Amor E Morte escrita por LittleWriter


Capítulo 5
Fora da Rotina


Notas iniciais do capítulo

Bom, aqui está mais um capítulo e orbigada todo mundo que lê *-*



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Naquela segunda-feira ela acordou ás 6h30 em ponto com o irritante alarme da escola soando em seus ouvidos. Ele tocava pontualmente de segunda a sexta para garantir que nenhum dos alunos perdesse hora, todos tinham até 7h30 para tomar café da manhã, se arrumar e ir para a sala de aula.

    Ela se levantou com o corpo dolorido por ter dormido em excesso e foi para o banho. Havia sido um noite difícil, ela acordara mais de uma vez gritando e Galadriel não estava lá. Com certeza ficara irritado com ela, mas ela sabia que ele voltaria, ele sempre voltava, era a única certeza que tinha.

    Samantha vestiu o uniforme da escola com desânimo. As meninas tinham que usar uma saia de pregas cinza na altura do joelho, com um short também cinza embaixo, uma camisa branca de botões, bordada com o emblema do internato no lado esquerdo, com mangas três quartos, uma gravata listada de vermelho e branco, meia-calça cor da pele e nos pés sapatilhas pretas e lisas. O cabelo tinha de estar obrigatoriamente preso, então ela se limitou a fazer um rabo simples. Ela odiava tudo aquilo, não se encaixava naquele padrão idiota de refinamento e delicadeza. Não usava maquiagem, fazia tempo que parara de se importar.

    Ela abriu a porta e saiu para o agitado corredor do segundo andar. Aquele era o prédio Dormitórios1, havia mais dois iguais, o prédio era baixo e largo, assim como os outros e contava com o térreo onde haviam sofás e mesas de estudo, era uma área comum, tanto meninas quanto meninos a usavam, no primeiro andar ficavam os dormitórios masculinos, eram trinta no total, e no segundo andar eram os dormitórios femininos, trinta também.

    O dormitório de Samantha era o último no corredor, então ela tinha que atravessá-lo para chegar á escada. Rapidamente se misturou com várias outras garotas vestidas como ela e desceu a escada sozinha e passando despercebida como sempre, enquanto outras garotas andavam em pares ou trios.

    Ela saiu do prédio e caminhou lentamente até o refeitório que ficava em um prédio separado, não era um prédio exatamente, era mais um pavilhão, contava com um único andar e tinha um teto alto e arredondado, uma parte era fechada aos alunos, a cozinha,  o resto do espaço contava com pequenas mesinhas de quatro lugares e cadeiras suspensas, grudadas na mesa. Assim que ela entrou sentiu o cheiro de comida sempre presente e o barulho interminável de várias conversas acontecendo de uma vez.

    Colocou na bandeja o costumeiro café da manhã: pão com frios, suco de laranja e salada de frutas. Sentou-se sozinha em uma mesa no canto. Não tinha amigos, barrara qualquer tentativa de aproximação na primeira semana de aulas, então todos simplesmente desistiram dela. Ela se tornara invisível, ninguém sabia seu nome, ninguém a conhecia e ela gostava disso, não queria se apegar a mais ninguém, estava cansada de ver as pessoas morrendo.

     Enquanto comia sentiu-se absurdamente sozinha, não pela falta de amigos, percebeu, mas por não ter visto Galadriel naquele dia. Onde ele estava? Ainda estaria zangado com ela? Samantha decidiu que não se importava e voltou ao dormitório para pegar a mochila e escovar os dentes.

     Ela desceu e caminhou calmamente para a sala onde teria a primeira aula (Química). Os corredores estavam repletos de alunos sonolentos procurando as respectivas salas naquela segunda-feira cinzenta.

     Algo a incomodava. Galadriel ainda não havia aparecido, e aquilo era um mau sinal, geralmente ele superava as brigas dos dois rapidamente, com muito mais facilidade do que ela, ela não se dera conta do quanto estava acostumada com a presença irritante, ele fazia parte da rotina e quebrar a rotina que levara tanto tempo para construir a deixava desconfortável, fazia-a se sentir a deriva. A rotina de alguma forma a protegia, fazia com que ela soubesse exatamente o que esperar e o que fazer. Sem surpresas desagradáveis, já tivera muitas nos últimos tempos.

     Ela andava absorta nesses pensamentos e olhando para os lados esperando encontrar Galadriel com a aparência costumeira de alguém que já havia morrido. Foi quando ela sentiu algo, alguém, se chocar contra ela. Normalmente não a teria feito cair, mas ela estava distraída e perdeu o equilíbrio.

      - Desculpa, foi sem querer. - a voz era grossa e rouca, mas o tom demonstrava gentileza.

      Antes que pudesse se recuperar do susto, dois braços fortes a puxaram pela cintura e a colocaram de pé.

      - Você está bem?- dois olhos castanho claros, cor de mel a encaravam preocupados.

      Ela estava diante de um garoto alto e forte, com a pele clara, cabelos escuros e olhos castanho claros, cor de mel, a boca se abria em um sorriso acolhedor e a expressão do rosto era relaxada. Tudo nele parecia confortável e seguro.

      - Você está bem?- repetiu ele.

      - Estou sim. - disse ela recuperando a voz e corando ao mesmo tempo. O que estava acontecendo? Ela não era assim. Foi então que notou que as mãos dele ainda estavam em sua cintura, o toque dele era quente, aconchegante. Ela balançou a cabeça como que para se livrar do pensamento, sem amigos, sem garotos bonitos que esbarram em você no corredor, sem laços afetivos, essa era a regra. - Com licença, preciso ir para a aula.

      Ela tirou as mãos dele de sua cintura e saiu andando pelo corredor em direção a sala de aula. Mas antes que pudesse se distanciar ele disse:

       - Só pra você saber, o meu nome é Rafael.

       Ela não conseguiu evitar o sorriso que escapou por entre os seus lábios:

       - O meu é Samantha.

       - Bom saber. - o sorriso dele se alargou.

       Ela balançou a cabeça mais uma vez e começou a andar mais rápido. Aquilo não era pra ela. Entrou na sala e sentou-se em seu lugar de costume, sempre no fundo e no canto.

      - Se divertindo pelo corredor maninha?- o riso irônico e os olhos cruéis eram os mesmos, mas a aparência era completamente diferente. Ao seu lado estava de pé uma garota pequena e magrela de sete anos de idade, com lábios vermelhos e faces rosadas, o cabelo era liso e bem mais claro que o dela, como os da mãe, os olhos eram do mesmo verde dos de Samantha. O corpo não trazia nenhum ferimento, Alice morrera repentinamente, com uma doença que nenhum médico conseguira identificar.

     Samantha se limitou a revirar os olhos e encarar a carteira vazia, não podia conversar com ele já que ninguém mais o via e todos já pensavam que ela era maluca. Ela soltou um suspiro, aquela era a sua realidade: um garoto cruel, morte e dor. Nada além disso.

                                          ***************

     O quarto era completamente branco e esterilizado, cheirava a produtos de limpeza, a iluminação era forte. No centro havia uma maca onde uma pequena garotinha lutava para continuar respirando e ao lado a irmã segurava-lhe a mão. 

    - Promete? - a voz era fraca, mal sendo ouvida através do barulho das máquinas.

    - Prometo o que você quiser. - Samantha não se atrevia a deixar que a voz se erguesse mais que um leve sussurro.

    - Promete que não vai ser mais tão triste? Antes você estava sempre sorrindo, mas agora tudo que faz é ficar triste.

    Samantha sentiu o nó na garganta. Como poderia esplica-lhe? Não poderia

    - Eu prometo. - ela sabia que seria uma promessa vã, mas não podia negar aquilo a ela.

    - Eu te amo.

    - Eu te amo mais.

    Com um último sorriso fraco Alice fechou os olhos tranquilamente como se fosse apenas tirar um cochilo. Então começou o pandemônio quando todas as máquinas apitaram de uma vez. Médicos e enfermeiras correram para a cama todos de uma vez e afastaram Samantha de lá, todos trabalhavam afobados, mas ela sabia que já era tarde demais. A irmã se fora, como todos os outros. Lhe haviam tirado a última gota de esperança.

                                              *************

     O dia se arrastava lentamente. Ela ia de uma aula para a outra como um zumbi apenas seguindo o fluxo. Galadriel a provocava constantemente, mas aquilo era parte da rotina. Ah, a rotina estava de volta, se sentia bem mais confortável assim, de volta ao tormento que conhecia como vida. Sem surpresas.

     A hora do almoço finalmente chegou e ela se encaminhou para o refeitório apenas com Galadriel de companhia. O almoço era servido pontualmente 12h30, eles tinham uma hora para almoçar. O prato do dia era lasanha e uma salada com vários legumes diferentes.

     Ela pegou a comida e um copo de suco. Sentou-se na mesa mais distante. Galadriel sentou-se na frente dela. 

     - E aí pensando no bonitão do corredor maninha? - ele ainda estava como Alice.

     - Não é da sua conta. - sussurrou ela nervosa.

    - É lógico que é queridinha, sempre temos que saber quem é a nossa próxima vítima.

    Ela olhou pra ele de modo tão agressivo que poderia tê-lo desintegrado se tivesse esse poder.

    - Não precisa ficar nervosa amor, aí vem ele. - e com isso ele desapareceu.

    E lá estava Rafael. Ele caminhava despreocupado com sua camisa branca com o emblema da escola, a calça cinza chumbo social, sapatos pretos e a gravata listada verde e prata que era parte do uniforme dos meninos.

     - Parece que esta cadeira está vazia. - disse ele sorrindo gentilmente e sentando-se de frente pra ela, onde antes estivera Galadriel.

     - Primeiro me derruba no corredor e agora me persegue na hora do almoço… Qual o seu problema? - ela decidiu que ser chata era a sua única opção.

     - Isso não vai funcionar comigo.- afirmou ele sério.

     - Do que você está falando garoto?

     - Você afasta as pessoas de propósito, faz tempo que eu observo você, todos tentaram ser seus amigos no começo, mas você os afastou um a um, construiu muros a sua volta e agora faz de tudo para se misturar as paredes, para se tornar invisível. - o olhar dele era penetrante e a atravessava, como se pudesse ver a alma dela. - Só que esse jogo não funciona comigo, eu ainda vou descobrir o que você esconde.

     Mudança de planos, pensou ela, vou comer o mais rápido possível e sair daqui. Não poderia lutar contra ele. Com esse pensamento ela começou a comer em silêncio. Ele se limitou em observá-la enquanto terminava a própria comida.

     Ela terminou de comer e se levantou, mas antes que pudesse sair da mesa, ele a puxou pelo braço e olhou em seus olhos:

     - Pode confiar em mim.

     E lá estava aquele olhar doce e aquela sensação de familiaridade.

     - Você não sabe nada sobre mim.- respondeu ela de modo brusco, puxando o braço e saindo do refeitório, de volta para o dormitório.

     Chegando lá, ela escovou os dentes e trocou de roupa. Todas as tardes eles tinham aulas extras de acordo com escolha e aptidão. Segunda- feira era dia de atividades físicas. Ela tinha aula de arco e flecha. Usava uma camiseta branca, comprida e solta com o emblema da escola e uma calça leg preta e lisa.

      Estava pronta para sair quando Galadriel apareceu, e para a surpresa dela não parecia um cadáver, estava com sua aparência normal.

       - Andei pesquisando sobre o seu novo amiguinho, e ele está de parabéns, tem as melhores notas e um comportamento impecável. E ainda tem fama de romântico. Perfeito não é queridinha?

       - Não estou nem aí pra ele.- disse ela irritada, saindo e batendo a porta.

       Os treinos de arco e flecha eram ao ar livre, exceto em dias chuvosos. Apesar do dia cinzento não parecia que iria chover. Ela se encaminhou até a parte do campo atrás do grande prédio que era o ginásio de esportes, onde era feito o treino com arco e flecha.

       Ela se preparou e ajeitou os equipamentos. Acertava um alvo após o outro, se concentrando totalmente, tentando não pensar em mais nada, principalmente em Rafael.

       Depois da aula Samantha subiu para tomar um banho e fazer alguns deveres antes do jantar. Quando deu a hora foi para o refeitório torcendo para que não encontrasse Rafael, ela não sabia como reagiria a um terceiro encontro, ele tinha efeitos estranhos sobre ela. Mas mesmo que não admitisse queria saber mais sobre aquele garoto, ele a deixava intrigada.

       Samantha o viu apenas uma vez de relance conversando com uma garota de cabelos cacheados, e se perguntou quem seria ela. Mas logo afastou a ideia da mente. Não era da sua conta.

       Á noite voltou para o quarto e tentou se distrair com um livro qualquer que pegara na biblioteca, mas o esforço foi inútil.

       Os pensamentos a deixavam atordoada como há muito não faziam, ela não conseguia parar de pensar em Rafael, o que ele queria afinal? E Galadriel? Onde estava? Ele passara boa parte do dia sumido ou então aparecendo apenas de vez em quando de relances. Aquilo parecia um mau sinal.

        Ela colocou o pijama e decidiu tentar dormir, precisaria de forças para enfrentar o dia seguinte, o qual ela tinha certeza que seria pior do que o anterior, sempre era.

         E dessa vez quando ela acordou chorando no meio da noite Galadriel estava lá para sussurrar:

          - Tudo bem, tudo bem, foi só um sonho ruim querida.


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