O vento gelado anunciava que o inverno seria rigoroso, mesmo assim eu sentia que esse seria diferente, que talvez pudesse ser melhor do que os outros. Eu tinha uma razão especial para pensar isso. Eu iria finalmente me declarar para aquele idiota americano e finalmente iria parar de me preocupar toda noite de como me declarar para ele. Não sei ao certo quando que isso passou pela minha cabeça, essa coisa chamada “amor”.

“Estupidez...?” sussurrei olhando pelas ruas americanas cobertas de neve.

Procurei pelos meus cigarros em meu bolso do casaco e o coloquei entre os lábios. Chequei mais uma vez meus bolsos e logo suspirei pesadamente de raiva.

“Maldição, onde eu coloquei o isqueiro...” falei bufando.

“Inglaterra?”

Olhei para frente apenas para me encontrar com dois brilhantes olhos azuis. Pigarreei surpreso e logo uma estranha sensação quente tomou o meu rosto.

“A-America...”

“Você me surpreendeu” seus olhos me encaravam com suas bochechas levemente rosadas por causa do frio.

“Eu pensei que você t-tivesse trabalho para fazer...” desviei o olhar daquele azul penetrante.

“Trabalh—Oh! Sim, mas eu deixei para mais tarde”.

“Para mais tarde?”

“Sim, eu ouvi dizer que você viria hoje e...” ele coçou a nuca embaraçado.

O silencio predominou por um tempo, apenas sua presença me fazia tremer e eu tinha certeza de que não era o frio o motivo. Por um instante pensei em me declarar. Comecei a gaguejar descontroladamente e fitei os próprios pés.

"E-Eu...” eu não conseguia completar.

“Inglaterra...”

Foi quando pensei que o silêncio retornaria que o americano me segurou pelos braços me obrigando a fitá-lo. Deus. Aqueles olhos me encaravam de forma tão atrativa que perdi o ar enquanto tentava voltar o raciocínio.

“Eu preciso te falar algo importante” ele me fitava seriamente.

Oh, Deus.

Fechei os olhos apenas esperando ser atingido por uma boa notícia, mas fui surpreendido por um grito de surpresa vindo de algum canto. Quando abri os olhos apenas notei uma mulher alta de boa aparência e que pareceu extremamente feliz ao voltar os seus olhos para nossa direção.

“Quem...” estava prestes a completar a frase quando a mulher correu para o lado do americano se agarrando descaradamente em seu braço direito.

“Olá para você também.”

Os dois riram. Cruelmente. Senti que estava engolindo uma pedra e cerrei os punhos apenas colocando na minha cabeça que aquilo era apenas uma normal amizade. Isso, amizade. Nada mais.

“Hã? Quem é ele?” a garota perguntou.

“Essa é a pessoa que eu te falei... Bem... Ele é importante para mim”.

Travei totalmente. Não sabia ao certo se estava feliz por ele ter se referido a mim daquela forma ou se estava desesperado porque com certeza eu estava ficando corado rapidamente.

“Oh! Você deve ser... Hã...”

“Arthur Kirkland” o americano disse. Agradeci mentalmente por ele não ter feito a estupidez de contar que somos países para aquela garota.

“É um prazer te conhecer” ela disse alegremente “Eu sou a namorada do Alfred”.

Minha expressão ficou paralisada. Namorada. Certo, agora eu realmente estava tremendo, dessa vez de terror e desespero. A declaração antes repetida mentalmente agora havia sumido e se tornado um infinito branco onde apenas a palavra “amor” desaparecia da minha visão.

“Você estragou a surpresa” o americano me fitava envergonhado e alegre.

“E-Era isso o q-que você queria me d-dizer?”

“Hã? Ah, claro! Você sempre desejou o meu melhor, você deveria ser o primeiro a saber!”

Gargalhei mentalmente da minha própria existência desgraçada. Claro que era isso. Eu não estava esperando nenhuma declaração romântica da parte dele. Eu não estava esperando nenhuma realização dos meus desejos. Eu não estava esperando nada.

“Arthur? Você está bem? Está pálido.” o americano parecia preocupado.

Preocupado? Que irônico.

Me virei para o outro lado e fui andando para longe dali. Meus pés me guiavam, mas eu não tinha ideia de para onde. Eu apenas seguia andando calmamente em choque com minhas pernas bambas logo transformando a caminhada desengonçada em uma corrida.

“ARTHUR!” eu conseguia ouvir seus gritos atrás de mim.

Eu não queria ouvir isso.

Eu não precisava ouvir isso.

Você poderia ter percebido antes? Se iria me rejeitar poderia pelo menos fazer isso com calma? Gentilmente? Aquilo era demais para apenas um coração desgraçado como o meu aguentar. Eu já estava acostumado a sofrer, mas por que dessa vez eu sentia que eu não iria aguentar mais?

“Você me odeia não é mesmo?” sorri enquanto ainda corria, sorrindo entre as lágrimas que caiam na neve “Aposto que realizou o seu desejo de me destruir”.

Corri até minhas pernas não aguentarem mais, percebi que estava em um beco sem saída e então ajoelhei bruscamente começando a me amaldiçoar até que minha voz se tornasse apenas uma série de soluços.

–-------------------------------------------------------------------------------------------

O sol da manhã batia forte no meu rosto, forcei meus olhos pesados a abrirem e aos poucos fui percebendo onde estava e o que estava fazendo antes de dormir. Tirei a cabeça de cima dos meus braços que pousavam na mesa e ouvi um pequeno ruído, olhei para baixo apenas para poder ver um papel totalmente ensopado de lágrimas. Minhas lágrimas.

“Você não vai sentir minha falta dessa vez, eu aposto”.

E pousei a cabeça novamente nos braços apenas para olhar fixamente na maldita palavra que parecia saltar da carta para me assombrar.

“Casamento”.