Ilusão escrita por Mara S


Capítulo 2
Pedindo por Ajuda




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            A chuva era tão intensa que ela mal conseguia notar o caminho a seguir. Uma de suas pernas ferida a impedia de correr mais e mesmo com a dor tentou forçar o máximo que pôde. A chuva havia lavado quase todo o sangue de seu vestido bege e também de sua perna, mas a dor era forte. Mesmo mancando sentiu que havia conseguido despistá-los. A chuva estava a ajudando, apesar de pensar se aqueles demônios não sentiriam a sua presença.

            “Talvez é porque eles sabem aonde você esteja indo”. Foi seu pensamento.

            Seu medo era tanto que por alguns instantes pensou que estava perdida, até conseguir notar o prédio que procurava a poucos metros à sua frente. Sorriu aliviada. A tempestade havia se intensificado e sua visão estava ficando embaçada, agradeceu por estar tão perto, pois as gotas começavam a queimar seu corpo.

            - Devil May Cry – a jovem disse para si mesma enquanto pensava na possível ajuda.

            Mesmo cansada reuniu todas suas forças para abrir aquela porta que naquele instante parecia tão pesada. Assim que a abriu, desabou no chão gritando por ajuda.

            O homem por quem procurava, o caçador de demônios Dante, estava sentado a poucos metros de forma despojada e ao ver a mulher desabar no chão de sua casa e escritório gritando por ajuda olhou-a com um misto de espanto e curiosidade.

            - Me ajude! Eu preciso de você! – a mulher disse ajoelhada enquanto reunia forças para se levantar.

            - Espere um pouco... – Dante disse se aproximando da jovem. – Eu acho que você entrou na porta errada... Fora que você quase destruiu o que eu acabei de concertar!

            - Você é Dante, certo? Chamo-me Beatriz... E preciso que você me ajude.

            - Eu não ajudo as pessoas do jeito que você está pensando. – Dante suspirou arrumando os cabelos brancos que caiam em sua face enquanto via a moça se recompondo - Eu não trabalho de graça.

            - Como assim? – Beatriz perguntou com lágrimas em seus olhos. – Isso é sério! Eles vão me encontrar! Demônios!

            Dante tentou desviar seus olhos da jovem a sua frente. O vestido bege, molhado, marcava seu corpo. Não era certo aceitar isso, algo dizia para ele não a escutar, ajudar jovens “indefesas”... Por outro lado, ela chamava sua atenção, havia entrado e se humilhado em sua frente pedindo ajuda.

            - Demônios? O que eles iriam querer com você? – Dante perguntou fitando os olhos cor de mel da jovem. Antes de decidir o que fazer era melhor entender o que estava acontecendo.

            - Nem eu sei ao certo, está tudo tão confuso. Um momento estava em um local rodeado por humanos e no outro fugindo de demônios. Eles podem ter me dado algo. – ela suspirou e após olhar demoradamente para o chão completou – Eu não me lembro.

            - E como eu posso ter certeza que você viu demônios, talvez fosse alguma alucinação...

            - O que você quer dizer? Que estou mentindo? Ficando maluca?

            - Ei! Respire um pouco! Não precisa se exaltar.

            - Como você explica os meus machucados?

            Vendo que Dante apenas a observava continuou:

            - Eu não consigo me lembrar, mas se você não confia em mim, eu não sei mais o que fazer. – Beatriz decidiu sair daquele local, sua única esperança havia falhado.

            - Espere! Como você sabia de mim? – Dante a segurou pelo braço.

            - Há muito tempo atrás... Parecia ser a coisa certa a se fazer.

            - Como você não se lembra de nada eu não posso te ajudar. Mas até se lembrar... – Dante respirou profundamente refletindo se aquilo estava certo. – Você pode ficar aqui. Se demônios estavam atrás de você eles vão continuar te procurando. Só queria saber se eles sabem que veio me procurar. Acredito que teremos respostas, com você se lembrando ou não.

            Dante soltou o braço de Beatriz, fechou a porta atrás da mulher e falou enquanto caminhava até os fundos da sala.

            - Venha comigo - Vendo que ela não o havia seguido parou na entrada do corredor. – Você não queria minha ajuda? Que tal começar com um banho e roupas secas? Não vai adiantar nada ficarmos aqui esperando sua memória voltar, além do mais, me parece que você está machucada.

            Beatriz apenas caminhou mancando até onde Dante estava.

            Assim que chegaram ao andar superior, Dante pediu que ela esperasse perto da porta do banheiro e quando voltou disse rapidamente:

            - Eu não tenho roupa pra você. Espero que isso ajude. – entregou um casaco preto dobrado - Fique a vontade. Quando você se sentir melhor nós voltamos a conversar. E, sobre essa ferida, eu não sei bem o que fazer.

            - Não se preocupe. Eu dou um jeito. – Beatriz esboçou um sorriso e antes que ele fosse embora ela segurou seu braço – Obrigado.

            - Claro – Dante disse e desceu as escadas rapidamente.

            Uma vez no andar térreo, começou a pensar em tudo aquilo com mais calma. Só esperava que o ato de heroísmo não custasse caro.

            - As coisas não me parecem muito boas...

 

 

            Livia descia as escadas que levavam para um gélido calabouço e não foi preciso pedir para que abrissem as inúmeras portas que ficavam entre ela e o homem que procurava. Todos os guardas apenas a olhavam passar sem dirigir uma única palavra. Eles sabiam de sua fama e mesmo sendo todos demônios, não ousavam desafiar um membro de tão alto nível que somente se subordinava ao Príncipe. Mas sempre que passava deixava no ar uma mistura de medo e sedução. Não só simples humanos desejavam aquela bela mulher e ela poderia ter todos que quisesse.

           Caminhou por vários metros passando pelas galerias subterrâneas do local até encontrar a porta que procurava, afastada de todas as demais. Lá estava ele. A porta metálica fez um estranho barulho ao passar revelando uma sala de tortura úmida. Ao longe, dentro de uma espécie de jaula e preso com correntes estava a pessoa que procurava. Seu rosto estava sujo e com diversos cortes e o que no passado deveria ser uma bela roupa em tons azulados, agora, não passava de um trapo sujo e rasgado. Livia se aproximou de uma mesa ao lado e tirou um utensílio de pontiagudo e enferrujado parecido com uma vara. Sentou-se em uma cadeira e sorrindo maliciosamente apoiou suas pernas nas grades da prisão.

            - Deplorável. Você conseguiu chegar a um lugar que eu sempre quis te ver.

            - Cale a boca... – o homem forçou sua voz e tentou se soltar das correntes que o prendiam.

            - Eu pensei que você estava apreciando a prisão, não ouvi muitas queixas.

Livia curvou-se para frente e disse sorrindo:

            - Diga-me Vergil, onde foi parar seu poder agora? – seus olhos brilharam.

            Vergil observou a estranha, era a primeira visita há dias. O que mais chamou sua atenção foram seus olhos. Um de cada cor: um cinza, quase prateado, e o outro cor de mel, o que dava a mulher de aparência humana o ar demoníaco e ameaçador. Pensou se era algum tipo de teste que deveria passar ou se ela estava ali apenas para irritá-lo mais ainda.

            - Quem é você? Outro demônio criado por ele?

            Livia riu da observação de Vergil.

            - Quanta inocência. Se você não estivesse tão debilitado sentiria que eu não sou uma simples criação. Mas agora... Quem é você para sentir alguma coisa? – observou atentamente o olhar de ódio de Vergil antes de completar:

            - Você não precisa saber quem eu sou e sim, o que eu vim fazer aqui.

            Vergil apenas a fitou. Sua mente estava confusa e mesmo consciente não passava de uma carcaça do que era antes.

            - Silêncio? Confesso que de todas as coisas que já vi, esta está sendo a mais prazerosa. O filho de Sparda totalmente imobilizado. Humilhado.

            Livia levantou-se e abriu com uma pequena chave a porta da prisão de Vergil.

            - O fato de estar preso não anula quem sou. Vocês me prenderam aqui porque sabem que represento uma ameaça, nem mesmo ele tem o poder igual à Sparda.

            - Deixe-me ver se entendi – Livia estava parada na frente de Vergil encarando seus profundos olhos azuis e ainda segurando o estranho objeto pontiagudo. – Você quer se comparar ao seu pai? Sparda foi um traidor, mas isso não anula o fato dele ter sido poderoso, eu não nego isso. Mas você... Você é um mestiço. Longe de pertencer ao mundo dos homens e fora do circulo demoníaco. E o Príncipe? Ele derrotou Sparda. Eu não preciso te lembrar disso. Sparda desapareceu. Agora, ele não representa nada, apenas uma sombra do passado. Enquanto você... Você é apenas o filho que sempre quis ser como o pai, mas nunca irá conseguir. Olhe só sua situação, Vergil! – Livia apontou o objeto para ele – Não consegue nem mesmo levantar as mãos para reagir e mesmo que tentasse sair daqui, estaria morto antes de chegar naquela porta.

            - Então... O que você veio fazer aqui? – Vergil perguntou num sussurro que não escondia sua ira.

            - Deve haver um motivo para deixar você viver. Até todos nós descobrirmos, tenho certeza de que vamos nos divertir. – Livia pousou delicadamente o objeto que carregava no pescoço de Vergil – Que desperdício.

            Com violência o golpeou no rosto e após ver descer um filete de sangue disse suavemente:

            - Onde está seu poder Vergil?

            - Você precisa criar essa situação para conseguir o que quer? – provocou.

            - Eu não criei nada. Veja isso como uma forma de mantê-lo ocupado. Seria horrível deixá-lo mofar até que seja decidido o que fazermos com você. Aproveite sua estadia.

            Livia continuou açoitando Vergil no peito e rosto até que todo seu corpo estivesse coberto de sangue. Ele não gritou uma única vez. Passou a mão em seu rosto limpando algumas goras de sangue e com um sorriso o falou:

            - Orgulhoso até o final... – suspirou enquanto olhava o sangue pingar da pequena vara. - Não se preocupe meu querido. Não vai ser isso que vai matá-lo. Nós o queremos vivo.

            Livia saiu da pequena cela e trancou a porta. Continuou por alguns segundos olhando Vergil gemer baixinho de dor.

            - Você deveria me agradecer por ele ter me escolhido. Desculpe-me se fui um pouco estúpida, mas é que não consigo controlar. Talvez no nosso próximo encontro consiga haver um maior diálogo, você quase não falou nada – falou ironicamente.

            Com violência Livia jogou o objeto sujo de sangue em um canto e trancou a sala úmida novamente. Vergil voltara a ficar sozinho, amargando sua derrota.

            Ao passar pelos guardas daquela área Livia disse estupidamente:

            - Não deixem ninguém tocá-lo sem antes me avisar. Ele é meu escravo agora.

 


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