A luz do sol afastou a penumbra que cobria o corpo do homem, a feição apática permaneceu intacta enquanto a mão caída continuava sendo levemente movimentada pela água. O rosto másculo – e com a barba por fazer –  estava grudento pelo rastro das lágrimas. Por que, Layla?, pensou.

Uma mão delicada tocou seu ombro e junto com ela ouviu-se uma voz suave:

-Pai... o senhor precisa ir para casa.

-Casa? Eu não tenho um lar há dois meses, Joana... - respondeu, a voz rouca pela falta de uso.

-Exato, dois meses! A mamãe morreu há dois meses e o senhor continua a agir como alguém que não está vivo! Acha que ela ia querer isso? Hein?! Eu também estou sofrendo e não posso fazer tudo sozinha!

Os olhos dele se arregalaram, o peso das palavras o atingindo e chocando-o. Ela virou as costas.

-Estou indo para a universidade, não se esqueça que vamos visitar o túmulo dela hoje.

Joana se dirigiu ao ponto de ônibus, logo entrando em um. Estava muito preocupada com seu pai. Ao menos seus amigos apoiavam-na, mas ele estava tão... sozinho.

Já o homem, cujo nome era Eduardo, estava pensando na filha. Ele – que após uma semana, estava finalmente no pátio de sua casa – se deu conta de que ela também sofria e que ele devia viver. Viver por Layla! Sim, era o que deveria fazer, já que ela própria não o fez. Sua querida Layla se suicidara, cortando os pulsos com uma faca.

Entristeceu-se com a lembrança, mas permaneceu firme. No horário certo, Eduardo e Joana foram ao cemitério. E, lá, ela chorou, a doce menina.

-Sinto saudades dela! - choramingou, sendo abraçada pelo pai.

-Eu sei, eu também.

Estavam sofrendo. Mas ele sabia: juntos, eram capazes de qualquer coisa. Até mesmo de superar. E isso era por Layla.