A Filha Do Sol escrita por Let B Aguiar, Taty B


Capítulo 9
Ogros são capazes de dialogar


Notas iniciais do capítulo

Olá semideuses! Quem surtou com o trailer de MdM levanta a mão o/
Aleluia hein, Fox? Bom saber que pelo menos um trailer digno foi feito para o filme.
Mas vamos o que interessa! Aqui está o capítulo. Depois de dois capítulos enormes, esse é mais curtinho. Desculpem pela demora na postagem. Feriado, Lollapalooza, praia... Ficou difícil pra gente postar.
Boa leitura!



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A Arena de Combates estava vazia. Era de se esperar, já que fui até lá durante o tempo livre. Fiz a burrice de aceitar treinar com o Ryler e acabei perdendo a minha única “folga” no dia. O cansaço começava tomar conta de mim, e meus braços doíam por conta da canoagem de mais cedo. O sol estava quase se pondo, deixando o céu num tom mesclado de laranja com rosa e azul. A temperatura, definitivamente, não estava boa para praticar luta, e sim perfeita para um mergulho na Praia dos Fogos. Meus irmãos não desconfiaram de que teria aulas com Ryler, pois inventei uma desculpa esfarrapada de que iria tentar me comunicar com a minha mãe. Eu também não queria que eles soubessem o que eu estava prestes a fazer. Pelo menos, não por enquanto.
Olhei em volta, procurando por um adolescente de porte gigante, mas não encontrei nenhum. Será que ele tinha esquecido do nosso trato e foi descansar?
– Eu não me esqueci de você. – uma voz grave falou atrás de mim. Ele respondeu como se tivesse lido a minha mente e descoberto a minha pergunta.
Virei-me e dei de cara com um Ryler... grego. Na verdade, a palavra não seria essa. Deus grego, seria a expressão correta para descrevê-lo. O conjunto completo de armadura reluzia no sol, fazendo meus olhos doerem, e a camisa do acampamento estava completamente suja e amassada por baixo do peitoral de bronze. Na mão, Ryler segurava a mesma espada de quando lutamos contra o leão: uma espada gigante e amedrontadora. Tinha o rosto molhado, mas imaginei que fosse de água, já que estava muito molhado mesmo. Os olhos verdes se encontravam cerrados e as sobrancelhas franzidas, como sempre. Olhando-o, conclui mais uma vez que se não fosse tão sério, seria realmente bonito. E se sorrisse mais também. Porém, mesmo desse jeito tão arrogante e bad boy, ele continuava atraente. Bom, pelo menos para mim. Eu tenho uma queda por bad boys, é verdade. Mas ei, qual garota não tem? Talvez fosse isso que me atraía nele: o espírito forte e decidido, as atitudes mandonas, e a arrogância. Apesar de tudo, recusava a admitir que comecei a sentir algo por ele.
– Então, professor, o que nós vamos aprender hoje?
Ryler levantou uma das sobrancelhas como se não acreditasse no que eu tinha dito.
– Você trouxe sua espada, Veloso?
Mostrei minha espada e ele assentiu.
– Ótimo. Vamos, Veloso. Vou lhe ensinar um pouco de luta de verdade. – Ryler usou tom um tanto quanto sombrio e ameaçador, e marchou em direção ao centro da arena.
Eu apertei o passo para acompanha-lo, e acabei trombando em suas costas quando ele parou bruscamente.
Ryler olhou feio para mim.
– Você podia parar com mais delicadeza. – resmunguei, massageando meu ombro, que doía.
– Primeira regra: se você quer tornar-se uma lutadora, aprenda a lidar com a dor. – ele ralhou ao me ver massageando o ombro.
– Ahn, dor? Ninguém está sentindo dor aqui, estava espantando um mosquito – pigarreei e assumi a minha postura de lutadora mais uma vez. Ryler deu uma risada sarcástica, parando a alguns metros de mim, e ficamos frente a frente. Ele desembainhou a sua espada, e a minha sorte é que fui rápida e fiz o mesmo, porque no segundo seguinte ele me atacou ferozmente.
Em poucos segundos de luta, notei que Ryler não estava nem aí se eu era uma garota, se era menor que ele, tinha menos massa ou era mais delicada. Ele me atacava como se fosse uma potencial adversária. Concentrei-me ao máximo para não apenas bloquear, e sim tentar atacá-lo também. Só que não conseguia vencer seus movimentos rápidos e certeiros.
Depois de uns 10 minutos de luta intensa, eu consegui derrubar a espada de sua mão. Porém, Ryler era muito ágil e a pegou com a mão esquerda. Eu pensei que ele revidaria, mas em vez disso, Ryler abaixou sua espada e seus lábios se curvaram num sorriso que eu não sabia identificar.
– Você quase me colocou fora da luta. Quase. Porém, no nosso mundo não existe quase.
Eu já suava e ofegava em grande quantidade, enquanto ele permanecia lindo e imponente como se eu nem tivesse lhe causado cócegas.
– Ok, ok. Já percebi que você não é daqueles que incentivam com frases do tipo ‘Legal, você foi muito bem, mas pode melhorar’ ou ‘Continue tentando, na próxima você vai se superar’ – expressei muita ironia em minhas frases, e embainhei minha espada, pensando que ele me deixaria respirar por alguns segundos. Enganei-me.
– Vamos lá, Veloso. Como quer ser uma heroína se é mole desse jeito? Tire a armadura, vamos treinar alguns golpes de luta.
É, definitivamente, esse treinamento não seria fácil.
Ia evitar passar pela frente de qualquer espelho, porque depois de praticar golpes de luta greco-romana com um filho de ares, com certeza eu adquiriria uma coleção memorável de hematomas roxos e grandes. Ryler tinha uma força incabível; por várias vezes tive que pedir para que ele não me machucasse, até que ele pegou o jeito dos golpes e parou de ser tão brutal. Nos testes de força, ele me pediu que fizesse cem flexões, e as fez junto comigo. Ao final do nosso tempo livre, eu me encontrava tão exausta que desabei no chão arenoso e não queria mais levantar dali.
Uma mão se estendeu para mim, e eu a peguei. A mão de Ryler dava duas da minha, e era áspera e dura. Ele me ergueu do chão com força, tanta que fez com que nós dois ficássemos a poucos centímetros de distância. Senti meu estômago se contorcer ao olhar seus olhos esverdeados tão de perto. Não sei ao certo quanto tempo demorei para soltar sua mão. Só sabia que essa não era minha vontade.
– Tenho que admitir que você é bastante resistente para alguém que chegou há tão pouco tempo. – ele disse, e sua voz grave me fez voltar à realidade. Provavelmente, eu o fitava sem nem piscar.
– Você tem que admitir que eu tenho um potencial incrível, Langdon. Eu sei que é isso que pensa. – me afastei um pouco, com medo de que meus neurônios parassem de funcionar mais uma vez.
– Não coloque palavras na minha boca, Veloso. – sua expressão era misteriosa, e ao mesmo tempo demonstrava que estava se divertindo comigo. Eu sorri, transmitindo o mesmo, e peguei a armadura que eu havia tirado.
– Não vai demorar muito para você falar isso. Até amanhã – dizendo isso, eu dei as costas para Ryler e fui andando para meu chalé, desesperada por um banho quente. Precisava curar o meu corpo e minha mente, que funcionava sem pausas desde o momento em que ele me levantou do chão.

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Não posso negar que Ryler foi um excelente professor. Ele possuía uma incrível perícia em esgrima. Seu potencial ofensivo era enorme, mas o defensivo, nem tanto. Foi analisando isso que comecei, aos poucos, a quase tirá-lo da luta. Ele podia atacar bem; mas eu era mais magra, menor e mais ágil, e chegava aos seus pontos fracos com mais facilidade. Apesar de lutar maravilhosamente, ele me revelou que preferia lutar com uma lança a lutar com uma espada. Segundo ele, a lança possibilitava um melhor desempenho para guerreiros mais ofensivos, porque mantinha o adversário a certa distância.
Começamos a conversar durante os treinos. Sim, isso mesmo: conversar. Pensei que fosse impossível trocar mais de três frases com um filho de Ares, porém, Ryler me provou o contrário. Até que ele não era tão acéfalo assim. O brutamonte contou-me um pouco da sua vida enquanto eu fazia abdominais e desferia golpes contra monstros feitos de saco de milho. Fiquei sabendo que ele era de Cleveland, Ohio. Pelo menos não morava tão longe como eu. A diferença é que seu pai não costumava lhe dar caronas. Ryler tinha 18 anos e já servia as Forças Armadas Americanas. Ele estudava na própria faculdade do Exército, e ia para o acampamento apenas uma vez por ano, ou nas férias de verão ou nas de inverno. O único assunto que não abordamos foi a sua família. Ele apenas disse que morava com seus tios. Imaginei o que teria acontecido com sua mãe para não querer nem mencioná-la.
Com o passar dos dias, conversávamos mais do que treinávamos. Ryler não era exatamente parecido comigo, mas eu me interessava em saber mais sobre ele, do que gostava, de sua vida. E ele também demonstrava o mesmo quando começava a puxar assunto. Fomos adquirindo um ritmo de luta tão bom, que nossas espadas pareciam batalhar automaticamente enquanto não parávamos de tagarelar. Ryler infelizmente conseguia ser mais lento ainda quando distraído, e eu o desarmava com competência.
Fora da nossa hora diária juntos, ele passou a me cumprimentar respeitosamente, com um sorriso ou um aceno de mão. Se eu estava perto de Leo, isso se tornava um grande problema. Ele disparava a xingar e falar mal de Ryler, o que me irritava bastante e fazia eu sair de perto. Piper me olhava como se estivéssemos no meio de uma partida de detetive e suspeitasse que eu fosse a assassina. Tinha receio disso, pois se ela era tão boa assim em entender os sentimentos das pessoas, já devia ter se tocado de que a minha atração por Ryler só crescia.
Seria surpreendente se meus irmãos ou algum de meus amigos não descobrissem a minha pequena parceria com Ryler. Durante uma semana inteira eu sumi no horário livre, e creio que isso foi suficiente para eles passarem a desconfiar de algo. Geralmente, meus irmãos aproveitavam esse tempo para jogar basquete, mas cuidar da minha vida com certeza devia ser mais interessante do que jogar uma bola estúpida numa cesta. Como sempre, eu e Ryler treinávamos esgrima; dessa vez, eu lutava com minha espada e um escudo, o que dificultava um pouco meus movimentos. Ainda não possuia prática com o escudo. Ryler disferiu um golpe contra meu escudo tão forte que eu cambaleei para trás, tropeçando nos meus próprios pés e caindo de bunda no chão. Foi tão ridículo que começamos a rir. Ele colocou seu escudo no chão e embainhou sua espada para estender a mão e me ajudar a levantar. Dávamos risadas como dois idiotas. E ficamos bem próximos quando eu me levantei. Ryler tirou um pedaço de folha que grudara nos meus cabelos, e nos olhamos profundamente. Meu coração acelerou no mesmo instante. Respirar ficou difícil. E como a maior covarde do mundo, eu virei o rosto, a tempo de ver Matt, Austin e Leo caminhando ao redor da arena. Nenhum deles tinha expressões descontraídas no rosto. Leo estava de braços cruzados, olhando para o chão. Tentei não me abalar com isso, e permaneci assim até o final do treinamento.
Sei que não devia me sentir culpada, afinal, eu não tinha nada a ver com o problema entre Leo, meus irmãos e Ryler. Mas sentia como se estivesse os desapontando, fazendo algo que eles não imaginavam que eu seria capaz de fazer.
Me despedi de Ryler e praticamente corri até o meu chalé. Estava louca para tomar um banho e afogar tudo o que eu sentia naquele momento. Bem, isso era o que pretendia fazer. Quando alcancei o chalé, Leo estava sentado na varanda, manipulando o fogo com as mãos. Vestia sua roupa habitual: jeans sujos de graxa, fuligem e óleo, camiseta do acampamento e suspensórios. Ele levantou os olhos para mim, e o fogo em suas mãos parecia refletir através deles.
– Ei, não vai ir jantar hoje não? – tentei soar descontraída, mas minha voz provou o contrário.
– Na verdade, minha fome desapareceu. – ele respondeu, indiferente. Eu conhecia Leo fazia pouco tempo, entretanto, sabia identificar quando sua ironia se transformava num escárnio cortante e frio.
– Por quê? – eu sentei ao lado dele, e não desviava meus olhos de sua figura. Ele, por sua vez, não conseguia me olhar diretamente.
– Pattie, eu não acredito que você virou coleguinha daquele idiota do Ryler! – ele falou, irritado. O fogo em suas mãos desapareceu; mas seus olhos ainda possuíam um brilho flamejante. Aquilo era raiva. Eu conseguia perceber.
– Não gosto de ser rude com meus amigos, Leo, mas isso não é da sua conta. Desde quando você fica monitorando de quem eu sou ou deixo de ser amiga?
– Desde que começamos a ser amigos. – ele tentou não demonstrar irritação, crispando os lábios. Parecia controlar algo dentro de si – Desde quando eu me importo com você.
Fiquei sem palavras. O que Leo disse foi muito intenso. Nunca tive amigos que perdurassem tempo suficiente para ouvir essas coisas. Porém, ao mesmo tempo, tive a impressão de que Leo não dizia isso apenas como um amigo. Engoli seco, pensando no que responder.
– Leo, você não precisa se preocupar. Eu sei o que eu estou fazendo. Ryler não é aquilo que você e meus irmãos sempre me disseram. Acredite, eu ando convivendo tempo suficiente com ele para ter uma noção de como ele é. E nós somos apenas colegas. – eu disse, segura. Frisei a última sentença. Senti a expressão de Leo se aliviar um pouco, e ele finalmente olhou para os meus olhos.
– Tem certeza de que vocês são apenas colegas?
Meu cérebro hesitou, mas minhas palavras foram mais rápidas.
– É claro que sim. Não temos o tipo de relação que você está pensando.
Leo pareceu analisar a minha resposta por alguns segundos, e então um sorriso surgiu no canto dos seus lábios. Um sorriso melancólico.
– Me desculpe por pegar tanto no seu pé por causa disso. Eu estou sendo chato, eu sei. É que... meus amigos são como família para mim. E eu não quero que ninguém te decepcione.
Sorri com tais palavras, e desarrumei os cabelos já desarrumados do meu amigo bobalhão e ciumento.
– Ok, ok. Eu te desculpo. Mas agora você vai ficar aqui me esperando para irmos para o refeitório!
Ele assentiu, pedindo para que eu não demorasse muito no banho. Quando eu entrei no chalé, o encontrei vazio. Aparentemente, meus irmãos não me esperaram. Com certeza Matt e Austin já haviam espalhado a notícia. Rolei os olhos e fui direto para o meu dormitório. Tomei um banho rápido, coloquei uma roupa qualquer e rumei para o refeitório junto com Leo. Cada um foi sentar em sua mesa. Ao me aproximar da minha, ouvi meus irmãos cochichando como filhinhas de Afrodite. Sentei na extremidade da mesa, e os murmúrios cessaram.
– É, o assunto chegou... podem fingir que estavam falando de outra coisa. – falei amargamente, e todos eles me direcionaram o mesmo olhar repreendedor e raivoso. Dei de ombros e me servi de carne assada e legumes. O jantar na nossa mesa pareceu um enterro, algo fora do normal. Se meus irmãos idiotas não queriam conversar, não seria eu que os forçaria.



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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Não curtiram? Odiaram? Deixem suas opiniões nos comentários, e até a próxima xx ♥



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