Violetta! – León gritou e veio atrás de mim praticamente um segundo depois de eu ter saído.

Me virei na hora para que meus olhos pudessem encontrar os dele, quando me dei conta de que uma lágrima já escorria pelo meu rosto. Passei a mão no meu rosto brevemente na tentativa de não deixar León ver aquilo, mas evidentemente fracassei.

- Diga. – Disse com uma voz serena.

A expressão dele se mostrava completamente preocupada, como se ele estivesse com dor por me ver daquele jeito. Ele deu uma alta suspirada e então caminhou lentamente até mim e me envolveu em um abraço acolhedor.

- Amor, o que está acontecendo? Eu estou preocupado com você. – Ele dizia enquanto acariciava meu cabelo, me deixando mais confortável. – Sou eu, não é mesmo? – Agora sua voz estava tão triste que me partira o coração.

- Não é isso amor, pelo menos não exatamente. Não estou aflita por sua culpa, só estou assim porque pressinto que coisas ruins estão pra acontecer conosco. E você é o meu sonho León, literalmente. – Ri quando disse aquilo, pois lembrei em como surgira a música “Podemos”, era incrível a sintonia que havia entre nós. – Só de pensar na possibilidade de um dia eu te perder...

León me interrompeu colocando o seu dedo sobre o meu lábio.

- Isso não vai acontecer de jeito algum, a não ser que você me dispense. – Ele deu uma risada vazia – Mas eu ainda não consigo entender o porquê de tanta preocupação repentina, Violetta. Isso não é normal. – Agora ele acariciava o meu rosto com um olhar ainda mais preocupado e mais triste. – As vezes eu acho que nós deveríamos dar um tempo, mas não por falta de amor ou algo do tipo, mas sim pra nós não ficarmos obcecados um pelo outro, isso faz mal e pode gerar conflitos muito ruins no futuro. – Ele estava evidentemente cabisbaixo.

- León, nós não estamos obcecados. – Retruquei depressa.

- Eu sei, é só que... – Ele suspirou e então voltou a falar. – Você com esses constantes maus pressentimentos, e ainda tem eu, que mesmo sem assumir morro de ciúmes de você. Talvez isso seja só coisa da nossa cabeça.

Eu simplesmente não acreditava que aquelas palavras estavam saindo da boca de León.

- É você mesmo quem está falando isso? – Dizia em um tom evidentemente inconformado. – Quer dar um tempo?

- Não exatamente isso, é dar um tempo sim, mas não como aqueles casais fazem, de terminar e nomear isso de “dar um tempo”. Eu falo no sentido de nós continuarmos compromissados um com o outro, mas tomarmos um tempo pra ser um indivíduo, sabe? Ainda mais agora com a aproximação do show, temos que estar bem concentrados pois vai ser o maior show que vamos fazer até o momento. Fica tranquila que eu sempre estarei cuidando de você, e nós continuaremos juntos. Não conseguiria ficar longe de você, mesmo que eu tentasse. – Ele riu. – Só pra ressaltar, cinco minutos longe de você já é quase uma eternidade pra mim.

Lógico que aquela ideia não me deixava nada satisfeita, mas infelizmente León estava sendo coerente. A gente estava tão próximo que aquilo algum dia poderia estragar a nossa relação, e eu não queria entrar em crise com León de jeito algum, ainda mais por causa dos meus delírios e surtos. Talvez com um tempo para esfriar a cabeça eu poderia parar de ser tão problemática, e de bônus, Ludmila e Tomás iriam parar de me atormentar tanto.

- Eu não quero fazer isso, León. – Disse cabisbaixa.

- Eu também não. – Ele disse exatamente igual a mim.

- Mas é necessário. – Nós dissemos em uníssono.

- Você não vai me deixar, né? – Eu disse em um tom amedrontado.

- Como eu te deixaria? Eu vou me casar com você. – Ele deu muita ênfase na palavra casar.

Aquela ultima frase me deixou ainda mais nervosa, me lembrando então daquele sonho terrível que tivera. Evidentemente minha expressão deve ter mudado, pois León reagiu de um jeito estranho.

- O que foi amor? Não quer isso também?

- CLARO QUE QUERO! – Praticamente gritei.

- Então por que essa cara?

- Só lembrei de um sonho ruim que tive, e era por isso que chorava há cinco minutos atrás.

- Envolvia nós dois? – Sua cara ficou mais preocupada ainda.

Somente assenti com a cabeça de forma cabisbaixa.

- Calma, nada vai ter forças suficiente pra nos deixar longe, ok? – Acariciava meu rosto. – Agora vem, eu vou te levar pra casa, assim quem sabe você não descansa e esfria a cabeça, daí isso passa.

- Ir pra casa? Mas León, você sabe o que o Marco acabou de falar, a polícia ordenou que nós ficassemos aqui durante o apagão e...

- Você acha que eu realmente ligo pra isso? Você está mal e é isso que me importa, vem. – Ele já passava o braço por cima de meu ombro.

-León, é arriscado...

León somente me lançou um olhar e eu compreendi que deveria ficar quieta, já devia estar acostumada com esse meu namorado teimoso.

Começamos a caminhar em direção ao portão de saída mesmo em meio a escuridão, nós incrivelmente conseguiamos enxergar algo. Porém, o que era realmente estranho é que, se a polícia que ordenou que os alunos ficassem dentro do campus, por que ninguém estava vigiando o portão? De qualquer forma, aquilo foi bom para mim e León, já que a saída ficou muito fácil para nós.

Conseguimos sair do campus e então começamos a caminhar em meio à escuridão. Tudo bem, agora nós estávamos realmente ferrados, não sei como acharíamos o caminho para casa, mas à essa altura já não dava mais para voltarmos pra faculdade.

Durante todo o caminho, ambos permanecemos silenciosos. A única coisa que passava pela minha cabeça era a ultima conversa que eu tivera com León, não conseguia entender muito bem o que havia sido discutido. Por um lado eu tinha que concordar que estávamos um pouco obcecados, que não desgrudávamos um segundo e isso poderia nos prejudicar. Mas por outro, só a ideia de ficar distante do León – Ainda mais com o pouco tempo que nos restava – me deixava desesperada.

Quando me virei para tentar voltar a conversar com León, eu tropecei em algo devido à imensa escuridão que tomava o lugar, me fazendo cair. Porém, como sempre ele me apanhou na hora certa, bem antes de eu chegar ao chão. Só não me pergunte como ele fez isso, pois estava realmente escuro ali.

- Meu amor, você está bem? – Ele disse enquanto ainda me segurava, me ajudando a ficar em pé novamente.

- Estou sim. – Eu disse com pouca firmeza.

- Violetta, você está me deixando realmente preocupado.

Apesar de não vê-lo, pude perceber que ele falava muito próximo de mim. E só pelo tom da voz já até sabia como era o olhar dele.

- León, acredite em mim, eu estou bem e...

Para minha sorte – Ou falta dela – bem na hora que eu ia tentar me justificar para León e reforçar a ideia de que ele definitivamente não era o problema, uma imensa luz surgiu no fim da rua e estava se aproximando de nós. No começo pensamos que era só um carro como qualquer outro, mas nossas faces mudaram ao perceber que era o carro da polícia.

Para piorar a situação, o carro estacionou bem do nosso lado, e então pude avistar um homem. – Enorme, diga-se de passagem. – Que logo começou a falar:

- O que duas crianças estão fazendo caminhando na rua no meio de um apagão à essa hora? – Obviamente ele desconfiava de algo.

- É que nós estávamos na Universidade e... – León tentava se justificar.

- Ah, na Universidade? – O homem interrompeu León. – Que eu saiba todos os alunos das Universidades estavam expressamente proibidos de sair do campus.

- É que nós tivemos uma emergência em casa... – León continuou.

- Não quero saber, vocês dois vão ter que me acompanhar.

- Acompanhar? Pra onde? – Eu como sempre, dando uma de burra.

Então o homem soltou uma breve risada maléfica, e abriu a portad o carro.

- Pra delegacia. – E enfim o homem respondeu.