Amor E Morte escrita por LittleWriter


Capítulo 7
Primeiro Encontro


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pelo atraso, é que andei meio enrolada com algumas coisas, mas vou tentar não atrasar mais.
Bem... aqui está, espero que gostem ^^



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   - Achei que você apareceria toda de preto e com um canivete no bolso pra me ameaçar caso eu tentasse alguma gracinha com você. - o sorriso dele era largo.   

   - O que te garante que eu realmente não tenho um? - ela devolveu a piada. Não era tão difícil afinal. Nunca fora na verdade, ela sempre tivera facilidade com isso, é só que as vezes cansava.

   Ele riu.

   - Será que a senhorita me daria a honra de acompanha-la até o anfiteatro? Prometo me comportar. – ele disse dobrando o braço para que ela pudesse encaixar o dela ali.

   - A senhorita aqui pode achar o caminho sozinha. – ela respondeu andando a passos largos na direção da construção comprida e de apenas um andar que era o prédio de artes. Na verdade era um anexo do prédio principal de aulas, mas se destacava do prédio principal pelo fato de suas paredes ao longo dos anos e com o passar das turmas ter se tornado um caleidoscópio de cores, esculturas e ornamentos.

   As duas grandes portas de carvalho trabalhado estavam abertas com pessoas entrando aos pares trios ou sozinhas. Samantha atravessou o longo corredor onde ficavam os estúdios e salas de ensaio, indo em direção a maior e última sala onde ficava o anfiteatro com suas poltronas de veludo vermelho e o palco feito de madeira escura e maciça. Ela se sentou em uma da fileiras mais altas no canto.

   Poucos segundos depois Rafael se sentou ao lado dela.

   - Você anda rápido não é mesmo? – ele ainda sorria, sem mostrar nenhum sinal de irritação por ela ter saído andando na frente sem nem ao menos olhar pra ele.

   - Você nunca para de sorrir? – a paciência dele não tinha fim?

   - Não quando estou com você. – ele sorriu de modo sedutor.

   Ela deu uma risada irônica.

   - Cantadas baratas não funcionam comigo querido.

   O sorriso dele não diminuiu nem um pouco.

   - Eu sei disso, mas as suas reações são... interessantes.

   - Então é isso? Eu sou como um rato de laboratório que você testa e depois observas as reações? – ela estava irritada. Não deveria ter vindo, pensou.

   - Não é isso Samantha... – o sorriso dele sumiu e sua voz soava cansada. – É só que você é sempre tão fechada com todos, nunca diz nada sobre você. Observar suas reações é o único modo de descobrir algo sobre você.

   - Você nunca nem tentou falar comigo. Não sabe de nada.

   - Você realmente não lembra? – a expressão dele era séria

   - Não lembro do que? – ela franziu a testa como fazia sempre que tentava lembrar de algo. Mas do que ela deveria se lembrar?

   - O Pedro era meu primo.

   Os olhos dela se arregalaram. De repente todos os seus membros congelaram. Pedro... Um leve tremor passou por seu corpo ao se lembrar do namorado morto... Como não percebera antes? Fazia mais de um ano que não o via, o cabelo estava mais comprido, caindo sobre os olhos e ele parecia diferente... Mas aquele era o mesmo olhar que vira pela última vez há muito tempo...

******

     Samantha estava em pé do lado de fora da igreja onde a cerimônia fúnebre acabara de acontecer. Ela usava uma saia comprida até os joelhos, uma blusa de seda e sapatilhas nos pés. Todas as peças eram pretas e ela não fazia a menor ideia de como fora parar dentro delas. Aquela manhã parecia um borrão em sua mente. Se lembrava vagamente da mãe a ajudando a se vestir, de entrar no carro e da cerimônia... O corpo de Pedro imóvel dentro do caixão... O corpo dela tremia. Não queria pensar naquilo nem em nada que acontecera no dia anterior.

     - Sinto muito. – um garoto alto e magro colocou a mão em seu ombro.

     Ela se virou para olhar em seus olhos cor de mel. Rafael. O primo que era um ano mais velho que Pedro. Ela apenas o vira algumas vezes em festas de família do namorado. Ele parecia sempre risonho e bem humorado, se dava bem com todos, apesar de Pedro certa vez ter comentado que ele podia ter comportamentos estranhos, os dois se davam bem. Samantha nunca tinha conversado muito tempo a sós com ele, mas na única vez que conversaram por tempo o suficiente ele dissera que ela era enigmática.

     Os olhos dela se encheram de lágrimas pela milésima vez nas últimas 48 horas, mas quando Rafael tentou se aproximar para consolá-la, ela se desvencilhou dele e saiu correndo para onde ninguém a veria chorar mais uma vez...

*****

     O representante do clube de arte começou a discursar sobre as apresentações, mas Samantha continuava em silêncio completamente congelada. Ele estava diferente, mais forte e com o cabelo mais comprido, mas ainda era o mesmo garoto que conhecera há mais de dois anos. Ela podia perceber isso pelo mesmo sorriso sem preocupação que sempre tivera. A única vez que não o vira sorrindo fora no velório de Pedro...

     Grupos de dança, canto e teatro fizeram as suas respectivas apresentações enquanto os dois assistiam em silêncio. O festival acabou e os dois se levantaram mecanicamente acompanhando o resto da multidão.

      Ao passarem pelas portas Rafael pegou o kit piquenique deles que estava sendo entregue pelos funcionário da escola e os dois procuraram um lugar para se sentar no grande gramado. Escolheram um canto um pouco afastado. Rafael abriu o quadrado de toalha xadrez entregue a todos e eles se sentaram. Em silêncio.

      - Por que você não me disse? – Samantha perguntou com a voz trêmula. – No dia em que nos esbarramos no corredor... Por que perguntou meu nome se já sabia?

      - Desculpe não ter falado antes... É só que... Não achei que seria um bom começo sair jogando algo desse tipo em cima de você. Eu também achei que talvez você pudesse me reconhecer...

      - Você mudou bastante...

    - É, muita coisa aconteceu... Você também está diferente....

    - É como você disse, muita coisa aconteceu.

    - E se a gente esquecesse um pouco essas coisas todas?

    - Parece uma boa ideia. – disse ela hesitante no início, mas depois abriu um sorriso. – O que tem aí pra gente comer?

    - Hum... Deixa eu ver aqui. – disse ele sorrindo e abrindo as sacolas para ver o que tinha dentro.

    Tomaram suco de laranja, comeram sanduíches de frios, salgadinhos, bolachas e por fim pêssegos. Falaram sobre coisas amenas do dia a dia, sobre a escola, os professores, colegas de turma. Rafael estava um ano a frente dela, por isso se formaria no fim do ano, e pretendia fazer engenharia na faculdade. Depois de comer deitaram-se lado a lado no pano xadrez e começaram a observar as nuvens.

    - Eu nunca consegui enxergar formas nelas. – admitiu Samantha. – Pra mim são só... Nuvens.

    - Mas que falta de imaginação! – riu ele. – Olhe aquela ali. – ele apontou para uma nuvem grande e disforme- Não parece um barco?

    - Um barco?

    - É você tem razão não parece. Acho que também não sou bom nisso.

    Ela riu. Um riso leve, que fazia tempo que não ria. O que estava acontecendo? O dia fora agradável e a deixara com um sensação de leveza no peito, Rafael a fazia se sentir bem, mas Samantha não podia deixar de sentir que aquilo era falso, falho, como se algo estivesse faltando.

    - Tenho que ir. – disse abruptamente.

    - Eu fiz alguma coisa errada? – Rafael parecia preocupado.

    - Não é isso... Eu realmente tenho que ir.

    - Tudo bem. – ele disse calmamente. – Acho que é o suficiente para um primeiro encontro.

    - Primeiro encontro? – repetiu ela incrédula.

    - E o que mais seria? – ele riu da cara de espanto dela.

    Samantha preferiu não responder e saiu andando o mais rápido que podia sem correr, para o dormitório. Precisava se recompor. Como poderia ter esquecido o resto de seu mundo conturbado? Ela estremeceu.

    Galadriel com certeza encontraria um jeito de vingar por esse pequeno momento de felicidade. Afinal era pra isso que ele existia, para sugar dela cada pequeno momento de alegria.

    Ela entrou no dormitório e olhou em volta. Nem sinal de Galadriel.

    De repente Pedro apareceu. Não, não era Pedro. Era Galadriel, exatamente como Pedro no dia em que morrera, com a garganta cortada e ensanguentada.

    - Se divertindo com o meu primo? – a voz dele estava cheia de ira.

    - Ele não é seu primo. – devolveu ela.

    - Resposta errada queridinha.

    Antes que Samantha pudesse se mexer sentiu uma lâmina afiada se enterrar no lado esquerdo de sua barriga. A dor era lancinante. Ela caiu sentada ao lado da cama sangrando.

    - Não é engraçado? Você sente a dor e o sangue escorrendo, como se fosse morrer. Mas não vai. Não é real, é uma ilusão. Por isso você vai ficar aí enquanto eu quiser. Não pode correr pro seu querido... Como é o nome dele mesmo? Ah, Rafael. Será que eu deveria fazer uma visitinha pra ele também?

    - Vai pro inferno. – Samantha cospe entre dentes enquanto pressiona a mão sobre a barriga ensanguentada.

    Galadriel se agacha ao lado dela e sussurra em seu ouvido:

    - Mas minha querida, você não sabe nada sobre o inferno ainda. – a voz dele é suave enquanto enterra a faca em sua perna direita.


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Notas finais do capítulo

- Até semana que vem
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— Aceito todo tipo de comentário