A aula passou mais que vagarosamente, o meu tédio estava ficando entediado. Incrível como uma aula poder ser assim. Enquanto o professor explicava, eu estava rabiscando a mesa, coisa que raramente faço, já que acho que todos os alunos devem preservar o “patrimônio” da escola. Mas vejo que isso é meio que idiota de se pensar, ainda mais no Ensino Médio.

Tentei manter o menor contato visual possível com o Lass. Ryan vez ou outra veio falar comigo, mas eu nem dava muita atenção. O sinal finalmente tocou e as únicas palavras que eu consegui ouvir do professor foram: “(...) isso vale ponto, é bom me entregarem feito, ou não precisarão entrar na sala...”.

Achei que ele foi um pouco... Descortês no seu tom, não precisava ameaçar dizendo que não entraríamos na sala de aula, caso não fizéssemos o que ele pediu.

-“Depois eu pego com algum aluno, agora é achar quem prestou atenção na aula toda”. – Pensei comigo mesmo.

Levantei-me da cadeira e fui em direção à porta.

-Ronan? – Olhei para trás e fiquei surpreso ao ver quem havia me chamado – Ronan Erudon, certo?

-Sim, professor. – Fiquei olhando para os lados, nunca imaginei que um professor me chamasse, ainda mais estando na primeira semana de aula.

-Eu vi seu histórico escolar... É um ótimo aluno, gostei muito que tenha vindo a essa escola para finalizar os tortuosos estudos. – O professor riu com o que disse. Tortuosos... De fato.

Não pude deixar de rir também.

-Mas... – Comecei – O que o senhor quer comigo, afinal?

-Bom, irei fazer um trabalho com a turma do segundo ano e achei interessante buscar dentro da escola um aluno capaz de me ajudar nesta tarefa.

“(...) um trabalho com a turma do segundo ano...”, essa frase ficou em minha mente, pois significava que eu poderia ver a Elesis. Não! Não irei vê-la! Isso está mais que determinado.

-Ronan? – O professor me chamou e eu “despertei”.

-Sim. – Voltei a olha-lo, demonstrando um pouco de interesse no assunto.

-Sei que não tem o tempo todo livre e que isso pode parecer chato, mas... Acho que esse trabalho pode ajudar no seu conhecimento, eu sei que você é inteligente o bastante para perceber que estou tentando te convencer, mas olha pelo lado bom: você irá ajudar outros alunos.

-Eu percebi que o senhor quer mesmo que eu o ajude e... Eu... eu posso te dar a resposta depois? – Perguntei um tanto apressado, acabei lembrando-me que tinha uma conversa com o Lass, droga!

-Sem problemas, o trabalho será para... – O professor pegou um calendário que estava em cima da mesa – Daqui a duas semanas. Para adiantar logo e os alunos não ficarem reclamando que eu mandei fazer um trabalho extenso em pouco tempo.

-Tudo bem, ainda hoje eu lhe dou a resposta.

-Ok.

Saí da sala com passos longos. “(...) um trabalho com o segundo ano...”, caramba! Essa frase não saía da minha cabeça, era como se tudo o que eu decidi estava indo por água abaixo, junto com a chuva que ainda caía.

Cheguei ao pátio e tentei encontrar o Ryan primeiro. Não era tão difícil com aquele cabelo que ele tem, logo o avistei.

-Ryan! – O chamei, mas ele não pareceu me ouvir.

Corri até ele.

-Ryan.

-Oi, Ronan, o que foi?

-Desculpa atrapalhar a conversa... – Coloquei a mão na cabeça, fiquei um pouco constrangido por chama-lo no meio de uma conversa, ainda mais com pessoas que eu nem conheço, o que resultou olhares para mim.

-Tudo bem, pode falar. – Ryan se virou rapidamente para os garotos com quem estava conversando – Depois a gente se fala. – E se voltou em minha direção novamente.

-Ér... Bem, eu queria saber onde o Lass está...

-Ah sim, é verdade, ele quer falar com você, né?

-Isso mesmo... Ele adiantou o assunto?

-Não, não falou nada comigo. – Ryan parou um pouco e ficou me olhando, querendo rir – Mas, tipo, não precisa ficar com medo.

-EU? Com medo?! – Elevei o tom da minha voz, acho que exagerei... – Não, não é isso, eu só... Eu só quero saber onde ele está, só isso.

Acabei me enrolando todo com as palavras.

-Tá cara...  – Ryan começou a rir – O Lass deve estar com a Elesis, eles geralmente ficam perto da escada, na hora do intervalo. Vai lá.

O olhei demonstrando que não queria ir sozinho, sei lá, vai saber o que aquele garoto do cabelo prateado quer comigo...

-Eu vou com você, tá bom? – Ryan me olhou reprovando o que eu tinha em mente, talvez porque eu estava mostrando que tinha receio de conversar com o Lass.

-Desculpa... Não queria atrapalhar seu intervalo, é que...

-Tudo bem. – Antecipou-se ele – Eu ia falar com ele mesmo. Afinal, temos um trabalho em dupla para fazer, né?

Ah! Então foi isso que o professor falou sobre valer ponto e que teríamos que fazer, senão nem precisaríamos entrar na sala de aula... Eu tinha até me esquecido de perguntar isso a ele, e tivemos uma conversa. Estou mesmo esquecido das coisas.

-Vamos, cara? – Ryan chamou a minha atenção.

-S-sim, foi mal.

Começamos a andar em direção a escada que Ryan citou e Lass estava com a Elesis, como Ryan também havia dito.

Engoli a seco, não queria me encontrar com ela, não mesmo...

-E aí, Lass? – Ryan fez um toque de mão com o amigo, algo realmente estranho, mas acho que é comum adolescentes terem uma batida de mão entre eles – Você já tem dupla para o trabalho do professor de história?

-Não... – Respondeu Lass.

-Então faremos juntos. São só algumas pesquisas da matéria que ele deu hoje, vai ser fácil.

-Ok.

O modo que Lass respondia ao Ryan era tão estranho, ele nem formava um frase completa, mas isso nem era tão importante, até porque eu estava próximo a ouvir o Lass falar e falar... Eu só queria saber o que...

Elesis, em nenhum momento, me olhou. Achei melhor assim. Também não queria vê-la. A verdade é que eu estava lutando contra a minha própria vontade.

-Pensei que não viria. – Olhei automaticamente para o autor da voz.

-Bem... Eu tive um contratempo.

-Não perguntei o motivo da demora. – Lass se levantou e eu recuei, não entendi por que havia recuado, mas o fiz.

-O-o que você quer comigo?

-Soube que você e a Elesis são...

-Éramos. – A ruiva corrigiu o seu namorado e se levantou também, saindo de onde estávamos.

Ryan percebeu que o clima estava ficando tenso ali e acompanhou a Elesis. Engoli a seco novamente.

Foi inútil minha tentativa de não olha-la, ao vê-la indo embora, meu coração apertou.

-De qualquer forma a Elesis não parece muito confortável com a sua presença, se vocês são ou não são mais amigos, isso pouco me importa, mas quero você longe dela, entendeu?

Quando eu fui abrir a boca para argumentar sobre o que o Lass tinha acabado de falar, o garoto deu as costas para mim e saiu. Por que ele perguntou “entendeu” se nem me deixou responder?! Eu hein! Gente estranha! Gritei isso em minha própria mente. É claro que eu não falaria isso para ele. Não porque eu tenha medo, mas eu prezo pela minha vida.

Dois pedidos em um único dia... Não queria negar o do professor, percebi que ele queria mesmo a minha ajuda, mas agora... Como eu o ajudarei se não posso ficar perto da Elesis? Tipo, o pedido do namoradinho dela foi bem exigente, e o trabalho é no segundo ano, como eu farei isso?!

Pus a mão no cabelo e abaixei um pouco a cabeça. Sentei-me no degrau da escada.

Eu poderia muito bem aceitar o que o Lass falou, já que não quero ficar perto da Elesis mesmo, quero distância daquela ruiva que parece não ter sentimentos nenhum pela minha pessoa! Mas... Seria muito chato eu recusar um pedido do professor, era como se eu não quisesse ter um conhecimento aprofundado da matéria de história. E, se eu aceitar ajudar o professor, poderei ganhar muito com isso. Posso saber do que é preciso fazer para esse trabalho que ele passou, já que nem sei o tema da matéria de hoje e ainda posso fazer individualmente.

-Ronan. – Olhei para quem havia me chamado. Ultimamente muitas pessoas têm me chamado, está virando rotina.

-Oi minha baixinha, tudo bem? – Perguntei.

-Eu que pergunto! Você sumiu no intervalo, menino! – Arme gritou comigo, nossa! Isso não acontece muito, ainda mais sem eu ter feito nada.

-Por que está assim?

-Eu te procurei no pátio todo, queria falar com você, pedi até a Lire que me ajudasse. – Arme cruzou os braços.

-Desculpa, então... – Disse numa voz arrependida, mesmo sem ter feito nada, como eu já disse.

-Tudo bem. – A baixinha sentou-se ao meu lado – Agora me diz, o que aconteceu para você estar aqui?

-Nada.

-Não precisa mentir.

-Mas eu...

-Desiste Ronan, eu sei quando você está mentindo.

De fato, Arme sabia quando eu estava mentindo... Erro fatal da minha parte em deixar com que ela descobrisse como eu fico quando minto.

-Tá bom... – Resolvi contar tudo o que estava acontecendo, dei-me por derrotado – É que o Lass...

-Ronan! Arme! Ainda bem que eu encontrei vocês!

Fui salvo pelo escândalo da Lire, que veio correndo em nossa direção.

-Oi, Lire.

-Oi, Ronan. – Disse ela bem sorridente, mas logo mudou a expressão – Você nem me avisou que havia o encontrado, né?

A loira ficou um pouco emburrada com Arme, eu tive que rir, mas coloquei a mão na frente da boca para disfarçar.

-Foi mal...

-Tudo bem, o importante é que o encontramos.

Quando Lire foi se sentar junto com a gente, o sinal do término do intervalo tocou. Senti-me aliviado por não ter que contar para a minha baixinha o que estava acontecendo, não que eu vá esconder isso, mas preciso pensar em algumas coisas primeiro.

Quando eu estava levantando para voltar para a sala, Arme me segurou.

-Ainda vou querer saber o que estava acontecendo.

Apenas assenti positivamente com a cabeça, minha baixinha estava bem séria e o dia estava apenas começando.