Sonhos Roubados escrita por Kátia


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora



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- Como assim? – Evan perguntou encarando a placa de “FECHADO” no restaurante.

- Vamos. – Eu disse puxando ele. – Na minha casa deve ter algo congelado, tipo uma lasanha.

- Ok. Desculpe por isso.

- Você e sua mania de pedir desculpas. – Eu ri. – Cara, nem tudo é sua culpa. – Minha casa estava longe, mas chegamos rápido. Quando estamos com uma companhia agradável o tempo voa.

Empurrei Evan até a porta dos fundos, pois não queria que ele presenciasse mais um episodio dramático. Ele pareceu entender, até porque não fez perguntas.

Adentramos diretamente na cozinha. Fui logo pegar a lasanha e pus no micro-ondas.

- Vou trocar de roupa. – Falei após jogar a caixa no lixo.

- Isso é um convite? – Ele ergueu as sobrancelhas.

- Você fica aqui. – Falei ignorando o comentário dele.

Vesti um moletom qualquer e desci. Ele olhava para o micro-ondas com uma cara engraçada.

- Você está mesmo com fome. – Falei rindo.

- Estou mesmo. – Disse dando de ombros. – Ouvi dizer que você será a Clary na peça da escola.

- Infelizmente.

- Mas não foi esse o tema que eu estava pensando para a nossa conversa. – Ele disse inquieto de repente.

- E qual seria o tema perfeito? – Perguntei avaliando sua expressão.

- Estou um pouco em dúvida. – Ele disse simplesmente.

- Em relação a?

- Como devo te apresentar para meus familiares. – Ele coçou a cabeça.

- “Gente, essa é a Jess.“ – Falei imitando seu tom de voz.

- Você sabe o que eu quis dizer. – Ele me olhou fixamente.

- Sim, eu sei. E espero que o que o Fred falou no outro dia não tenha influenciado você em... – Parei.

- Jess, ele só disse a verdade.

- Não, as coisas não precisam ser assim. – Falei rápido.

- O que você quer dizer? – Disse estreitando os olhos.

- Não precisamos chegar a esse ponto.

Ele não disse nada. Meu coração gelou, pois a expressão no rosto dele era de incredulidade.

- Falei alguma besteira? – Repassei a ultima frase mentalmente algumas vezes a reavaliando, mas não percebi o erro.

- “Não precisamos chegar a esse ponto.” – Ele repetiu amargamente.

- Estou errada? – Perguntei secamente.

Ele se levantou e veio na minha direção.

- Você está certa? – Disse bem próximo de mim. Ele estava com uma expressão quase violenta no rosto. Recuei um passo para trás, logo outro. Quando dei por mim estava encostada na parede e ele me encarando a uma proximidade considerável.

- Não estou? – Engoli em seco.

- O que você quer de mim, Jess? – Ele sorriu. – Ta sendo legal brincar comigo?

- Não estou brincando com você. – Falei virando meu rosto. Ele puxou meu rosto para frente a fim de que eu continuasse olhando para ele.

- É engraçado, porque depois os homens que levam a má fama. – Ele riu e depois se afastou. Pegou a mochila dele e saiu da minha casa.

Fui correndo até a porta.

- Evan. – Gritei. Ele parou.

-Sim? – Disse sem se virar.

- Você não pode ir embora. – Falei. Pensei rapidamente tentando achar algum argumento. – Você ainda não almoçou.

Ele deu uma risada bastante sonora.

- Até mais tarde, Jess.

Porque o Evan tinha essa mania de fazer saídas teatrais? Soltei um suspiro e fui atrás dele. Se ele percebeu que eu estava indo atrás dele, não demonstrou. Puxei o braço dele. O que não foi muito inteligente, visto que minha mão escorregou da blusa dele e eu acabei me dando um soco no nariz.

- Ai. – Soltei sem querer, pondo as duas mãos no nariz.

Pelo menos a atenção de Evan eu recuperei, pois ele virou-se rapidamente. Ele tirou minhas mãos de cima do meu nariz delicadamente, para observar melhor o dano. Seu rosto que antes estava severo agora demonstrava preocupação.

- Tá doendo muito? – Perguntou calmamente.

- Não.

Senti um liquido escorrer. Ótimo. Tudo que eu precisava era de sangue. Pus as mãos novamente no nariz para tentar conter o sangramento.

- Vamos lá. – Ele disse me guiando para dentro de casa.

Ele pegou alguns papeis toalha e me entregou. Por sorte não estava sangrando muito, logo o fluxo parou. Evan me olhava como se estivesse com dó de mim.

- Não me olhe assim, por favor. – Uma dor lancinante atingiu minha cabeça e eu fiquei tonta. Quase cai da cadeira.  Evan se agachou ao meu lado.

- O que faremos com você? – Ele perguntou com um pequeno sorriso no rosto.

- Não sei. – Sorri também. – Talvez você devesse parar de me dar às costas.

- Você pede isso. – Falou passando o polegar pela minha bochecha.

- Desculpa, sou um pouco complicada, eu sei. Apenas tenha um pouco de paciência.

- Ei. Eu que sou o que pede desculpas aqui, se lembra?

- O que aconteceu com o Evan que estava com raiva de mim agorinha mesmo? – Perguntei rindo.

- Ele foi embora assim que viu que certa garota tem a capacidade de nocautear a si própria.

- Não seja tão legal. – Peguei em sua mão. – Brigue comigo. Diga que eu sou insensível. Você não estaria mentindo.

- Você já se sente melhor? – Perguntou, desviando totalmente da conversa.

- Sim.

Evan tinha esse lado protetor que me fazia oscilar. Eu sempre tinha esses altos e baixos quando estava com ele. O maior problema era que eu tinha dificuldade de pensar direito.

- Eu sou idiota. Desculpe por isso Evan.

- Se você não fosse idiota não teria nenhuma graça.

- Você sempre é tão legal comigo. – Falei sem graça.

O telefone dele tocou.

- Tenho que atender. Aguenta aí só um pouquinho.

Ele foi para a sala murmurando e em poucos minutos voltou.

- Tenho que ir. – Disse passando a mão pelos cabelos escuros.

- Ok.

E ele se foi.

...

Fiquei a tarde toda no silêncio do meu quarto estudando minhas falas. Não era tão difícil. O difícil seria eu lembrar a ordem depois. Amanha terei que treinar com o Colin, porque senão nada dará certo. 

Fred e Jim sairiam com as namoradas hoje à noite. O que me deixou um pouco chateada. Plena sexta feira e eles me deixam sozinhos. Ou quase isso, uma vez que, a senhorita Bianca viria aqui tirar minhas medidas. Tenho uma leve suspeita que essa reuniãozinha não será bem uma reuniãozinha.

Quando foi 19h ela chegou, Evan estava com ela. Ele estava com uma expressão divertida no rosto, como se soubesse o quanto eu iria sofrer.

- Bem, bem. – Ela disse agitando as mãos. – Pode tirar a roupa.

Eu apenas a encarei.

- Vamos, Jess. Não tenho tempo. – Ela revirou os olhos. – Evan feche os olhos. A senhorita timidez aqui não gosta de ser observada.

- Não podemos ir para o meu quarto? – Perguntei baixinho.

- Que diferença irá fazer? – Ela perguntou impaciente.

- Ok. – Olhei para Evan e ele já estava indo para a cozinha.

Tirei minha roupa, ficando apenas de peças intimas. Bianca veio em minha direção com uma fita métrica e uma prancheta. Ela me mediu da cabeça aos pés. E eu estava com frio, a propósito. Depois do que pareceram horas, ela terminou.

- Pode ter certeza que seu vestido ficara lindo. E vai ficar lindo no seu corpo também, não se preocupe. – Eu não estava muito preocupada com isso na verdade. – E vou te entregar no sábado que vem, ou seja, no dia da social. Isso tudo porque você não terá outra opção a não ser usar o vestido.

- Mas...

- Ou seja, não importa se você goste ou não. – Ela disse me interrompendo. – Você vai usar ele de qualquer forma.

- Olha, que ótimo. – Falei com a voz mais animada que pude.

- Sem sarcasmo. – Ela me olhou com frieza. – Você me agradecerá depois. Agora, tenho que ir. Evan, terminamos aqui.

Evan encostou-se à soleira da porta e me observou por alguns instantes.

- Bela roupa. – Falou contendo um sorriso.

Foi aí que eu lembrei que ainda estava seminua.

- Bianca. – Gritei.

- Não olhe para mim. – Ela falou com um sorriso enorme no rosto.

Vesti-me rapidamente. Enquanto Evan e Bianca trocavam olhares de divertimento.

- Pensei que você iria embora agora. – Falei com raiva.

- Ui, ela está nervosinha. – Bianca riu.

Olhei com cara feia pra ela. Só fez com que ela risse mais.

- Sua namoradinha é hilária, Evan. Aposto que a Ruby vai amar ela.

Evan coçou a cabeça.

- Quem é Ruby? – Perguntei.

- A minha irmã. – Ela deu um sorriso malicioso. – Há boatos de que ela e o Evan...

- É, acho que está na hora de irmos mesmo. – Interrompeu Evan.

- E eu acho que está na hora da Bianca ir. – Corrigi.

Bianca me mandou um beijo e saiu. Evan ficou me encarando.

- Que foi? – Perguntei.

- O que você acabou de falar? – Ele perguntou estreitando os olhos.

- Perguntei o que foi.

- Antes disso.

- Expulsei Bianca da minha casa. – Falei desconfiada.

- E eu? – Ele perguntou sorrindo.

- Você fica.   

- Não posso argumentar contra isso.

- Obrigada.

Ele foi lá fora avisar para a Bianca que só iria mais tarde. Depois sentou comigo no sofá.

- Como está seu nariz? – Ele perguntou sorrindo.

- Ele está bem. E você? Como está?

- Estou bem. – Ele respondeu olhando para as mãos.

- Tem algo te incomodando? – Perguntei apesar de saber que sim.

- Sim. – Ele sorriu. – Você é a primeira garota que me deu um fora.

- Eu não te dei um fora. – Eu ri.

- Mas vai dar. Hoje mais cedo você já deixou as coisas bem claras: “Não precisamos chegar a esse ponto”.

- As coisas são complicadas, Evan. – Falei coçando a cabeça.

- Você que está complicando, porque você está com medo. Medo de que aconteça como da última vez. – Ele pegou minha mão.

- Eu só... – Ah, que ótimo. Todas as palavras sumiram de repente. – Não consigo entender o que um cara como você vê em uma garota como eu.

- Jess, cala a boca. – Ele riu. – Não estamos na peça da escola. Você não é a garota sem graça. Você é real. E a única coisa que importa aqui é que você me faz bem. 

- O que eu devo dizer? – Olhei diretamente em seus olhos. – Dizer que eu gosto quando você segura minha mão, como exatamente você está fazendo agora? Dizer que gosto de ouvir sua voz? Dizer que gosto da sensação da sua pele contra a minha? – Sorri. – Ou dizer que mesmo quando você começa a falar alguma besteira eu não consigo não prestar atenção? Ou que as vezes você tem essa mania irritante de ser irritante e que eu acho tão irritante mas que eu gosto tanto? E que eu acho você tão atraente que eu poderia ficar olhando para você durante horas que não encontraria nenhum defeito? Ou quem sabe que eu perco o ar quando estamos muito próximo? E que eu gosto de você, mas eu não sei o que fazer com isso?

Ele abriu a boca como se fosse falar alguma coisa, mas não disse nada.

- Eu jogo um livro em cima de você e você não diz nada? – Perguntei carrancuda.

Ele não disse nada novamente. Suspirei e fui me levantando. Ele me puxou para o sofá com força.

- Não acredito que você disse isso. – Ele disse com uma expressão engraçada.

- É. Nem eu. – Ergui as sobrancelhas.

Ele chegou mais perto de mim. E apenas me assistia com aqueles olhos azuis.  

- O que você está pensando? – Perguntei.

- Que sua sobrancelha direita é um pouquinho, bem pouquinho, mais arqueada que a esquerda. E que você tem uma pequena cicatriz bem aqui. – Ele passou o dedo indicador, delicadamente, em cima da cicatriz que era bem próxima da orelha.

- Uma vez minha mãe me disse que o meu avô estava ficando surdo. Eu achava que se eu desse uma das minhas orelhas para ele, ele voltaria a escutar bem novamente. Só que doeu. Aí resolvi deixar meu avô ficar surdo mesmo.

- Uau, você era bem inteligente ein. – Evan disse rindo.

- Eu tinha 4 anos, Evan. – Falei revirando os olhos.

- Com 4 anos eu já sabia que não se deve cortar uma orelha e dar ao avô.

- Olha, que grande passo na sua vida. – Sorri. Mas depois lembrei que o assunto aqui não era esse e meu rosto voltou a ficar sério. – Evan, o único problema que temos aqui é que eu gosto demais de você. Não quero estragar isso que temos.

- Você vai ter achar uma desculpa melhor do que essa de “Não quero estragar a nossa amizade”.

- Estou falando sério.

- Eu também. E sei que você está um pouco confusa, mas apenas confie em mim. Eu estou aqui agora por você e vai ser assim até quando você não quiser. Porque eu tenho essa impressão que meu coração precisa de você por perto.

- Eu confio em você. Isso é a única certeza que eu tenho.

Evan sorriu e se aproximou mais. Eu devia estar preparada, afinal era lógico que ele faria aquilo. Mas meus batimentos cardíacos mostravam que eu estava um pouco equivocada. Podia sentir sua respiração contra o meu rosto.

- Parece que você está um pouco lerdo hoje. – Eu falei.

- E você bem apressada. – Ele falou e encostou de leve os lábios nos meus. – Talvez devêssemos adiar essa conversa para amanha. – Ele se afastou.

- Talvez você devesse calar a boca e terminar o que estava fazendo. – Eu disse observando o sorriso dele.

- Não. Porque não sou um garoto qualquer.

- O que você quer dizer? – Franzi a testa.

- Sou um garoto de família.

Comecei a rir.

- E eu estou tentando te levar para o mau caminho? É isso mesmo?

- Você não quer compromisso. E sou um menino direito. – Ele deu um sorriso torto.

- Tudo bem. – Falei me encostando no sofá e cruzando os braços.

- Tudo bem o quê? – Ele perguntou chegando mais perto.

- Você venceu, Evan. – Suspirei.

- Venci? – Ele coçou a cabeça. – Isso significa que você...

- Sim, Evan. Sim. Depois eu que sou lerda.

- Jess. Não acredito. Quero que você diga com todas as palavras.

- Meu Deus. Que saco. – Revirei os olhos. – Você quer compromisso. Você terá compromisso. Só que se tudo der errado a culpa é totalmente sua. 100% será culpa sua.

Ele me puxou e me beijou. Um beijo curto, mas não reclamei. Afinal, eu acho que agora eu poderia beijá-lo quando eu quisesse. Confesso que não pensei muito, apenas falei. Eu gostava dele. Ele gostava de mim. É isso que importa não é mesmo?

- Jess, minha namorada. – Ele sorriu.

- Evan, – engoli em seco – meu namorado. 


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Notas finais do capítulo

E ai o que acharam?



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