida dá as últimas ordens a empregada e vai de encontro a seu marido, que já sem paciência a espera a porta do automóvel...

Bonifácio: Até que enfim... Se você demorasse mais um pouco ao invés do almoço... chegaríamos à hora do jantar...

Margarida: Bonifácio! Meu querido... por favor... o Edgar e a Laura nos convidaram tão gentilmente para este almoço... poderia ser um pouco mais cortês também!... Teus modos nos últimos tempo não me lembram em nada o homem com quem um dia casei..

Bonifácio: Margarida.... não estou com paciência para cortesias e rodeios!... E agora vamos... Pelo menos esse almoço tem um bom motivo...Edgar e Laura realmente reataram... Esse casamento sempre teve e sempre terá toda minha aprovação!... Até que enfim essa maluquice de separação acabou...e espero que os escândalos também... Agora ficarão a cargo do Fernando... aquele traidor que não para de aprontar...

Margarida: A volta de Laura e Edgar me deixa bastante satisfeita também...todos vivendo como uma família... Nosso filho merece isso!... Mas você não precisa com isso falar tão mal de Fernando...

Bonifácio: Não venha defender aquele biltre!... Ou vai me dizer agora que aprova tudo o que ele fez... e ainda mais esse absurdo que pretende se casando com aquela desclassificada?...

Margarida: Não concordo... mas não vou entrar no mérito da questão

Bonifácio: Agora vamos...

Margarida: E... Bonifácio... por favor... nossa netinha agora mora com o Edgar... tente ser simpático...

Bonifácio: Mas era o que me faltava!... Ter de encontrar aquela menina!... Olha... só vou neste almoço para não me indispor mais com meu filho... e por que quero muito ver meu neto!... Daniel... este sim.... legitimo... homem e que vai ser meu sucessor! (parando ao ver o semblante de desaprovação da esposa) Está bem... prometo me controlar...

O casal embarca no carro e segue em direção a casa do filho. Enquanto isto, no hotel da Rua do Ouvidor, Joaquim conversa no saguão com Filipa... ambos acabam de voltar de um passeio pelas ruas do centro...

Filipa: Bem... obrigada pelo passeio...

Joaquim: Eu que agradeço por sua agradável companhia... Filipa... você tem algo para fazer hoje à tarde?

Filipa: Bem... Manoela tinha pensado em irmos ao Jardim Botânico...

Joaquim: É um bom lugar para passear... uma pena não poder acompanha-las... Marquei com uns amigos um match de futboll no Federal Sport Club.. Por sinal... vocês poderiam nos prestigiar... o que acha?

Filipa: Um match de futboll? Bem... vai ser divertido... Combino com Manoela e vamos sim... Até mais ver...

Joaquim (olhando em volta e roubando um beijinho de Filipa): Até mais ver... minha flor..

Filipa (tentando desmonstrar reprovação): Joaquim!

Enquanto o rapaz segue seu caminho e Filipa ruma para sua habitação no hotel, na casa dos Vieira, os pais do casal estão acomodados pelos sofás da sala de estar. Assunção e Bonifácio conversam como há muito não faziam, obviamente sobre assuntos bem mais amenos do que a política nacional, afinal aquele não era um dia para contendas, sendo acompanhados naquela prática amistosa por Edgar e Albertinho; assim como os homens, as senhoras também iniciam um colóquio agradável sobre algum assunto em voga no momento. As crianças ainda brincam no andar superior, estando sob os cuidados de Gertrudes. Matilde achega-se a patroa e avisa que o almoço pode ser servido. Laura pede a empregada que avise as crianças para descerem. Chega o momento de passarem a sala de refeições..

As crianças dirigem-se a sala... Ao avistarem os pequenos, o constrangimento de Constância e Bonifácio ante a filha de Edgar se mostra sem disfarce... Margarida, ao perceber o semblante grave do marido resolve ir de encontro aos netos, para que Melissa não se sinta intimidada diante dos olhares severos daquelas pessoas para ela estranhas...

Melissa e Daniel (descendo a escada) Bom dia!

Margarida: Meus amores! Venham... quero um abraço!

Todos os demais são simpáticos e procuram agir com naturalidade com a menina... No entanto, para Bonifácio e a Baronesa, aquilo torna-se um exercício de auto-controle onde não atingem completamente o propósito..

Constância (dando atenção apenas ao neto): Laura... o Daniel está cada dia mais lindo! Vem aqui meu bem... (abrindo os braços)

Laura (contrariada com a atitude da baronesa): Sim minha mãe.... mas Melissa também.. é uma menina encantadora (acariciando os cabelos da menina que a estas alturas está no colo da avó paterna)

Melissa: Vovó... quem são essas pessoas?

Margarida: São os avós do Daniel... os pais de Laura... esta é D. Constância e aquele o Dr. Assunção... ah sim... e aquele meu amor... é o vovô Bonifácio...

Melissa: Vovô! Como eu queria te conhecer! (sendo depositada no chão após alguma insistência e indo em direção ao pai de Edgar)

Bonifácio (cumprimentando a menina com alguma frieza e tentando manter um certo distanciamento) Como vai menina...

Assunção (pegando Daniel no colo e enchendo-lhe de cócegas na barriga): Meu campeão!

Daniel: Para vovô...

Bonifácio: E eu seu sapeca? Não ganho nenhum abraço?

Edgar (fitando o pai com ar de reprovação) Filhinha... venha... quero que conheça um amigo do papai... esse aqui é o Albertinho... ele é irmão da Laura...

Albertinho: Olá Melissa! Mas que mocinha linda você é...

Assunção: Sim... uma linda menina!... Tudo bem Melissa?... Eu sou o vovô do Daniel....E agora quero ser seu amigo...

Melissa: Tá bom!... Vai ser supimpa ter um amigo vovô...

Laura: Por favor... vamos passar para a sala de refeições... O almoço está servido...

O almoço segue com alguma tensão. Logo que terminam, as crianças pedem licença para retirar-se e sobem correndo para voltar às suas brincadeiras. Já sem os pequenos, o clima tenso que se instaurara no ambiente aos poucos se dissipa. Apesar da vontade de falar umas boas verdades para seu pai e sua sogra, Edgar, em respeito aos outros convivas, resolve que aquele não é o momento para isso. Ao terminarem a refeição, o casal e os familiares passam para a sala de estar novamente, onde a conversa amena segue por mais algum tempo...

Edgar: Bem.. Laura e eu gostaríamos de agradecer a presença de todos aqui... e queríamos compartilhar com vocês... nossa família... este momento que estamos vivendo...

Bonifácio: E que nos deixa felizes a todos! Filho... de minha parte só tenho a dizer que estou muito contente por vocês estarem novamente juntos... Eu e sua mãe fazemos votos para que esta união seja duradoura e feliz!

Assunção: Bem.. o Bonifácio já disse tudo.... Faço minhas as suas palavras... Felicidades!

Laura: Nós agradecemos de coração... Mas há algo mais que queremos compartilhar com vocês...

Bonifácio: Algo mais?

Edgar: Sim... Gostaríamos de anunciar que a família Assunção Vieira terá mais um integrante...

Margarida: Como é? Filho! A Laura...

Laura: Sim, D. Margarida... Eu estou grávida...

Constância: Mas isso é maravilhoso! Filha... não tem ideia de como estou feliz!... E dessa vez quero poder ajuda-la em tudo! Precisamos correr contra o tempo...Tenha certeza que Margarida e eu vamos ajuda-la a providenciar o enxoval mais lindo... digno de um Assunção Vieira!

Margarida: Certamente...

Constância: E pelo que percebo, seu pai já estava a par de tudo!.. E para variar não me contou...

Assunção: Eu não podia contar... sigilo profissional...

Edgar: Não o culpe D. Constância... Laura e eu pedimos que guardasse segredo... Queríamos nós mesmos anunciarmos a todos vocês a chegada de nosso filho....

Todos comemoram e cumprimentam o casal... Os homens confabulam sobre o futuro promissor da criança que está por vir... As avós emocionadas relembram dos filhos quando pequenos e se prontificam a ajudar em tudo que a mãe precisar... Nomes para o rebento são sugeridos... E, desta forma a tarde segue...

Albertinho (voltando do quarto das crianças, onde por algum tempo permaneceu conversando com os pequenos): Meus caros...Agradeço pelo convite... mais uma vez parabenizo meu cunhado e minha irmã por terem reatado e pelo novo herdeiro..Mas no momento me retiro!.. Foi um prazer desfrutar da companhia de vocês!

Laura: Oras meu irmão, para que a pressa?

Bonifácio: Por certo deve haver uma bela moça a espera deste jovem rapaz!... Se for por isto... não se detenha!... Não se deve deixar uma donzela esperando, Albertinho!

Albertinho: Infelizmente, são apenas marmanjos os que me esperam!... Tenho um match de futboll marcado agora à tarde com alguns amigos... Boa tarde... (saindo)

Assunção: Aproveitamos e vamos também... Ah... antes que esqueça... Amanhã estou indo para a fazenda... (tirando um cartão do bolso)Falei com a Dra. Evie...geralmente a encontram na Santa Casa.... mas em caso de emergência, aqui tem o endereço e o telefone do seu consultório e da residência ...Não hesitem em procura-la...

Bonifácio: Margarida e eu também estamos de saída... Agradecemos a hospitalidade e principalmente por nos alegrar com tão boas notícias... Boa Tarde...

Após acompanhar os pais até a varanda da casa e as devidas despedidas serem feitas, o casal retorna até a entrada da residência... Ainda no vestíbulo Edgar apoia as mãos nos ombros de Laura e a conduz para a sala...

Edgar: Até que enfim foram!... Nada contra, mas para aturar esses quatro juntos precisa ter muita coragem...

Laura: Concordo!... Pelo menos acho que tudo saiu a contento...

Edgar: Sim... menos a reação do meu pai com Melissa... Até sua mãe foi mais educada com ela do que o Sr. Bonifácio... Só não falei nada por respeito aos outros e por achar que o momento não era oportuno...

Laura: Realmente... como podem tratar assim, com tanto preconceito, alguém que não tem culpa de nada? A Melissa é apenas uma criança... O comportamento do seu pai é reprovável... mas o de minha mãe não fica atrás..

Edgar: Bem... uma hora ou outra meu pai há de ouvir tudo o que tenho a dizer-lhe... Melissa é minha filha... tanto quanto Daniel... a distinção com que tratou meus filhos hoje foi revoltante!... Por sinal... será que Melissa percebeu?

Laura: Espero que não...Acho que vou dar uma olhada nas crianças

Edgar: Espera... vou com você... E depois disso... você deve estar cansada... Essa agitação toda deve te-la deixado exausta... Você e nosso bebê precisam descansar...

Laura: Desde que o papai venha descansar também...(abraçando Edgar)

Edgar: Eu tinha outros planos... Mas o convite é tentador...(envolvendo a cintura da esposa)

Laura: Ah é? O que pretendia fazer?

Edgar: Por incrível que pareça... ia procurar o endereço do motorista que sofreu o ataque no roubo da carga da tecelagem... Como hoje não há expediente na fábrica, e o guarda me conhece, poderia ver isso sem ter de encontrar com o Fernando lá dentro... Preciso descobrir se há alguma irregularidade na compra das ações...

Laura: Bom... isso é importante...

Edgar: É importante... Mas não que não possa esperar... Faço isso amanhã pela manhã... Por agora... (dando um beijo intenso) vem... vamos subir e descansar... Ou acha que não estamos merecendo?

Laura: Merecemos (aplicando um beijinho no marido)...

Laura e o marido sobem para o andar superior.. Detêm-se algum tempo no quarto de Melissa, onde a menina, com um semblante triste, e o irmão brincam há algum tempo de princesa e cavaleiro medieval com a babá... Daniel continua com a luta que trava com um dragão imaginário... Edgar percebe que sua filha não está bem e cruza o olhar com Laura... a esposa diz para Gertrudes continuar a brincadeira com o menino e toma a mão da pequena, levando-a para o outro quarto, junto com o pai, que a acomoda em seu colo... É necessário conversar...

Edgar: Minha abelhinha... o que foi?

Melissa: Nada papai

Laura: Melissa... e essa carinha?...Meu anjo, por que está tão tristinha?

Edgar: É meu bem... você estava tão contente hoje pela manhã...

Melissa: Papai... por que o vovô não gostou de mim?

Laura: Melissa... o Sr. Bonifácio é assim mesmo... ele não é de demonstrar que gosta ou não das pessoas...

Melissa: Mas e por que do Daniel ele quis um abraço... e de mim não quis nem chegar perto?

Edgar: Filha... o vovô Bonifácio acha que as meninas são sensíveis... que ele pode machucar... Então ele prefere ficar mais longe delas... Não dê muita atenção a isso... Meu pai é esquisito... Sabe... quando eu era pequeno... ele também raramente brincava comigo... pegava no colo...

Melissa: Verdade papai?

Edgar: Claro meu anjo... não fica triste não...

Melissa: Tá bom... (dando um beijo no rosto do pai)

Laura: Melissa... acho que o Daniel está precisando da princesa para poder salvar...

Melissa: Ah é!...Já vou lá!... Vou brincar com o meu irmão... (saindo correndo)

Edgar: Não sei se fiz certo em dizer isso... Eu acabei mentindo para ela!... Ai Laura... que situação!... Tudo por causa do preconceito estúpido do meu pai

Laura: Amor... foi uma mentirinha piedosa... não se preocupe!.. Foi o melhor que poderia ter feito..

Edgar: Mas queria poder fazer mais..

Laura: Eu também queria, mas infelizmente ainda não sei como...

Edgar: Bem, esse dia já me esgotou... Sra. Vieira... vamos ao nosso descanso?

Laura: Vamos... estamos precisando...

Enquanto o casal se dirige ao seu aposento, para por algumas horas repousar, no Federal Sport Club, vê-se uma grande movimentação... damas da elite carioca empunhando suas sombrinhas para tentar coibir o sol e cavalheiros com seus chapéus e bengalas circulam ao redor do gramado em busca de acomodação para assistir o match que está por começar... Apesar de ser uma partida amistosa contra um time do interior, a prática do esporte atrai um bom público... Dentre os espectadores, Guerra e seu colega de redação, Jonas, de caderneta em punho, principiam seu trabalho... Do outro lado do campo, encontram-se várias senhoras a conversar... dentre estas Alice, entusiasmada mais com a movimentação das pessoas do que com a presença do marido em campo, acompanhada por tia Celinha, que esforça-se na tarefa de cuidar de Miguel e ao mesmo tempo não derrubar um copo de refresco que tem nas mãos...

Jonas: Guerra! Olha quem está lá do outro lado do campo!

Guerra: Ah sim... a D. Celia... (olhando para a senhora mas tentando disfarçar) O que tem demais?

Jonas: Oras o que tem demais? Não vais falar com ela por acaso?

Guerra: Jonas... nós viemos aqui para trabalhar...(dando um leve aceno de cabeça para a tia de Laura no outro lado do campo)

Jonas: Mas ela está olhando para cá.. (acenando para Celinha)

Celinha acena para Jonas, na verdade com a intenção de chamar a atenção de Guerra... O que consegue, afinal acaba por derramar o refresco que tinha em mãos sobre seu vestido...

Alice: Tia! Que desastre!

Celinha: Sim... Era só o que me faltava!.. Agora vou ter de ver o match assim... ensopada de refresco! E o pior é que o Carlos viu!... Eu realmente sou uma desastrada... não tenho sorte!

No local reservado para os jogadores, a conversa entre amigos é animada... Fernando, Teodoro, Humberto, outros rapazes da sociedade carioca, Albertinho e Joaquim esperam ansiosos para entrar em campo...

Albertinho:E então... preparado?

Joaquim: Vamos dizer que sim... Faz tanto tempo que não jogo...

Fernando: Olha... que de perna de pau aqui já basta o Teodoro...

Teodoro: Não venha com essa Fernando!... Eu sempre joguei muito bem... E tenho que impressionar... afinal... minha esposa e meu filho vieram ver o match...

Humberto (caçoando): Claro... um pai de família tem que trazer a esposa para ver que ele agora é um homem sério e depois daqui não vai sair com os amigos para a esbórnia! (rindo e provocando a risada dos demais)

Teodoro: Isso... continue!... Um dia o senhor ainda vai se casar... aí quem vai rir sou eu!

Albertinho: O que está procurando, Joaquim? Te vejo toda hora olhando para a beira do campo...

Joaquim: Convidei a Filipa para assistir ao match...

Albertinho: A Filipa? (sorrindo) E a Manoela vem também?

Joaquim: Creio que sim... (abrindo um sorriso largo) Olha... chegaram!

Albertinho: Joaquim... preciso fazer um gol!... Por favor rapazes..... passem a bola para mim!

Fernando: Eu estou louco ou o Albertinho está apaixonado e quer dedicar um gol?

Albertinho: Estou! Pela mais bela mulher que já vi!

Teodoro: Está vendo, Humberto... logo só você vai continuar nesse time de janotas pândegos!

Humberto: Bem.. eu preciso honrar o time, ora bolas! Até você Albertinho, me abandonaste...

Todos continuam rindo e conversando enquanto a partida não começa... o clube vai cada vez recebendo mais pessoas... Onde os jogadores estão, um funcionário entrega os uniformes que os rapazes convidados vão vestir... e que devem ser devolvidos ao clube ao final do match...

Funcionário: O senhor por favor assine essa folha... para comprovar que lhe foi entregue o uniforme...

Joaquim: Certo...

O advogado assina e detém-se um momento naquele papel... Algo ali lhe chama a atenção...

Joaquim: Desculpe... como é seu nome?

Funcionário: Rufino... Rufino Alves dos Santos

Joaquim: E essa assinatura é sua?

Funcionário: Sim senhor... por que?

Joaquim: Curiosidade apenas... Quando devolvo... preciso assinar novamente, é isso?

Funcionário: Isso mesmo... Com licença...

Joaquim olha para o rapaz que se afasta... pensa consigo mesmo... "Muito interessante!... Preciso falar a Filipa sobre o que descobri"...


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