Paintball Vorazes escrita por William José


Capítulo 1
Capítulo 1 - Anúncios comuns


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. A "pesquisa de público" foi bem favorável e encorajadora o bastante.
Eu acho que este capítulo ficou de um tamanho médio, então os outros devem ter este tamanho também.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/344030/chapter/1

Júlia estava tendo duas aulas de Matemática seguidas com aquele maldito professor Fábio e estava lutando para esconder seu livro sobre seu colo embaixo da sua estreita carteira. Mas não importa o quanto tentava se concentrar em Romeu e Julieta, ela não conseguia esquecer-se do fim da série Jogos Vorazes.

Ela era a única da sua turma que lia por diversão e pura vontade com frequência. Ela simplesmente não se importava com os olhares e as perguntas: preferia o vasto mundo imaginário da literatura que o tão pequeno mundo real.

Subitamente, Júlia, em um reflexo, colocou o marcador, contraiu os músculos da perna e fechou o pequeno livro. Ela cutucou Marina, sua colega da frente, com quem mal falava.

- Ei! É atividade ou conteúdo? – Júlia estranhou o seu tom de falsa curiosidade e percebeu que as suas mentiras estavam ficando melhores.

- Não sei, eu estou fazendo tarefa de Psicologia.

- Merda... – Júlia não sabia que tinha tarefa de Psicologia e pior, era a próxima aula. Mas ela lembrou que Letícia, por mais que dorminhoca e sempre sonolenta, fazia todas as tarefas e emprestava para quem quisesse, sendo seu amigo ou inimigo.

Júlia sussurrou “Ei, Ei!” umas 5 vezes antes de começar a usar os palavrões. Mas foi quando chamou Letícia de “Puta” que finalmente chamou sua atenção.

- Teu cú, vadia! – Letícia disse, acordando de mais um de seus cochilos. As duas começaram a exageradamente rir e já percebiam os maus olhares de Fábio, mas o clássico tom de sono e preguiça estava presente na áspera voz de Letícia. – Ah, é você. O que você quer? – Letícia era tão grossa para Júlia como Júlia era grossa para Letícia, e por puro esporte.

- Tarefa de Psicologia.

- Tinha tarefa?

-Aparentemente, sim.

- Porra! Deixa-me checar...

- Por favor! Vocês duas já perderam dois pontos da nota de comportamento. Da nota final! Se você continuarem falando eu vou mandar vocês para a sala da diretora! – exclamou Fábio, declarado “mal comido” pelos alunos do 8º Ano, principalmente por Júlia e Ana.

- Alguém não teve ontem... – disse Ana, sussurrando com a boca coberta pela mão.

Júlia já estava muito encrencada este ano e então, só indicou silêncio e virou para frente.

...

Por mais de feliz, Júlia estranhava a pontual professora de Biologia se atrasar 20 minutos para uma aula de 50 minutos. A sala estava uma grande bagunça e não havia quem a controlava. Os meninos que esperavam pelos professores nas portas distribuíam a mensagem que não havia professores nas outras salas e todos tinham ido para suas casas.

E que no colégio só restavam a diretora e o velho orientador educacional. E ambos estavam na mesma sala. Isso não era bom sinal. Foi então que um agudo zumbido começou a soar pelo sistema de som. O silêncio devastou a turma. E depois de uns 10 segundos, ele parou.

- Olá caros alunos. E com prazer, que eu e Jorge, o orientador, anunciamos que vamos distribuir um prêmio entre vocês. – A voz áspera da diretora soava pelo som, ecoada, do sistema de áudio das outras salas.

A ideia de um prêmio ser distribuído entre alunos que pagam para estudar era simplesmente absurda para Júlia, que por mais de estranhar estava ansiosa para descobrir a premiação.

- Vocês sabem que eu odeio trabalhar aqui e odeio vocês. – Júlia olhou para a Ana e fez uma cara de “Sério?”, pois as palavras de Jorge eram óbvias. Ser mandado para a sala dele era perder aula e tempo. - Isso é antiético, mas não tanto com o prêmio, nem menos a planejada competição. O prêmio será o seguinte, como anunciado pela diretora Eliane.

- O principal prêmio será único. Intrasferível e indivisível. Será um passe liberdade para o vencedor. Fazer o que quiser na escola, incluindo desrespeitar professores, funcionários e alunos; comprar qualquer coisa na cantina, sem pagar; não fazer tarefas, provas, trabalhos; não assistir as aulas; falta-las, sem ser punido e ter um boletim pré-definido por você. Sem nenhum pai ou responsável ser envolvido. Isso seria, ao menos vergonhoso para o conselho acadêmico da escola.

Todos os alunos da antiga 7ª série se olharam e suspiraram em surpresa.

- E essa escola finalmente ficou interessante! – gritou um aluno qualquer, daqueles que se acham engraçados.

Júlia subitamente percebeu que faria qualquer coisa para ganhar aquele prêmio. Será que havia um limite de idade?, ela se perguntou em sua mente.

- E caso estejam se perguntando, sim. Há um limite. – a temporização de Eliane era incrível. – Seria estranhamente mais irresponsável ainda dar um passe de nota a critério e aula livre para alunos que estão se preparando para vestibulares. Então os alunos do Ensino Médio serão encaminhados para casa com um bilhete dizendo que os alunos do Ensino Fundamental enfrentarão um treinamento entre 3 ou 5 dias que irá ocupar todo o espaço escolar. Então, alunos do Ensino Médio, fora daqui. E peguem um bilhete informativo da pilha que está espalhada pelo chão e da secretaria. E quem contar sobre a decoração do colégio para alguém do Fundamental, vai levar expulsão. Quanto aos do Fundamental, eu vou falar “Foda-se”pelo som quando vocês poderem vir ao salão, porque eu simplesmente não me importo.

A transmissão havia acabado e o choque era incrível, assim como a euforia.

- Então o que você acha que é, bitch? – Ana parecia ansiosa e Júlia estava bastante curiosa.

- Eu acho que vai ser um combate até a morte. – Júlia estava brincando, é claro. Mas havia algo na voz dela que indicava que ela queria aquilo mesmo.

- Você tem lido demais...

- E você deveria ler tanto o quanto.

- Cala a boca.

- Povo! Celulares! – Jorge estava gritando pelo som e aquilo parecia natural para Júlia. – Não queremos que tenham contato com o mundo até domingo de manhã, ou antes. Então depois de comunicarmos seus pais e responsáveis que você vão dormir no colégio como parte de um experimento científico na semana passada, foi bastante discutido e vamos recolher os celulares. Então os desliguem e coloquem numa bacia que tem no meio dos corredores. E daí voltem para a sala e esperem o “Foda-se”.

...

Júlia e Ana pareciam estranhas. Estavam se sentindo desprotegidas e inseguras. Porque estavam sem seus celulares.

E então, pelo som, seus dois olhares são interrompidos por Eliane:

- Lembrem-se: participação obrigatória e... Foda-se!

O caminho até o salão do colégio foi turbulento, pois alguns alunos temiam o que estava por vir e outros como Ana estavam ansiosos, ou curiosos, com Júlia. Mas havia aqueles que estavam a apavorados com a situação e tinham os olhos arregalados e totalmente catatônicos.

...

Ao chegar no salão os alunos foram orientados a ficarem confortáveis – ou seja, de qualquer jeito – com uma regra: ficar longe da grande mesa coberta com uma cortina velha.

 Júlia estava voraz para saber o que estava lá e não consegui atirar seus castanhos olhos de lá, quando seu olhar foi cortado pela voz de Eliane.

- Olá. Como vocês sabem, hoje é dia 2 de maio de 2012. Mais de um mês atrás o filme Jogos Vorazes foi lançado e o livro, 1 ano e meio atrás. Quantos assistiram ou leram?

Umas 30 pessoas, dentre elas Júlia, levantaram a mão. Júlia estava surpresa com o número.

- Legal. Para aqueles que não sabem, a história é sobre um futuro distante em que o governo obriga jovens a jogar numa competição de sobrevivência até que só um, de 24, sobreviva. O jogo é feito para divertir o povo de uma cidade mais rica do que as outras. E essa cidade sofre de fartura e comida boa enquanto os distritos, da onde os tributos vêm, sofrem de fome. – disse Jorge. A mera resolução da história que não citava as personagens irritava Júlia, e o amor pela série fazia arder por dentro.

- Resumindo tudo, eu e o Jorge seremos essa cidade, a Capital. Nós já temos a comida e falta o entretenimento. – Eliane entoou.

Júlia virou a cabeça tão rapidamente para procurar Ana que quase comeu cabelo castanho. A coincidência era muito estranha, no dia seguinte ao que termina a trilogia Jogos Vorazes, até o ponto em que entendeu e presumiu: um Jogos Vorazes ia acontecer. E ela seria obrigada a jogar.

- Basicamente, os mais perspicazes devem ter percebido o que eu e o Jorge pretendemos fazer um jogo até a morte entre vocês. Só que sem a parte da morte – Eliane soava ridícula: propondo um jogo até a morte sem a morte. Como isso iria acontecer. – Eu e o Jorge queríamos renovar a escola, mas se não tivéssemos um bom motivo, não teríamos a permissão, então o Jogos Vorazes de vocês vai trocar facas por armas... – Júlia percebeu que estava um pouco nervosa enquanto Jorge puxava a cortina de cima da mesa – Paintball!

Um tumulto surgiu... o pensamento de passar dias, até 5, como anunciado, com a mesma roupa e a possibilidade de estar totalmente sujo e dormir, viver na escola era ridícula, tanto quanto a competição.

- Eu estou fora daqui – gritou uma garota do 6º ano e foi acompanhada por 50 “eu também” que facilmente eliminava 3 das 8 competidores turmas.

Todos os alunos saíram da multidão e se dirigiram a porta quando foram parados pelo grito exagerado e afinado de Eliane.

- Não, não!

- Foda-se! – gritou a mesma menina do 6º ano.

Eliane puxou um alarme de carro do bolso sem as chaves e apertou um dos seis botões no pequeno controle. Efetivamente um jato de tinta molhou as crianças das três turmas que estavam atrás da porta do salão. Todas as três turmas estavam fora do salão.

- Então, assim como no filme, eu e a Eliane passamos o início da semana armando pegadinhas que subitamente eliminariam vocês da competição. E nos também estaremos observando vocês. – a convicção de Jorge fazia Júlia lembrar-se de Snow. – Nós vamos apertar o sinal da escola, o normal da saída, e é então que vocês poderão se armar, coletar munição e começar o jogo. Não vamos estender.

- Os já eliminados vão na sala da tesouraria. E esperem lá. Um assistente irá levar-vos para casa. – Eliane estava ansiosa e deixava aquilo claro.

A sala da tesouraria era deixada de fora de todo o prédio escolar e ficava ao lado da sala dos professores, excluídas do resto do prédio escolar.

Júlia estava em choque e mesmo chocada, procurava Ana, para fazer uma aliança. Ana estava encostada na parede, catatônica. Júlia puxou um fio do cabelo de Ana que a acordou.

- Vadia.

- Cala a boca! Aliança, que tal? – Júlia estava falando rápido. A competição iria começar e não havia tempo para se juntar com os outros. Ana fez uma cara de dúvida. – É nós se aliarmos e sair matando pelos jogos até restar um número pequeno. Daí é matar ou morrer.

- Okay. Eu estou dentro.

Quando o sinal da saída tocou, tudo ficou confuso. Cento e cinquenta pessoas, divididas em 5 turmas, estavam atrás de armas e tinta.

Os Jogos haviam começado. E Júlia e Ana estavam indefesas, a mercê de qualquer um.

Foi então que Júlia percebeu que tudo estava fudido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se gostaram (ou não) comentem. É minha primeira fanfic, então peço sutileza. E se vocês gostarem, eu tenho em mente algumas ideias para continuações, temáticas.