Remembering escrita por delenaholic


Capítulo 4
Realization




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*Elena*


Assim que eu entro no grande ginásio, percebo que o clima do baile estava bem mais descontraído depois da briga. Não havia sinais de que aquilo havia estragado a festa. Encontrei Matt do outro lado do salão e andei até ele.



– Hey. - ele disse, surpreso por me ver. - Você sumiu!


– Eu sei... Me desculpe. Tive alguns problemas com Damon.

– Damon? Ele está aqui? - ele perguntou, confuso.

– Não, não no baile. Mas eu o encontrei no estacionamento, totalmente desconexo. Acho que ele tinha bebido alguma coisa.

– Damon bêbado. Não se pode esperar coisas boas disso.

– Não mesmo. - eu disse, balançando a cabeça.

Assim que terminei de falar, a música agitada parou e uma bem lenta e dos anos 40 se iniciou. A reconheci como "At Last", de uma antiga coleção de vinis que meu pai tinha, só que essa era uma versão da Etta Jones. Olhei para baixo, para mão convidativa de Matt que esperava para me conduzir até a pista de dança.

Eu realmente não queria dançar, mas eu também queria fazer uma desfeita com ele. Só porque minha noite não estava sendo boa que eu tinha que estragar a dele.

Danças me lembravam Damon. Ele era a única coisa que eu conseguia pensar quando Matt colocava suas mãos sob minhas cintura, me puxando para mais perto, ou eu descansava o rosto em seu ombro, ou ele me fazia dar "uma voltinha" e depois voltar aos seus braços. As mãos que repousavam em meu corpo não eram as mãos certas, aquilo não parecia certo. Eu desejava o toque firme e pesado de Damon. Suas mãos fortes e seus dedos longos que sempre tinham uma temperatura quente e envolvente.

– Algum problema, Elena? - Matt me perguntou, se afastando um pouco para me olhar nos olhos.

– Não, não. - respondi rapidamente, quando percebi que minha distração havia sido percebida. - Eu só... - Falei, olhando para a multidão meio desorientada. - Eu só preciso tomar um ar.

Deixei Matt no meio da pista, confuso e perdido e saí portas afora novamente. Coloquei a mão na testa tentando pensar claramente. Será que eu não conseguiria focar em nada enquanto não visse Damon? Eu só precisava de alguns minutos com ele. Poucos minutos e toda essa confusão iria embora. Respirei fundo, sabendo que iria me arrepender disso depois e que ele iria ficar muito bravo, e tentei colocar em prática minha melhor performance como atriz.

Peguei meu celular e acionei a discagem rápida - Damon era o número 1. Ele atendeu no segundo toque.

– Elena?

– Damon... - minha voz saiu trêmula e fraca, melhor do que eu esperava.

– Lena? - sua voz já estava alarmada. - O que aconteceu? Você está chorando?

– Da-amon... - gaguejei propositalmente. - Por favor. Por fav... Vem aqui. - minha voz chorosa saiu naturalmente.

– O que aconteceu com você?! - ele falou, e eu ouvia ele se movimentando do outro lado da linha e o barulho de uma porta de carro sendo aberta e fechada. Sorri vitoriosa.

– Foi horrível! - soltei, elevando uma oitava para aparentar desespero.

– Eu estou indo para aí. Não saia daí e tome cuidado, o que quer que seja.

– Ok. - murmurei, desligando o celular e o colocando em minha carteira.

Sem querer retornar à bagunça que estava o baile, caminhei até o banheiro feminino e entrei.

Paz. Era tudo que eu queria por pelo menos cinco malditos minutos. Nos últimos meses, todos meus movimentos e pensamentos estavam sendo supervisionados e controlados. Fosse por Stefan, Caroline, Bonnie, ou qualquer outra pessoa. Damon era o único que trazia tranquilidade para toda essa turbulência de ultimamente.

Outra coisa que eu não consegui me livrar desde que pisei aqui: O cheiro do sangue deliciosamente humano do garoto que havia entrado naquela briga. Era inebriante, vicioso. Eu sabia que não podia me deixar pensar muito nisso, era o que todos me falavam. Se eu pensasse, eu perderia o controle. Mas que mal faria agora, trancada num banheiro num lugar lotado de pessoas? Nenhum, a não ser...

– Droga! - xinguei, observando no espelho, as veias visivelmente acentuadas ao redor de meus olhos. Minhas pupilas estavam dilatadas e meus caninos começaram a incomodar. Buscando apoio, me agarrei à pia, e com minha força, quase senti o granito se partir sob minhas mãos. Logo a larguei e respirei fundo. "Respira, solta, respira, solta. Se controle, Elena. Você não pode fazer isso." eu repetia para mim mesma.

Fechei os olhos, sentindo minhas pálpebras lentamente ficando menos rígidas e minha respiração se acalmando. Por mais alguns segundos, fiquei apenas respirando fundo e fiz algo que sempre me ajudava a me controlar. Pensar nas minhas lembranças humanas.

Os treinos de líder de torcida com a Car, acordando para encontrar meus pais na mesa do café, jantar com Jenna e Jeremy, as tardes passadas com Bonnie e Sheila, meu primeiro beijo com Stefan, seu primeiro beijo com Damon, Damon esperando-me em meu quarto para me entregar meu colar... Espera. Aquilo era estranho. Damon havia devolvido meu colar duas vezes, uma vez em meu aniversário e a outra no dia em que Stefan pirou de vez. Mas nunca em meu quarto. Que estranho. Provavelmente eu só estava assistindo às memórias numa velocidade vampírica, misturando e combinando algumas. Sorri, sentindo uma presença familiar perto de mim.

– Você não pode mais me assustar, Damon, sabe disso. - falei, sem abrir os olhos.

– Pijama fofo. - ele murmurou. O quê? Ele não iria brigar, gritar comigo por ter mentido que algo estava errado? Que comentário estranho. Se ele não tinha gostado do vestido, era só falar, não precisava fazer piada. Abri os olhos então.

– Bem... isso não é um pijama, mas posso perceber sua opinião clara sobre ele. - sorri, sem querer causar uma briga. Ele sorriu também, tristemente. - Como me achou aqui?

Ele abaixou o olhar para algo em sua mão, e depois o estendeu. O objeto que eu havia visto mais cedo: o colar de Esther.

– Trouxe isso para você. - ele falou levemente, mas eu podia sentir um nervosismo em sua voz.

– Es-espera. - murmurei, tentando raciocinar. - Como você conseguiu isso? Rebekah tinha o jogado naquela caverna, onde nenhum vampiro pode entrar. Eu achei que estava perdido... - Ele tinha uma expressão triste enquanto balançava a cabeça negativamente. - Não? Damon, eu estava lá. Como você o pegou? - estendi a mão, pronta para tomar o colar dele, para provar para mim mesma que aquilo era real, mas ele o puxou, tirando-o do meu alcance. Revirei os olhos e ele deu um pequeno sorriso irônico. - Sério? Acho que às vezes você esquece que eu sou uma vampira também e posso facilmente tirar isso de você. - Falei, esperando que ele tomasse minha fala como um desafio. Eu sentia falta de como agíamos como se tivéssemos 12 anos de idade perto um do outro, e aquele clima tenso entre nós dois já estava me cansando. Mas ele não seguiu o esperado.

– Eu só tenho que dizer um coisa. - Essas palavras me causaram mais medo que qualquer outra coisa. Eu não queria isso. Eu já tinha Stefan no trem de culpa na primeira classe, constatemente me encarando com aquele olhar machucado. Eu sabia que ele se sentia horrivelmente mal, mas também sempre tive a suspeita de que Damon também carregasse culpa com ele. Tão típico. Ele nem estava lá. Mas eu conseguia sentir aquilo vindo: o pedido de desculpas. Ele diria que sentia muito por ter me deixado, mesmo tendo prometido que nunca iria. Que ele se odeia por ter deixado eu me tornar uma vampira. Eu não queria isso, principalmente, porque nesse cenário, eu era a vilã. Momentos antes do carro passar por aquela ponte, eu tinha quebrado seu coração e eu sabia disso. Eu também sabia que também tinha quebrado parte do meu. Quando morri, não me senti bem ou conformada. Me senti como se tivesse um buraco num lugar que antes estava ocupado.

– Não, Damon, não chegue lá. - pedi.

– Porque o que eu tenho a dizer, é provavelmente a coisa mais egoísta que eu já disse em toda minha vida. - Uma confusão novamente alastrou minha mente. Algo estava errado. Aquelas palavras não funcionavam. Mas, para ser honesta, nada fazia muito sentido nos últimos dias.

– Damon, o que quer dizer com isso? O que é egoísta?

– Olha, eu só tenho que dizer uma vez. Você só tem que ouvir. - ele deu um passo a mais em minha direção, nossos corpos quase se tocando. No passado, essa proximidade teria causado meu coração a ir de 0 a 100 em um segundo, mas agora era como se eu ainda sentisse as batidas fantasmas de meu coração batendo o sangue numa velocidade máxima. A mesma adrenalina de mais cedo me atingiu - eu estava nervosa. "É só o Damon", pensei comigo mesma, "acalme-se, Elena".

– Ok. - respondi, hesitante. Eu devia isso à ele.

– Eu te amo, Elena.

Meus nervos se acalmaram na mesma hora. Suas palavas não deixaram rastros de medo ou choque em mim. Na verdade, me senti confortada. Segura. O conceito de Damon Salvatore me amando era algo que agora me era muito familiar. Fosse ele me falando isso, ou qualquer outra pessoa ao redor de nós dois, eu sabia que seu amor era uma constante. Como oxigênio. Não, tenho que me corrigir. Oxigênio não estava sendo uma constante quando eu estava presa numa caminhonete debaixo d'água. Então um pensamento me veio à cabeça: se algum dia chegasse que ele parasse de me amar, seria tão doloroso como morrer havia sido?

– E é porque eu te amo... que eu não posso ser egoísta com você. - Um pequeno sorriso preencheu meu rosto. Ali estava ele de novo: o Damon altruísta. O Damon a qual eu ama... admirava. O rumo daquela conversa havia trazido uma realização na minha cabeça. Mas quando meus pensamentos se focaram em suas palavras, foi como ter levado um soco no estômago.

Ele estava me deixando.

– Não, Damon. Por favor não diga o que eu sei que você vai dizer. - Eu não conseguiria ouvir aquelas palavras. Meu Deus, até em meus pesadelos, quando ele me deixava, ele nunca me falava isso. Eu nunca tinha o ouvido dizer adeus. Eu queria agarrá-lo, usar minha força vampírica de uma vez só. Mantê-lo ali até que ele jurasse que nunca iria embora.

– E porque você não pode saber disso... Eu não te mereço.

Haviam muitas coisas erradas com aquela sentença. Eu conhecia seu amor. O que ele queria dizer com o fato de que eu não podia saber isso? Ele estava me escondendo algo?

– Damon, não pense isso. Não foi isso que eu não te escolhi. Você tem que acreditar... - mas ele me cortou.

– Mas meu irmão merece.

Culpa era um sentimento que eu já estava um familiarizada, mas eu não havia percebido o quão forte eu podia senti-la até este segundo. A culpa que eu sentia como humana havia triplicado desde que eu me tornara vampira. Não, triplicar é pouco. Se alguém aqui estava sendo egoísta, esse alguém era eu. Eu escolhi o irmão dele e esperei que ele ficasse. Que ele ficasse por perto, e me amasse e me ajudasse a passar por tudo isso como sempre fazia. Agora eu sentia um enorme nojo de mim mesma. Foda-se a vontade de matar. O que realmente doía era eu estar continuamente machucando Damon.

Eu estava preparada para começar a falar. Um longo discuro sobre como eu iria apoiar sua decisão de ir embora. Iria doer e eu iria odiar cada segundo daquilo, mas era a coisa certa a fazer. Haviam muitas decisões que eu havia tomado nos últimos tempos, uma em particular, que eu ainda não sabia se eram certas. Mas fazer isso... Isso era certo.

Mas ele me cortou novamente, mas dessa vez não com palavras, mas com um beijo em minha testa. Eu me lembrava de como os lábios dele pareciam como fogo e gelo ao mesmo tempo, mas agora eles combinavam exatamente com a temperatura do meu corpo. Esse era um beijo de despedida. Eu sentia isso em cada nervo. Lágrimas se formaram em meus olhos. Eu não aguentava aquilo. Eu fiz uma decisão aquele dia na caminhonete de Matt de que nunca mais sentiria os lábios dele em minha pele, mas tendo eles agora contra minha testa me fez imaginar se eu realmente conseguiria viver sem aquilo.

Ele se moveu para tirar uma mecha de cabelo do meu rosto e a confusão alastrava em minha mente, principalmente depois que ele disse:

– Deus, eu queria que você não tivesse que esquecer isso.

De repente senti como se meu corpo todo estivesse girando. Esse momento, eu estando aqui, não estava certo. Isso não era para estar acontecendo aqui, nesse banheiro. As palavras de Damon eram um enigma que eu não conseguia entender e seu olhar me causava calafrios. Antes mesmo que eu pudesse aceitar sua fala, eu vi seus olhos dilatarem enquanto ele me encarava.

– Mas você tem.

Ele estava... me compelindo? Bom, tentanto pelo menos. Eu conhecia aquele olhar. Era o mesmo que Elijah tinha usado em mim horas atrás. Horas? Não, meses atrás. Mas parecia tão recente. Por que o tempo estava numa ordem cronológica tão confusa? Tudo parecia tão fora de lugar. E por que meu braço estava latejando? Eu tinha desmaiado?

Dei um passo para trás. Eu precisava sentar. Eu precisava correr, e acima de tudo, eu precisava respirar. Não, mas eu não precisava disso mais.

E num instante, como se nada tivesse acontecido, Damon sumiu.

– O que...? - murmurei baixinho comigo mesma, minha cabeça um turbilhão de informações que eu não conseguia processar.

Ele havia usado sua droga de velocidade vampírica para colocar seu colar em meu pescoço e fugir. Eu senti as lágrimas correndo por meu rosto, primeiramente pela confusão, mas também pelo fato de que eu não havia falado uma palavra sequer para ele. Ele tinha ido embora e dessa vez eu havia verdadeiramente o perdido.

Eu me apoiei na pia, tentando repassar tudo que havia acontecido nos últimos minutos. Tudo que eu queria era alguns malditos minutos sozinha antes de Damon chegar furioso comigo por ter mentido, mas ele chegou numa tranquilidade, sem nenhum traço de raiva, e me encheu de coisas que eu não estava preparada para lidar. Frustrada, corri minhas mãos pelos meus cabelos, e eu estava particularmente interessada na parte em que ele tentou me compelir. Não se pode compelir outro vampiro. Isso é tipo, regra básica número um. Ele sabia disso. Só se pode compelir humanos e a compusão só é desfeita se essa pessoa...

– Oh meu Deus.

– Elena.

Meus olhos, ainda arregalados com a realização, se dirigiram diretamente para a origem da voz. Damon estava em pé na porta que ele havia acabado de escancarar. Sua respiração estava alta e parecia que ele havia corrido até aqui. Ele me observou cuidadosamente, procurando qualquer sinal de que eu não estivesse bem.

– Elena. - Ele repetiu. - Você estava chorando? - ele perguntou, caminhando rapidamente até mim.

Recompus minha expressão e olhei por cima diretamente nos olhos dele. Um sorriso sexy e brincalhão começou a surgir em meus lábios.

– Sabia que isso te traria aqui.


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Notas finais do capítulo

Miiiiiiiil perdões por ter demorado gente!
Alguns me mandaram mensagens perguntando se eu havia abandonado a fic e a resposta é definitivamente não!
Eu estava muito apertada nas últimas semanas, mal consegui atualizar minha outra fic (http://fanfiction.com.br/historia/291794/One_Last_Chance essa aqui pra quem não conhece hehe)e tava bem complicado pra escrever esse capítulo.
Mas, finalmente, ele está aqui e espero que vocês tenham gostado! Prometo não demorar muito no próximo.
Enfim, COMENTEM E RECOMENDEM POR FAVOR, vocês não sabem o quanto significa pra mim saber a opinião de vocês!