Menina Veneno escrita por Becca


Capítulo 10
Cauchemar - capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Pra Lina



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Ela ainda o fitava com o rosto imerso às lágrimas. Seus soluços já eram poucos, mas continuavam a ser ouvidos. Elliot segurou o braço dela, acariciando-o levemente. Não queria que aquilo fosse apenas brincadeira, ou qualquer coisa do tipo.

Puxou-a pelo braço, colando seus corpos. Havia tempo desde que haviam tido tanto contato assim. Havia muito, muito tempo. Ela segurou nos ombros dele, molhando a camisa azul que ele usava, mas ele pouco se importou. Continuou afagando os cabelos dela, beijando-lhe o topo da cabeça.

It’s ok, Liv... It’s gonna be ok... – ele sussurrava repetidamente nos ouvidos dela, esperando que aquilo trouxesse algum conforto para ela.

Os soluços dela cessaram, mas as lágrimas ainda caíam de seus olhos, porque a camisa ainda era molhada constantemente. Ela se separou dele por um curto período de tempo, para, então, secar as próprias lágrimas.

Can you take me home? – ela pediu. Ele sorriu, afastando a franja da testa dela, pondo a pequena mecha atrás das orelhas.

– Você vai entrar comigo? – ele perguntou. – Preciso pegar meu casaco.

Os olhos dela se arregalaram, mas ela assentiu mesmo assim. Queria ir para casa, mas não queria ir sozinha.

– Aproveito e falo com Cragen... – ela sussurrou – Preciso de alguns dias...

Ele riu, enquanto a puxava pelos ombros, segurando-a debaixo de seus braços, protegendo-a do que todos iriam falar, do modo que todos iriam olhá-la. Ele não se importava com os insultos ou com os olhares enojados que lhe dirigiam, porque ela havia sido enganada, e qualquer um poderia ser também. Não era como se ela houvesse contraído algum tipo de doença grave que não permitisse carinho ou qualquer tipo de afeto. Ela ainda era Olivia Benson, ainda era uma policial, mas, por cima de tudo isso, ainda era uma mulher, e ainda precisava de afeto como todos dali.

°°

Assim que entraram na sala dos detetives, vários olhares lhe foram dirigidos, mas, não somente para ela, mas para ele também. Pouco se importando, ele a levou até a sala de Cragen, voltando para a própria mesa, puxando o casaco pelas mangas e calçando-o em seguida. Fin correu ao seu encalço, segurando-o pelos ombros.

– Ele confessou, Elliot. – ele sorriu vitorioso. – Como ela está?

– Ainda um pouco frágil, e vou levá-la para casa. Darei-lhe notícias. – ele prometeu.

O homem assentiu, voltando a correr para as salas de interrogatórios, onde havia vários suspeitos de vários casos esperando detetives para interrogá-los. Elliot procurou alguns papéis de anotações na mesa, não ouvindo quando ela saiu da sala de Cragen, com ele a protegendo dos olhares maldosos que lhe eram dirigidos. Ela tocou o braço do parceiro com os dedos, chamando-o para levá-la embora daquele pesadelo.

Elliot retirou o casaco de si, colocando-o por cima dos ombros dela. Ela sorriu em agradecimento, abraçando o chefe levemente depois. Ele acariciou as costas dela, pedindo-lhe que descesse um pouco na frente, pois ele falaria uns instantes com Elliot a sós. Ela assentiu, mesmo não sabendo do que se tratava, e, então, foi andando até se aproximar dos elevadores. O cansaço consumiu seu corpo, e ela se sentou, enquanto esperava por ele.

– Elliot, eu quero que fique com ela pelos dias que ela pediu afastamento. Não quero saber de gracinhas, porque eu realmente me preocupo com ela, ainda mais depois desse sociopata. – ele disse, encabulado – Preciso que seja cuidadoso e que esteja presente quando ela precisar. Durma próximo, próximo o suficiente para que possa ouvi-la dormindo, para que, se ela tiver qualquer tipo de pesadelo, você esteja lá para ampará-la, ouviu bem?

Elliot engoliu em seco. Assentiu, apertando a mão do capitão. Nunca esperaria receber alguma ordem daquelas. Durma próximo, era uma ordem. Durma próximo, próximo o suficiente para que possa ouvi-la dormindo, como explicaria isso para ela? Não podia contar-lhe coisas assim, mas, se dormisse tão próximo quanto Cragen estava lhe ordenando, não podia responder por seus atos, e ele sabia disso. Cragen puxou-o pela mão, abraçando-o levemente. Não era novidade que ele sentia algo diferente por Elliot e Olivia do que sentia pelos outros detetives do departamento, mas ninguém nunca tinha visto Cragen tão emotivo a ponto de abraçar tão verdadeiramente algum dos policiais. Quando se separaram, o chefe secou os olhos marejados e deu tapas leves nos ombros do homem, que apenas sorriu.

– Vá, minha menininha precisa de você... – Cragen balbuciou.

Elliot assentiu, virando as costas e andando até sair da sala dos detetives. Encontrou-a com a cabeça encostada na parede. Sorriu levemente, enquanto tocava nos ombros dela de leve, esperando que ela olhasse para ele com o brilho que ele via todos os dias. Com o brilho no olhar que ela tinha.

Os castanhos abriram-se de leve, sonolentos. Ela sorriu de leve para ele, logo segurando a mão que ele estendera para ajudá-la a se levantar. Elliot puxou-a para si, levantando-a de uma vez, o que fez com que ela ficasse desnorteada, e, por consequência, fazendo-a cambalear levemente. Só não mais, porque ele estava segurando-a.

– Pronta para ir? – ele perguntou. Ela assentiu, sorrindo levemente.

°°

Ela mal notou quando chegaram, já que a combinação da música clássica do rádio com o sono que ela já estava tendo foi algum tipo de sonífero para ela. Elliot cutucou o ombro dela, acordando-a. Os olhos dela se abriram num sobressalto, e ela grunhiu enquanto se acostumava com a pouca luz da madrugada. Ele estendeu-lhe uma mão, sorrindo de leve. O cansaço também já se apoderara dele há muito tempo, mas ele ficaria acordado o quanto fosse preciso para certificar-se de que ela estava bem. Ela segurou na mão dele, sendo puxada para fora de uma vez só, assim como ele havia feito na delegacia.

Elliot bateu a porta do carro, ajeitando novamente o casaco nos ombros dela, enquanto tentava proteger aos dois dos chuviscos que começavam a cair levemente, porém, combinados com o sereno da madrugada, eram instrumentos coadjuvantes para uma gripe, ou, quem sabe, uma pneumonia. Levada pelos passos dele, Olivia não conseguia enxergar muito bem por conta do leve trauma na cabeça, dado pelo homem que tentara agredi-la, por isso, Elliot andava calmamente, protegendo-a dos pingos, do frio e de uma possível queda.

Ao abrir a porta do prédio, o porteiro olhou-os com uma expressão divertida, imaginando o que teria acontecido anteriormente, porque, pela expressão cansada da detetive e a completamente sem fôlego do outro, era de se esperar que ele pensasse aquilo. Porém, ao invés de explicar-lhe o que acontecera, Elliot apenas continuou andando com ela, até chegarem ao elevador.

– Já está funcionando? – ele perguntou ao porteiro, que assentiu sorridente.

– Pela primeira vez no ano! – ele exaltou.

Olivia não esperou Elliot. Apertou o botão, já tremendo de frio. Queria se enfiar debaixo das cobertas e nunca mais sair. Sentia vergonha de si mesma. A garganta coçou, e ela teve vontade de tomar algo quente. Queria beber algo quente. As portas se abriram e Elliot levou-a para dentro, apertando o botão com o número 4, esperando as portas se fecharem. Olivia abraçou-o, tentando espantar o frio. Ele passou os braços por cima dos ombros dela e apertou-a contra si.

°°

Foi ele quem girou as chaves na fechadura, abrindo a porta e dando passagem para ela antes de entrar. Olivia segurou no batente da porta, e Elliot esperou que ela entrasse, mas ela continuou imóvel. Hesitante, ele pegou a mão dela, oferecendo-lhe apoio. Olivia abriu os olhos instantaneamente, maravilhada com o contato. Deu alguns passos à frente, enquanto ele fechava e trancava a porta.

– Onde deixo as chaves? – ele perguntou. Olivia apontou para um pote de vidro sobre a estante.

Elliot largou as chaves ali, enquanto ela caminhava para o sofá. Sentou nas almofadas, sentindo o formigamento tomar posse de seus membros. Ele seguiu para lá, sentando-se ao lado dela. Olivia emitiu um grunhido, uma espécie de pedido. Ele sorriu, perguntando-a o que queria.

I want something hot... – ela pediu.

Elliot sorriu, pondo-se de pé e caminhando até a cozinha. Procurou as canecas, esperando ver algumas sujas sobre a pia. Mas não. Estava tudo limpo, coisa que era rara vinda dela, mas ele não tinha como não sorrir com aquilo. Depositou as canecas de cerâmica no balcão de mármore, voltando-se para a geladeira. Abriu-a, tomando um susto com o conteúdo.

– Liv, você andou fazendo compras? – ele perguntou.

– Sim, por quê? Já acabou? – ela perguntou, levantando a cabeça.

– Não, é que eu lembro que da última vez, o seu bacon estava esquisito... – ele concluiu, pegando uma caixa de leite.

Olivia sorriu, voltando a recostar sua cabeça no sofá, deixando que a escuridão tomasse conta de sua visão. Elliot derramou o leite nas canecas, medindo o conteúdo. Despejou a quantidade de leite numa panela, despejando achocolatado junto. Puxou uma colher de madeira e começou a mexer, mexer, mexer. Deixou o líquido amarronzado esquentar, enquanto encostava-se à parede e descansava a vista. O cheiro do chocolate logo invadiu as narinas dele, o que o fez abrir os olhos de prontidão. Virou-se para a panela, desligando o fogo e pegando a panela pelo cabo, despejando o conteúdo amarronzado nas canecas.

Terminado, ele pôs a panela na lava-louças, fechando-a em seguida. Pegou cada caneca em uma mão, caminhando de volta para a sala, onde encontrou Olivia encolhida num canto do sofá, abraçando a si mesma, ainda tremendo um pouco. Elliot deixou as canecas na mesinha. Valeria a pena acordá-la? Ele pensou que sim, e, por isso, cutucou-a nos ombros. Ela grunhiu, mas abriu os olhos, ainda sonolenta.

– Já está pronto? – ela perguntou, com a voz rouca.

Ele sorriu para ela, entregando-lhe uma das canecas, a mais cheia. Olivia pegou-a, sentindo o calor da cerâmica envolver suas mãos, esquentando-a do frio que estava. Elliot sentou ao lado dela, segurando a outra noutra mão. Ela engasgou, o que a fez tossir bastante. Ao ver aquilo, Elliot se apressou em ajudá-la. Deixou a própria caneca na mesa, dando tapas leves nas costas dela.

Enquanto ela se recompunha, ele acariciou as costas dela, exalando calor para o corpo trêmulo e frágil da parceira. Ao ter contato, com o calor que o parceiro emanava, Olivia se aproximou dele, deixando a bebida de lado, encostando-se ao peito dele – pela segunda vez naquela noite. Elliot passou os braços por cima dos ombros dela, abraçando-a, enquanto ainda acariciava as costas dela. Pressupondo que ela já estava com muito sono, ele embalou-a num abraço. Olivia suspirou quando ele a levantou no colo, segurando-a pelas costas, enquanto ela abraçava o pescoço dele. E era tão bom... Senti-la tão vulnerável em seu colo, precisando de seus cuidados, era uma coisa que ele queria fazer sempre, pelo resto de seus dias. Seu coração estava despedaçado desde o momento em que a vira sendo agredida naquele beco anteriormente. Sentia-se como se sua função de parceiro não houvesse valido a pena, que seus esforços para não machucá-la psicologicamente havia fracassado ao deixá-la sair sozinha com ele. Desde o início Elliot sabia que aquele homem não era digno de tê-la como companhia, que ele não seria bom para ela, que nunca seria bom para ela. Desde o início, ele sabia... Só que ele não teve coragem de dizer para ela o que ele sentia. Não teve coragem de dizer a ela que o homem com quem estava prestes a sair não era bom moço, e que não faria bom proveito do encontro, ele sabia disso!

Chegando ao quarto, ele a depositou na cama, mas ela não soltou o pescoço dele. Já estava adormecida, ou quase isso. Os olhos alternavam em abrir e fechar, já que ela queria vê-lo ali, mas não conseguia aguentar os olhos ardendo. Ele sorriu, tentando soltá-la de si.

– Você não vai escapar de mim. – ela sussurrou.

O sorriso dele se extinguiu. Do que ela estava falando? Elliot soltou os braços dela, que cederam pelo cansaço e a força que ele usara, apesar de não ter sido muita. Levantou-se, fechando a porta e encostando-se ali. Dormiria ali, próximo, mas não tão próximo como se estivessem tendo algo juntos. Ele respeitava aquele momento dela, um momento de vulnerabilidade, e não iria desrespeitá-la daquela forma. Acreditou que Cragen quis dizer: “Durma no mesmo quarto, mas não no mesmo local”.

°°

Um som gutural foi ouvido, interrompendo o sono dele. Levantou-se num sobressalto, achando-a sentada sobre a cama, transpirando de medo, com os olhos arregalados e sem vida, parecendo duas pérolas negras, respirando pesadamente, como se não houvesse mais oxigênio naquele quarto. Elliot correu para cima da cama, segurando-a pelas costas novamente, abraçando-a fortemente.

That’s ok, Liv... It was only a nightmare... It’s gonna be ok… – ele sussurrou no ouvido dela, enquanto ela chorava por cima dos ombros dele. – O que você viu?

Ela gemeu, soluçou e voltou a chorar. Ajoelhou-se na cama, abraçando-o com todas as suas forças. Elliot agarrou-a mais forte ainda, amparando-a enquanto mais lágrimas caíam. Olivia suspirou, tentando acalmar a respiração.

I saw him... – ela sussurrou, voltando a se sentar, ficando de frente para ele. – Ele disse, no sonho, que ia me caçar... E, quando eu acordei, ele estava prestes a...

Os lábios dela se curvaram, dando lugar a uma nova expressão de choro. Elliot segurou numa das mãos dela, quase que encorajando-a a falar mais.

– El, foi horrível... – ela concluiu.

Ele puxou-a para si novamente, acariciando os cabelos dela, beijando-lhe o topo da cabeça, dizendo-lhe que tudo ficaria bem, que aquele monstro nunca mais voltaria para atormentá-la, mas parecia que ela ainda soluçava, então, ele pôs o rosto dela na altura do próprio.

Olivia fitou-o, ainda com os olhos marejados. Elliot secou as lágrimas do rosto dela, beijando a bochecha dela. Ela sorriu, devolvendo o beijo, mas em outro local.


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Notas finais do capítulo

Onde foi? É até meio óbvio, but. I know you wanna know (6' HAHAHAHA Reviews!
Ah, e pra quem não sabe, "Cauchemar" significa Pesadelo, em francês :3