Mar De Monstros - Brittana escrita por Ju Peixe


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Comentários e recomendações iam alegrar o meu dia...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/343026/chapter/7

Acordei com uma dor de cabeça terrível e com a visão turva. Sentei no bote salva-vidas e encarei Santana abraçada nos joelhos e completamente encharcada. Toquei minha testa e senti um pouco de sangue ainda escorrendo, provavelmente a água não curara tudo.

Estendi minha mão para o mar e o sangue na minha testa estancou-se e minha dor passou. Estendi os braços para Santana que veio direto para o meu colo, com o corpo ainda tremendo. Abracei-a com força e esperei até que ela estivesse completamente relaxada para soltá-la e examiná-la melhor. Nenhum ferimento aparente, fora o fato de suas roupas estarem completamente molhadas.

Improvisamos uma vela no barco com alguns pedaços velhos de uniformes. O sol queimava nossas peles, e estava bem difícil de aguentar. Mas eu estava com a minha mente completamente em outro lugar. Joe. Meu irmão estaria provavelmente morto. E eu sequer conseguira salvá-lo.

Santana e eu ficamos abraçadas cobertas com um pedaço de pano. Era extremamente quente, mas era melhor do que queimar o corpo inteiro. A latina ficou com a cabeça encostada no meu peito, com lágrimas escorrendo pelos olhos.

- Porque choras minha linda? – perguntei.

- Quinn vai morrer. Nós estamos perdidas no meio do mar. Eu estou com medo de te perder. É só que tem muita coisa na minha cabeça, Britt-Britt! E eu não sei quanto tempo eu ainda vou aguentar a ideia de ter que ficar longe de você. Eu nunca achei que eu fosse te amar tanto... Mas a cada dia que passa eu me apaixono mais e mais e fico com mais medo de ficar longe de você. Eu não consigo fazer isso, B. Eu não sou tão forte. – ela disse se enroscando em meu corpo e chorando ainda mais.

- Não fala assim meu amor. A gente vai dar um jeito. Eu me recuso a te deixar. Você é tudo pra mim, San. Eu não quero passar mais um segundo sem você. – disse contra seus lábios.

Ela me abraçou e deitou por cima de mim no bote. Ficamos abraçadas e trocando juras de amor por um longo tempo. Eu me inclinava e tomava seus lábios para mim a cada minuto que passava. Precisava senti-la comigo, pois era a única coisa que me mantinha mentalmente sã.

- San... – chamei – Me fale sobre a Quinn.

Ela baixou os olhos e ficou encarando as mãos por alguns momentos. Cheguei a pensar que ela fosse ignorar a minha pergunta, mas passados alguns minutos, a latina levantou as orbes negras e fitou meus olhos.

- Vocês duas eram muito parecidas. Tão parecidas que ou seriam melhores amigas ou arqui-inimigas. – Santana começou – Ela foi minha primeira amiga. Não sei se algum dia chegou a me amar, mas ela cuidava de mim. Me protegia e me defendia de tudo e todos. Eu era a sua pequena. Ela morreu com catorze anos tentando me salvar, e isso eu nunca irei esquecer.

- Você a amava, San? – perguntei.

Ela suspirou e voltou a fitar as mãos. Beijei seus cabelos negros e envolvi o corpo pequeno em meus braços.

- Eu me apaixonei por ela. Provavelmente porque eu sempre fui uma criança solitária e triste, e quando Quinn chegou, eu não me senti tão sozinha. Ela foi a primeira pessoa pela qual eu me apaixonei.

As palavras de Santana me causaram uma sensação desconfortável. Ciúmes, mágoa. Mas eu não podia culpa-la por se apaixonar por alguém que não fosse eu. Mas de repente não senti tanta vontade de salvar aquela árvore. A latina pareceu ler meus pensamentos, pois me abraçou e depositou um selinho em meus lábios.

- Eu me apaixonei por ela, mas eu amo você. Só você, Britt-Britt. Eu juro – ela disse beijando meus lábios com mais vontade.

Ficamos abraçadas, nos protegendo como podíamos do sol. Uma gaivota pousou no nosso mastro improvisado e chamou a atenção de Santana.

- Terra! Há terra por perto! – ela disse agarrando meu pescoço.

E de fato havia. Pude ver um risco de areia a alguns quilômetros de distância. Assim que chegamos ao local, fomos recebidas por uma mulher sorridente.

- Bem vindos! – ela cumprimentou segurando uma prancheta.

Lembrei-me do Hotel Lótus. Esse lugar era três vezes maior. Tinha até um heliporto. Funcionários caminhavam pelo local e nos lançavam sorrisos.

- Primeira vez conosco? – A mulher perguntou.

- Ahn...

- Primeira vez. – ela concluiu. – Vejamos... Uma transformação completa para as duas princesinhas. Por favor, me acompanhem.

O lugar era ainda mais bonito por dentro. Paredes de mármore e uma fonte com água cristalina enfeitavam o local. Uma mulher aparentemente linda estava de costas para nós.

A mulher virou-se para nós com um sorriso e nos lançou um olhar de desaprovação. Ela era linda. Tinha olhos verdes como o mar e os cabelos negros trançados com fios de ouro.

- Muito prazer, crianças. Sou C. C. – A mulher se apresentou.

Dissemos nossos nomes a ela, que pediu para que uma mulher levasse Santana para a outra sala. San tentou protestar, mas segundo C. C. eu requereria cuidados especiais.

Assim que a minha latina saiu, C. C. levou-me para frente do espelho. Lancei um olhar rápido para o lado e vi alguns porquinhos da índia guinchando feito loucos.

- Olhe para o espelho querida. Diga-me o que vê. – C. C. falou.

Fitei o espelho contra minha vontade. Odiava pensar na minha aparência. Como os meus cabelos louros eram desalinhados, na minha pele branca demais, na pequena cicatriz que eu tinha na bochecha esquerda, resultado de um dos meus primeiros treinos com a espada. Basicamente odiava me olhar no espelho. Mas não foi essa imagem que vi quando me encarei. Vi uma menina com os cabelos ajeitados, olhos azuis se destacando no rosto, sorriso confiante e um bronzeado perfeito. Os dentes eram alinhados e brancos, não havia marcas nem cicatrizes na pele. Era a minha versão melhorada.

- Eu... É perfeito. – respondi tentando ao máximo não gaguejar.

C. C. caminhou até um balcão e pegou um saquinho, fazendo uma mistura parecida com um milk-shake de morango.

- Beba isto e verá os efeitos imediatamente. – ela disse.

Não pensei duas vezes antes de beber até a última gota. De início, uma pequena onda confortável de calor espalhou-se por meu corpo. Mas depois começou a esquentar mais e mais, até ficar escaldante. Cai no chão, curvando-me e derrubando o copo.

- Geralmente eu só atendo homens pessoalmente. Mas você é um caso a parte, Brittany. Tem os mesmos sentimentos que todos os imundos têm. Mas não se preocupe, agora ficará com alguém da sua espécie. – C. C. disse sorrindo.

Meu corpo tinha encolhido e criado garras, e logo me vi dentro de uma gaiola. Eu era uma porquinha da índia. Deus, algo mais podia dar errado? C. C. chutou minhas roupas para debaixo de uma mesa bem no instante em que Santana entrou na sala. Juro que mesmo estando com alguns... Problemas, não consegui tirar os olhos dela. A latina trajava um vestido branco, com os cabelos negros trançados com ouro. A pele tinha uma leve maquiagem, com um batom vermelho que realçava seus lábios carnudos. Eu ficaria sem palavras se fosse capaz de pronunciar alguma coisa.

- Onde está Brittany? – Ela perguntou franzindo a testa.

- Está passando por um dos nossos tratamentos, minha querida. Mas diga-me, o que achou da excursão? – C. C. perguntou.

- Sua biblioteca é incrível. – San disse com os olhos brilhando. Não conseguia tirar os olhos da latina, estava literalmente de quatro por ela.

- O melhor da sabedoria dos últimos milênios – C.C. falou – agora diga-me querida, o que quer ser?

- Quero ser arquiteta! – San disse sem hesitar.

- Bah! Podias ser uma feiticeira como eu. Tem potencial, Santana.

- O... O quê?

- Isso mesmo. – C.C. disse abrindo a palma da mão e deixando uma chama reluzente a mostra - Minha mãe é Hécata, a deusa da mágica. Conheço uma filha de Atena quando a vejo. Não somos tão diferentes, você e eu. Ambas buscamos o conhecimento. Ambas admiramos a grandeza. Nenhuma de nós precisa ficar à sombra de homens.

- Eu... Eu não entendo.

Guinchei o mais alto que pude e passei a arranhar as barras. Ela teria que me ver alguma hora.

- Fique comigo - C. C. estava dizendo a Santana. - Estude comigo. Você pode se juntar à nossa equipe, tornar-se uma feiticeira, aprender a dobrar os outros à sua vontade. Você se tornará imortal!

 - Mas...

- Você é inteligente demais, minha querida - disse C. C. - Pode fazer mais do que apostar naquele acampamento bobo de heróis. Quantas grandes mulheres heroínas meio-sangue você pode citar?

- Ahn, Atalanta, Amélia Earhart...

 - Bah! Os homens ficam com toda a glória. - C. C. fechou o punho e extinguiu a chama mágica. - O único caminho das mulheres para o poder é a feitiçaria. Medeia, Calipso, essas eram mulheres poderosas! E eu, é claro. A maior de todas.

 - Você... C. C... Circe!

- Sim, minha querida. - Santana recuou, e Circe riu. - Não precisa se preocupar. Não lhe farei mal.

- O que fez com Brittany?

- Só a ajudei a concretizar sua verdadeira forma.

San esquadrinhou a sala. Finalmente, viu a gaiola, e me viu arranhando as barras, com todos os outros porquinhos-da-índia à minha volta. Seus olhos se arregalaram.

- Esqueça-a - disse Circe. - Junte-se a mim e aprenda os caminhos da feitiçaria.

- Mas...

- Sua amiga será bem cuidada. Ela será despachada para um maravilhoso novo lar no continente. As crianças do jardim-de-infância vão adorá-la. Enquanto isso, você será sábia e poderosa. Terá tudo o que sempre quis.

Santana ainda olhava fixamente para mim, mas estava com uma expressão sonhadora no rosto. Estava do mesmo jeito que eu quando Circe me enfeitiçou para beber o milk-shake de porquinho-da-índia. Eu guinchei e arranhei, tentando alertá-la para despertar, mas estava absolutamente impotente.

- Deixe-me pensar a respeito - murmurou San. - Só... Preciso de um minuto sozinha. Para dizer adeus.

- É claro, minha querida - arrulhou Circe. - Um minuto. Ah!... E para que você tenha privacidade absoluta...

Ela acenou a mão e barras de ferro desceram nas janelas. Saiu da sala e ouvi as trancas da porta se fecharem atrás dela. O ar sonhador derreteu-se do rosto de Santana. Ela correu até minha gaiola.

- Quando vai entender para parar de se meter em encrencas, Brittany? Onde está você?

Eu guinchei, mas todos os outros porquinhos-da-índia também guincharam. San parecia desesperada. Esquadrinhou a sala e avistou a minha mochila aparecendo embaixo da mesa.

 - Sim!

Mas, em vez de puxar Contracorrente, encontrou o frasco de multivitaminas de Hermes e começou a lutar com a tampa. Tive vontade de gritar para ela que aquele não era o momento para tomar suplementos! Ela tinha de sacar a espada! Ela jogou uma pastilha de limão na boca no momento em que a porta se abriu e Circe voltou, a seu lado duas das assistentes de tailleur.

- Bem - suspirou Circe -, como um minuto passa depressa! Qual é sua resposta, minha querida?

- Esta - disse Santana, e sacou sua faca de bronze.

A feiticeira deu um passo atrás, mas sua surpresa logo passou Olhou-a com desprezo.

- Realmente, menininha, uma faca contra a minha mágica? Será que isso é sensato?

Circe olhou para as assistentes atrás dela, que sorriram. Elas ergueram as mãos como se estivessem se preparando para lançar um feitiço. Corra! Eu quis dizer a Santana, mas tudo o que consegui fazer foram ruídos de roedor. Os outros porquinhos-da-índia guincharam aterrorizados e correram pela gaiola. Meu impulso foi entrar em pânico e me esconder também, mas tinha de pensar em alguma coisa! Não ia suportar perder a minha latina como perdera Joe.

- Como será a transformação de Santana? – refletiu Circe. - Algo pequeno e mal-humorado. Já sei... um musaranho!

Chamas azuis se contorceram saindo de seus dedos e se enrascaram como serpentes em Santana. Eu fiquei olhando, horrorizada, mas nada aconteceu. San continuou sendo San, só que mais zangada. Ela saltou para frente e colocou a ponta da faca no pescoço de Circe.

- Que tal me transformar em uma pantera, em vez disso? Uma pantera que está com as garras na sua garganta!

- Como? - gemeu Circe. Santana ergueu meu frasco de vitaminas para a feiticeira ver. Circe uivou de frustração.

- Maldito seja Hermes, com suas multivitaminas! Elas não passam de uma moda passageira! Não podem fazer nada por você.

- Faça Britt voltar a ser humana, senão... - disse San.

- Eu não posso!

- Então você vai ter o que pediu.

As assistentes de Circe avançaram um passo, mas sua senhora disse:

- Recuem! Ela é imune à mágica até que passe o efeito daquela maldita vitamina.

San arrastou Circe até a gaiola dos porquinhos-da-índia, derrubou a parte de cima e despejou o restante das pastilhas lá dentro.

- Não! - gritou Circe.

Eu fui a primeira a conseguir uma vitamina, mas todos os outros porquinhos-da-índia também correram para experimentar o novo alimento. A primeira mordida, eu me senti pegando fogo por dentro. Roí a vitamina até que ela não parecesse mais tão enorme. E a gaiola ficou menor. E então, de repente a gaiola explodiu. Eu estava sentada no chão, humana de novo - de algum modo, de volta a minhas roupas normais, graças aos deuses -, com seis outros caras que pareciam todos desorientados, piscando e sacudindo a serragem dos cabelos.

- Não! - gritou Circe. - Você não entende! Aqueles são os piores!

Um dos homens se pôs em pé - um cara enorme, com uma barba comprida e emaranhada, preta como piche, e dentes da mesma cor. Usava roupas que não combinavam, de lã e couro, botas até os joelhos e um chapéu de feltro mole. Os outros homens estavam vestidos de maneira mais simples - calções amarrados abaixo do joelho e camisas brancas manchadas. Todos estavam descalços.

- Argggh! - urrou o homenzarrão. - O que a bruxa fez comigo!

- Não! - gemeu Circe.

Santana respirou fundo.

- Eu conheço você! Edward Teach, filho de Ares?

- Sim, garota - rosnou o homenzarrão. - Mas a maioria me chama de Barba-Negra! E aquela é a feiticeira que nos capturou, rapazes. Acabem com ela, e depois quero arranjar uma grande tigela de aipo para mim. Arggggh!

Circe gritou. Ela e suas assistentes saíram correndo da sala, perseguidas pelos piratas.

Santana pulou em meus braços e colou nossos lábios, me derrubando no chão tamanha a força que usava para me beijar. Nos separamos e ela colou a testa na minha.

- Porquinha da índia, Britt-Britt? – ela perguntou abrindo um sorriso.

- Não começa. Vem latina, vamos sair daqui. – resmunguei entrelaçando nossas mãos.

Corremos ao cais e enxergamos um navio a vela. Sorri e subi nele, puxando Santana comigo.

- Como...

- Eu consigo. Confie em mim, Santy. – Murmurei.

A latina assentiu e eu acenei meus braços, fazendo com que as velas içassem e o navio começasse a se afastar. Sorri surpresa com o meu novo dom e abracei a cintura de Santana. Ainda tínhamos um longo caminho até a ilha de Polifermo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguém?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mar De Monstros - Brittana" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.