Ilusão escrita por Mara S


Capítulo 5
O Início do Jogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/34257/chapter/5

            - É esse o local? – Dante perguntou para a mulher ao seu lado. Ambos estavam parados na frente de um prédio quadrado antigo e sujo. Era difícil imaginar que ali escondesse algum culto demoníaco.

- Eu me lembro desse local. Definitivamente sai daqui, mas a porta não estava trancada, eu consegui sair com facilidade. Mas não lembro bem do interior.

- Isso não é problema. – Dante sacou suas pistolas duplas e disse para Beatriz antes de começar a andar:

- Talvez se você ficar aqui vai ser arriscado... É melhor entrar comigo, além do mais, caso você se lembre de alguma coisa você vai precisar falar para mim, pode ser útil.

Beatriz apenas concordou com a cabeça não se sentindo muito bem em fazer isso. Só de imaginar que poderia enfrentar demônios seu coração acelerou. Ela não estava acostumada com aquilo tudo.

Dante destruiu a porta da frente com diversos tiros. O interior era vazio e imundo, uma grande sala escura onde era possível notar alguns ratos correndo desesperados.

- Que cheiro horrível! – Dante reclamou. – Vazio... Estranho.

Caminharam lentamente pela sala até a porta de metal do lado oposto da entrada, ela estava somente encostada. Dante a empurrou e deparou-se com um salão mais claro que o local em que estavam, era alto e do teto pendiam algumas correntes, como se ali funcionasse no passado algum tipo de fábrica ou depósito. Havia escadas de metal no canto esquerdo que levavam para o andar superior e ao fundo puderam notar luzes mais fortes e um tipo de altar.

- Não foi tão difícil como imaginei. Cadê todo mundo?

- Eu não estou gostando disso. Eles podem...

Um barulho de risadas distantes interrompeu Beatriz. Um homem alto surgiu de uma porta do lado direito da sala cercado de demônios horrendos, ele possuía forma humana, mas isso não significava muita coisa. Dante xingou baixinho por não ter sentido qualquer tipo de presença demoníaca. O homem caminhou até o centro do recinto e os aplaudiu.

- Eu sabia que chegariam até aqui. Dante, o famoso caçador de demônios, se você está aqui quer dizer que conseguiu derrotar os meus enviados. Beatriz... Não precisa esconder esse lindo rostinho atrás de seu salvador. Cedo ou tarde você não conseguirá fugir ao seu destino. Se chegou até aqui é porque seu corpo está pedindo para retornar.

- Eu me lembro de você! Está enganado sobre isso! Eu nunca pediria para retornar!!! – Beatriz gritou revoltada. Dante olhou para ela de relance e antes que ela pudesse causar qualquer problema ele a nocauteou rapidamente. Colocou seu corpo apoiado em um monte de sacos beges e sussurrou um “desculpe-me”

Encarou seu adversário e disse:

- Que tal uma luta justa de homem para homem! Você sabe que esses seus capangas não vão durar muito tempo.

Todos os demônios que o cercavam vieram na direção de Dante, ao todo eram sete, mas que não causaram muito estardalhaço para morrer. Assim que os derrotou procurou na sala pelo estranho homem, que Dante deduziu ser um humano, já que não conseguia sentir sua presença, apesar de estranhamente não ter sentido a presença nem dos outros demônios.

- Você deveria saber que é errado deixar uma dama sozinha... – somente ouviu a voz do homem ao longe e se virou preocupado para onde estava o corpo de Beatriz. Ela ainda estava lá! Virou-se novamente e quando procurava por algum lugar onde ele poderia estar somente sentiu um ar quente atrás dele. Dois grandes demônios com forma de estátua o encaravam sorrindo. Carregavam, cada um, uma grande marreta e Dante, retribuindo o sorriso, tirou pela primeira vez sua espada Rebellion e correu na direção de um deles. Levou um golpe de marreta que o derrubou para o outro lado, ao se levantar pôde ver ao longe uma figura esquelética carregar o corpo desmaiado de Beatriz para os andares superiores. Gritou por seu nome, entretanto não obteve resposta. Correu na direção da figura, mas foi impedido pelos dois demônios.

“Eu não tenho tempo para isso!”

A luta não foi justa, mas Dante não era qualquer caçador de demônios. Queria terminar logo com aquilo porque não sabia qual seria o destino de Beatriz. Qualquer deslize poderia ser fatal e pela primeira vez se preocupou de fato com a jovem. A história que havia contado parecia realmente verdadeira. Antes que pudesse matar ambos os demônios foi surpreendido pela suas transformações em estátuas que bloqueavam o acesso aos andares superiores.

Dante parou chocado diante daquilo e tentou quebrá-los. Antes que pudesse tocar nas estátuas foi surpreendido novamente, dessa vez, por um barulho de vidro se quebrando.

- Mas que droga está acontecendo aqui? – disse indignado, pois apesar de não sentir mais a presença demoníaca dos demônios-estátua agora sentia a que havia alguém muito mais forte.

Ao se virar notou mais à frente uma figura feminina pousando no chão. Ela que havia quebrado o vidro do teto e caído suavemente de uma grande altura. Era impossível que fosse humana. Dante se aproximou com a espada em punhos para poder entender melhor aquilo tudo. Era uma mulher com cabelos escuros e amarrados num rabo e corpo esbelto. Usava uma roupa preta justa com alguns cordões de enfeite e luvas da mesa cor. Não era possível ver sua face, pois usava uma máscara negra toda trabalhada em prata. Dante pôde somente perceber que seus olhos eram um de cada cor. Um de um cinza muito claro e outro amarelado. Intimidadores.

- Olá, acho que não fomos apresentados... – iniciou o diálogo com um malicioso.

- Dante – a mulher disse caminhando lentamente na direção do caçador.

- Você já quer ir direto ao ponto? Nem mesmo me disse seu nome... Demônio.

- Você gosta de se colocar onde não é chamado, não é mesmo? A mortal tinha que recorrer a você... Por quê?

- Deve ser meu sangue, atrai as mulheres.

Com um golpe violento no ar joga Dante no chão. Ele recupera-se da queda chocado com a velocidade daquele demônio.

- Sem brincadeiras. Porque ela foi atrás de você? O que ela anda escondendo que ninguém aqui sabe me responder?

- Princesa, se você quiser briga tudo bem. Não costumo deixar demônios vivo de qualquer jeito, mesmo que seja, bem, um desperdício.

O próximo ataque é rebatido por Dante com sua espada e por pouco não atinge a própria criadora. Ela decidiu formar uma arma de combate e com seu poder cria uma espada.

- Um combate corpo-a-corpo. Eu prefiro. Só não quero perder muito tempo, eu tenho uma pessoa para socorrer. – Dante a provoca.

Ela corre em sua direção e consegue atingi-lo de raspão no braço. Ele tira uma de suas pistolas e atira na mulher. Ela apenas sorri quando vê uma das balas atingindo sua barriga, obviamente aquele tiro não a impediria. Dante pula para ganhar tempo e continua atirando. Sem sucesso. Demônios, como sempre, imunes a armas de fogo. De repente sente algo o jogar para a parede oposta. Sua oponente ri.

- Nem eu quero perder o meu.

Ela o joga novamente no chão e finca a espada em seu estômago. Dante tenta puxar sua Rebellion, mas ela a chuta.

- Eu não deveria ter deixado esse trabalho na mão de humanos. Eu que deveria ter iniciado o ritual. Agora...

- Vamos! O que você quer comigo? – Dante fala enquanto tenta tirar a espada fincada em si.

- Não... Eu não vou matá-lo – Ela agacha ao lado de Dante e passa a mão em seu rosto. – Você tem tanto de seu pai. Enfim, meu assunto é com a humana. Eu prefiro que seja com ela. Mas já que você perguntou... Eu mudei meus planos...

Ela respira profundamente e continua:

- Vamos ver até onde você consegue ir para salvar a humana, herói. Que tal um jogo?

- O que vocês querem com ela? Por que não agora?

- Tudo em seu tempo. Como disse... Eu mudei de idéia – coloca os dedos nos lábios pedindo silêncio. – Vamos testar seu poder. Até nosso próximo encontro...

A mulher retira a espada fincada e pula na direção do teto. Desaparece em poucos segundos. Dante tenta se levantar, mas o corte é profundo. Enquanto se recupera pensa no diálogo com o demônio. O estranho diálogo para ser sincero. O que ela estava escondendo? Por que falar em jogos? Supostamente ela deveria terminar um ritual... Parecia que era a responsável por tudo aquilo. Mas ela não quis fazer o planejado. Disse “tudo em seu tempo”.

“Talvez para preparar Beatriz ou me testar, como disse. O que ela ganharia com isso?”

- Você pode ter me pego de surpresa, mas não da próxima vez. Eu estarei preparado. – Dante fala ao se levantar e pega a espada Rebellion do chão.

Voltou sua atenção para as duas estátuas bloqueando o caminho.

- Bem, se vocês estavam aqui só pra que eu lutasse com a aquela graçinha não vejo mais utilidade pra vocês – falando isso Dante aplicou toda sua força para quebrar as estátuas que espatifaram-se no chão.

Dante sorriu orgulhoso e correu escadas à cima. Estava preocupado com Beatriz, e se ela estivesse sendo torturada ou algo pior? Não podia confiar nas palavras do demônio.

A parte de cima do prédio era mais conservada. Um longo corredor escuro levava até um ponto do lado oposto da escada. Dante caminhou por todo o corredor com cautela. Mas nada o surpreendeu. O outro lado era sinistro. Uma sala de porte médio com as paredes descascadas possuía duas portas em posições diferentes. Era iluminada fracamente por dois castiçais. Dante seguiu para a porta da esquerda esperando o pior. Ela não estava trancada e ele não sentia nenhuma presença demoníaca por perto, talvez eles tivessem fugido. Não teria a oportunidade de lutar contra o homem estranho...

Ao abrir a porta notou algo ao longe. Uma figura feminina presa por cordas. Era Beatriz suspensa pelas mãos. Dante correu em sua direção temendo que estivesse morta. Eles a haviam colocado sobre uma espécie de altar sujo de sangue. Ela não usava mais o casaco dado por Dante, mas sim uma túnica que no passado deveria ser completamente branca. Havia sangue nos seus braços e rosto e algumas gotas caiam de seus pés. Ele estava certo, Beatriz tinha sido torturada.

Com sua espada cortou uma das cordas que a suspendiam e segurou seu corpo para que não despencasse. Assim que a libertou ouviu um gemido fraco. Ela não estava morta. Dante a carregou até os pés do altar apoiou o corpo fraco de Beatriz em suas pernas.

- O que eles fizeram com você?

- Eu vou viver... Obrigado. – esboçou um sorriso.

Dante tentou limpar o sangue dos lábios de Beatriz.

- Você se divertiu sozinha todo esse tempo? - Falou fingindo tristeza.

- Da próxima vez eu deixo um pra você. Aliás...

Ela suspirou profundamente ganhando fôlego e continuou em um tom baixo:

- Eles me colocaram aqui... E desapareceram.

Dante encarou a porta por alguns segundos esperando ser surpreendido por uma legião de demônios, mas não havia nada lá fora.

- Está tudo muito estranho. Você se meteu com demônios poderosos... Muito poderosos.

- Eu tive azar...

- Eu quero entender tudo isso, mas vamos fazer isso em casa. Divertimos-nos o bastante por hoje. Acredito também que não haja nada por aqui pra ser visto. Qualquer coisa eu volto depois. Se tivermos tempo pra pensar... – Dante completou a frase com um tom sombrio. Eram visíveis suas dúvidas sobre tudo aquilo.

Quando Dante ameaçou carregá-la no colo ela o interrompeu:

- Isso não vai ser necessário, só me ajude a andar. Eu acredito que consiga andar com um apoio.

- Tudo bem, senhorita – Dante levantou uma das sobrancelhas. – Vocês mulheres são tão difíceis.

Enquanto caminhavam para a saída com passos lentos, Beatriz disse ainda com a voz fraca:

- Eu entendo suas dúvidas.

- Eu vou te ajudar... Eu confio em você, só preciso esclarecer minhas dúvidas. As coisas não são parecem ser tão simples dessa vez.

Beatriz apenas o fitou.

Assim que chegaram à saída do prédio, Dante olhou para trás e disse num tom sombrio:

- Para onde eles foram?

- Talvez eles desistiram...

- Duvido. Isso tem a ver com o demônio que encontrei.

- Demônio?

Dante olhou para Beatriz e disse num tom preocupado:

- Quando chegarmos e você estiver melhor eu te explico... Agora é melhor não se esforçar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ilusão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.