Ilusão escrita por Mara S


Capítulo 7
Os Rituais se Iniciam




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Dante chegou com Beatriz em sua casa e sem esconder sua desconfiança disse:

- Será que é seguro você ficar aqui? Eles, afinal de contas, sabem que você está aqui.

- Talvez... – Beatriz sentou-se no sofá velho da sala e continuou – Ou então vão mudar de estratégia.

- Possível, depois do que eu vi lá.

Beatriz o encarou esperando que falasse o que Dante havia visto de impressionante.

- O demônio? – perguntou curiosa.

- Sim... Olhe, você não pode ficar aqui e muito menos nesse estado. Precisamos ir para algum lugar que eles não saibam da existência. Mesmo que eles não venham aqui por terem mudado de estratégia, é um risco que não podemos tomar. Além do mais, eu preciso pensar mais sobre tudo isso e você precisa me ajudar.

Dante parou por alguns segundos, refletindo.

- Eu sei de um lugar. Você agüenta andar mais alguns minutos?

Beatriz levantou contrariada e disse em um tom desanimado:

- Espero que seja seguro.

- Totalmente.

 

Dante a havia levado para um lugar não muito longe dali e mais seguro, pelo menos naquele momento. Lá poderiam analisar melhor a situação e dar tempo para Beatriz se recuperar.

- Definitivamente ela não se importará. Depois que explicar o motivo. – Dante sorriu abrindo um portão enferrujado.

Beatriz levantou uma das sobrancelhas desconfiada e falou enquanto observava o local:

- Você tem certeza?

- Ela vai ficar feliz em saber que está salvando nossa pele.

O endereço era numa espécie de vila, tirando o fato que a maior parte das casas parecia estar desabitada. A própria casa da colega de Dante estava com ares de que não era usada há mais de meses. Deram a volta procurando a porta dos fundos que foi aberta pelo caçador de demônios sem muito esforço.

- Ela vive fora da cidade... Essa vila também é bem deserta, mas não perigosa do jeito que você imagina. Só espero que ela não apareça hoje. De qualquer modo não vamos ficar por muito tempo.

Entraram pela cozinha empoeirada e foram para a sala que também estava suja. Beatriz que além de machucada ainda estava cansada deitou-se no sofá.

- Vou dar uma olhada na casa.

Dito isso Dante saiu para um corredor escuro.

Deitada, Beatriz deu um leve sorriso ao ver Dante saindo apressado. Afinal de contas não era um mercenário, ele realmente demonstrava preocupações. Depois de alguns minutos voltou com diversas coisas na mão.

- Sem tempo pra cochilos... – disse sentado na mesinha de centro.

Beatriz levantou-se assustada ao notar o caçador na sua frente segurando roupas e outras coisas.

- Achei algumas coisas que podem servir em você. Com essa roupa suja de sangue você não pode ficar... Pelo menos minha amiga é humana, encontrei bandagens e curativos, enfim, acho que vai dar tudo certo.

- Coisas da sua amiga... Você mexeu nas coisas dela? – Beatriz perguntou desconfiada. Seria estranho imaginar alguém mexendo nas suas coisas na sua ausência.

- Você não precisa se preocupar com isso agora. – Dante entregou as coisas “emprestadas” e antes que ela pudesse falar qualquer coisa levantou-se do sofá.

– Obrigado – Beatriz decidiu não discutir sobre os modos do rapaz. - Eu não esperava essa ajuda...

- De mim? Eu não sou tão insensível assim. – Dante a cortou rindo.

Beatriz sorriu mais uma vez antes de caminhar com dificuldades até os fundos da casa. Dante, ao contrario do que apresentava, estava repleto de dúvidas sobre todos os acontecimentos de até então, e não esperava encontrar respostas de Beatriz, a jovem parecia estar mais confusa que ele e aparentemente desconhecia a maior parte das ações que tinham ocorrido. No momento o que Dante queria saber era quem poderia ser o homem que encontrara na fábrica e que Beatriz parecia conhecer e a mulher-demônio que o desafiara em uma luta nem um pouco justa.

Dante, que não estava acostumado a esperar, caminhou pela casa impaciente, mexendo em todos os cantos que passava. Assim que ouviu barulhos vindos do corredor voltou sua atenção para lá. Beatriz apareceu, depois de algum tempo, vestindo as roupas da humana, calças escuras e uma blusa branca de alças, em seus braços havia posto algumas bandagens e Dante percebeu quando ela se aproximou que havia alguns machucados em seu rosto que não havia notado antes, como um corte nos lábios, sobrancelhas e no canto da face.

- Eu não tinha reparado antes... – Dante falou enquanto via Beatriz se sentar no sofá da sala. – Eu não costumo notar muitos nas coisas ao meu redor e também não costumo esperar... – reclamou sentando à sua frente.

- Eu não estou o obrigando a ficar aqui. Eu agradeço o que está fazendo...

- É, eu sei. De alguma forma você me acalma, mas voltando ao seu problema. – Dante desconversou ao notar o olhar curioso de Beatriz. – Quando estávamos naquele prédio você parecia conhecer o sujeito, que aparentemente era humano.

- E é. Trabalhava no culto. Era difícil encontrá-lo, parecia uma figura mítica. De qualquer forma ele que organizou tudo isso. Por quê?

- É isso que estamos procurando. “Sacrifício Maior”... Não tenho idéia. Não são todos os demônios capazes de possuir um corpo humano.

- Você falou de uma mulher? Havia mais pessoas lá?

Dante acenou com a cabeça.

- Um demônio em forma de mulher. Poderosa, ela. Se o sacerdote respondia pelo lado humano, ela representa os interesses demoníacos.

- Eu não a vi!

- Ela disse que vai me testar como se fosse um jogo. Eu não acredito nisso. Eles não são assim, eu não sou assim! Não existe isso de esperar. Se ela quer algo ela já deveria ter feito. Isso não está cheirando nada bem. – Dante reclamou.

- O que você pretende fazer?

- Esperar que não vai ser. Quanto mais cedo isso acabar melhor, se eles acham que ficaremos esperando agirem primeiro, estão enganados.

- Não acredito que agir sem pensar seja a melhor forma.

 Dante se inclina na frente de Beatriz a analisando como se esperasse uma resposta imediata e fala:

- O que eles querem tanto com você?

Beatriz apenas o encara.

- Não é qualquer demônio, espero que não seja... – parou no meio da frase pensativo. - Esqueça. Eu vou pensar em alguma coisa e logo eles terão uma resposta. – Dante pega uma de suas pistolas e coloca em cima de uma pequena mesinha que estava ao seu lado. – Enquanto isso... Tente lembrar-se de mais alguma coisa.

- Com certeza você pensará. – Beatriz falou fitando o teto.

- O que você quer dizer com isso?

- Você tem sangue demônio em suas veias, isso deve servir para alguma coisa, não é?

- Você até que reagiu bem com a revelação. – lembrou-se da reação de Beatriz ao descobrir que Dante não era um simples mortal.

- Eu preciso confiar em alguém. Não vejo problemas em confiar em um mestiço. – Beatriz voltou seus olhos para Dante – Eu vi como você olha para eles... Não acredita que eles possam conviver entre humanos?

- Demônios? Você só pode estar brincando comigo... É claro que não podem conviver com humanos.

- Tanta certeza... Os meus olhos provam o contrário.

Dante a encarou curioso.

- Se você está aqui isso quer dizer que eles podem conviver com humanos. Eu não sei até onde a convivência seria agradável para ambas as partes.

- Esse momento acaba quando chega o momento que ambos descobrem quão diferentes são.

- Espero que não seja um fardo difícil de carregar saber como foi concebido. – Beatriz falou baixo para Dante não ouvir.

Ele apenas a observou seriamente, dando o assunto por encerrado.

 

Era difícil enxergar, suas pálpebras estavam pesadas e sentia dor ao tentar se mexer, mas assim que sentiu um cheiro úmido lembrou-se de onde estava: uma masmorra na profundeza infernal onde raramente sairia vivo. Um barulho metálico despertou sua atenção para algo que se movia à sua frente e com grande esforço percebeu o que era, aliás, quem era. A mulher que o torturava estava sentada no mesmo lugar da última vez, mas dessa vez carregava uma longa espada que Vergil reconheceu rapidamente: sua querida Yamato.

A criatura percebeu a reação que aquela cena provocava em Vergil e sorriu prazerosamente.

- Yamato volta para onde nunca deveria ter saído. Eu lhe disse que ela ficaria melhor comigo. Você sabe que ela pertence a esse lugar. – Livia levantou-se segurando firmemente a espada – Vergil, você pôde ter demonstrado força, mas essa espada não é digna de um mestiço, mas não se sinta mal, você fez seu melhor. E agora...

Livia o observava preso apoiada nas grades da prisão que estava com seu portão aberto.

- Você sabe que se tornou quase um humano, não é mesmo? Não que você se lembre do que ocorreu, mas sente as mudanças em seu corpo, físicas e mentais. Nesse momento você se tornou uma mera sombra do passado, debilitada e prestes a desaparecer com o menor sinal que eu faça, entretanto você também sabe que não queremos isso. Eu já lhe disse que ainda teria uma função importante daqui pra frente e não queremos que o filho de Sparda morra antes de desempenhar essa missão. Confesso que não confio muito em sua capacidade para isso, mas vamos torcer pelo melhor. Caso ocorra algum imprevisto, temos tudo sobre controle. Conseguimos derrotar você, que parecia ser tão determinado... Acredito que não teremos problemas com Dante.

- Grande estratégia, eu suponho... – Vergil falou fracamente, mas era possível perceber sua ironia.

- Cedo ou tarde essa rebelião humana iria terminar. Sparda tentou, mas ele foi estúpido ao entregar uma coisa tão importante como seu amuleto para mestiços. Você bem que tentou, mas esse desejo ávido por poder não lhe trouxe bons frutos, não é mesmo? – Livia caminhou até Vergil e completou secamente – Nós sabemos que está longe de ser um demônio; mesmo que tente se tornar um, seria incompleto e insuficiente.

- Eu nunca serei vulnerável como um humano, mesmo que tentem. Corre nas minhas veias o sangue de um demônio, Sparda. O que me faz ser superior a muitos de sua raça.

- Isso é verdade, mas não esqueçamos que seu pai não era único. Há mais tão poderosos quando ele e que mesmo se você triunfasse em seu plano, que já nasceu fracassado, não conseguiria vencer.

- Acredito que você se colocaria entre esses poderosos? – Vergil esboçou um sorriso maldoso.

Livia agachou-se na sua frente e o encarou demoradamente antes de responder, Vergil sentiu um forte desconforto ao olhar para os olhos da mulher-demônio.

- Não brinque comigo.

Ele apenas continuou a encará-la reunindo toda sua força restante para não se mostrar fraco um instante se quer.

- Que tal um passeio?

Vergil assustou-se com a repentina mudança de assunto. A pergunta parecia fora do contexto.

Lívia saiu da sala e depois de poucos segundos voltou com um sorriso no rosto, acompanhada de três demônios com a aparência totalmente bestial, suas peles pareciam ser feitas de um couro grosseiro e os rostos lembravam vagamente um humano. Estes caminharam rapidamente até Vergil que pensou que seria possível escapar ao perceber que os seres soltavam algumas de suas correntes.

- Por que você mesma não faz o trabalho sujo? – falou com um ar ameaçador mostrando que ainda existia força naquele corpo.

- Tanta pressa não vai te levar a lugar algum.

Apesar de soltas as correntes Vergil mal conseguia se levantar e sem apresentar muitas resistências foi pego por dois dos demônios que o colocaram em pé. Seus pés e mãos ainda estavam presos com algemas, que ele imaginava, eram as responsáveis por sugar suas forças.

- Eu lhe disse que agora era apenas uma sombra do Vergil do passado. – Lívia disse apoiada na porta aberta da masmorra com um sorriso nos lábios.

- Vocês precisam de correntes para poder se sentir fortes?

- Não seja bobinho... Não são as correntes que o impedem de lutar. – Lívia sorriu ironicamente. – Traga-o até o local combinado.

Os demônios empurraram Vergil até a saída da masmorra. Todo o tempo ele observava o local em que estava sendo levado para poder perceber qualquer rota de fuga, apesar de entender que o Inferno não era um local de simples fuga. Era vigiado por três demônios que o cercavam, e na frente caminhava de forma elegante a mulher que o atormentava e que carregava sua estimada espada.

- Nem tente fazer alguma coisa Vergil, nós dois sabemos que você não conseguirá chegar ao fim do corredor. Não me faça machucar esse rosto lindo que você tem.

Lívia ainda caminhou por diversos corredores tortuosos com paredes úmidas até chegar a um par de portas pesadas de metal com desenhos demoníacos e bizarros. Sem apresentar qualquer tipo de esforço abriu-as e assim que notou que Vergil havia passado mandou um dos demônios trancar a porta.

- Você me odeia, não é? – Lívia falou se aproximando.

- Há pessoas que não merecem o poder que têm. Isso se você tiver esse poder.

- Tanto ódio. Eu gosto disso – seus olhos brilharam intensamente. – Soltem-no e dêem uma espada a ele. – Lívia falou voltando sua atenção aos demônios que estavam atrás de Vergil.

Os demônios tiraram todas as correntes de Vergil que quase desabou ao sentir a leveza de seu corpo. Talvez fosse possível mostrar a ela seu poder. Observou o olhar cínico da mulher que empunhava sua espada Yamato com prazer e esperou receber alguma arma dos demônios.

- Você não é digna de segurar essa espada – provocou-a.

- Não perca sua força com as palavras, Vergil.

Dito isso Vergil correu com esforço na direção do demônio que se esquivou de seu golpe rapidamente e rindo falou:

- Adoraria ver seu corpo fincado por ela – alisou a lâmina da espada.

Vergil inconformado tenta alcançar Lívia, mas a espada parece pesada demais para ele. Com violência ela consegue jogar a arma emprestada de Vergil longe de sua mão e o joga no chão com um das mãos.

- Eu sabia que não seria difícil, mas você realmente está fraco.

Após completar a frase fincou Yamato na barriga de Vergil que apenas fechou os olhos sem mostrar a intensidade da dor que sentia. Tombou ao chão. Lívia se agachou ao seu lado e apoiando-se no cabo da Yamato falou:

- Vergil derrotado por sua própria espada.

Após olhar para o corte em sua barriga acrescentou orgulhosa:

- Belo corte. Pena que não se lembrará dele.

Vergil agarra a mão de Lívia que estava segurando o cabo da Yamato e diz:

- Até que ponto vocês chegarão para alcançar o que querem?

- Você ainda nos agradecerá. De qualquer forma isso tudo é apenas o começo. Afinal de contas te daremos o que sempre quis.

Lívia tira a espada do corpo de Vergil com violência e observa o esforço que este faz para tentar se levantar.

- Eu lhe disse que as correntes não eram responsáveis pela sua fraqueza.

Vergil se contorce de dor e após longos segundos é ouvido um estrondo vindo do outro lado da sala, onde se encontrava um grande portal que era possível apenas enxergar a escuridão. Lívia caminha para a saída da sala sendo acompanhada pelos demais demônios. Vergil observa tudo do chão sem entender o porquê da súbita partida. Antes de sair pelas portas duplas Lívia fala:

- Boa sorte com Mundus... Vergil.

 

Uma vez fora da sala Lívia encosta seu corpo na parede e fala rispidamente para os três demônios saírem do local. Agora que havia cumprido seu papel Mundus poderia iniciar as preparações que transformariam Vergil em uma simples marionete de demônios. Seria difícil, ela sabia disso, mas uma grande vitória. Depois de pensar sobre a situação atual em que se encontrava, Lívia caminhou lentamente para a saída das masmorras; para ela não havia mais nada ali. Mesmo sendo de grande confiança ela não poderia assistir a transformação de Vergil, somente Mundus sabia os rituais e era algo que ele queria guardar em segredo.

Ao sair do castelo de Mundus foi surpreendida por um dos demônios – Skoll – que estava apoiado no muro do castelo e ao vê-la caminhou até seu lado e a encarando de forma maliciosa iniciou o diálogo:

- Eu pude sentir seu cheiro de longe. Ele me atraiu até aqui.

- Eu não sou uma simples vítima usada para saciar seu apetite lupino. – Lívia continuou caminhando sem olhar para o demônio.

- Eu não preciso me transformar em lobo para saciar meu apetite.

- Você disse certo: seu apetite. Skoll eu não estou aqui pra brincadeiras...

- Eu me pergunto se você é assim com Argos. – Skoll provocou Lívia que para de caminhar para encará-lo.

- Você fala demais - Lívia coloca os dedos nos lábios de Skoll em um tom ameaçador.

Skoll fecha os olhos e segura a mão de Lívia mostrando que aquilo tudo não o irritava e sim o deixava excitado.

- E você ama se mostrar superior. Eu gosto disso. – ainda segurando o braço de Lívia ele passa sua língua nos dedos da mulher.

Ela tira rispidamente sua mão dos lábios de Skoll e fala sensualmente:

- Respondendo à sua pergunta, se sou desse jeito com Argos? Não... Mas isso é algo que você nunca vai chegar a conhecer.  – falava enquanto passava suas mãos nos longos cabelos de Skoll – Eu não quero domesticar um lobo.

Falando isso Lívia volta a caminhar deixando Skoll sozinho. Ele a encara sem esconder sua irritação até que ela desapareça de vista.


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