Pânico 5 escrita por Salada


Capítulo 1
Uma noite agitada




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–Finalmente!-exclamou a adolescente Terry Price quando sua melhor amiga, Julie, entrou em sua casa, usando um suéter de poliéster e segurando uma sacola que parecia pesada e continha diversos DVD’s. Além disso, em seu outro braço, sua bolsa estava pendurada. Os cabelos castanhos estavam presos num rabo de cavalo que havia sido bagunçado pelo vento forte que estava lá fora. O início do outono é sempre violento- Eu estava ficando impaciente, já ia te ligar!- ela beijou a bochecha da outra enquanto pegava a sacola de sua mão, com pressa- Me diz que você trouxe uma coisa decente, e não algo tipo, dos anos 60.

Ela despejou o conteúdo da sacola na bancada branca da cozinha, o que fez um grande barulho, enquanto Julie sentava em cima de outra bancada. Filmes de terror de diversos tipos estavam embaralhados naquele amontoado, desde que terror psicológico até monstros do esgoto atacando velhinhas indefesas.

–Ainda prefiro os clássicos, mas atendi as suas exigências- retrucou Julie, e as duas riram. A garota sentada na bancada tirou os tênis brancos e os deixou cair no piso da mesma cor, se fazendo a vontade. As duas riram do comentário- Um dia você vai saber apreciar o vintage.

Terry riu, separando os filmes decentes dos que não prestavam, em sua opinião.

–Espere sentada-ela virou a cabeça e piscou para a amiga- Mas olha, Julie, você está de parabéns. A maioria dos filmes aqui são bem assustadores. Seu pai tem bom gosto.

–Valeu- foi quando Julie percebeu que a porta ainda estava aberta e que algumas folhas castanhas e contorcidas haviam entrado no cômodo junto com elas. Ela foi até lá, fechou a porta e trancou com a chave que já estava na fechadura. Se virou de novo e saltitou até os armários em cima do fogão. Ficou na ponta do pé e quase escorregou com a meia a fim de abri-la. Enfiou a mão ali dentro, puxou uma pipoca de micro-ondas e jogou dentro do mesmo. Colocou o timer e fechou- Eu vou pegar os cobertores- ela anunciou- Ou vai ficar com medo aqui sozinha?- ela brincou, e as duas se olharam, por um segundo, como se estivessem se desafiando. Mas um segundo depois, caíram na gargalhada e Julie saiu da cozinha, enquanto Terry ainda separava os DVD’s.

Lá fora, o vento fazia as árvores ruivas balançarem, fazendo algumas folhas se soltarem e voarem pelo grande jardim da casa dos Price, que era protegido por muros altos de arbustos. Era uma noite congelante. A piscina lá fora estava sendo exclusivamente usada pelos galhos das árvores que se soltavam com a ventania, e o tempo ameaçava chover. E muito.

–Como está frio- comentou Terry, andando da cozinha até a sala, se embrulhando em seu agasalho, com o filme escolhido na mão. Ela chegou até lá, se ajoelhou na madeira clara e colocou o DVD no aparelho-Julie?- ela chamou, olhando a escada pela porta da sala, que estava meio aberta. No instante seguinte, ela foi aberta pela outra garota, que segurava um embrulho de cobertores que havia pegado no andar de cima. Ela sorriu.

–Tem razão- ela jogou os cobertores no sofá e foi até a cozinha, pegar a pipoca. Terry se jogou no sofá e se enfiou debaixo dos cobertores quentes, se sentindo reconfortada. Fechou as cortinas atrás dela e pegou o controle remoto, pronta para começar o filme. Julie apareceu com a pipoca, sentou ao lado da amiga e se espreguiçou que filme você escolheu?

Porém, Terry não precisou responder, porque o título “Pânico 4” apareceu na tela.

–Ah, não!- gemeu Julie, batendo os pés no sofá- Você sabe que eu acho esses filmes muito chatos.

–Chatos?!-exclamou Terry, encarando a amiga- Chato é Alfred Hitchcock, Roman Polanski! Eles não sabem fazer terror, aquilo ta mais pra comédia. Agora essa saga...

–Um tédio- Julie revirou os olhos. Passou a pipoca para Terry e puxou o telefone do bolso. Se o filme que elas iam ver era sem graça, então valia mais a pena mexer no celular. O filme começou. Mexendo no cabelo loiro, Terry assistia entusiasmada, enquanto Julie mexia numa rede social. Foi quando o celular da última tocou, alto, e assustou as duas adolescentes. Terry instantaneamente deu pause no filme-Relaxa, é só o Jim- Julie disse, rindo da amiga e sua reação- Oi, Jim.

Julie, eu preciso da sua ajuda– a voz de Jim soou do outro lado, e Julie riu mais uma vez, mexendo os cabelos castanhos ondulados. Fechou os olhos da mesma cor e suspirou, num tom sarcástico. Um ar arrogante sempre jorrava de todos seus movimentos, mesmo ela sendo considerada uma das pessoas mais bondosas de Lakeville, a cidade que elas moravam.

–O que você precisa dessa vez, Jim?- ela questionou, revirando os olhos novamente. Terry sorriu ao perceber que se tratava de uma ligação indefesa de um amigo da escola. Um amigo bem desleixado, e que sempre precisava de algum dever ou trabalho.

Você fez o trabalho de história para amanhã?– ele perguntou. No filme, as primeiras duas garotas do filme eram assassinadas, aos berros. A loira comia a pipoca, os olhos impressionados pelo filme- É que eu não consigo fazer de jeito nenhum– ele explicou de maneira esfarrapada.

–Sim, eu fiz- Julie respondeu- Quer que eu pegue pra você?- o garoto concordou- Ok, um minuto. Terry- ela falou par a amiga- Pega seu trabalho de história lá em cima? O Jim ta precisando.

–Julie- Terry a olhou fundo nos olhos- Você realmente precisa parar com essa quedinha pelo Jim. E principalmente, parar de fazer tudo que ele pede.

–Eu não faço isso- Julie se defendeu, ultrajada- Eu só não acho legal não ajudar um amigo que precisa. Se fosse você, eu faria exatamente a mesma coisa.

Terry fez uma careta. Pausou o filme com o controle, e se levantou, apesar de relutante, em direção à escada, deixando os cobertores que estavam sobre ela caírem no piso frio.

–Valeu- cantarolou uma Julie feliz, vendo Terry sair pela porta da sala. Ela pôs o celular no bochecha mais uma vez, para continuar o diálogo com Jim, mas a ligação tinha caído. Assim, ela largou o celular e deu replay no filme. Sentiu um calafrio ao perceber que estava sozinha na sala, e olhou ao redor. Estava tudo quieto, e calmo. Mas isso não durou muito tempo.

Um grito ecoou no segundo andar, e Julie se levantou do sofá instantaneamente. Outro calafrio percorreu seu corpo, e todo pelo existente nela se arrepiou. Uma corrente de ar vinda de uma janela aberta balançou uma mecha de seu cabelo, e ela olhou pela sala de novo. Abaixou lentamente, tomando cuidado com cada movimento que fazia, pegou o controle e deu pause no filme novamente. Quase no mesmo instante, o seu telefone tocou. Na tela, estava escrito “Drew”. Drew. Seu amigo. O namorado de Terry. Os olhos ficaram molhados e ela pegou o celular do sofá. Sem pensar duas vezes, recusou a ligação e colocou o telefone em seu bolso. Andou devagar através da sala, percorrendo cada centímetro do cômodo com seus olhos. Era uma casa quase inteira feita de vidro. Sendo assim, quem estava dentro podia ver quem estava fora. E vice versa.

A morena fechou a janela num movimento bruto e se virou em outro. O vento fazia uma música sinistra quando batia na casa, e não se podia ouvir nada de Terry no andar de cima. O telefone gritou de novo, e o coração da garota acelerou muito. Ela resolveu atender.

–Alô?- ela falou, com a voz falhando de medo.

Boa noite, Julie–disse uma voz. Uma voz grossa demais para ser de Drew-Como vai?

–Drew, o que você quer?- ela estranhou o fato do garoto estar falando daquela maneira formal, como se ela fosse alguém especial- Eu to ocupada agora- ela olhou pela fresta da porta da sala e viu a escada, quase completamente escondida pela escuridão.

Assistindo filmes de terror?– a voz perguntou. Ela riu.

–Se isso é pra ser uma imitação do Ghostface do Pânico, Drew-ela falou, num tom irônico forçado. Por dentro, ela estava completamente apavorada-... tá ridículo. Agora a voz do outro lado da linha ri.

Se está tão certa que eu sou uma mera imitação– ele falou-...então por que você acha que a Terry não voltou?

Julie desligou o telefone na hora, e guardou o telefone de novo no bolso. Fechou toda s as cortinas da sala, correndo, e deu uma espiada para o quintal. Tudo estava quieto novamente, e o coração dela batia num ritmo incessante. Não havia ninguém lá fora; pelo menos não que ela pudesse ver, ainda estava muito escuro. Ela respirou fundo, e tomou coragem. Sabia que era uma idiotice dos filmes de terror ir investigar um barulho suspeito-ou um grito, no caso-, mas e se a amiga estivesse em perigo? Ou machucada?

Caminhou timidamente até a porta na frente da escada, e a abriu devagar. A porta fez barulho, e ela espremeu os olhos. Entrou no hall e começou a subir as escadas. Lá em cima, escuridão total, e nenhum barulho. E muito menos, sinal de Terry. De repente, um trovão ecoou lá fora, e Julie quase teve um ataque cardíaco, e deu um dos berros mais altos que já havia dado. Botou as mãos sobre a boca, desesperada, e esperou por um segundo para ver se algo acontecia. Logo continuou subindo. Olhou pela janela e viu que estava começando a chover, e a grama estava ficando molhada. O cheiro penetrou suas narinas, e ela podia até ter aproveitado o momento, se não fosse o terror que sentia em seu coração.

Chegou até o corredor, que também estava escuro , e tateou pela parede com a mão até achar o interruptor. Ligou a luz, revelando o vazio. Todas as portas estavam fechadas, e a adrenalina dominava seu corpo. Outro trovão ecoou lá fora, um mais forte, e a luz apagou. Que momento perfeito para acabar a luz. Julie decidiu ir até o quarto de Terry, que ficava no final do corredor. Deu um passo, e dois. Foi nesse momento que ela escutou o barulho de uma porta brindo atrás dela. Não deu tempo dela virar, e uma pessoa saiu do outro quarto, gritando.

–Meu deus!- Julie gritou, e se virou, só para encontrar uma Terry risonha, se contorcendo de rir. Demorou alguns segundos para a menina entender o que estava acontecendo, e quando entendeu, se irritou- Que merda, Terry!- ela berrou, aos prantos, e empurrou a outra, que continuava a rir à custa dela- Não teve graça!-ela tentou impedir, mas lágrimas acabaram rolando pelos seus olhos, e ela as limpou rapidamente. Terry ria tanto que sua barriga chegava a doer- Como você ligou pelo celular do Drew?

Quando o ataque de risos da loira parou, uma expressão confusa se mostrou em sua face. E logo depois, ela ficou séria.

–Espera, o que?- ela perguntou- Do que você está falando?

–Você sabe muito...- começou a discutir Julie, quando a porta atrás dela abriu lentamente, sem fazer barulho, e Terry notou. Ela ficou observando aquele fenômeno estranho acontecer, até que, no momento que uma pessoa alta, e com uma fantasia de Ghostface, apareceu atrás da porta do quarto dela. Terry berrou e apontou, mas novamente, não houve tempo para Julie se virar. Ele correu até a morena e enfiou uma faca afiada em suas costas magras. Ela deu um grito de dor que a outra menina jamais esqueceu, e arregalou os olhos de uma forma que parecia que eles iam saltar para fora. O grito continuou até ela ficar rouca, mas Terry não ficou ali para ser assassinada. Num ato de impulso, saltou para a escada e começou a descer, correndo, e gritando.

A chuva lá fora continuava, e a garota nem pensava em olhar para trás para ver se o assassino estava atrás dela. Ela sabia que estava. Chegou na cozinha, onde ficava a saída mais próxima, e viu que a porta estava trancada. Olhou para trás e viu a chave no balcão, do outro lado. Saltou até o balcão e voltou, rapidamente. Quando enfiou a chave na fechadura, o assassino já estava no cômodo, com a faca pingando chão no piso, e nos sapatos de Julie. Ela berrou novamente e girou a chave.

Quando saiu da casa, ela correu pelo piso de mármore ao redor da piscina, com cautela para não escorregar, já que tudo ao redor estava encharcado por causa da chuva forte que caía. Os trovões eram constantes. Mas Terry não teve tempo de reparar nisso, já que estava correndo pelo gramado, ate a portão da sua casa. Saltou o mesmo e correu para a rua. Ela se virou na mesma hora e viu o assassino parado na calçada, e por um segundo, pensou que estava a salvo.

Foi quando ela olhou para o lado, e tudo que conseguiu ver foram faróis fortes, que pareciam cegá-la. Isso foi tudo que ela pôde ver do carro que a atropelara.


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Notas finais do capítulo

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