Elesis ON

Segurar a mão de Ronan me fez sentir diferente, na verdade, eu senti algo surpreendente por ele. Algo que só apaixonados sentem. Ou pessoas que estão nervosas. Eu senti a famosa “borboleta no estômago”. Espero que tenha sido por nervosismo. Mas que foi extremamente estranho, isso foi.

-Não precisa ficar com medo, eu estou aqui. – Disse, na tentativa de acalma-lo.

Ronan conhecia bem essa frase. Ele mesmo já me disse quando fiquei com medo de uma coisa tola, mas eu era criança, então vamos relevar.

Ronan me olhou e sorriu, exatamente como eu havia feito quando criança. Com certeza ele se sentiu seguro ao meu lado, como eu sempre me senti ao seu. Sim, eu sempre, em todos os momentos que estive com o Ronan, me senti protegida, não foi à toa que, em nossa separação, toda minha vida desandou.

Ele apertou mais a minha mão e fechou os olhos.

Flashback ON

-Quem chegar por último é a mulher do padre! – Exclamou um dos meninos que estava brincando comigo e Ronan.

Todos começaram a correr freneticamente, eu estava distraída com alguma coisa e nem me toquei.

-Voltem aqui! – Gritei, não querendo ficar sozinha no escuro.

Estava de noite e estávamos na rua. Os meninos haviam corrido para suas casas. Como eu e Ronan morávamos, praticamente, um na frente do outro, eu tinha a sua companhia. Mas o idiota correu junto com os outros meninos, deixando-me para trás.

Não gosto de ficar sozinha, nunca gostei. Quando perdi os meninos de vista, meu coração disparou, talvez ele já soubesse dos perigos que eu estava exposta só pelo fato de eu estar só.

O vento estava gélido. Ruídos tomaram conta de minha mente, o escuro estava sendo assustador.

Envolvi-me em meus braços, eu estava sem casaco, bem que minha mãe avisou para eu leva-lo comigo quando fosse brincar.

Não conseguia me mover, era como se um passo que eu desse me colocasse em risco. Eu deveria estar preparada para qualquer perigo, mesmo sendo apenas uma criança e menina, eu era muito mais corajosa que muito menino da minha rua.

Mas naquele momento eu estava paralisada, meu ponto fraco estava agindo. Fechei os olhos, contraindo-os fortemente. O medo estava me dominando, histórias de terror vieram em minha cabeça, tudo de ruim sobre a existência de monstros estavam me atormentando. Senti mais uma presença onde eu estava. Torci para que fosse o Ronan.

-Elesis... – Alguém sussurrou meu nome com uma voz sombria. Não era o Ronan, ele não faria isso e eu conheço a sua voz.

-Deixe a Elesis em paz!

Abri os olhos e Ronan havia empurrado um dos garotos que estavam com a gente e tinha corrido. Com certeza havia sido ele quem sussurrou meu nome para me assustar.

-Desculpa, Ronan, eu só estava brincando. – O menino se levantou e eu o encarei, assim como o azulado.

-Brincadeira de mau gosto! – Disse Ronan, descontente com a situação.

-Essa garota que é medrosa. Não podemos nem deixa-la sozinha que ela chora.

-Isso é mentira! – Disse, cerrando os punhos.

-“Isso é mentira.” – Repetiu ele, num tom irritante de debochado, fazendo-me sentir mais raiva.

-Eu não chorei nada! – Gritei, impondo a verdade.

-Mas você quase chorou, se o Ronan não tivesse aparecido, você estaria choramingando aí.

-Cala boca, seu idiota! – Minha paciência estava no limite, eu não entendia como não tinha socado o garoto.

Ronan permanecia calado. O menino queria nos injuriar, porque ele continuou insistindo que eu era medrosa.

-Se a Elesis não ficou com medo, então a deixe sozinha aqui na rua. No escuro. – Desafiou ele.

Eu não pude me controlar. Só de ouvir as palavras: sozinha e escuro, fizeram meus membros agirem involuntariamente.

Novamente envolvi-me em meus braços e fechei os olhos, sem ao menos pensar em fazer tais movimentos.

Ronan colocou algo quente em minhas costas, sabia que era seu casaco, mesmo estando de olhos fechados, pois, ao contrário de mim, ele obedecia a mãe, quando a mesma mandava ele levar o casaco.

O silêncio pairou no local, pensei que Ronan havia aceitado o desafio e me deixado sozinha. Comecei a tremer e contrair mais meus olhos fechados.

-Não precisa ficar com medo, eu estou aqui. – Disse ele, segurando a minha mão, o que resultou meu olhar em sua direção. Seu rosto era sereno e confiante. Sorri ao saber que estava segura ao lado de Ronan e que ele não havia me abandonado.

O menino ficou me zoando por isso, mas nem dei importância, no dia seguinte eu bateria nele mesmo.

Fui embora junto com o Ronan, ele me deixou em casa e depois foi para a dele.

Flashback OFF

Mais uma lembrança invadiu meu consciente e eu viajei nos momentos mais felizes da minha vida: A infância.  

-Lembra quando eu fiquei com medo de ficar sozinha na rua? – Perguntei.

-Lembro. – Ronan respirou fundo – Você não imagina o quão feliz eu estou por você estar ao meu lado, Elesis.

-Eu também fico feliz por estar novamente com você.

Ouvimos a porta se abri e o pai do Ronan nos olhou. O mesmo continuava vidado em minha direção, consequentemente, de costas para o seu pai. Todo o clima de reconciliação foi quebrado.

-Ronan. – Chamou o pai dele, o azulado ficou pálido e suava frio, meu coração disparou, ele ficou da mesma forma que eu fiquei quando meu pai foi embora. Talvez isso nem fosse acontecer com ele, mas eu senti que Ronan estava com muito medo do que poderia suceder daquela briga entre os pais.

-Oi tio. – Disse, sendo educada e tentando fazer o Ronan reagir de alguma forma.

-Ah! Oi Elesis, quanto tempo, né? – Ele disfarçava o que estava acontecendo.

-Pois é... – Olhei para o Ronan e ele não reagia de jeito nenhum!

-Ronan? – Insistiu o pai dele.

Ronan caiu em meus braços, ele havia desmaiado. O pai dele logo agiu e o segurou para que seu peso não caísse todo sobre mim. Tombei um pouco para trás, descendo da calçada, mas me mantive de pé.

-O que aconteceu?! – Perguntei, deixando o desespero me dominar.

-Querida! – Gritou o pai do Ronan, não respondendo a minha pergunta, segurando o filho, levando-o para seus braços e sentando-se no chão.

A mãe do azulado estava com os olhos úmidos e um pouco fechados, sinalizando que havia chorado muito. Olhei para ela e meu desespero estava visível e logo o dela se tornou também ao ver o filho caído.

-Ronan! Filho! – A tia se agachou e segurou o pulso do Ronan.

Ouvi a porta de casa bater bruscamente, olhei para trás e minha mãe estava correndo em nossa direção.

-Eu ouvi os gritos, o que houve?! – Indagou a minha mãe, a mesma pergunta que eu havia feito e, assim como eu, ela não obteve resposta.

Na verdade, a tia a olhou e a minha mãe assentiu. Acho que pelo olhar, as duas conversaram e a minha mãe havia entendido o que estava ocorrendo. QUE RAIVA! SÓ EU ESTAVA POR FORA DISSO TUDO!

-Coloque-o no carro e vamos para o hospital. – Disse a mãe do Ronan, sua voz era de completa aflição.

O pai dele não hesitou e o segurou no colo, se dirigindo ao carro a passos bem rápidos.

-Mãe? – A chamei, mas a mesma não me deu atenção – Mãe!

-Que foi, Elesis? Não está vendo que o seu amigo está passando mal?! Vai pra casa e me espera lá, vou acompanhar sua tia até o hospital.

-Eu vou junto! – Disse.

-Vai pra casa, agora! – Minha mãe falou rigidamente para mim.

-Ele é meu amigo! Eu preciso saber o que está acontecendo!

Minha mãe não respondeu mais nada, até porque a mãe do Ronan saiu da casa dela às pressas.

-Vai comigo no hospital? – Pediu a tia para a minha mãe.

-Claro.

-Eu vou junto, tia. – Disse, convidando-me.

-Não Elesis, é melhor você ficar. – Disse a mãe do Ronan. Eu não poderia passar por cima de sua ordem.

Virei o rosto indignada e nada disse.

-Vai pra casa, filha, daqui a pouco estarei de volta.

Permaneci em silêncio. Minha mãe me deu um beijo na bochecha e, depois, ela e a tia foram em direção ao carro, que já estava ligado, pronto para partir.

O que havia acontecido com o Ronan? Por que não quiseram me contar nada? QUE DROGA!

Estava gritando em minha própria consciência, para expor a raiva que eu estava sentindo por não ter respostas de meus questionamentos.

Flashback ON

“Lire e Arme estavam a minha frente, as duas conversavam.

-O Ronan ficará bem. – Disse a loira, abraçando a baixinha. Como alguém consegue abraçar a Arme? Ela é tão insuportável. Encerrei meus pensamentos e foquei na conversa.

-Eu sei... Mas não quero que ele sofra de novo... – Arme parecia bem aflita.”

Flashback OFF

-A Arme deve saber de alguma coisa... – Disse para mim mesma. Observei o carro arrancar e desaparecer rapidamente da minha vista. Agora eu fiquei com medo.

Mas essa angústia que estava invadindo meu coração irá acabar. Amanhã eu irei ter uma conversa com aquela baixinha insuportável!