Start? escrita por Sascha Nevermind


Capítulo 32
#28 - Fuga e Sinceridade


Notas iniciais do capítulo

AEEEEE GENTEEEEEE *3*
~le desvia das pedras jogadas~
Ok, ok, devo um pedido de desculpas para todos vocês... Sinto muito por ter demorado tanto. É sério. Tipo, o capítulo já estava praticamente pronto na minha cabeça, mas aí eis que surge uma crise de identidade '-'
Num olhar rápido, parece que isso não influencia muito no andar da fic, mas gente, INFLUENCIA MUITO! Acontece que eu comecei a questionar tudo, e isso incluiu o andamento de Start?. Eu sempre tive uma idéia mais ou menos pronta do que aconteceria no fim da fic, desde que eu comecei essa história. E do nada eu comecei a achar que seria um final horrível, chat, sem noção, e iria cagar a história toda. E, sabem, eu preciso de uma direção pra fazer qualquer coisa, tipo um objetivo. No caso de Start?, era o final que eu tinha imaginado. A partir do momento que eu não tinha mais certeza se era um bom final, eu simplesmente travei. Y-Y
E achei melhor explicar isso para vocês... Tipo, eu fiquei inventando finais alternativos dos mais simples aos mais nonsense, e a coisa chegou a um ponto de eu querer matar a Maka e fazer o Kid e o Soul se apaixonarem um pelo outro. E minha melhor amiga gostou da idéia. '-'
Viu? Talvez vocês devessem até me agradecer por não ter escrito nada nesse tempo (tá, eu sei que não kkkkkkkk)

Queria agradecer muito, muito a vocês! Mesmo eu tendo me tornado uma autora desaparecida, vocês ainda assim comentaram no último capítulo, e isso meio que me fez sentir culpada e me esforçar mais para escrever kkkk Muito obrigada a:
#Misty Heartfilia (Becca-chan)
#LemonHime
#Guelbs
#Miyabi Hinata
#Vlad Ember
#Kagura May
#Gracis2
#Hana Kobayashi
#Açucena
#Red Pegasu
#Yui Chan
#ShinigamiTamashii
#Primrose e Meredith
#Leitora Fantasma
#Sassu (não comentou mas mandou mensagem =3)

Música do capítulo:
~This Is War - 30 Seconds To Mars (http://www.kboing.com.br/30-seconds-to-mars/1-1030121/)
"Ah, Sascha, o que essa música tem a ver com o capítulo?" Não faço a mínima idéia '-' Eu tava lá no ponto de ônibus ás 07:17 da manhã, ouvindo essa música, e do nada achei que era A CARA desse capítulo. Agora eu não sei mais porque, mas deve ter um bom motivo, poucas coisas fazem sentido para mim antes das oito...

Espero que tenha algo nesse capítulo que faça vocês me perdoarem pela demora S2
Até lá embaixo o/



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Por um momento, nenhum de nós fez nada. Apenas nos encaramos, eu e Soul tentando parecer sérios e assustadores, enquanto Jack nos olhava surpreso. Como se não fosse óbvio o que uma dupla de estudantes da Shibusen ia fazer com um assassino.

Quando Jack abriu um lento sorriso de escárnio e enfiou os punhos nos bolsos da calça quase casualmente, Soul apertou minha mão, se preparando para o que estava por vir. Ela tremia levemente na minha, e foi aí que eu percebi.

Como pude ser tão idiota?

Não podíamos lutar. Estávamos cansados, com fome e doloridos de ter andado sem rumo durante tantas horas. Meu cérebro estava pronto para dormir, não alerta o suficiente, e tinha certeza que Soul estava assim também. E como se esses não fossem motivos suficientes, nós nem mesmo sabíamos se conseguiríamos reassoar juntos. Era preciso que estivessemos em sintonia para que as coisas dessem certo, mas que sintonia? Nos últimos tempos, tudo que eu e Soul fizemos foi brigar. Ou nos evitar mutuamente. E agora eu simplesmente havia decidido que ir atrás de um serial killer era uma boa idéia.

Quando Jack tirou as mãos dos bolsos, elas estavam calçadas em socos ingleses, e mesmo á distância podia ver as lâminas que saíam da barra de ferro. Quatro em cada mão. Aquilo fez o medo apertar com força meu peito – e minha garganta. Prendi o ar, nervosa, e senti minhas mãos começarem a suar.

– Maka? – Soul chamou, ao meu lado, mas não lhe dei atenção.

O que eu estava fazendo? Ia acabar nos matando!

Soltei o ar com força e comecei a respirar muito rápido, ou pelo menos a tentar. Parecia estar sufocando, não havia ar suficiente. Eu ia morrer. E pior, eu ia levar o Soul comigo.

– MAKA!

Só percebi como Jack estava perto de nós quando Soul gritou meu nome. Pisquei algumas vezes, confusa, e um pouco chocada ao perceber nosso alvo a apenas três passadas de nós. Eu não havia notado sua aproximação. Por um segundo meu cérebro travou – desviar ou tentar lutar logo? E teria sido nesse segundo que eu seria atingida se Soul não estivesse alerta.

Ele se adiantou em direção a Jack, transformando o braço direito numa lâmina e desferindo uma espécie de soco de baixo para cima com ela. Apenas observei, atônita, enquanto Jack desviava e tentava acertar um soco em Soul, sem sucesso. Meu parceiro desviou com facilidade e chutou-o duas vezes, primeiro na boca do estômago e depois no peito, forte o suficiente para que Jack caisse deitado a quase dois metros de nós, gemendo e agarrando o próprio tórax.

Observei-o se contorcer de dor apenas por um instante. Logo Soul veio e parou na minha frente, bloqueando minha visão – e ficando diretamente de costas para nosso inimigo.

– Maka? O que houve, você está bem?

Sua voz soou aflita e ele me segurou pelos braços, me encarando fixamente. No entanto, meu coração batia forte demais para eu conseguir raciocinar direito sobre isso. Sobre qualquer coisa. Eu só conseguia pensar que Jack ia levantar, e ia acertar o Soul pelas costas e seria culpa minha, ou tentaríamos lutar e não conseguiríamos, e nenhum final parecia bom na minha mente. O suor já escorria pela minha coluna, apesar da temperatura baixa, e eu podia sentir minhas mãos tremendo levemente.

– ...me ouvindo? Se recompõe, caramba! – Soul disse, me sacudindo e me tirando dos meus devaneios. Ele deu uma olhada por sobre os ombros rapidamente, e então se virou de volta para mim, praguejando baixinho. – Assim não vai dar. Vem comigo!

Soul segurou firme minha mão direita e começou a correr na direção por onde tínhamos vindo. Me virei bruscamente, a força dele quase havia arrancado meu braço, e minhas pernas pareceram ganhar vida própria. Apesar de tropeçar um pouco, consegui acompanhar seu ritmo, quase sem pensar no que estava fazendo. Fugindo. Olhei para trás, bem a tempo de ver Jack The Ghost se sentar no chão, nos encarando com raiva. Antes que pudesse pensar sobre isso, Soul fez uma curva brusca, e outra, e outra, e quando dei por mim estávamos subindo as escadas de um prédio abandonado.

Dei uma olhada em volta, avaliando superficialmente. O lugar era escuro, sujo, fedorento e o assoalho rangia enquanto nos movimentávamos, mas não havia nem sinal de ninguém nos seguindo. Soul só parou quando estávamos no terceiro andar, e então me soltou, indo até a janela e inspecionando a rua lá embaixo. Cruzei os braços sobre o peito, balançando de leve para frente e para trás, e aos poucos minha respiração e meus batimentos cardíacos foram se acalmando. Ia ficar tudo bem. Estávamos seguros.

Fechei os olhos e respirei fundo, uma, duas, três vezes, tentanto sincronizar minha respiração com as batidas do meu coração e ignorar o medo. Quando me acalmei o suficiente, comecei a me irritar comigo mesma. Uma crise de pânico! Uma maldita crise de pânico bem no meio de uma luta! Nós podíamos, sim, ter morrido – e seria minha culpa, por nem mesmo conseguir me controlar. O Soul poderia ter dado conta do Jack sozinho, me dei conta, se não tivesse de se preocupar comigo. Havia estragado tudo de novo.

Fiquei observando as costas de Soul até que se desse por satisfeito com a situação da rua lá embaixo (provavelmente deserta) e virasse de volta para mim. Seu rosto estava tenso, a expressão fechada. No entanto, quando me olhou, algo se suavizou ali e ele se aproximou novamente. Talvez um pouco demais, e quando ergueu a mão para mim, quase pulei para longe. No entanto, ele apenas esfregou sua palma em minha bochecha, e só então notei meus olhos úmidos. Fitei o chão, sem graça.

– Maka, olha para mim.

– Me desculpa. – Sussurrei, ao invés disso.

Eu não queria encará-lo, não queria encarar ninguém. Só queria ir pra casa, eu e minha vergonha, e me enterrar embaixo das cobertas como a medrosa que era.

– Maka. – Soul chamou novamente. – Olha. Por favor.

A princípio eu queria ignorá-lo. Ia ficar ali, parada e olhando aquele chão imundo, até que meu parceiro se cansasse e me deixasse em paz. Mas ele continuou ali, e mesmo sem me tocar, seu olhar sobre meu rosto queimava. Quase sem querer, ergui os olhos, fitando-o sem graça. Ele parecia preocupado, e ansioso.

– O que aconteceu?

Eu não queria ter de explicar. Era humilhante admititr, até para mim mesma, que eu havia sentido medo o suficiente para que ele me dominasse e paralizasse. Quem era aquela? Definitivamente, não era eu.

– Eu... não sei. – Menti.

Se Soul percebeu, não disse nada. Ele apenas suspirou e assentiu, para em seguida se afastar de mim. Fiquei observando, parte curiosa e parte assustada, enquanto ia até a pilastra mais próxima e se sentava no chão, as mãos nos bolsos, os olhos fechados, a cabeça baixa. Não consegui ignorar o chão sujo, então torci o rosto numa careta, mas ainda assim me aproximei novamente e agachei-me ao seu lado, deixando o peso do corpo sobre os calcanhares e abraçando a mim mesma. Esfreguei rapidamente os braços. Eu estava com frio, mas não era só isso. O medo ainda estava aqui.

Comecei a observar o ambiente para ter algo com o que me distrair. Estava escuro, então não dava para ver muita coisa. O prédio não era grande, e as paredes internas haviam sido derrubadas, então estávamos num espaço “amplo” se não contássemos com o entulho, devia ter 10x6 metros. As paredes estavam manchadas e pichadas, e no chão, além do entulho, haviam guibas de cigarro, latas de cerveja e algo que eu podia jurar ser restos de bala de revólver. Havia um buraco no teto, e a metade de cima do lado direito de uma das paredes havia sido derrubada. De onde eu estava, podia ver o céu lá fora. Estava escuro e pontilhado de estrelas.

Quase me distraía do fato de que fugi de uma luta.

A vergonha voltou, e me abracei mais forte. Fechei os olhos e enfiei a cabeça entre os joelhos. O pior era saber que eu não conseguia nem considerar voltar lá. Não suportava a idéia de paralisar de novo, e colocar nossas vidas em perigo. Ou melhor, a vida dele. Tudo bem fazer as coisas sem pensar quando a única que corria riscos era eu, mas com meu parceiro aqui, as coisas mud...

– Você estava com medo de não ressoarmos. – A voz de Soul invadiu meus pensamentos. - Foi por isso que você travou, né? Ficou com medo de não conseguirmos e algo nos acontecer.

Ergui os olhos, surpresa, mas os dele ainda estavam fechados. Seu rosto parecia sereno, mas havia un vinco entre suas sobrancelhas. Ele estava pensativo. Não respondi, apenas fitei o chão novamente e suspirei. Apenas quando senti seu olhar em mim, confessei:

– Eu que te chamei para vir comigo. Eu que escolhi a missão. Eu que não disse para voltarmos quando ficou tarde, e eu que puxei briga apesar de ser óbvio que estávamos cansados demais para isso. – Soltei outro suspiro, então completei: - Se acontecesse algo, seria culpa minha.

Soul ficou em silêncio, e senti que me observava, mas não me virei. Continuei encarando o chão como se fosse a coisa mais interessante do mundo, e esfregando suavemente meu braços. Aquilo era entediante, provavelmente Jack não apareceria de novo hoje e eu queria ir embora. Quando estava prestes a sugerir isso, ele quebrou o silêncio novamente.

– Mas a culpa por não conseguirmos ressoar seria minha.

Aquilo, sim, chamou minha atenção. Encarei-o novamente, mas ele continuava na mesma posição de antes. Não me olhava. Acompanhei o contorno de seu perfil com os olhos, pensando em suas palavras. Soul também estava com medo por nós dois, e pelo tom de sua voz, aquela frase era muito mais profunda do que soava. Ele estava falando de tudo que nos afastou, e se sentia culpado por aquilo.

E ele devia sentir-se mesmo, lembrei. Foi Soul que começou a se afastar de mim, quando me deixou sozinha no baile. Mas eu estava tão cansada de brigar por causa da mesma coisa, tão de saco cheio de me importar e me deixar magoar tanto pelo que o Soul fazia ou deixava de fazer, que antes que pudesse me deter, respondi:

– A culpa foi minha, também. Pelo menos metade dela. – Respirei fundo, sabendo que era verdade, e continuei: - Eu não precisava ter dificultado tanto. Se tivesse sido um pouco mais compreensiva com você, não teríamos brigado.

– E se eu não tivesse te deixado sozinha... – Ele começou, mas interrompi.

– Soul, sério, não precisa dizer nada. – Murmurei. – Já passou.

– Se tivesse passado, nós conseguiríamos ressoar, e você não teria medo de lutar ao meu lado.

A seriedade com que falou isso me surpreendeu, mas não era só isso. Sua voz saiu fria. Novamente ergui a cabeça para encará-lo, mas dessa vez nossos olhos se encontraram. Ele estava magoado. Quase não conseguia encará-lo assim, mas não desviei o olhar. Talvez a culpa dele se sentir daquele modo fosse minha, talvez fosse só por não sermos mais o que éramos antes, mas de qualquer maneira ele ainda era meu amigo, e eu queria fazê-lo se sentir bem.

Mas eu não sabia bem como fazer isso. Dizer que continuávamos os mesmos? Era mentira. Dizer que não tinha medo? Uma mentira maior ainda. A verdade era a única opção, mesmo que constrangedora.

– Eu não tenho medo de lutar ao seu lado, não exatamente... – Comecei, sem saber ao certo como explicar. – É só que, quando te chamei para essa missão, eu não tinha realmente idéia do que estava me metendo. Não tive noção que as nossas vidas estavam realmente em risco. E eu não quero lutar sabendo que...

Que provavelmente íamos perder, completei mentalmente. Mesmo não dizendo isso, Soul me olhou de um jeito que tive certeza que sabia ao que estava me referindo. Então, me perguntou:

– Você se lembra o que me disse que quando me chamou para essa missão?

Franzi a testa um pouco, me lembrando.

– Que era uma idéia louca, suicida e provavelmente íamos fracassar e morrer? - Perguntei.

Ele sorriu de leve, de lado, de um jeito tão próprio que me arrancou um sorriso também.

– Não, eu disse isso, você só concordou. E depois disse que eu devia ter calma, porque nenhum de nós íamos morrer, e nós dois voltaríamos para casa. – Assenti, lembrando daquilo, e ele continuou: - E o que eu respondi?

– “É mesmo”.

Aquilo não havia me saído da cabeça, simplesmente porque eu não entendi o motivo daquela resposta. Fitei Soul, curiosa, e ele estava com um sorriso divertido, como se tivesse uma piada própria.

– Você lembra dos nossos primeiros dias morando juntos, quando o Shinigami-sama nos trocou de parceiros? Eu te prometi a mesma coisa. Que eu traria nós dois para casa. Foi por isso que eu aceitei vir nessa missão, mesmo sabendo que não era a idéia mais cool que você já teve. – Confessou, sorrindo para mim. – A gente brigou, se estranhou, ficamos sem nos falar e depois lavamos a roupa suja do pior jeito, mas ainda assim você se importa comigo do mesmo jeito que eu me importo com você. Não tem como essa missão dar errado, Maka. A gente não consegue se odiar o suficiente para que isso – Disse, fazendo um gesto com a mão que indicava a nós dois. – não dê certo.

Minha boca amoleceu num sorriso quase imediatamente. Tinha certeza que era um daqueles bobos e meigos, de quem quer muito, muito, acreditar em algo. Que se deixou acreditar. No entanto, eu não podia simplesmente concordar.

– Soul, acho que nada que você faça poderá me fazer realmente parar de me importar com você... – Confessei, dando um sorriso sem graça. – Mas eu também me importo com o Black*Star, ele é um amigo maravilhoso, e mesmo assim tive problemas com ele na aula de ressonância em cadeia.

Meu parceiro franziu a testa, confuso.

– Está me falando que eu e o Black somos iguais para você?

– Não exatamente, é só que lutar ou não juntos não diz respeito a me impotar com você. Diz respeito a confiar, acima de tudo. E me desculpa, Soul, mas eu não consigo confiar muito em você no momento.

Parecia que ele havia levado um tapa na cara, e quase me arrependi de ter dito aquilo. Talvez eu houvesse sido um pouco dura com ele, falando assim, na lata... Mas acho que não havia outro jeito de falar. Soul me encarou, processando a informação, e então meu olhar sem graça se espelhou nele.

– Bom... Não é muito legal dizer isso, mas também não estou conseguindo confiar muito em você de uns tempos para cá.

Foi a minha vez de quase cair para trás. Fiquei encarando Soul, que deve ter se sentido meio desconfortável, porque passou a mão pela nuca e começou a falar, sem me olhar:

– Sei lá, Maka, eu meio que achava que as coisas iam ficar bem entre nós mais rápido. Eu pensei que não ficaríamos mais que um fim de semana brigados, e então você pediria desculpas por ter ido embora do baile e me deixado para trás. – Mesmo que ele não me olhasse, assenti, lembrando de como ele ficou irritado por eu tê-lo deixado sozinho. – Só que você não pediu, e nem me deu satisfações sobre nada depois... Eu não queria dar o braço a torcer, você que ficou estranha comigo “do nada” e pra completar virou o chiclete do Kid da noite pro dia. Tudo bem, depois que eu soube que você me viu com a Liz não consegui te culpar muito por isso, mas mesmo assim não me sai da cabeça que você podia simplesmente, sabe, ter falado que nos viu juntos. Você escondeu o motivo de estar tão irritada comigo esse tempo todo.

– Eu não podia falar. – Resmunguei. – Você saberia o que eu... Bem, como eu me senti.

Soul deu uma risada, como se aquilo fosse algo realmente engraçado, e me encarou, brincalhão.

– Está falando sobre você gostar de mim? Eu já sabia.

Arregalei os olhos na hora, e senti meu rosto esquentar. Muito. Aquilo só fez Soul rir mais.

– Ah, fala sério, Maka. Depois que eu te convidei para o baile, você ficou toda sorrindo e encostando em mim. E me dava atenção o tempo todo. E corava quando eu te elogiava, igual está corando agora. – Ele acrescentou, tocando minha bochecha com o polegar, suavemente. Na mesma hora cobri ambas com as palmas das mãos, e elas queimavam. Soul riu e continuou: - E se isso não fosse o suficiente para saber, você dançou daquele jeito provocante no baile e a gente quase se beijou.

E você prometeu que continuarímos depois, lembrei. Mas não falei isso, não queria trazer aquilo á tona. Ia parecer um convite, e me parecia tão errado. A posição na qual estávamos, sentados – ou quase - lado a lado num lugar meio escuro e vazio me lembrava um pouco de quando eu encontrei Kid na sala de aula vazia. Por um segundo me distraí pensando no que ele deveria estar fazendo agora. Dormindo, claro. Uma parte de mim queria que estivesse acordado, preocupado comigo, embora eu soubesse ser um pensamento egoísta.

Sacudi a cabeça, tinha que me concentrar aqui. Era o Soul que tinha de me preocupar agora.

– Você sabia. – Murmurei, sem graça, desviando o olhar para o chão. – E ainda assim ficou com a Liz.

Eu senti mais que ouvi o suspiro que ele deu em seguida – lento e profundo, como se estivesse tentando ganhar tempo. Ele ainda ficou uns segundos em silêncio, então eu continuei:

– Ela me disse que vocês ficavam desde o ano passado. – Confessei. – Até me pediu para me afastar de você. Então, eu não entendo... Você sabia que eu gostava de você, e estava com a Liz, mas ainda assim me deu esperanças e continuou com ela. Acho que é por isso que não consigo confiar tanto em você... Soul, você fez algo que me lembrou muito o meu pai.

Ele ficou em silêncio mais um pouco, o que me fez corar mais ainda. Talvez houvesse falado demais. Ok, ele já sabia que eu gostava dele. Era bem óbvio, mas falar coisas como aquela ainda era constrangedor. No entanto, quando sua voz saiu, estava realmente culpada.

– Eu não sabia direito como agir. – Suspirou, como se aquele fosse o seu maior segredo. – O plano era ser fiel a Liz e me tornar seu melhor amigo. Queria ser o melhor namorado para ela e o melhor parceiro para você. Mas eu acabei me aproximando demais e comecei a gostar de você mais do que devia. Não é uma boa desculpa, eu sei, mas eu não conseguiria abrir mão de nenhuma de vocês.

– Mas agora não tem mais nenhuma. – Respondi, ignorando a onda de ciúmes que senti ao ouví-lo nos comparando, nos colocando no mesmo lugar. Era díficil ouvir aquilo, eu acreditava que de alguma forma fosse mais importante. Mas ainda assim, era bom saber. Eu queria entendê-lo.

– Eu perdi as duas. – Soul confirmou, a voz cansada, com um vestígio de ironia. – As duas estão com raiva de mim. Liz diz que eu não dei valor a ela, e está certa. Você diz que eu te enganei, e está certa também. Talvez eu não mereça nenhuma.

Ficamos em silêncio por um tempo, cada um perdido nos próprios pensamentos. O céu estava mais escuro do que quando entramos no prédio, e fiquei olhando para o buraco no teto enquanto pensava.

Era estranho. Eu estava com ciúmes do Soul. Não conseguia acreditar que ele falava do relacionamento com a Liz e comigo na minha frente, tão naturalmente. Mas, de certa forma, eu me sentia igual a ele. Eu também fiquei dividida entre Soul e Kid. Eu também me magoei com os dois, e agora também estava sozinha, mesmo que de certa forma tenha sido uma escolha. Quem era eu para julgá-lo?

Ainda assim, não consegui evitar a pergunta:

– Mas porque não me contou que ficava com a Liz?

Ele nem mesmo hesitou em responder:

– Porque se eu te contasse, sabia que ia perder qualquer chance com você.

Fiquei em silêncio por mais alguns segundos, então não sei bem como, mas me peguei falando:

– Foi por sua causa que eu fiquei com o Kid. – Senti o olhar surpreso de Soul sobre mim, então continuei, corando: - Eu não vou mentir, sempre o achei uma gracinha, mas você estava tão perto de mim que nunca passaria disso. Até que brigamos, e ficamos tão distantes, ao mesmo tempo que o Kiddo ficou tão próximo de mim, que não sei... Ficar com ele era fácil. Era o certo a se fazer, quando tudo parecia estar no lugar errado. Ele foi mais do que eu jamais pensei que seria. – Completei, sentindo minha boca se curvar num sorriso involuntário.

– E agora? – Soul perguntou, uma ponta de ciúmes na voz. – Ele não é mais?

Não queria ter de responder aquilo, então rebati:

– Posso te perguntar a mesma coisa sobre a Liz.

Soul se calou, então me manti calada também. Embora eu não quisesse pensar naquilo, a pergunta do Soul trouxe toda a minha briga com o Kid de volta. Eu ainda estava com raiva dele. Eu ainda não acreditava no modo como ele disse que eu o estava usando durante todo aquele tempo, como podia ter pensado naquilo de mim. Eu estava agindo com ele do mesmo modo que agi com o Soul, me afastando, e se não me decidisse... Talvez ainda ficássemos bem, mas nunca mais seríamos os mesmos.

Era aquilo o que eu queria? Não sabia.

Talvez fosse o ar gelado me deixando mais calma e lúcida ao mesmo tempo. Talvez fosse o fato de ter reparado no quanto eu e Soul estávamos na mesma situação, no fim das contas. Talvez fosse só estar num prédio abandonado junto com meu parceiro que, mesmo com raiva de mim, nunca saiu do meu lado. Eu só sei que foi ali que tive a certeza que aquela briga idiota entre nós devia acabar.

– Acho que te devo um pedido de desculpas. – Disse ao Soul, com um suspiro. – Eu não devia ter fugido, nem ter ficado com raiva de você tanto tempo, nem ter te ignorado tanto. Você é meu melhor amigo, e meu parceiro, antes de tudo. Não quero que nada mude isso.

A voz dele soou surpresa quando respondeu:

– Eu também te devo. Não fui um parceiro muito cool. Eu que comecei escondendo de você que tinha um rolo com a Liz e achei que podia ficar com as duas ao mesmo tempo.

– Uma atitude digna de um cafageste. – Rebati, mas estava rindo. Um peso enorme havia sido tirado dos meus ombros. Ele riu comigo, e estendeu a mão.

– Estamos bem?

– Estamos.

Apertei sua mão, e Soul me puxou para um abraço. Foi meio estranho, com ele sentado no chão e eu agachada ao seu lado. Acabei quase caindo no colo dele, e Soul me zoou quando tive dificuldades em voltar a posição anterior, mas foi bom. Confortável. Estávamos realmente bem pela primeira vez em muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Oi de novo ^^
É, eu tinha dito que nesse capítulo ia ter ação... sinto muito, ficou um pouco maior do que pensei que seria e tive que deixar a ação para o próximo. (Porque aquela cena deplorável da Maka no início do capítulo não conta como ação u-u)
Sobre o próximo capítulo, vou ser sincera com vocês, não sei quanto tempo vai demorar para sair... Ainda não decidi sobre o fim da fic ~estou entre duas opções~ e é estranho escrever sem saber onde estou indo. Ah, mas não que isso signifique que a fic está perto do fim! Não mesmo. É só uma doidera minha mesmo e-e
De qualquer modo, vou tentar escrever mais! Porque, sério, eu fico num mal humor demoníaco quando não escrevo nada e-e
Até o próximo, babies! S2
E quando forem me xingar: qualquer coisa, menos gorda, ok? ;D
Kisuus ;*