Fusion Art Online escrita por Snow


Capítulo 2
Jogo Real.


Notas iniciais do capítulo

Nossa obrigado, é muito bom saber que gostaram.
Ainda não tenho tempo definido para criar os capítulos, então pode ser que demore ou não para eu postar os próximos.



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"Prepare Yourself, 3, 2 ,1 Go!"

Retirando uma adaga fina de sua bainha, ele veio ao meu encontro. Seus movimentos eram esguios como a adaga que segurava. Abusava de giros e de ataques pelas diagonais; em um de seus giros, senti sua lâmina passar pelos meus olhos, e tudo o que vi foram pequenos fios de cabelo caindo. No susto, acabei cambaleando para trás. Tentou perfurar o meu estômago, mas fui rápida o suficiente pra girar e finalmente puxar a minha adaga.Não achei que precisaria dela, pensei, e o pior é que, se estivesse com ela em mãos antes, poderia ter terminado com essa luta agora. Assim que ela girou, terminou atrás dele. Uma apunhalada seria o suficiente para ganhar o duelo.

- Então a pequenina também usa adagas? –perguntou, equilibrando a ponta de sua adaga em seu indicador, com uma voz debochada.

- Isso? -perguntei olhando para a adaga em minhas mãos. – Não planejava usar armas, mas a situação me forçou a puxá-la.

- Heh, até que você é interessante. Mas, assim como você, a situação me força a outros planejamentos – num movimento rápido com o indicador, ele abriu o inventário. De lá, ele retirou um pequeno frasco contendo um líquido verde fluorescente.Foi quando espalhou na lâmina de sua adaga que percebi o que estava fazendo. O líquido formou uma gosma densa em sua superfície.

- Ele planeja me matar com veneno - disse a mim mesma, suando frio.

- Agora sim, podemos brincar - anunciou, correndo em minha direção para prosseguir com mais um golpe.

Decidi tomar uma iniciativa para atacar. Quando tentou cortar o meu braço desarmado,planejei uma estocada, mas ele entendeu o meu plano mais rápido do que imaginei.Bateu a sua adaga na minha, abaixando-a e provocando um choque ensurdecedor. De alguma forma, não deixei que a minha arma escapasse, mas, tive que cair pra trás para me esquivar de uma estocada em direção ao meu abdômen. Não havia nenhuma outra tática para me esquivar, e tudo o que consegui ver foi um segundo golpe no mesmo lugar, de cima pra baixo. A dor era intensa, minha visão turvava, tudo girava.Quando levei minha mão ao ferimento para ver a situação, senti o sangue quente escapando por entre os meus dedos.

Minha face espantada demonstrou desespero. Eu comecei a tremer, e então olhei para a minha mão. Uma pequena gota de sangue passeava pelo meu braço, descendo pelo meu pulso até a cova do meu cotovelo.

- Ora, não me diga que tem medo de sangue, pequenina? - debochou enquanto gargalhava aos céus.

- N-Não! respondi com ódio de mim mesma por ter gaguejado. O sangue era muito real, a consistência, o cheio, tudo era real demais para ser somente digital. Isso quer dizer que, se eu morrer aqui, morrerei na vida real também? - Eu não tenho medo!

Corri em sua direção e proferi vários golpes, sem muito sucesso. O veneno me deixou lerda e previsível. O homem se esquivava com maestria.

- Não adianta pequenina, você não vai conseguir me acertar!

É mesmo?– Joguei minha adaga em sua direção. Se esquivou rápido, mas mostrou surpresa. - Então esquive-se disto!

Me agachei ao chão rapidamente e então lancei uma de minhas habilidades.

- Diamond Edge!

Torres pontiagudas de gelo brotavam do chão e percorriam o homem, que parecia não se intimidar com o ataque. Quando as torres se aproximaram, num movimento rápido o cara havia desaparecido.

- Mas o qu… - Levei as minhas mãos à boca para segurar o vômito. A fraqueza me obrigou a cair no chão, sentada como uma garotinha, cansada de procurar pela mãe. Comecei a olhar para os lados, quando o garoto apareceu bem na minha frente. Pensei em praguejar alguma ofensa, mas junto sairia uma dose de conteúdo gástrico.

- Ah, qual é, você deveria estar nem falando. O veneno que eu coloquei foi forte o suficiente pra matar um MVP! – fitou-a de braços cruzados. - Mas já está na hora de acabar com isso, não acha? – pôs-se a centímetros de mim e, puxando meus cabelos, fez a altura dos nossos olhos se igualarem. Num momento súbito de raiva, decidi vomitar em cima dele. Da cabeça aos pés, estava cheio do líquido gástrico, com gotas pingando pelos seus cabelos e pelas pontas da sua roupa. O público ria alto, mas a sua expressão mudou para uma mistura entre raiva e ódio. – Algo mais a dizer, garotinha inútil? – cuspiu um pouco do vômito que entrou em sua boca, enquanto espetava a ponta da adaga em minha garganta.

- Sim - puxei o máximo de ar que meu pulmão conseguia suportar e, de súbito, gritei. –Freeze Execution!

Num clarão, tudo havia congelado, tanto o meu adversário quanto os jogadores que ali observaram a luta. Nem mesmo as casas ao redor foram perdoadas. Olhei a minha volta e vi o rapaz caído. Um ser desceu dos céus. Possuía armadura prateada, capa dourada e uma espada única, cravada de diamantes que emanavam uma aura azul. Só então percebi, mesmo com a visão quase me abandonando, que não havia ninguém dentro da armadura ou segurando a espada. O “ser” então levantou sua espada e formou um outro clarão, e tudo havia descongelado. Em outro movimento, me entregou um pequeno baú digital. Talvez seja o prêmio por vencer, pensei. Ao abrir, ganhei alguns pontos de ranking, e a criatura desapareceu em mais um clarão azul.

- Eu venci… - fitei o corpo desmaiado do homem, todos os outros previamente derrotados por ele e a plateia, que me olhava com prazer. Nunca quis toda aquela atenção. Senti o ferimento formigar. – Mas o que es… - Antes de completar minha frase, vi tudo rodar e sucumbi ao chão.


Capítulo II : Jogo Real.


[24 de Setembro de 2030 | 05:17 AM]
 

Lentamente abri os meus olhos. Ao passo que minha visão tentava focar em algo, observei o local ao meu redor. Fiquei mais tranquila ao percebei que estava no quarto que havia alugado na pousada. Tentei me aconchegar mais no cobertor de lã, quando uma pontada de dor me fez gemer, e a memória do duelo tomou conta de mim. Todo o resto da minha tranquilidade se foi quando ouvi um barulho vindo do banheiro. Me levantei da cama bem devagar, e só então notei que ainda estava com a mesma armadura, manchada de sangue. O cheiro, que estava contido apenas no interior do lençol, infestara todo o quarto.

Que nojo, disse a mim mesma. Após retirar o equipamento por meio do inventário, estava com roupas comuns. Outro barulho veio do banheiro. - Quem está ai?! - andei em direção ao cômodo enquanto apoiava minhas mãos nas paredes e, num só movimento, abri a porta. Um homem nu e de costas se revelou por trás dela. Quando ele percebeu, virou-se.

- Qual é, pequenina, não sabe bater na p…

- Kya! – assim que fechei a porta, ouvi o barulho de madeira batendo em seu rosto, seguido por um tombo. Dei alguns passos pra trás e, como se um minuto tivesse se passado em segundos, o homem arrombou a porta com um chute, já vestido. Assim como eu, também trajava roupas comuns. - O que diabos você está fazendo no meu quarto?

- Ah, é assim que me agradece por ter salvo sua vida? – perguntou, ainda secando os cabelos. É assim que te agradeço por ter quase tirado-a de mim, pensei em responder, mas o vi usando a minha toalha para se secar.

- E-Ei, essa toalha... Ela é minha!

- Dá pra parar de gritar por pelo menos um minuto?

- Quer mandar no meu tom de voz, estando no meu quarto, usando as minhas coisas e se despindo como se estivesse na sua casa?– aquela fora a gota d’água. Era por causa dele que estava assim, afinal. Vi a minha adaga na mesa ao lado e, rapidamente, puxei-a e apontei pra ele. – Vai sair daqui agora ou já? – levei um tapa na minha mão que fez a faca voar. Não foi tão forte, mas eu estava ainda pior. Avançou em mim e segurou o meu pescoço, enquanto caímos juntos, ele em cima de mim.

- Cuidado com o que faz. Só quero conversar – respondeu, com uma calma estranha na sua voz.

Não era bem o que eu queria, mas não tive muita opção. Assim que cedi, sentou-se em minha cama. Fiz o mesmo.

- Seus gritinhos até que são graciosos, já te falaram isso? –segurou o riso em seu rosto, como que já soubesse a reação da garota.

- D-Dá pra você perguntar logo, antes que eu te jogue daqui de cima? –senti o meu rosto corar, mas o meu ódio por ele ainda não tinha se dissipado.

- Ok, ok, parece que não gosta muito de um papo…- seu rosto mudou para uma expressão séria. - Eu quero te pedir desculpas pelo que aconteceu ontem. E, bem…Queria formar um grupo com você. - Falou fitando seus pés.

Aquilo me pegou de surpresa, mas sabia que tinha alguma coisa ali. Ontem, queria me matar, agora quer matar a outros comigo?

- Tudo bem, aceito seu pedido de desculpas – menti. Não tinha desculpado inteiramente. – Diga-me, por que duelou com tantas pessoas seguidas? Qual é o seu objetivo? –apoiei o meu queixo sobre as minhas mãos.

- Isso é um jogo, oras. Só queria me divertir enquanto media minha força. –Respondeu, enquanto coçava o couro cabeludo.

- Tá certo… Mande-me o pedido de grupo – não sabia por que pedira isso.

- Ah, m-mas tem que ser agora? - Perguntou com uma feição cansada e surpresa. Provavelmente não esperava que eu fosse ceder tão cedo. Mesmo assim, abaixou o indicador num movimento rápido, e então uma caixa de grupo apareceu em minha frente. Confirmei, e agora podia ver sua barra de hp. - Pronto, agora somos aliados.

- Muito bem, diga-me mais sobre você.

- Ah, meu nome real é Yang Lee. Como pode ver, meus cabelos são negros, na altura dos ombros. Sou bem magro, e o meu rosto você pode ver como ele é a partir do jogo.

Aquilo a pegou de surpresa.

- Como assim? Você fez seu avatar igual ao seu rosto real?

- Na verdade, o jogo mantém a sua aparência real.

- Espera, se seu rosto tem a aparência real...

- …Essa também deve ser sua aparência real.

Isso quer dizer que eu posso ser reconhecida por outros jogadores, inclusive os que me conhecem. Ai, meu Deus…

- E-Espera, como você soube que seu rosto é o mesmo?! Não vi um só espelho até agora!

- Ah, quanto a isso, sem problemas –Puxou um espelho do inventário. - Toma, pode ficar.

Me aproximei ao espelho com cuidado, e notei que meu rosto realmente era o meu rosto real, com as mesmas sardas, os olhos castanhos, mas por alguma razão o cabelo continuava o mesmo de minha antiga avatar.

- Ela tem o rosto idêntico ao meu! – disse, horrorizada.

- Bem, você não é feia, então não deveria se sentir mal – Observou sorrindo.

- I… Isso não é bom! – respondeu, corada. – É melhor eu sair daqui.

- Mas são cinco da manh… - Antes de ouvir mais alguma coisa, eu já estava na minha cama, sem o capacete. Corri de encontro ao banheiro. Olhei para o espelho e fitei os meus cabelos, longos e negros.

- Que alívio… -suspirei, mas antes de sair do banheiro notei que meus pés estavam um pouco pegajosos. Foi quando percebi que deixei um rastro de sangue pelo meu caminho. Meu pai chegou logo depois, estranhando o cheiro forte de sangue.

- Mas que inferno é esse? O que aconteceu, filha? – gritou, horrorizado com o ferimento em seu abdômen.

- E-Eu não sei! Eu acordei assim! –Ainda havia sangue fresco na região.Minha roupa estava pingando sangue.

- Vamos ao médico, agora!

- Mas eu estou bem!

- Em que mundo isso é estar bem? Troque de roupa, agora!

Assustada, coloquei uma roupa mais apresentável para sair de casa. Vesti uma camiseta laranja, sem nenhum desenho ou escritura, com um casaco preto por cima. Usava uma calça jeans com um tênis all-star branco. Durante a viagem, notei que eram umas 11 horas da manhã.

Assim que chegamos no hospital, levou um tempo até que um doutor, notoriamente alegre, me atendesse. Aparentava ter certa idade, com sinais de calvície, e vestia um traje padrão para um médico.

- Bom dia, meus senhores. O que há de errado com a dona Camila? –Sentou-se e começou a olhar alguns papéis de sua ficha médica.

- A minha filha recebeu um corte na altura do abdômen. Segundo ela, acordou com o ferimento–respondeu, ainda com medo na voz.

- Muito bem, deite-se ali na maca por favor, dona Camila – apontou em direção à maca enquanto analisava a sua ficha.

Levantei minha camisa um pouco, e foi quando vi que o corte parecia realmente ser sério:Estava com uma aparência horrível, e extremamente sujo de sangue. Os olhos do médico arregalaram-se.

- Você tem certeza de que adquiriu isso ao acordar? – analisou o corte. – Parece que foi feito por algum tipo de faca, há um certo tempo. Não sei como ainda está viva!

Meu coração congelou. É idêntico ao corte que levei no jogo, finalmente notei. Será que…

- Serão necessários alguns pontos pra fechar esse ferimento. Como você está, sente-se fraca? Perdeu muito sangue? – meus devaneios foram cortados pela sequência de perguntas do médico e, agora que parei pra notar, sentia-me sem muitas forças.

- Sinto-me fraca…

- É provável que precise de uma transfusão de sangue. Não vai demorar, o movimento hoje está fraco. Diga-me o seu tipo sanguíneo.

Fomos para a sala de transfusão de sangue, e notei que meu pai não tirava os olhos de mim. Não sabia se era por preocupação, ou se por frustração.


[24 de Setembro de 2030 | 16:00 PM]
 

Após a transfusão, fomos para casa. Estava preocupada com o que havia acontecido comigo, e meu pai estava mais preocupado ainda. Começou a perguntar se eu tinha alguma ideia do perigo pelo qual eu passei, e até me chamou de masoquista. Nada pude fazer a não ser tentar tirar essas ideias de sua cabeça, e de ignorá-las. Havia algo mais sério. Fusion Art Online não só traz prazer e bem estar ao jogador... Mas também todas as dores e machucados que ocorrem dentro do jogo. E se eu morrer lá...


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Notas finais do capítulo

Obrigado novamente por lerem.



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