Sonhos Roubados escrita por Kátia


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei, como sempre. Mas realmente está um pouco dificil conseguir tempo para escrever. :( Mas espero que esse capitulo satisfaça vocês.



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Evan apertava minha mão delicadamente enquanto eu pensava novamente naquele dia. Ele foi paciente e não me apressou em nenhum momento. Fiquei um bom tempo em silêncio até que tomei coragem e disse:

- Aconteceu no final do ano passado. – Suspirei. – Foi no dia 21 de Novembro. Era a época do baile, você sabe. Eu estava voltando para casa com o Colin e estávamos falando sobre isso. Acabamos decidindo ir juntos. Seria divertido. – Lembrei do sorriso do Colin quando eu sugeri que fossemos juntos. Ele parecia satisfeito. – A casa do Colin é mais perto da escola do que a minha, portanto eu tive que ir algum tempo sozinha. – Omiti a minha outra companhia. – E peguei meu fone e pus no máximo. Quando cheguei na varanda de casa não notei nada de diferente. Mas se eu não tivesse de fone eu teria notado. Assim que abri a porta me vi desesperada. Arranquei meu fone, larguei minha mochila e fui em direção a meus pais. Mas eles gritaram para que eu ficasse parada. Eu não me movi mais.

Dei uma pausa tentando conter as lágrimas, mas elas eram mais fortes que eu. Eu tinha que me controlar. Não podia parar agora.

- Jess, você não precisa me contar agora. – Evan disse. Olhei para seus olhos, mesmo com minha visão um pouco embaçada pelas lágrimas eu conseguia ver que seus olhos azuis estavam cálidos. Ele apertou minha mão com um pouco mais de força.

- Estou bem. – Sequei as lágrimas e prossegui: - Os ladrões ainda não tinham me visto. Mas assim que minha mãe gritou, eles se viraram para mim. Eles eram três. Um deles apontou uma arma para mim e disse que eu deveria ficar parada. Mas eu já estava parada. Eu tentei com todas as minhas forças me mover para frente, mas não consegui. Ele perguntou qual era o meu nome, mas eu não consegui dizer. Ele se virou e atirou no chão, perto do pé de minha mãe. Eu respondi. Ele olhou para os seus comparsas e houve um entendimento entre eles. Não sei por que, só sei que de uma hora para outra eles desviaram a atenção de meus pais para mim. Todos os três me encararam. Meu pai percebeu a brecha e foi até o armário da cozinha e pegou uma arma que ele guardava lá. Enquanto um dos ladrões segurava meu braço fortemente e havia começado a me arrastar para fora. Minha mãe veio para cima dele e começou a bater nele. Ele me jogou no chão e eu bati com força a cabeça na quina de um móvel. Tudo ficou embaçado e eu escutei um tiro, depois um grito da minha mãe. Forcei meus olhos a enxergarem novamente e vi minha mãe no chão com uma mancha vermelha na barriga. Meu pai gritava algo para mim, mas meus ouvidos zuniam. Ele estava com a mão tremula e tinha uma arma apontada para um dos ladrões, mas eles eram três. – Respirei fundo antes de continuar. – Eles eram três, Evan. Três homens. Cada um com uma arma. Três armas apontadas para o meu pai e minha mãe respirando com dificuldade no chão e eu parada. – Irrompi em lágrimas. Evan largou minha mão e me abraçou. Minha cabeça estava em seu peito. E minhas lágrimas migravam para sua camisa. – Eu não fiz nada. Nada. Meu pai olhou para mim uma última vez e disparou três vezes. Ele errou os três tiros. Quantas vezes eu havia dito para ele que ele deveria treinar? Mas ele não me ouviu. Ele não me ouviu. E levou três tiros de uma vez. Eu vi quando uma das balas atingiu a cabeça dele. Eu vi o sangue respingar. Eu vi o líquido fluir para fora dele. E minha mãe estava deitada no chão. E eu estava parada. Meu pai estava morto na escada. E eu estava parada. Os bandidos de costas para mim. Um deles estava sem o capuz. Ele olhou para mim. Seu rosto poderia ter sido bonito em outra situação, mas ali ele não passava de um monstro para mim. Ele atiraria em mim, vi isso em seus olhos. Mas os vizinhos vieram e eles correram. Eles correram e eu fiquei ali parada. Algumas pessoas me sacudiam. Eu me sentia morta. Meus pés se moveram sozinhos e me levaram até ao lado de minha mãe. Minhas mãos tremiam. Meu coração não aguentava mais. Não. Eu queria morrer. Por que minha mãe não havia levado um tiro na barriga. Ela havia levado um tiro no peito. Ela não respirava mais. Seus olhos estavam abertos. Olhei para cima. Meus olhos desviaram para o relógio que tinha alguns respingos de sangue. O ponteiro marcava que era uma hora e três minutos. Uma hora e três minutos. Minha mãe era a hora. Meu pai era os minutos. Quatro tiros. – Levei a mão ao meu peito e senti meu coração bater acelerado. – Peguei na mão de minha mãe, ela estava fria. Meu pai estava próximo peguei a dele também. Pus as mãos frias deles no meu coração. Era errado meu coração estar batendo. Era errado. – Fechei os olhos. – Alguém agarrou meus ombros. Alguém me disse para não entrar em pânico. Alguém me puxou para longe dos meus pais enquanto eu gritava que não podia deixá-los. Eram os paramédicos. Eu quase ri quando vi que eram eles. Meus pais estavam mortos e haviam paramédicos ali.

Sequei minhas lágrimas. Eu não podia mais chorar. Já havia chorado demais. Acalmei-me ao máximo para continuar. Soltei-me do abraço de Evan para poder olhar em seus olhos.  

- Eu sou uma assassina. – Ele abriu a boca para falar algo, mas eu pus meu dedo indicador em seus lábios, para que ele não falasse nada. – Eu poderia ter feito algo. Eu não sei o quê. Mas eu deveria. Mas agora é tarde demais. As únicas coisas que me restaram foram a culpa e o trauma. – Sorri. – Não consigo nem atravessar a sala depois que chego da escola sem chorar. Sou tão forte, não é mesmo?

Desviei os olhos de Evan. Ele puxou meu rosto para que eu olhasse para ele.

- Você não é uma assassina. Não importa o que você acha agora. Você não é uma assassina, Jess. Você não é culpada. Você é uma vitima.

- Você não pode falar isso. Eu sou sim. Eu não acredito em você. Você só quer fazer com que eu me sinta melhor. – Falei rispidamente.

- Ah, é claro que sim. – Disse com sarcasmo. – Você é uma adolescente. Você não é uma lutadora. E você não seria capaz de fazer nada, Jess. Sei que isso pode soar rude. Mas você não pode se culpar. Foi uma fatalidade. Você estava lá, mas pare de colocar o se em tudo. Você não é uma assassina. – Sua voz estava mais alta que o habitual. Não sei se foi isso que fez com que elas tivessem um impacto forte sobre mim.

Foi uma fatalidade.

Eu fiquei em silêncio.

 - Desculpe. – Evan falou.

- Por quê? – Perguntei olhando em seus olhos, que agora brilhavam de um modo que os deixavam ainda mais bonitos.

- Eu só... – Ele passou as mãos pelos cabelos. Reparei que ele fazia isso quando estava nervoso. – Eu só acho que você já sofreu demais. E você ainda está sofrendo. Mas se você continuar se culpando... Você vai acabar se perdendo dentro dessa culpa, Jess. Ela vai te engolir. Por favor.

Ela já está me engolindo, pensei.

- Eu sei. Mas não consigo. – Encostei minha cabeça em seu ombro. Ele relaxou e passou o braço ao redor de mim.

- Obrigada, Evan. Você é um excelente amigo. – Eu disse calmamente.

- Está ficando tarde. – Ele disse ignorando o que eu disse. – Acho melhor eu ir te levar em casa.

- Você tem razão. – Falei e me levantei. Ele se levantou logo em seguida.

Caminhamos em silêncio até chegarmos a minha casa. Eu olhava para ele a fim de localizar uma expressão de pena ou de solidariedade. Mas tudo o que vi foi um olhar confuso e distante. Ele me pegou olhando para ele uma vez e apenas sorriu. Talvez a expressão de curiosidade em meu rosto o tivesse divertindo.

Assim que chegamos vi Jim e Fred na varanda sentados nas cadeiras de balanço. Eles me viram e vieram correndo em minha direção.

- Ficamos preocupados. – Disse Jim nervoso.

- Porque você sempre esquece o seu celular? – Perguntou Fred com um sorriso no rosto.

- O Colin sabia onde eu estava. Era só vocês ligarem para ele. – Falei sorrindo torto.

- Pensamos que você ainda estivesse brigada com ele. – Jim falou e me deu um abraço.

Olhei para o lado e vi Evan um pouco desconfortável.

- Eu vou indo. A gente se vê. – Disse Evan.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa Fred se pôs na conversa.

- Ei cara. Porque você não fica para jantar conosco. – Fred deu um sorriso enorme. – Hoje eu que cozinho. Então a comida vai ser de qualidade.

- Eu adoraria. Mas... – Evan começou a dizer, mas Jim o interrompeu.

- Ótimo. – Jim disse puxando o braço de Evan e o arrastando para dentro.

Dei um sorriso amarelo para ele. Espero que ele não fique com raiva dos meus tios loucos.

Jim disse para que eu ficasse na sala com o Evan enquanto eles preparavam o jantar.

- Desculpe por isso. – Falei constrangida. – Se você não quiser ficar, não precisa.

- Se não for um incomodo para você eu fico de todo o agrado. – Ele disse olhando para as mãos.

- Então você vai ficar. – Eu disse sorrindo.

...

 - Então quer dizer que a Jess não como picles porque ela gosta do Plankton? – Perguntou Evan rindo.

- Daqui uns dias ela não vai querer lavar as louças porque vai falar que não gostaria de ensaboar com um Bob Esponja. – Disse Jim rindo. Evan e Fred o acompanharam.

- Olha, parem de rir de mim. – Falei com raiva.

- Mas você é uma amendoboba. – Disse Evan rindo ainda mais.

- Vocês são insuportáveis. – Falei jogando um picles no Fred, porque ele estava de frente para mim.

- OH MEU DEUS. – Disse Fred em um tom melodramático. Todos pararam de rir.

- O que foi? – Perguntei preocupada.

- Você matou o Plankton.

E foi assim durante todo o jantar. Fred e Jim faziam o possível para me humilhar na frente de Evan, contando todas as coisas idiotas que eu fiz e faço. Fiquei constrangida no início. Mas percebi que o Evan estava se divertindo então eu entrei na brincadeira e também contei alguns podres de Fred e Jim.

Após o jantar Fred e Jim foram para a sala enquanto eu e Evan arrumávamos a cozinha. Estávamos nos divertindo nessa parte também. Evan tinha enfiado uma faca na esponja e dito que o Bob Esponja havia morrido quando Fred entrou na cozinha e disse:

- Garoto, só tenho uma dúvida.

- Sim? – Evan perguntou apreensivo.

- Quando é que você irá pedi-la em namoro? – Ele perguntou na maior naturalidade.

Meu queixo caiu.

- Fred, é melhor você sair dessa cozinha imediatamente. Se não eu pego uma faca dessas e jogo em você.

Fred deu uma risadinha e saiu.

Eu e Evan nos encaramos por alguns instantes. Eu podia sentir meu sangue ferver dentro de mim. Meu rosto estava quente e eu tinha certeza que eu havia enrubescido.

- Apenas esqueça o que ele disse. – Falei tentando parecer natural, mas saiu mais como um guincho de um animal desesperado.

- Ele me deu um ultimato? – Evan perguntou confuso.

- Ele estava brincando. – Falei, apesar de saber que Fred não estava brincando. Ser inconveniente fazia parte da natureza dele.

- Não acho que ele estava brincando, Jess. – Evan falou me encarando.

- Mas e daí? Ele é só um idiota. – Falei nervosa. Por favor, por favor, que surja outro assunto do além.

Evan ficou em silêncio. O que já era bom. 

Demoramos mais alguns poucos minutos arrumando a cozinha. Quando terminamos, Evan disse que já estava tarde e que deveria ir embora. Ele se despediu de Jim e Fred, e eu lancei meu olhar mortal para Fred que me ignorou.

Fui até a varanda com Evan e fechei a porta atrás de mim.

- Foi uma ótima noite, Jess. – Ele sorriu. – Nunca pensei que me divertiria tanto em um jantar.

- Surpresa. – Eu disse rindo.

- Queria te perguntar uma coisa. – Ele disse tímido.

Meu coração disparou. Não acredito que ele vai fazer isso. Fred olha só o que você fez.

- Fique a vontade. – Falei parecendo relaxada, mas estava muito nervosa por dentro.

- É que meu pai todo ano faz uma reunião na casa dele. E eu queria que você fosse comigo. - Antes que eu pudesse responder ele continuou: - Olha, na maioria é só um pessoal da família, um pessoal distante, e alguns amigos íntimos. É só que eu tenho que ir. Mas não quero ficar a noite toda isolado em um canto.

- Ah. – Falei surpresa.

- Mas então? Você vai comigo? – Ele perguntou mordendo o lábio inferior.

- Tudo bem. – Falei olhando para o dente dele. – Espero que eu não tropece em nada por lá.

Ele riu e deu um beijo em minha testa.

- Tenho que ir. Até amanha.

- Até. – Falei sorrindo. – Boa noite. Sonhe com ursinhos amarelos.

- Pode deixar. – Ele hesitou por um momento depois disse: - Mas preferia sonhar com você.

Ele me deu as costas e saiu caminhando tranquilamente. E ao contrário daquele primeiro dia que ele veio até minha casa, ele não olhou pra trás em nenhum momento para me lançar um sorriso. As coisas mudaram em tão pouco tempo. Não sei se consigo acompanhar essas mudanças repentinas.

A verdade é que hoje foi um dia em que Evan me conheceu. Eu abri meu coração para ele e permiti que ele descobrisse mais sobre mim do que Mike e Thomas sabiam. Tudo bem que eu não tinha contado a história inteira, mas não importa.

Enquanto eu estava deitada em minha cama, ainda sem dormir, eu reparei que ele sabia muito sobre mim, mas eu não sabia nada sobre ele. Ele nunca deixou nada escapar. A única coisa que eu sabia dele era que o seu sobrenome. Reparei que não sabia a idade dele. Não sabia onde ele morava. Não sabia em quais matérias ele realmente se saia bem. Mas será que essas informações que eu não sabia eram realmente importantes? Ou tão importantes assim? Eu conhecia o lado dele que me fazia rir e que me fazia flutuar. Os mais singelos carinhos, o seu toque, o seu beijo. Mas eu não sabia nada sobre a vida dele. Repito para mim mesma: “Isso é realmente necessário?”. É claro que eu sinto algo pelo Evan. É inútil negar isso. Mas e se eu estiver enganada em relação ao que eu sinto. Talvez ele só tenha me cativado. Talvez eu só esteja atraída pelos seus olhos azuis, seus cabelos pretos, sua pele pálida, seu corpo bem formado, seu sorriso maravilhoso e suas feições tímidas que o deixava ainda mais encantador. Ou talvez eu esteja atraída pela sua simpatia, seu jeito protetor e sua educação. Ou talvez ainda eu esteja louca apenas pelo fato de gostar de ter minhas mãos em seus cabelos, sentir a mão dele no meu pescoço, tocar sua pele sem medo e sentir seus lábios encostarem-se aos meus.

Não consegui dormir. Eram quase uma hora da manha. Liguei para o Evan. Ele atendeu no quinto toque.

- Alô? Jess? O que houve? – Pude perceber sua voz de sono.

- Evan, o que aconteceria se eu dissesse que eu acho que estou apaixonada por você?

 - É bem provável que eu acordaria.

Fiquei em silêncio.

- Você precisa dormir. Acho que você está delirando. – Disse ele.

- É, acho que sim. Boa noite.

- Boa noite. Durma bem, Jess.

Desliguei o telefone e dormi.

Sonhei com o Colin.

E foi o melhor sonho que eu já tive.

Droga. 


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Notas finais do capítulo

Bem grandinho eu sei. Mas eu tenho tido essa vontade de escrever mais em cada capitulo. Aprovado?



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