Tocou para o primeiro intervalo. A minha garganta doía menos agora e pouco a pouco ia sentindo menos frio. Nathaniel fora chamado pelo professor para o ajudar em algo e a peste ruiva conversava com Lysandre. Ele de repente olhou para mim, apanhando-me numa má altura e sorriu-me.

 -Estás gostando do que vês?

 -Pfff! Nem em sonhos!

 -Isso é o que tu dizes!

 Lysandre olhou para mim e sorriu-me.

 -Bom dia Melinda.

 -Bom dia Lysandre.

 Castiel levantou-se e veio ter comigo. Ao chegar a pé de mim ele puxou uma cadeira para o meu lado e sentou-se quase virado para mim. Eu apenas olhei para ele. Como ele nada dizia, eu perguntei-lhe:

 -Porque vieste para aqui?

 -É proibido?

 -Passa a ser.

 Ele riu-se um pouco e, poisando um cotovelo na mesa apoiou-se nela e inclinou-se um pouco para mim. Como reação inclinei-me na direção oposta.

 -Tu odeias-me assim tanto? - perguntou-me num tom de voz já menos audível.

 -Nem é pergunta que se faça... - respondi no mesmo tom meio baixo.

 -Isso é um não?

 -Não.

 -Eu sabia que era um não. - disse ele nu tom meio de gozo ou brincadeira.

 -Oh! - disse, enquanto desviava um pouco a cara e o olhar, de modo a não o encarar e para me acalmar um pouco por causa dos nervos que ele me dava.

 Senti ele a mexer-se e voltei a olhar para ele. Ele inclinara-se mais para mim e apoiava-se na mesa e na cadeira. Ele já se levantara também. Sentia a sua respiração juntar-se com a minha e a vir contra a minha pele. Tinha um cheiro a menta. Já nem sabia bem o que fazer.

 -Castiel.

 O seu rosto parara a uns milímetros do meu e os seus olhos cinzentos e brilhantes fixavam os meus, saltando de um para outro. Ele então se afastou, pondo-se de pé e encarou Lysandre que se encontrava ao seu lado. Eu nem me apercebera que me encontrava inclinada para trás. Endireite-me, olhando agora em frente para não olhar para Castiel.

 -Temos que falar sobre a banda.

 -Aff!

 Ele com isto arrumou a cadeira. Lysandre olhou para mim e eu com disse mudamente "Obrigada." e ele sorriu-me como resposta. Eles lá saíram. castiel ia a reclamar com Lysandre mas logo se calou. Estranhei isso mas assim que ouvi a voz de Rosalya e Pupils pude perceber o porquê.

Cruzei os meus braços e poisei a minha cabeça. Ouvi a voz de Pupils e de Kentin atrás de mim mas logo cessaram.

 Tocou para a aula. Nathaniel fora dos primeiros a entrar.  Ao ir para o seu lugar passou pela minha carteira (dando uma volta enorme) e poisou um pedaço de papel bem dobrado. Olhei para o papel e logo de seguida para ele, encontrando o seu olhar. Ele logo se afastou e eu peguei e desdobrei desajeitadamente aquele pedaço de papel.

 "Encontramo-nos na biblioteca depois das aulas."

 Olhei para ele. Ele escrevia no seu caderno e não me olhava para lhe poder dizer que vou.

 "Mas o que será que ele quer? Será que foi por causa daquilo?"

»Fashback on*

(passada quinta-feira)

 Encostei-me à cadeira mais próxima,,enquanto observava Nathaniel a arrumar umas pastas castanhas.

 -Parece que vem um novo aluno para a semana.

 -Não era uma aluna?

 -Também é um aluno.

 -Ok.

 Já me doía a perna por estar sempre apoiada nela, pelo que  me desencostei para me sentar na cadeira, mas ao fazer isso tropecei nos meus próprios pés e cai para a frente, batendo com a cabeça no armário. Com o impacto fiquei à rasca do peito e com um pouco de falta de ar. Nathaniel veio logo ter comigo, com uma expressão preocupado.

 -Estás bem?

 -N-Não. - disse, poisando a mão no peito.

 A minha cabeça latejava. Nathaniel estendeu-me a mão para me ajudar a levantar e eu a aceitei. Ele puxou-me cuidadosamente e me segurou, mas de tão tonta que estava por ter batido com a cabeça acabei por cambalear, fazendo com que Nathaniel perdesse o equilíbrio também ao tropeçar na cadeira em que me ia sentar e caísse para trás, em cima das mesas e me puxasse sem querer. Eu ao tentar-me manter de pé só fiz pior e acabei por tropeçar de novo nos meus pés, acabando por cair em cima dele e o beijar.

 Os seus lábios eram macios e o seu sabor doce. Pude sentir ele mexer de leve os seus lábios e os meus mexeram em sincronização com os dele naquele leve movimento.

 Desajeitadamente me afastei dos seus lábios e olhei-o. Ele estava completamente corado e os seus olhos mais brilhantes que o normal. Conseguia sentir bem o meu coração a bater e de certeza que ele também o sentira ao cair em cima dele.

 -Des-desculpa...

 Não aguentava estar mais ali. Afastei-me dele e fui em direção à porta, com a mão na cabeça de tanto latejar.

*FlashBack off»

Durante o resto do dia evitamo-nos até mesmo no olhar. Ele ficava completamente corado sempre que me olhava e sem jeito. No outro dia eu ele me chamara quando eu passei e esclarecemos tudo. Não pode ser disso, pois não.

 -... Está calor. - sussurrei para mim própria e tirei o casaco que Violette me trouxera.

 Sentia algo pesaroso vindo do lado da janela. Olhei. A umas cadeiras de mim e de Nathaniel encontrava-se Melody, que me olhava estranho, como se soubesse ou suspeitasse de algo... ou melhor, como se eu fosse a culpada de algo de muito mal e ela tentasse a todo o custo me apanhar. Até me causava arrepios, apesar de agora nem ter tanto frio quanto dantes.

 A aula passou-se e agora era hora de almoço. Violette e eu fomos para a cantina as duas sozinhas mas Rosalya nos chamou para nos juntarmos a eles. Castiel começou a zoar de mim, provocando-me, mas logo parou assim que Rosalya começou a fazer comentários como "Até parecem que vocês têm algo!" e "Vocês ainda serão namorados um dia!", o que despertava gargalhadas no grupo, até de Violette.

 Pupils e Kentin também se juntaram ao grupo. Ela tratava demasiadamente bem aqueles dois rapazes: Lysandre e Kentin... tão bem que era de se suspeitar.

 Nathaniel apareceu no refeitório com Melody, que sorria de forma exagerada para ele. Os nossos olhares se encontraram assim que ele entrou. Foi quando senti um braço passar pelos meus ombros e me puxar. Só com o toque já sabia quem era.

 -Andas sempre no mundo da lua tu. - disse-me a peste ruiva, desviando a minha atenção de Nathaniel.

 -Solta-me. - disse-lhe quase calmamente.

 -Não te estou a agarrar. - respondeu-me ele, estendendo-me um fone.

 Podia ouvir de novo a minha banda preferida. Aceitei o fone e coloquei-o. Ele puxou-me mais para ele encostando a sua cabeça à minha. Admito que me sentia confortável e uma sensação ótima, mas não queria estar assim em frente de Nathaniel. Ou melhor, nem em frente dele, nem em frente de Rosalya, pois logo começariam as brincadeiras dela.

 Olhei para ele, rodando apenas um pouco a cabeça e ele olhou-me. Ele percebeu o que eu queria e sorriu-me. Senti o peso do seu braço desaparecer. Ele apoiou-se então na minha cadeira, não mantendo muita distância de mim.

 Olhei para Nathaniel que estava de costas para mim, numa mesa só apenas com Melody. Melody, ao notar que eu os olhava, olhou para mim e sorriu-me maldosamente.

 "Devo ter sido a única a ver esta expressão dela." pensei, enquanto desviava a minha atenção deles.

–Não tem mal. Já conheces a minha irmã, não já? - disse Violette.

 Comecei a prestar mais atenção na conversa.

–Sim, já. - respondeu Pupils.

–E o que achas dela? – ela fez uma pequena pausa. – Ou melhor… o que achas de nós?

–Eu acho que são as duas muito fofas. – disse. – Se uma desenha bem, a outra faz o quê?

"Só por uma ter um dote a outra também tem que ter?"

–É um segredo.

 O rosto de Pupils iluminou-se e ela olhou para Lysandre. Lysandre parecia perceber aquela expressão. Vi ela a sussurrar algo e pensei logo: "Ela vai tentar descobrir, de certeza."

Lysandre riu-se a afagou-a.

 "Carinho demais para primos."

 O rapaz ao lado, Kentin, os olhava.

 -Pupils? - chamei-a e ela olhou-me. - Qual deles é o teu namorado?

 Ela corou e abaixou o olhar.

–Lysandre é o meu primo preferido… e Kentin é o meu melhor amigo. - responde ela num tom baixo e timidamente.

–Já melhor amigo? – pergunta Rosalya.

Ela fez que sim com a cabeça.

–Ena! – diz Rosalya.

 "Ela nem sequer negou, que ingénua. Ela tem uma relação mais forte com um deles dois, de certeza."

 Suspirei então e deixei o assunto para lá. Olhei para Castiel que me olhou do cimo (seu irritante cabeça de tomate ambulante... pff!) e sorriu-me. Encostei-me para trás na cadeira, apoiando-me também um pouco no seu braço e aproveitei a música.