O Massacre Quaternário escrita por Use Your Illusion


Capítulo 18
O Vitorioso


Notas iniciais do capítulo

Bom, chegamos ao final da Primeira temporada do Massacre Quaternário.
Espero que tenham gostado até aqui.
Que a sorte esteja sempre a seu favor.



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Levo um tempo explicando a situação para James.

–Eu devo mesmo ter atraído a garota se fiz mesmo todo esse barulho- diz James.

O legal é que fizemos tão pouco barulho quanto uma manada de bois, mas tento ser gentil.

–Ela era esperta, devia estar nos seguindo-suspiro- até você ser mais esperto que ela.

–Acontece que isso não me soa justo, eu realmente achei que eram iguais àquelas que você havia colhido, "amoras-cadeado'' até o nome soa mortífero. Desculpe-me.

–Não há do que se desculpar, isso só significa que estamos mais próximos de casa.

–Vou me livrar delas.- James ia jogá-las fora, mas se eles enganaram a garota, podemos enganar Cato.

–Pare. Me dê elas- ele olha para mim confuso- Quem sabe, Cato goste de amoras.

–Ele deve estar perto, com certeza deve ter visto o aerodeslizador, então está nos caçando novamente.

–Hora de fazer uma fogueira.- digo juntando galhos.

–Pronta para encará-lo ?

–Nunca estive tão certa.

E assim várias horas são perdidas em torno do fogo e nunhum sinal de Cato. O que me deixa pensativa se não deveríamos voltar para a caverna. "Não!'' penso, estou aqui com um único objetivo, e não é hora de desistir.Acho que não haverá mais noites na arena. Mas mesmo assim fico me perguntando porque ainda não acabamos com isso. O que mais eles querem ?

–O lago, a Cornucópia- lembra James- acho que querem nos levar onde tudo começou.

–É-analiso a situação- claro, eles querem o mais sanguinário combate, e para isso tudo nos leva para lá. Vamos.

Caminhamos, e não demora muito para que cheguemos no lugar onde John morreu em meus braços. Peço para sairmos rapidamente e James não hesita.

Algo que ando tendo pensado o dia todo é que agora parece que todos os outros tributos eram obstáculos de menor importância, distrações que nos mantinham afastados da verdadeira batalha. Cato e eu. Mas não, há também o garoto que está ao meu lado, e que sinto seus braços me envolverem.

–Dois contra um, vai ser a maior moleza- diz James.

–Nossa próxima refeição será na Capital-respondo.

–Pode apostar que sim.

Durante um tempo nos deitamos e ficamos apreciando o som da floresta. Então algo perturba o som, que são totalmente distorcidos em meio a frases distorcidas e imperfeitas.

Ficamos imediatamente de pé e nos preparamos. Cato surge da floresta rapidamente e aos urros e avança em nossa direção. Ele não tem nenhuma lança, na verdade, não tem arma nenhuma. James lhe joga uma pedra no peito e ela simplesmente cai no chão sem surtir efeito nenhum no alvo. Mas é claro que ele está ferido e exausto, posso deduzir pelo suor e sangue que escorrer de sua testa. Como ele foi se ferir tanto ? Meus olhos rastreiam na floresta a primeira criatura a saltar em nossa direção. No mesmo instante mais meia dúzia aparecem. Bestantes, sem sombra de dúvida. Não são mesmo animais naturais, parecem cães imensos, mas que espécie de lobo faz sinal com a pata dianteira como se tivesse punho ? Essas coisas percebo à distância, tenho certeza que de perto é muito mais horrível.

Cato vai sem pensar em direção à Cornucópia. Se ele acha que lá é mais seguro, quem sou eu para discutir ? Além do mais, mesmo que eu conseguisse chegar até nas árvores, seria impossível para James superá-los em velocidade devido à sua perna. James! Droga, como me esqueci dele ? Ele está a menos de quinze metros atrás de mim, mancando o mais rápido que pode, mas as bestas estão se aproximando. Dou um golpe no bando e uma cai, mas há muitos para perder tempo com isso. James faz sinal para que eu suba, e é o que faço, não há como ajudar os dois no chão. Depois de um dia quente o metal da Cornucópia está terrivelmente quente, o que já é suficiente para deixar minhas mãos cheias de bolhas. Cato está deitado ao lado do topo, seis metros acima do chão, e tomando fôlego fortemente enquanto vomita na borda.

–Sobe!- berro. James começa a subir com muita dificuldade, não só pela perna, mas também pela faca que está segurando. Acerto uma flecha no pescoço do primeiro bestante que tenta alcançar o metal. A criatura ao morrer se debate violentamente, acertando umas de suas companheiras. É aí que consigo dar uma boa olhada em suas garras, dez centímetros e afiadas como lâminas. Malditos!

James agarra meus pés e o puxo para cima. As bestas continuam tentando nos alcançar, então começo a reparar mais de perto em uma delas e noto que quase humana. Os pelos loiros, olhos castanhos, o número 11... então todo o terror dentro de mim vem à tona. É Lise. Um grito escapa da minha boca e tenho dificuldades para armar o arco.

–Carlie ?- sinto James apertando meu braço, em poucos instantes disparo a flecha no crânio do bestante.

–É ela!

–Quem ?- pergunta James.

Minha cabeça vai de um lado para o outro examinando todos com mais precisão nos detalhes. Ruivo, um que lembra muito Eric e até um com dentes cerrados destilando ódio. John...

–O que houve Carlie ?- pergunta James sacudindo meu braço.

–São eles, todos eles. Os outros. Lise, Eric, John... todos os outros tributos- digo soluçando.

–O que será que fizeram com eles ? Além dos olhos você acha que talvez o cérebro... Deuses!- ouço James suspirar com a ideia e ele tem razão. E se modificaram seus cérebros para que sintam um ódio tremendo dos restantes ?

Cato ainda não está recuperado, mas sei que não demora para que se recupere. Um bestante quase me alcança, mas dou uma flechada e o mesmo cai derrubando os outros que vinham. James é arrancado do meu lado, eu acharia que teria sido levado pelas bestas se não tivesse espirrado sangue na minha cara.

Cato está de pé na minha frente, quase na extremidade da Cornucópia segurando James com uma espécie de chave de cabeça, impedindo-o de respirar. James está golpeando o braço de Cato sem saber o que é mais importante: respirar ou tentar deter o fluxo de sangue que volta a jorrar de sua perna. Miro minha última flecha para a cabeça de Cato, e ele apenas ri.

–Atire em mim e ele cai comigo. Vá em frente.

Ele tem razão. Se eu atiro, James cai junto nas bestas e morrerá. Cato não pode matar James, pois eu o mataria depois. Chegamos a um impasse.. Ficamos como estátuas procurando uma saída. Os lábios de James estão começando a ficarem azulados, e com muito esforço ele ergue os dedos na direção do braço de Cato. Mas ao invés de tentar se livrar, James só marca um X nas costas da mão de seu agressor. Ele só percebe isso quando minha última flecha já está cravada em sua mão, James por sua vez lhe dá um golpe que por um segundo acho que os dois tinham caído. Agarro James e Cato se desequilibra e cai nos bestantes. James e eu esperamos pelo canhão e nada, eles querem um grande show, esse é o clímax dos Jogos Vorazes. Mas ninguém falou que eles o terão, por isso eu salto da Cornucópia em um momento inesperado até mesmo para mim, Um bestante ataca meu ombro direito, mas mesmo assim eu os golpeio e por fim Cato apenas me olha como um pedido de "Por favor". Então minha espada atravessa seu pescoço decapitando-o, os bestantes vão embora, e o canhão dispara.

–Vencemos- diz James sem entusiasmo e concordo com a cabeça.

–Consegue ir até o lago ?- pergunto.

Então vamos até o lago onde consigo ao menos limpar o ferimento causado pelos bestantes, e onde rasgo boa parte da minha blusa para fazer um torniquete para a perna de James.

"Saudações aos últimos competidores da 74ª edição dos Jogos Vorazes. A revisão anterior foi revogada. Um exame minucioso no livro de regras diz que só podemos ter UM vencedor. Que a sorte esteja sempre a seu favor."

Eu e James trocamos um olhar triste. Eles nunca quiseram que fossemos vencedores.

–Vai em frente- James manca até mim e aponta minha espada para seu coração.

–Não- digo firme- eles precisam de um vencedor.

Pego as amoras que estavam em meu bolso e entrego metade para James, que se inclina e me beija. Colocamos as amoras na boca. Aperto a mão de James.

''Parem! Parem!. Senhoras e senhores, tenho o prazer de anunciar os vitoriosos da 74ª edição dos Jogos Vorazes, Carlie Rayne e James Diamond. Os tributos do Distrito 12!"

Cuspo fora as amoras e com um pedaço da blusa limpo os restos de amoras de mim. Um aerodeslizdor aparece acima de nossas cabeças. Não solto James de maneira nenhuma. Quando a porta se fecha atrás de nós, James desaba no chão. Médicos aparecem do nada. James está pálido. Posso ver os médicos trabalhando nele e não tenho certeza, mas acho que seu coração parou duas vezes. Minha vez de desmaiar.

Acordo assustada com Phill ao meu lado.

–Ele sobreviveu ? -pergunto não controlando minhas lágrimas.

Ele faz que sim com a cabeça quando reparo que minha audição voltou ao normal, e que meu ombro não tem nada a não ser, claro, uma cicatriz em forma de garras.

–Eles querem que vocês se reencontrem na cerimônia de encerramento. Hora de trabalharmos jovem loba.- "Jovem loba", gostei.

Na cerimônia tudo ocorreu normalmente. Descubro que James infelizmente perdeu sua perna, e claro que culpo a mim mesma pela ideia idiota do torniquete, mas sem ele James talvez não teria sobrevivido. O presidente Snow quebra ao meio a coroa do vitorioso e nos coroa.

Quando é de noite, estamos Phill e eu conversando no telhado.

–Eles não gostaram disso, prepare-se- ele diz.

–O que eles podem fazer ? Já fizeram, não ?- retruco

–Pare de achar que você está certa em tudo só porque curtiu com a cara da Capital, eles não aceitam isso numa boa. E não vão deixar passar só porque você é do 12. Foi muito boa a encenação, mas pare de se achar superior, e boa noite.

Quando menos espero vejo que James estava nos ouvindo.

–Encenação ? Foi tudo falso ? Fui feito de otário ?

–James, não...

–O que Carlie ? Isso não estava nos seus planinhos com o Phill ? Tchau.

E assim fico sozinha no telhado, sem poder fazer nada, os dois estão certos. Tenho que me preparar para a Capital. E eu realmente fiz James de otário.

No trem de volta para o 12 ficamos em total silêncio, até mesmo Phill, que ficou em sua cabine bebendo. Fico observando à nossa volta e posso ver nossa pequena estação ganhando tamanho e vida ao longo que nos aproximamos do 12. Tento procurar minha família, e os encontro. Meus pais e...meus irmãos. Me emociono com esse momento.

Com o Canto do olho posso ver James estendendo a mão. Olho para ele sem muita certeza.

–Uma última vez ? Para o público ?- diz ele, e sua voz não está zangada, o que é pior.

Pego sua mão, segurando com firmeza, preparando-me para as câmeras e abominando o momento em que finalmente terei de soltá-la.


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