Ares-1 Vs. Nemesis: A Batalha do Século escrita por Goldfield


Capítulo 4
Capítulo 4




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Capítulo 4

Neve, frio e zumbis.

–         Fiquem à vontade!

As palavras de Igor fizeram com que os seis integrantes da equipe contra a Biocom entrassem sem medo no apartamento em Vladivostok. Era pequeno, aconchegante e o mais importante: não tão frio!

Chris e William entraram trazendo grandes malas com armas e munição. Bryan e Igor descarregavam outros suprimentos como rádios e coletes, enquanto as três mulheres ajeitavam os móveis de acordo com as necessidades do grupo.

–         O banheiro fica naquela porta ao lado do armário – explicou o guia. – Preparem tudo até amanhã de madrugada, quando partiremos!

–         Então entraremos em ação em menos de vinte e quatro horas? – perguntou Jessen.

–         Sim – respondeu Chris. – Precisamos agir o mais rápido possível, antes que esse Deller fuja e cause mais estragos!

William colocou uma mala preta sobre um sofá e sentou para descansar. Sherry, passando por Bryan, lhe perguntou com um sorriso:

–         Você quer um chocolate bem quente? Acho que vou fazer um pouco para nós na cozinha!

–         Hei, eu adoro chocolate no inverno, bem quente! Você sabe fazer?

–         Sim, minha mãe me ensinou quando morávamos em Raccoon. Foi uma das poucas coisas que ela me ensinou a fazer, pois nunca saía do laboratório.

–         Eu sinto muito...

–         Não se preocupe! Sabe, foi muito nobre o que você fez, vindo conosco!

–         Obrigado!

Os dois deixaram o cômodo conversando, enquanto Jill dizia:

–         Igor, já pode ir se quiser. Vamos ter muito trabalho até madrugada.

–         OK. Estarei aqui por volta das três, e espero que estejam bem armados!

–         Nós aprendemos a não subestimar empresas farmacêuticas com laboratórios secretos! – exclamou Chris.

Igor riu e deixou o apartamento, enquanto os demais começavam a preparar todo o equipamento para a próxima e fria madrugada...

A instalação do novo software levara três horas e meia, mas Deller, sempre inseguro, quis garantir que tudo desse certo e resolveu checar todos os sistemas do laboratório antes de voltar plenamente ao ar. Levara quase um dia inteiro fazendo isso, mas valera a pena: agora poderia iniciar com “ele”.

Deller mal conseguia controlar sua ansiedade enquanto digitava os últimos códigos de acesso. Uma última e decisiva informação surge na tela: “Para iniciar o novo sistema, pressione Enter”.

O antigo responsável pela White Umbrella pressionou a tecla como se fosse a coisa mais importante do mundo, e na verdade para ele era. Assim que a ação ocorreu, todas as luzes da sala de controle se apagaram, e uma pequena plataforma surgiu no centro do hexágono.

O biólogo virou-se e viu quando algo começou a ser projetado sobre a plataforma, e esse algo logo tomou forma: o holograma azul de um homem vestindo roupa tática e óculos escuros. A imagem começou a olhar para Deller ajeitando o cabelo, enquanto este dizia seu nome:

–         Albert Wesker!

De fato o holograma era perfeito, retratando o antigo pesquisador da Umbrella e traidor do S.T.A.R.S. com extrema perfeição. Após terminar de ajeitar o cabelo, o Wesker azul disse, com a mesma voz do original:

–         Deller, se você me instalou quer dizer que morri na Amazônia, certo?

–         Sim, Wesker. Você me entregou aquele disquete pouco antes de ser morto por Leon Kennedy. Disse que assim, se morresse, sobreviveria de alguma maneira.

–         Leon Kennedy me matou? Que patético! Pensei que Chris seria aquele que me mataria!

–         Mas não foi ele...

–         OK. Em que ano estamos? O que houve com os S.T.A.R.S. e o T-Virus? Eu ao menos consegui o que queria?

Deller não havia atualizado o banco de dados do sistema para ter o prazer de contar tudo a Wesker, principalmente sobre sua atitude homicida contra os pesquisadores da Biocom. Wesker era agora uma máquina. Com inteligência humana, mas uma máquina. E era muito melhor conversar com uma máquina do que ficar mais horas entediado.

Todos se deliciaram com o chocolate bem quente feito por Sherry. Logo depois se debruçaram sobre uma mesa examinando mapas e coordenadas, revisando como seria a operação. Chris explicou:

–         OK. A entrada para o laboratório subterrâneo fica dentro deste bunker! – disse, apontando para o centro do mapa. – Igor nos deixará de helicóptero quinhentos metros a noroeste. Precisaremos percorrer um pouco da floresta e cruzar o muro que cerca a estrutura. Provavelmente haverá algum tipo de passagem disponível, pois há zumbis que escaparam para fora.

–         E dentro do bunker? – perguntou William.

–         Segundo Igor, encontraremos uma passagem secreta com um bloco de escadas que leva ao subsolo. A partir daí seguiremos às cegas, pois não sabemos como é esse maldito laboratório. A prioridade lá dentro será buscar algum tipo de orientação para pegarmos Deller. Mais alguma pergunta?

–         Além dos zumbis, o que mais encontraremos? – indagou Bryan.

–         Não sei. Falando da Umbrella, podemos lutar contra cães mutantes, corvos, aranhas e vermes desproporcionais, plantas assassinas, Lickers e Hunters, além dos temíveis experimentos da série Tyrant.

–         Explique melhor esses três últimos – pediu Linda.

Jill explicou:

–         Os Lickers são mutações de zumbis, não têm pele, possuem garras afiadas, andam de quatro e escalam paredes, matando suas vítimas com uma monstruosa língua que pode quebrar facilmente um pescoço humano. O ponto fraco deles é o fato de possuírem cérebro exposto, portanto atirem nesse local sem piedade. Já os Hunters são mutantes originados quando o T-Virus afeta o DNA humano. São geralmente verdes, parecem sapos misturados com camaleões, têm garras afiadas e pulam bem alto. Atirem enquanto estiverem no chão ou eles podem arrancar a cabeça de vocês sem dificuldade!

–         E os Tyrant? – perguntou William.

–         Os Tyrant, a obra-prima da Umbrella – disse Chris. – São supersoldados quase indestrutíveis, mas cada experimento dessa série possui um ponto fraco específico. A maioria possui coração exposto, tornando-os bem vulneráveis. Porém existem os T-00, apelidados por minha irmã de “Mr. X”, muito mais difíceis de destruir. Há também os mutantes da série Nemesis...

–         Esses eu conheço bem – suspirou Jill. – Tive que enfrentar um frente a frente várias vezes para escapar de Raccoon City. Eles são extremamente inteligentes, sabendo abrir portas e manusear armas, diferente dos zumbis e outros monstros. Perigosíssimos.

–         E o que a Biocom nos reserva? – perguntou Bryan, já impressionado com a “família” da Umbrella.

–         Temos que evitar principalmente os mutantes da série Ares – explicou Linda. – Basicamente eles são todos iguais, fortíssimos e imunes a armas de fogo, sugando cérebros para manter ativo o sistema de regeneração. A única maneira efetiva de derrotá-los é através do retrovírus Hércules, que inibe o processo regenerativo. Eles ficam assim vulneráveis.

–         Algo mais? – perguntou Sherry.

–         Sim – respondeu William. – Há outros tipos de aberrações, como gorilas e ursos de duas cabeças, morcegos resistentes à luz, além dos terríveis “bebês”.

–         Bebês? – estranhou Chris.

–         São criaturinhas asquerosas, chamadas assim pelos pesquisadores pela razão de serem bebês com as células dos Ares que passaram por um tipo diferente de mutação. Possuem mais ou menos um metro de altura, pernas finas, braços com garras afiadas, dentes também pontiagudos, olhos grandes e enorme cabeleira. Atacam sempre em bando.

–         Nojento! – exclamou Bryan.

Todos riram por um instante, mas não conseguiam, por mais que tentassem, esconder a tensão. Aquela missão não seria nada fácil.

–         Então você contaminou todo o laboratório com o T-Virus? – perguntou o Wesker holográfico.

–         Sim, meu caro – respondeu o entusiasmado Deller. – Aquela maldita Biocom vai pagar!

–         Você acha que isso foi mesmo prudente?

–         Como assim? Os S.T.A.R.S. virão para cá me pegar e você poderá se vingar deles! Agora você é uma máquina, Wesker! Uma máquina possui mais capacidades que um ser humano!

–         Então o que você quer que eu faça?

–         Logo que eles entrarem, tranque todas as portas dos setores com mutantes. Você só as abrirá quando eles atingirem a região do elevador central, ficarão então cercados pelos monstros e não conseguirão fugir!

–         Mas e se eles escaparem?

–         Estou reservando algo grande para eles... Wesker, seja o sádico que sempre foi! Leve-os até a morte deixando que saibam que você ainda está vivo!

–         Vivo? Você chama isto de vida, Deller? Eu posso acumular infinita inteligência e não morrerei mais neste estado, mas nunca mais vou sentir algum tipo de sentimento ou sensação! Nunca mais vou poder beijar uma mulher, nunca mais vou poder sentir o prazer de saborear minha refeição favorita! Você não entende Deller?

–         Mas agora você pode ser cruel sem o risco de sentir remorsos...

Nisso o biólogo estava certo. Wesker agora era uma máquina e poderia empreender uma vingança descomunal sem se sentir bem ou mal por isso. Mas os S.T.A.R.S. sentiriam algo. E esse algo se chamava dor, muita dor.

Madrugada na Sibéria. Escuridão e vento gélido, temperatura abaixo de zero. Sobre os pinheiros da extensa floresta verde e branca, o som de hélices girando começou a cantar em dueto com o vento. Logo era possível avistar um helicóptero branco como a neve iluminando uma pequena clareira com um holofote. Ele diminuiu a altitude até ficar a poucos palmos do chão.

–         Vocês podem me contatar pelo rádio se necessário, mas duvido muito que ele funcione no subsolo! – exclamou Igor, levantando a voz para tentar ter sua voz ouvida além do forte som do helicóptero.

–         OK! – gritou Chris. – Vamos, pessoal!

E, um a um, os três homens e três mulheres saíram da aeronave, bem protegidos contra o frio através de densas vestimentas e viseiras, além de armados. Chris e William tinham rifles M16, Jill e Linda seguravam submetralhadoras Uzi e Sherry e Bryan estavam com pistolas Desert Eagle em mãos. Também tinham algumas granadas, rádios e facas. Iluminavam a área com lanternas.

Chris olhou ao redor por um instante e começou a caminhar entre as árvores cobertas de neve, seguido pelo resto do grupo, enquanto Igor partia com o helicóptero. A equipe seguiu devagar com a marcha, cautelosa, enquanto seus integrantes não paravam de olhar apreensivos para os lados, entre as árvores.

–         Você está com medo? – perguntou Bryan a Sherry, com um meio sorriso.

–         Mais ou menos... – sorriu a promotora.

–         Eles estão por perto... – murmurou Chris, extremamente atento. – Posso sentir que estão por aqui...

Todos seguiram mais alguns metros cautelosos, até que um alto gemido ecoou até ali. A marcha parou imediatamente.

–         O que foi isso? – indagou William, preocupado.

–         São esses malditos zumbis! – exclamou Jill.

Chris continuou a caminhada, e os demais seguiram seus passos, com medo de ficarem sozinhos, à mercê dos mortos-vivos. Os passos se aceleraram, tensos.

–         Parem! – exclamou Chris, sem mais nem menos.

O grupo parou novamente, com medo. Todos olhavam para as árvores, iluminadas pelas lanternas, tentando ao menos ver algum zumbi. Estar encurralado e não conseguir ver o inimigo é angustiante.

O marido de Jill começou a mirar lentamente na direção de uma árvore. Após alguns instantes mirando atento na mesma posição, veio o disparo.

Algo veio ao chão ao lado da árvore, e era um cadáver humano, que se tornou centro da luz emitida pelas lanternas. Todos conseguiram ver o sangue tingir de vermelho a neve, e Sherry exclamou:

–         Meu Deus! Aquilo era um zumbi?

A resposta veio quando o sujeito abatido por Chris levantou, todo coberto de neve, e começou a caminhar na direção deles. Seguiram-se dois gemidos tão altos quanto o primeiro, e William, vendo que estavam cercados pelos mortos-vivos, gritou:

–         Corram!

Todos começaram a correr entre as árvores, seguindo Chris. Conforme prosseguiam surgiam mais vultos humanos cambaleando e gemendo, sedentos por sangue. Algum membro do grupo arriscava disparar contra um ou outro, errando na maioria das vezes. Chris e Jill lembraram-se de quando tudo começou, na floresta de Raccoon, quando eles mais Barry e Wesker correram dos cães mutantes após o pouso do helicóptero perto da mansão de Spencer. Aquilo fazia mais de dez anos e o que viviam naquele momento era terrivelmente parecido.

E continuaram naquela travessia angustiante, desviando das árvores iluminadas pelas indecisas lanternas, até que o súbito barulho de algo caindo no chão fez todos olharem para trás.

–         O que foi isso? – exclamou William.

–         Fui eu! – respondeu Sherry, coberta de neve, enquanto se levantava do chão. – Tropecei em algo!

–         Cuidado! – gritou Linda.

Malone acabara de ver no que Sherry tropeçara: um morto-vivo vestindo jaleco branco sujo de sangue, que, após soltar um gemido, agarrou o pé da promotora pública.

–         Ah, socorro! – gritou Birkin, tentando se libertar do feroz zumbi.

–         Morra, seu maldito!

O autor da frase foi Bryan Jessen, que disparou com a Desert Eagle na direção da cabeça do mutante. Parte desta explodiu, fazendo jorrar sangue e massa cinzenta, enquanto Sherry conseguia libertar a perna.

–         Obrigada, Bryan! – sorriu a filha de William Birkin.

–         De nada! – exclamou o dentista, já seguindo em frente com os outros.

E correram mais alguns metros, até que, para a alegria do grupo, a floresta terminou. Os seis se viram numa ampla clareira, com uma não muito grande fortificação no centro.

–         O bunker! – concluiu Chris. – Vamos em frente!

E prosseguiram, com o gélido vento chocando-se contra seus limitados corpos. Os zumbis ainda os perseguiam, pois os temíveis gemidos não cessavam.

Chegando mais perto do muro que cercava o bunker era possível encontrar um grande portão aberto por onde os zumbis haviam saído. Também havia quatro torres de guarda, sem ninguém nelas.

A equipe cruzou apreensiva o portão. Nenhum zumbi ou coisa do tipo. Jill, Bryan e Sherry ficaram de guarda na entrada da fortificação enquanto Chris e William procuravam a entrada do bunker.

–         Aqui! – gritou Redfield.

Os demais se aproximaram e viram-se de frente para uma porta de ferro lacrada. Não havia painel ou tranca para destrancá-la, o que deixou o grupo desnorteado.

–         Eu não acredito! – irritou-se Linda. – Viemos até aqui por nada, e agora estamos cercados de zumbis!

–         Acalmem-se todos! – pediu Jill. – Chris, não há uma maneira de abrir essa porta?

–         Eu não sei, querida... Não há qualquer tipo de tranca ou coisa parecida...

Súbito, a porta se abre misteriosamente, liberando o caminho. Todos, assustados, recuam alguns passos para trás. Mas não saiu nenhum monstro medonho de dentro do bunker, algo que os surpreendeu enormemente.

–         O que está havendo? – indagou Jessen, confuso.

Chris entrou primeiro para averiguar, preparado para atirar em qualquer coisa que se movesse. Depois foi Jill e os demais a acompanharam.

Dentro do pequeno bunker havia apenas alguns engradados de metal com inscrições em russo. Uma oscilante lâmpada de mercúrio iluminava o teto. Sherry, logo após ouvir mais um gemido dos zumbis, disse:

–         Precisamos encontrar a passagem secreta para o subsolo, e rápido!

O marido de Jill parou e ficou olhando para as paredes. Depois fitou os engradados... E por fim a assustada face dos companheiros de equipe.

De repente, sem mais nem menos, um dos engradados começou a se mover sozinho em linha reta, fazendo com que os seis invasores saltassem surpresos. Na verdade aquilo era uma espécie de mecanismo, que revelou uma escura entrada no chão. Chris a iluminou com sua lanterna, vendo que o caminho seguia em diagonal através de uma escada metálica.

–         Bem, aí estão as malditas escadas! – murmurou Chris, desconfiado.

–         Vamos descer? – pergunta Jill com um sorrisinho.

Todos permaneceram calados, olhando para Redfield. Alguém estava facilitando as coisas para eles e aquilo não era bom. Primeiro a porta do bunker, agora a passagem secreta.

–         Chris, eu sei que isso tudo é bem suspeito, mas não temos muita escolha! – disse William. – Estamos encurralados e se não descermos aqueles zumbis nos pegarão cedo ou tarde!

O grupo foi vencido pela terrível verdade. Não tinham muita escolha naquele difícil momento.

–         Sigam-me!

Chris começou a descer cauteloso pelos degraus da escada, seguido pelos demais. Aquilo era um escuro bloco de escadas como aqueles dos edifícios, que começou a ser vencido pela equipe. Seus passos sobre o metal ecoavam pelo frio ambiente.

–         Será que encontraremos mais zumbis? – perguntou Jessen, ofegante.

A resposta era óbvia. Se Deller havia contaminado todo o laboratório com o T-Virus, era lógico que encontrariam mais daquelas coisas, até piores.

As escadas terminaram numa abertura um tanto iluminada, graças a uma lâmpada de mercúrio sobre uma porta metálica. Ao lado dela havia um leitor de cartões que aparentemente não funcionava, soltando faíscas.

–         OK, será que essa porta também se abrirá sozinha? – indagou Linda.

Como que se a porta tivesse ouvidos, ela se abriu para que o grupo prosseguisse. Chris, sempre desconfiado, iluminou o caminho com sua lanterna, mas isso já não era necessário, pois a partir daquele ponto lâmpadas brancas no teto tornavam o trajeto mais confiável. A temperatura também já não era tão baixa, e logo eles poderiam se livrar das pesadas vestimentas.

Antes de seguirem Chris, todos tiraram as viseiras de proteção contra a neve. O corredor era amplo, todo metálico, com a inscrição “Biocom”, em branco, numa das paredes.

–         Como eles são exibicionistas! – riu Linda. – Sempre construindo esses laboratórios escondidos do mundo e fazendo questão de assinar!

O caminho terminava na frente de outra porta, cheia de painéis e mecanismos de identificação. Chris parou na frente dela, pensativo, esperando que se abrisse. Mas passou-se quase um minuto e nada ocorreu.

–         Bem, parece que as portas não se abrirão mais sozinhas para nós! – exclamou Sherry. – E agora?

Todos olharam ao redor. Não havia nenhum outro caminho a não ser aquele pelo qual vieram, nenhum duto de ventilação ou coisa do tipo. Aquela porta tinha que ser aberta de alguma maneira.

–         O que você está esperando? – perguntou Deller, nervoso. – Abra a porta para eles!

–         Acalme-se! – sorriu o Wesker azul. – Veja o que vou fazer!

E Deller voltou a olhar para o grupo através de um dos monitores do painel, tentando imaginar se Albert Wesker já fizera algo do tipo em carne e osso.

Enquanto pensavam em algo, todos haviam guardado as lanternas e tirado as vestimentas contra o frio. Usavam agora roupas táticas completas, de cor preta. Jill, como sempre, tinha sua boina da sorte na cabeça. Acreditava que a razão de ter passado tantos contratempos para escapar de Raccoon City fora o fato de não tê-la usado na ocasião.

Sem mais nem menos, ecoa até ali um alto gemido.

–         São os zumbis! – diz Bryan. – Eles já devem estar entrando no bunker e se não encontrarmos logo uma maneira de prosseguir, estaremos fritos!

Nesse momento, Chris aproximou-se de um dos painéis ao lado da porta lacrada. Nele havia uma pequena tela de cristal líquido, onde surgiu uma mensagem que o ex-membro do S.T.A.R.S. leu em voz alta:

–         Digite a senha para abrir caminho!

E surgiu um teclado de computador de dentro do painel, para que fosse usado pelo grupo.

–         Que doideira é essa? – riu Bryan. – Ele quer uma senha?

–         Deve ser esse maldito Deller... – resmungou Jill. – Sádico filho da mãe!

Chris tentou pensar numa senha, mas, apesar de toda a sua experiência com coisas desse tipo, nada surgiu em sua mente.

–         Quantos dígitos? – perguntou William.

–         Seis! – respondeu Sherry, olhando para a pequena tela onde aparecera a mensagem, agora com seis espaços para que fosse inserida a senha.

Jill, após um instante, disse:

–         Chris, tente “Deller”!

–         OK.

O marido de Jill digitou o nome do antigo responsável pela White Umbrella, mas a mensagem “Senha incorreta!” surgiu na tela.

–         Que merda! – exclamou Chris, irritado. – Ele está brincando com a gente!

–         Tente “Tyrant”! – sugeriu Sherry.

Chris digitou novamente no teclado, e mais uma vez surgiu a mensagem informando que a senha não estava correta. O grupo ouviu mais uma vez o gemido de um dos zumbis na superfície.

–         Rápido, pessoal! – preocupou-se Linda.

Redfield coçou a testa e digitou “Birkin”. Nada feito.

–         Deller deve ser tão sádico quanto aquele maldito Wesker... – murmurou Sherry, olhando para trás preocupada com os mortos-vivos.

–         É isso, Chris! – exclamou Jill. – Digite “Wesker”!

Chris o fez, e as trancas da porta foram liberadas. Todos seguiram rapidamente em frente, receosos pelo fato de Deller admirar o terrível Albert Wesker a ponto de usar seu nome como senha para uma porta.

–         Engenhoso, caro Wesker! – disse Deller, olhando para o holograma azul.

–         Eles conseguiram passar, mas não se preocupe – sorriu Wesker. – Só fiz isso para terem uma pista de com quem estão lidando! Eu os encurralarei na área do elevador central!

–         E pensam que me pegarão facilmente... Conhecerão o inferno em vida!

E a atenção do biólogo voltou-se novamente para os monitores.

O caminho prosseguia num novo corredor parecido com o anterior, mas este era um pouco maior em extensão. Os seis intrusos correram até a única passagem disponível: uma outra porta no final, com apenas um simples mecanismo de identificação, que se abriu assim que se aproximaram o bastante.

–         A Biocom protegeu muito bem este lugar, mas Deller está facilitando para nós! – disse William. – É uma armadilha, tenho certeza!

–         Com armadilha ou não, temos que pegar esse desgraçado! – murmurou Chris, já seguindo em frente.

A equipe entrou numa área ampla, extensa e bem iluminada, de teto alto e diâmetro largo, em formato de cruz. À esquerda seguia um caminho com a inscrição “Setor Alfa” e uma porta no final. Para a direita havia a inscrição “Setor Beta”, com outra porta. Por fim, em frente havia uma entrada diferente das outras abaixo de uma placa onde estava escrito “Elevador Central”.

–         Meu Deus! – surpreendeu-se Sherry. – Este complexo deve ser gigantesco!

Receosos, os seis invasores foram caminhando na direção da encruzilhada. O chão agora era de concreto, o ambiente um pouco mais frio. Nenhum som a não ser os passos e a respiração. Parecia mais uma tumba amaldiçoada do que um laboratório de pesquisas.

A marcha parou quando Chris, indeciso, começou a olhar para os lados tentando imaginar onde poderiam encontrar plantas do lugar e a localização de Deller. Ele devia estar numa sala de controle ou coisa assim, de onde poderia comandar todo o complexo.

–         Para onde levará esse elevador? – perguntou Jessen, quebrando o silêncio.

Nesse momento eles perceberam que entre a entrada do elevador e a placa havia uma barra horizontal que indicava o progresso do transporte através de luzes. Pelo número de espaços era possível concluir que a descida era grande e demorada.

–         Vamos chamar o elevador? – perguntou Jill, apontando para um painel ao lado da entrada.

–         Nós estamos em seis – disse Chris. – Vamos nos dividir em três grupos. Eu e Jill podemos investigar esse elevador. E vocês?

–         Eu e Linda podemos ir pelo Setor Alfa! – propôs William.

–         OK. Então eu e Sherry vamos pelo Setor Beta! – exclamou Bryan, checando a munição da Desert Eagle.

Jill se aproximou do painel e apertou um botão para chamar o elevador. Uma luz verde surgiu no primeiro espaço da barra, da esquerda para a direita, enquanto era possível ouvir o som do maquinário trabalhando. O elevador realmente demoraria a subir.

–         Não é incrível, meus caros? – perguntou uma estranha voz, que não era de nenhum deles. – Esse elevador desce metros e metros no subsolo até o resto do laboratório, que é realmente profundo. Quem empreendeu esta obra colossal deve ter trabalhado anos e anos...

–         Eu conheço essa voz... – murmurou Chris.

–         Claro que você conhece, Chris! Você me odeia, lembra? Nós nunca esquecemos a voz dos inimigos!

–         Não pode ser... – desesperou-se Jill. – Wesker, é você?

–         Sim, minha cara. Infelizmente minha forma física foi destruída na Amazônia há quatro anos atrás, mas havia entregado a Emanuel Deller um disquete contendo um programa de computador baseado no meu intelecto. Vocês estão falando com ele agora.

–         Então você virou uma maldita máquina! – exclamou Chris, olhando para o teto, tentando descobrir de onde vinha a voz.

–         Sim, e fui eu quem facilitou a entrada de vocês aqui.

–         Mas por quê? – perguntou William.

–         Eu sempre quis me vingar dos S.T.A.R.S., desde o fracasso do meu plano na mansão de Spencer há dez anos atrás. E ainda por cima meu rosto foi destruído na ilha Rockfort... Anseio por uma revanche há tempos!

–         Você quase me matou em Rockfort, lembra? – irritou-se o marido de Jill. – Não basta quase ter provocado uma catástrofe há quatro anos, Wesker? Quantos ainda terão que pagar?

–         Quantos eu achar necessário, Chris.

A segunda luz se acendeu na barra sobre o elevador. Faltavam oito.

–         Vocês não escaparão vivos deste lugar, Chris – riu Wesker. – Lutarão contra as piores criações da Umbrella e da Biocom. Mas existem vários segredos neste laboratório. Se conseguirem desvendar todos, obterão mais provas do que pensavam. Mas não sairão vivos... Apenas eu e Deller conhecemos a saída, e não poderão voltar pela superfície. Eu não deixarei.

–         Maldito! – gritou Sherry.

–         Ora, ora... Se não é Sherry Birkin, a única portadora viva do X-Virus. O vírus que nasceu com Lisa Trevor, sendo dela coletado e injetado em Annete por William... Ele nunca quis ter uma filha, era fácil desconfiar que tudo se tratava de um experimento...

–         Cale a boca! – exclamou a promotora, furiosa.

–         Bem, para começar nossa festinha particular, vou abrir as portas dos setores Alfa e Beta...

E, subitamente, as portas de ambos os setores se abriram. Para o desespero do grupo, dezenas de mortos-vivos começaram a caminhar na direção da “comida”, cambaleantes, caindo aos pedaços.

–         Se olharem por onde vieram neste exato momento, verão os zumbis da superfície chegando perto...

As palavras de Wesker foram confirmadas quando mais zumbis entraram pela porta que levava ao caminho para a superfície. Estavam cercados.

–         Como o elevador demorará a subir, serão devorados pelos zumbis em poucos instantes – riu Wesker. – Tentem resistir até o transporte chegar, mas não será fácil. Se conseguirem escapar eu enviarei mais perigos!

E a voz do traidor do S.T.A.R.S. não disse mais nada. Agora os seis intrusos olhavam para os lados, vendo os zumbis babando e gemendo, seguindo na direção deles, enquanto a quarta luz se acendia na barra do elevador. Como sobreviveriam?

Continua... 


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