A Filha Do Sol escrita por Let B Aguiar, Taty B


Capítulo 23
Invadimos o covil da feiticeira


Notas iniciais do capítulo

Olá semideuses lindos(as)! Primeiramente, queria agradecer por todos os comentários e também agradecer a cada um que não desistiu dessa história até o presente momento! Muito obrigada! E para poupar vocês de muito falatório, eis o capítulo 24, que em particular eu gosto bastante. Boa leitura! ;)



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Ryler dirigia apressadamente pelas ruas, apesar do trânsito e dos pedestres atrapalharem um pouco. Eu me encontrava apreensiva, pois não sabia exatamente o que fazer quando chegássemos à loja. Circe estaria nos esperando? Nós teríamos que lutar para chegar até ela? Várias perguntas desse tipo rodeavam minha cabeça, e me senti tão inexperiente quanto uma criança no seu primeiro dia no jardim de infância.
– É o seguinte – Ryler disse enquanto fazia uma curva. – Quando chegarmos lá, provavelmente, Circe vai estar nos esperando. Então, vamos tentar passar despercebidos pela loja e tentar achar onde fica a entrada para o covil dela. Certo?
– Como você sabe que ela vai estar nos esperando? – perguntei.
– Dedução. Ela sabe quais são os meio-sangues que estão buscando Eros, e já deve estar ciente de que estamos em Paris.
– Faz sentido. – Leo concordou. – Aquela serva dela no stand da Torre Eiffel já deve ter avisado.
Depois disso, ficamos em silêncio. A única voz no carro era a do GPS, que indicava o caminho que Ryler deveria seguir.
Ao entrarmos numa rua movimentada, o trânsito parou repetinamente e uma coisa bizarra aconteceu. Casais que estavam dentro dos carros desceram de seus automóveis e começaram a discutir e gesticular. Logo depois, eles largaram os carros e as mulheres seguiam em direção a uma loja, como se estivessem hipnotizadas. Isso se repetiu com todos os carros que estavam ali, e logo a rua virou um caos.
– Não é preciso que GPS diga que chegamos a nosso destino, né? – Leo arqueou uma sobrancelha.
Ryler me olhou como se confirmasse que a hora havia chegado. Finalmente estávamos ali, a alguns metros da loja de Circe. A loja exalava uma magia tão poderosa que todas as mulheres andavam cegamente em sua direção, como zumbis procurando carne.
Ryler desligou o carro e descemos, deixando-o parado no meio da rua. Nós parecíamos três adolescentes perdidos nas ruas de Paris, se já não estávamos sendo procurados pela polícia por roubar um carro.
Caminhamos alguns metros até chegarmos na frente de uma loja gigantesca, muito maior do que aquela em que havíamos comprado roupas. A fachada da loja era pintada de rosa e roxo e acima dela, um letreiro gigante com letras iluminadas e rosa dizia “Ecric”, atraindo a atenção de qualquer um que passasse por ali. A logomarca era algo parecido com uma poção mágica. O estabelecimento cheirava a perfume francês, e era possível sentir a fragrância a 5 metros de distância. Isso sem mencionar o encantamento e charme que ela exalava. Uma quantidade assustadora de poder circundava aquele lugar. Mulheres adentravam o lugar de mãos vazias e saiam com as mãos transbordando de sacolas. Tive a impressão de que saiam ostentando um olhar hipnotizado e louco.
– Meio óbvio, não? – questionei
– Até demais. – Leo ponderou.
Ryler mexeu desconfortavelmente em sua espada.
– Vamos entrar.
Olha, não pensei que nós seríamos notados tão rápido. Assim que demos dois passos dentro da loja, uma vendedora loira nos fitou com um olhar maléfico. Logo, outras dez vendedoras se aproximaram devagar, como se fossem leões cercando a presa. No caso, as presas.
Os mortais circulavam pela loja, despreocupados, como se nada estivesse acontecendo. Havia muitas mulheres ali e não podíamos simplesmente atacar, porque obviamente pessoas inocentes iriam se machucar. Mas não tivemos escolha.
A vendedora loira sorriu e tirou uma adaga da cintura. Todas as outras fizeram o mesmo e nos atacaram. Ryler partiu para cima delas e Leo tirou um martelo do cinto e juntou-se a ele. Duas vinham em minha direção e senti que deveria usar meu arco e flecha. Algo maior me dizia para usaá-lo. Peguei uma flecha e a preparei, mas para minha surpresa, não escolhi uma flecha qualquer. De algum modo, uma flecha supersônica havia aparecido em meio as outras flechas da aljava de Eros. Não consegui compreender como aconteceu, pois as três flechas supersônicas que meu irmão havia me dado afundaram no lago junto com minha antiga aljava. Eu deveria atirá-la se não quisesse machucar os mortais. Se uma luta de verdade entre semideuses iria acontecer no meio da sessão feminina, os mortais não poderiam estar presentes.
As duas vendedoras me olharam descrentes e eu disparei a flecha para o alto. Quando atingiu o alto, o projétil explodiu e liberou um som insuportável e atordoante. Um barulho muito agudo que fez meus tímpanos quase estourarem.
As vendedoras tampavam os ouvidos tentando evitar o barulho, e Ryler e Leo faziam o mesmo. Mortais saiam correndo da loja colocando as mãos sobre os ouvidos e gritando desesperados. Frascos de perfumes e outros recipientes de vidro estouraram, espelhando cacos de vidro por todo o chão. Fiquei satisfeita com o efeito da flecha e agradeci quem quer que fosse que havia me mandado esse presente.
O som ensurdecedor se extinguiu, fazendo as vendedoras saírem do estado de choque e atacarem de novo. Duas partiram para cima de mim e eu tive tempo de olhar em seus olhos hipnotizados e paralisados antes de abrir Kallistei. Um clarão iluminou minha mente: elas também eram mortais. As vendedoras eram apenas mortais enfeitiçadas e nós não podíamos machuca-las também.
Elas me atacaram com suas adagas de bronze. As duas tentavam me acertar ao mesmo tempo, mas eu era mais rápida. Kallistei parecia ser minha há décadas, porque eu a manuseava perfeitamente bem. A cada ataque, eu recuava e atacava, tentando não ferí-las. Num movimento rápido, desarmei ambas servas de Circe. Já que não podia machucá-las ou muito menos matá-las, fiz o que parecia ser a melhor opção no momento: dei um soco em cada uma.
Eu não tinha noção da minha força até aquele dia. Fiquei com medo de ter quebrado o nariz daquelas duas garotas, mas pelos menos eu não tinha matado ninguém. Minha mão latejou com a força descomunal que usei no soco. Porém, esse era o único modo de mantê-las desacordadas por algum tempo. A minha esperança era que quando acordassem, não estivessem mais sob o efeito do feitiço.
Ryler viu o que eu tinha feito e me olhou assustado, mas como um bom filho de Ares, logo entendeu a lógica do ataque. Acho que ele e Leo também já haviam percebido que as venderoras eram mortais enfeitiçadas. Ryler largou a espada e partiu para o combate corpo-a-corpo. Só tive tempo de ver ele dando um soco extremamente forte no rosto de uma enquanto dava uma cotovelada em outra. Vi Leo acertando uma bandeja, antes cheia de batons, na cabeça de uma das vendedoras-zumbis. Logo, mais servas me atacaram. Dessa vez, nem precisei usar Kallistei. Elas atacavam e eu revidava com socos e pontapés fortes. Muito fortes, por sinal.
Em questão de minutos, todas as dez vendedoras estavam caídas no chão, desacordadas. A maioria tinha o nariz sangrando e outras, um olho roxo. Dei uma olhada rápida em minha mão e vi que esta estava vermelha. Doía um pouco, mas nada que fosse me impossibilitar de lutar.
– Elas vão acordar logo, e precisamos mantê-las presas. – raciocinei.
– Sem problema! – Leo tirou uma corda de 5 metros do seu cinto. Simples assim. Eu queria achar um cinto desses no Bunker também.
Eu e Ryler juntamos todas as garotas, quem eram magras e leves, e Leo amarrou-as. Ele deu um nó de escoteiro que eu nunca seria capaz de fazer depois de dar umas três voltas com a corda. Elas estavam desmaiadas e encostadas uma nas outras. Ver mortais assim fez eu me sentir péssima, porque afinal de contas, elas não tinham consciência de seus atos.
– Acho que quebrei o nariz dessa aqui. – Ryler analisava de perto o rosto de uma menina que nocauteara.
– Você quase deformou a menina! Ela vai precisar fazer umas três cirurgias plásticas pra ter o nariz de volta! – Leo exclamou, rindo.
Ryler cerrou os pulsos.
– Valdez, minha paciência acabou! Fale mais uma palavra que eu deformo essa sua cara de elfo com as minhas próprias mãos!
– Calem a boca vocês dois! Parem com essa besteira! – falei alto, irritada. Eu não podia admitir que eles ficassem com essas atitudes num momento tão crucial. – Se continuarem a agir desse jeito, eu é que vou nocautear vocês!
Ryler e Leo me olharam alarmados e assentiram.
– Ótimo, vamos procurar onde...
Um barulho vindo do fundo da loja interrompeu minha fala. Perto do caixa, vi uma garota abrindo um alçapão e descendo por ele. Mesmo de longe, consegui identificar de quem se tratava. Érida estava indo em direção ao covil de Circe.
– Pattie? – Ryler chamou.
Ignorei-o e peguei minha espada. Corri até o alçapão e abri o mesmo. Ele tinha uma escada que descia alguns metros até chegar ao solo. Não consegui enxergar muita coisa, mas algo dentro de mim sabia que ali era o lugar onde Circe estava prendendo Eros.
– É aqui.
– Como você pode ter tanta certeza? – Ryler peguntou, incrédulo.
– Eu vi Érida entrando aqui. Com certeza Circe está lá embaixo nos esperando.
Fiz menção de descer a escada e Ryler me barrou.
– Eu desço primeiro.
Ele me afastou do alçapão e começou descer a escada. Em instantes, Ryler gritou para o próximo descer. Leo desceu a escada e quando escutei o barulho de seus pés no chão, também desci. A escada era meio bamba, mas firme o bastante para aguentar meu peso. Pulei quando faltavam três degraus e observei o corredor em que nos encontrávamos: um lugar frio e úmido, como a sala em que Eros estava preso.
Abri Kallistei para iluminar um pouco o caminho. A luz emitida possibilitava que conseguíssemos caminhar sem trombar nas paredes. Andamos alguns metros e saímos num corredor longo e mal iluminado. No final, uma porta de ferro como a que eu vi em meu sonho levava para o covil da feiticeira. Uma sensação de alívio e satisfação instalou-se em meu peito. Nós estávamos perto demais.
– Vamos ter que arrombar! – Ryler exclamou, com sua espada ainda em mãos.
– Não, cara. As vezes a porta já está aberta. Não precisa entrar fazendo alarde. Só puxe a maçaneta e pronto! – Leo rebateu e Ryler cruzou os braços.
– Abra você, então! – aquele não era o momento mais digno para os dois terem outro ataque de infantilidade. Mandei os dois irem para um lugar bem inapropriado e girei a maçaneta pesada da porta, que era como a de uma escotilha. Empurrei-a e adentramos o lugar que se fez presente na maioria dos meus sonhos. O covil de Circe.
A sala parecia maior ainda vista pessoalmente. As prateleiras de poções, caldeirões e ingredientes bizarros perdiam-se de vista. A grandiosidade do local era tamanha que ainda não conseguia avistar a outra porta que levava à prisão de Eros. Pude ver Érida correr até um ponto da sala, e então corremos atrás dela, a tempo de vê-la colocando animais que estavam dentro de um saco que carregava em uma gaiola. Animais estes que eram, mais precisamente, coelhos.
De primeira, ela pareceu assustada ao nos ver. Mas sua expressão se converteu num sorriso cheio de escárnio e então falou:
– Estávamos esperando por vocês, semideuses.
Não tivemos nem tempo de responder, pois ela tirou algo do bolso de seu tailleur púrpura e jogou no chão. Uma fumaça roxa espessa bloqueou nossa visão e quando esta se dissipou, três garotas, aparentemente da nossa idade e vestidas como Érida, apareceram. Elas desembainharam suas adagas ao mesmo tempo, e diferente das assistentes que havíamos derrotado no andar superior, e não pareciam estar hipnotizadas. Deram um grito de guerra e nos atacaram.
– Mais garotas gostosas e psicóticas? Isso parece um filme de terror de mau gosto! – Leo berrou enquanto se desvencilhava da adaga de uma das lutadoras. Elas eram muito rápidas. Eu conseguia desviar dos golpes desferidos pela serva que me atacava, mas não conseguia atacá-la. Ryler também enfrentava a mesma situação.
Para se defender, Leo criou uma imensa parede de fogo entre ele e sua oponente. Aquela foi a primeira vez em que vi Leo usando seu poder durante uma situação de perigo. A garota se surpreendeu e se afastou.
– Então é assim que acha que irá ganhar esta luta, Valdez? – ela começou a falar, e sua voz penetrou em meus ouvidos como a da propagandista na Torre Eiffel. – Fugindo do inimigo como uma presa acuada... Está vendo porque ela prefere o filho da guerra? Olhe só como ele luta e não tem medo de atacar! Ele tem atitude. Algo que você não possui.
Cheguei a me distrair durante a luta ao ouvir a serva falando tais coisas para Leo. Ele ainda mantinha a parede de fogo entre eles, mas seus olhos estavam vidrados. Notei que simultaneamente, a oponente de Ryler também dizia coisas para ele, fazendo seus movimentos ficarem cada vez mais lentos. Rapidamente, entendi qual era a intenção delas: colocar Leo e Ryler um contra o outro e me atacar em desvantagem.
– Não sou eu a sua inimiga, Leonardo Valdez. – a garota continuou e o charme que utilizava ia ficando cada vez mais intenso – O seu inimigo é aquele que é melhor que você ao lidar com as pessoas. Aquele que é destemido. E que conquistou a garota. Por que está perdendo tempo tentando me queimar? Lute contra o seu verdadeiro inimigo! Eu sei que há muito tempo você deseja fazer isso...
A barreira de fogo se desfez. Leo colocou uma mão dentro do seu cinto e tirou de lá um machado tão afiado que me assustei. Ryler havia parado de lutar com a sua oponente e se virou para Leo, com os olhos tão vidrados quanto os dele. Eu não conseguia acreditar no que estava prestes a acontecer. As três garotas riam, ironizando a situação.
Foi Leo quem atacou primeiro. Ryler bloqueou o ataque com a sua espada, mas por pouco não fora atingido. A minha oponente, se possível, passou a me atacar com mais brutalidade ainda, e logo as outras duas se juntaram a ela. Eu estava em desvantagem e os garotos iriam se matar.
Uma raiva imensa percorreu todas as minhas veias. Como aquelas três malditas podiam fazer isso com meu namorado e com meu melhor amigo? Eu urrei de fúria e comecei a desferir golpes com Kallistei como um animal. Eu tinha de ser rápida. Ryler quase arrancara a cabeça de Leo por duas vezes. Leo não resistiria por muito mais tempo.
Eu golpeei a primeira no tornozelo. Num golpe traiçoeiro, eu me esquivei e abaixei o suficiente para cortar seu tendão. A garota urrou de dor e caiu no chão, não conseguindo mais se manter de pé. As outras duas ficaram boquiabertas, então me aproveitei disso para desarmar e acertar um chute no estômago de uma delas e derrubá-la no chão. Defendi-me do ataque de outra e também a desarmei. Desarmadas, e com a minha espada apontada para suas gargantas, as duas tiraram de seus bolsos o mesmo objeto que Érida havia tirado: grandes pérolas roxas. Jogaram-nas no chão e desapareceram, levando junto a que tinha o tornozelo ferido.
Voltei a prestar atenção na luta de Leo e Ryler e me surpreendi com o que vi. Leo estava no chão, mas continuava barrando os golpes de Ryler com o machado. Ryler possuía um corte na bochecha que sangrava muito. As mãos de Leo estavam em chamas, assim como seu cabelo e suas roupas. Se eu não intervisse, duas coisas poderiam acontecer: Leo colocaria fogo naquele lugar e todos morreriam, ou então ele mataria Ryler primeiro e colocaria fogo em tudo depois.
Entrei no meio da luta, chutando a espada de Ryler. Ele me lançou um olhar selvagem, mas pareceu voltar à realidade e perceber o que estava fazendo. Saiu de cima de Leo, atordoado. Por sua vez, Leo soltou o machado e se sentou, olhando para suas roupas chamuscadas, aturdido.
– Vai me dizer que nós... – Ryler nem precisou terminar a frase.
– Sim. Vocês quase se mataram. O charme daquelas assistentes malditas manipulou vocês de novo. Elas os colocaram um contra o outro. – ainda me sentia mal por ter visto os dois lutarem daquele jeito. Estendi uma mão para Leo, que a pegou e se levantou do chão. Ele viu o corte na bochecha de Ryler e engoliu em seco, mas não pediu desculpas ou disse um ‘Foi mal, cara’.
– É melhor nós continuarmos andando, se quisermos encontrar Eros. – o próprio Leo mudou de assunto. Ryler recolheu sua espada do chão e andamos a passos rápidos por aquela imensidão de mesas, prateleiras e caldeirões fumegantes, visando chegar ao final da sala.
Antes de chegarmos à porta que vi no meu sonho e que nos levaria até Eros, uma mulher se materializou em nossa frente. Vestia o mesmo vestido preto, seus cabelos negros estavam trançados da mesma forma e a maquiagem perfeita escondia sua verdadeira essência.
Era Circe.


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Notas finais do capítulo

Meio tenso, não? Sugestões e opiniões, é só deixar um comentário para a alegria das autoras hahahaha!
Beijinhos,
xX Taty



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