Sabe, já que eu vou te contar a minha história e tals, você prescisa saber um pouco mais sobre duas pessoas que são muito importantes nisso tudo.

A primeira é Tsubaki.

Ela é minha melhor amiga, e eu a amo mesmo, só não entendo o porque. Tipo, o normal é que as garotas quietinhas sejam melhores amigas de garotas bem extrovertidas, aí meio que balanceia as coisas, mas Tsubaki é tão tímida quanto eu. Não que eu seja tão tímida assim, mas não posso dizer que eu - ou ela - sejamos do tipo de pessoa que vai á baladas nos sábados á noite. Preferimos assisti filmes, geralmente comédias, e comer sorvete (eu) e brigadeiro (ela) ou os dois juntos, tanto faz.

Sorvete com brigadeiro é ótimo.

Nos conhecemos na sétima série, a escola juntou algumas turmas que antes eram separadas e acabamos na mesma sala. E quando eu cheguei no primeiro dia de aula, ela estava no meu lugar.

Pensei: "Sua vaca leiteira do hell!", mas como sou uma pessoa muito bondosa, deixei Tsubaki ficar lá mesmo assim, só que não consegui esconder a irritação e, quando percebeu, Tsubaki pediu pra trocar de lugar comigo, porque não queria que eu ficasse chateada logo no começo do ano letivo. Fiquei tão surpresa que acabei ficando na meu não-lugar mesmo, e viramos amigas.

A Tsubaki sempre faz tudo pelos outros, é o mais perto de um anjo que eu vou chegar na minha vida... Mas por isso mesmo, não é muito seguro acreditar nas coisas boas que ela fala de você, porque ás vezes, está dizendo isso só para não te irritar, preucupar ou chatear. E ás vezes, só ás vezes, quando ela diz que vai dar tempo de chegar á Shibusen em 15 minutos sim, isso significa que se vocês não saírem exatamente NAQUELA HORA, vão perder o ônibus e ter que praticamente atravessar a cidade correndo.

É soda, viu.

E essa é a história do motivo pelo qual, quando chegamos á escola no nosso primeiro dia, estávamos (A) suadas, (B) descabeladas e (C) assustadoramente perto de surtar.

–Hey, estão atrasadas! Hihihi! - uma garota loira gritou, quando eu e Tsubaki passamos correndo loucamente pelo corredor vazio.

–Eu sei! - resmunguei, embora soubesse que ela não conseguiria ouvir. - Tsubaki, por favor, me diz que você sabe qual a nossa sala!

–Class Crescent Moon. - ela arfou de volta, apontando para frente. -Ali, olha!

No meio do corredor havia a placa indicando a sala, e quase chorei de felicidade quando paramos, arfantes, do lado de fora e encontramos nossos nomes na lista de chamada. Arigato, Kami-sama.

Tentamos nos ajeitar mais ou menos, para não ficar muito óbvio a "maratona" que corremos, e abrimos a porta.

A sala era grande. Enorme, na verdade, de estilo colosseu, e tudo em tons de creme, menos o chão em estilo tabuleiro-de-xadrez. E foi meio constrangedor, porque assim que eu apareci na porto fiquei tão distraída com o chão que já estava viajando legal quando percebi que o professor falava com a gente.

–Posso ajudar em algo?

Ergui os olhos para o professor, corada de vergonha, e devo ter ficado pálida de susto logo em seguida. Aquilo não podia ser um professor, podia? Ele era todo remendado! Roupas, rosto... e tinha aquele PARAFUSO GIGANTE ENFIADO NO MEIO DA CABEÇA! Como é que conseguia sobreviver?

–Desculpe, professor, somos novatas. - Tsubaki respondeu, sorrindo suavemente.

Ele girou a cadeira em que estava sentado - abraçando o encosto - para nós.

–Então já começaram mal. Estão dez minutos atrasadas, mocinhas.

–Perdemos o ônibus. - expliquei, me recompondo.

–Então, da próxima vez, acordem mais cedo. Agora, venham aqui na frente e se apresentem para a turma.

O maravilhoso ritual de apresentar os alunos novos. Nada melhor do que isso logo de manhã.

Tsubaki agarrou meu braço - engraçado, porque sempre considero ela como a que acalma de nós duas - e fomos até o centro da sala, sob os olhares de toda a turma. Algo no olhar do professor me dizia que aquilo era meio que uma punição por me atrasar, e mesmo eu tendo pavor falar em público, não me importei muito com isso. Era normal fazer os alunos novos se constrangerem, não é?

Tsubaki e eu nos entreolhamos, decidindo quem falaria primeiro, e ela ganhou. Me virei para frente e disse, olhando para a parede lá em cima - uma técnica que minha mãe me ensinou para não me envergonhar de ver os outros me observando:

–Olá, eu sou Maka Albarn e tenho 16 anos. Vim transferida da Buckhardt High School.

Suspirei, aliviada, e me virei para Tsubaki.

–Oi gente, sou Tsubaki Nozawa. Também vim da Buckhardt.

Quase que sincronizadas (nado sincronizado, haha) nos viramos para o professor, que nos encarava de um jeito meio... insano? Enquanto arrumava um sapo tirado sei lá de onde na sua frente.

–Bom, garotas, espero que gostem da Shibusen. Sou doktor Franken Stein, seu professor. E como vocês chegaram atrasadas hoje, deixarei que demonstrem para a turma como realizar a tarefa da aula de hoje: dissecação. Poderiam vir até aqui e faze-lo enquanto explico o processo ao resto da classe?

Houve um coro de reclamações na sala - ao que parecia, aquele era um tema bem frequente. E aquele seria o real castigo pelo atraso: o professor esperava que não soubéssemos como dissecar um sapo.

Eu não sou corajosa, não mesmo. Mas sou orgulhosa, e o simples fato de o doktor querer me humilhar na frente da sala me irritou. Por isso, sorrí.

–Claro, doktor.

Enquanto o professor explicava toda aquela pinóia de dissecação, eu dissecava o pobre do sapo. Era nojento? Sim. Chato? Sim. Fedia? Siiiim. Mas eu já havia dissecado tanto na minha vida que era quase automático. Quando acabei, com Tsubaki ao meu lado me passando os instrumentos para falar que fez alguma coisa, o doktor até me elogiou.

–Parabéns, Maka. Você disseca muito bem. Onde aprendeu?

–Minha tia é médica. Ela que me ensinou.

–Ah, sim... Bom, pode sentar.

Assenti e fui procurar um lugar vazio na sala, e acabei encontrando bem no degrau do meio. Desabei na cadeira, desejando um sorvete, e Tsubaki sentou ao meu lado.

–Odeio sapos. - disse.

–Imagina eu. - respondi.

–Mas você foi bem, Maka-chan!

–Obrigado, fofa.

A aula do doktor Stein... não conseguia decidir se era chata ou legal. Ele falava muito de dissecações, mas também dizia coisas interessantes, e comecei a achar que talvez fosse legal estudar na Shibusen. A turma era bem educada: se alguns alunos começavam a fazer muita bagunça, o doktor ameaçava dissecá-los, e acho que levavam a sério, porque logo faziam silêncio.

Comecei a fazer anotações do que o doktor falava, mas acabei me distraindo com uma aluna sentada num degrau mais embaixo. Não era ela que me gritou no corredor? Como chegou ali sem que eu reparasse??

Do lado dela estava uma garota muito parecida, só que com os cabelos loiros mais longos, provavelmente uma irmã ou prima. E também havia um garoto de cabelo preto, só que com três listras brancas de um lado da cabeça. Me perguntei porque será que o cabelo dele era assim... era estranho, mas também era meio fofo.

Aí ele virou para trás e eu quase tive um infarto. Os olhos dele eram amarelos! Não, não exatamente amarelos, tinham um tom mais profundo... Âmbar. Era isso. Âmbar e penetrante.

Olhei de volta para frente, constrangida com o modo que o estava encarando, bem a tempo de ver o doktor conversando com um zumbi azul na porta.

–Maka Albarn e Tsubaki Nakatsukasa, o diretor está chamando vocês na sala dele. Podem ir.

Nos entreolhamos e levantamos. Não era possível que logo no primeiro dia de aula já estivéssemos com problemas... Bom, tirando o atraso, mas aquilo não seria motivo para o Shinigami-sama nos chamar na sala dele.

Descemos, com todos nos olhando - shit - e quando estávamos do lado de fora o zumbi azul disse:

–Eu sou o professor Sid Barrett, por favor me acompanhem até a sala do diretor. Eu sempre fui o tipo de homem que guiava as pessoas.

Tsubaki e eu trocamos olhares de "que merda é essa?", mas fizemos o que ele pediu.

–Sid... o que o Shinigami-sama quer com a gente? - perguntei.

–Não é nada demais, não se preucupem. Você conhece o Shinigami-sama? - perguntou.

–Digamos que sim. - rí.

Ele nos acompanhou até a porta da sala do diretor e foi fazer outra coisa. Tsubaki bateu na porta e entramos.

Não era a sala do diretor que víamos assim que entrávamos ali, e sim um corredor longo, feito de guilhotinas, com algo que parecia o céu em volta. Seguimos até entrar na sala - um lugar amplo, com a parte do meio mais alta, onde estava um espelhofone com o diretor já nos esperando.

–Olá, Shinigami-sama! - dissemos.

–Hellou, gurias. Tudo beleza? Estão gostando da escola?

–Sim.

–Ótimo... mas não tenho boas notícias para vocês.

Engoli em seco, preucupada, e reparei que Tsubaki fez o mesmo, ao meu lado. Copiona.

–Calma, povo, não é nada tãããão grave assim... Vejam bem, uma das nossas duplas, quando a fizemos, parecia ter muito potencial, mas agora não estão conseguindo sincronizar as ondas de alma. E vocês sabem que sem isso é impossível usar uma arma, não é? - concordamos, e ele continuou: - E é aí que as duas entram. Olhem, eu sei que vocês formariam uma nova dupla, mas achamos que juntando vocês com a outra dupla, as coisas dariam mais certo.

–Peraí... Vão nos separar? - perguntei.

–Infelizmente, sim, Maka... e Aí estão seus novos parceiros!

Nos viramos bem a tempo de ver dois alunos chegando na sala.

O primeiro tinha cabelo azul, arrumado num moicano meio engraçado, e uma estrela tatuada no ombro direito. E era meio baixinho. Mais ou menos do meu tamanho, acho. O outro era loiro, com cabelos praticamente brancos, tinha olhos vermelhos e um jeito meio sarcástico. Sim, eu sei disso.

Lembra quando disse que tinha que apresentar duas pessoas importantes? A segunda é ele.

Soul Eater Evans, meu amor de infância.