Start? escrita por Sascha Nevermind


Capítulo 19
#17 - Conversas e Decisões


Notas iniciais do capítulo

OMFG OUTRA RECOMENDAÇÃO!!!!! S2
Historinha da recomendação de hoje: Eu vi pelo celular quando estava no trabalho e fiquei sorrindo que nem uma boba. Agora, supostamente eu tenho um namorado secreto. -.-'
Anyway, OBRIGADA YUI CHAN!!!! Só o amor com a sua recomendação!

E obrigada também a:
#Guelbs
#Breaker
#Beatriz Carvalho
#fernopolo
#Anne Frank
#MistyAlbarnEater (Becca-chan)
#Sassu
#Yui Chan
#Kashir
#Vlad Ember

Thanks, suas lindas S2 *---*
Aaagora, vamos ao capítulo... Eu realmente tive dificuldades com o título dessa joça, então é possível que não condiza com o capítulo, mas vai ter pizza, então é impossível que esteja ruim xD

E, hum, nos vemos lá embaixo o/



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Quando chegamos nas quadras de vôlei, não sei dizer quem ficou mais surpreso: Liz e Soul ou Tsubaki e Blair. Os dois não sabiam que nós estávamos lá – não toquei no assunto no carro, acabei distraída com a conversa boba de Kiddo e Patty, que ao contrário da irmã, estava me tratando normalmente. Bem, normalmente para os padrões dela. Já minhas amigas pareciam estar tendo um curto circuito – não sabiam se faziam cara feia pra Liz e Soul ou babavam em mim e Kid, que envolveu meus ombros com o braço assim que saí do carro.

Black não pareceu surpreso, ele só cumprimentou Soul normalmente e o chamou para treinar com ele. Por um momento pensei se Black sabia que eles viriam aqui hoje e insistiu pra vir de propósito, mas refutei a idéia. Ele não teria motivo pra fazer isso – e nem paciência de não falar nada.

Liz colocou a canga longe o suficiente de nós para não parecer estar no mesmo grupo, mas perto o suficiente pra não parecer estar nos ignorando, mas isso não quer dizer que falou com a gente. Ela só acenou com a cabeça e deu um sorriso microscópico, o que, na verdade, foi bem melhor que a reação da Blair: olhar com cara de abóbora assassina. Enquanto Liz ia e vinha buscando as coisas no carro com a ajuda da Patty, Soul foi lutar com Black, e Kid sumiu, dizendo que ia vestir a sunga que Liz tinha trago pra ele.

– Ela disse que quando eu visse o mar ia mudar de idéia quanto a não ficar. – me explicou, encolhendo os ombros. – E, bem, você estava na beira da água, né.

Ri e corei de leve quando ele beijou minha testa antes de ir. Depois que Kid saiu, tirei o short e fui sentar no meu lugar ao lado da Tsubaki.

Blair veio pra perto na hora, sentando na espreguiçadeira do meu outro lado, e se inclinou pra cima de mim.

– Tenho uma coisa e dizer sobre você e Kid-kun, Maka-chan. – anunciou. – Fofoooooos!

Sorrí, concordando, e Tsubaki comentou:

– Acho que nem precisa mais me contar como foi ontem á noite, é só ver como vocês se olham... E aliás, onde o encontrou?

– Ele que me encontrou, quando eu estava andando lá do outro lado da praia. – expliquei. – Aí me avisou que o pessoal estava com ele e queriam vir pra cá, e me deu uma carona.

Rí, lembrando da “carona”, mas não toquei na nossa conversinha sobre fazer ciúmes. Ainda não acreditava que falei mesmo aquelas coisas pra ele, e me sentia um pouco insegura com aquilo, mas nem tanto. Eu confiava no Kiddo, e confiava que ele gostava de mim. Talvez fosse meio idiota confiar num garoto desse jeito – vide Soul – mas era mais forte do que eu. Não conseguia imaginar o Kid sendo nada além de incrível comigo.

– Maka, você está sorrindo que nem uma boba. – Tsubaki avisou, rindo.

Fechei a cara instintivamente, mas acabei deixando um sorrisinho sair.

– Tá, Maka-chan, confessa logo, você gosta do Kid-kun, né? – Blair perguntou.

Dei de ombros. Pra que negar a essa altura? Além disso, estávamos longe o suficiente dos garotos e das irmãs pra ninguém mais ouvir.

– Cara, eu... sim, eu gosto. Eu adoro aquele garoto. – suspirei, sorrindo. – Ele é incrível, é romântico, é fofo, me faz rir, não sei, mas...

– Você está caidinha! – Blair anunciou, rindo.

– Boba! – reclamei, rindo, mas ela tinha razão. Eu estava caidinha.

– Isso significa que esqueceu o Soul? – Tsubaki perguntou, hesitante.

Olhei em direção a ele, que treinava com Black alguns metros á frente. Soul estava bonito, com o cabelo platinado bagunçado, com uma camiseta vermelha que realçava seus olhos, arfando levemente enquanto encarava o amigo. Soul é bonito, ponto, e não importa o que sinto por ele, isso não vai mudar. Mas algo havia mudado. Não no modo como nos tratávamos – isso estava claro a tempos – mas no modo que eu me sentia com ele. Não era mais o Soul que eu me apaixonei. Ainda assim...

– Tsubaki, acho que ninguém esquece completamente o primeiro amor. – confessei, baixinho, olhando-o desviar de alguns socos. – Mas algo esfriou dentro de mim.

– Então é só questão de um pouquinho de tempo. – disse, satisfeita.

– Acho que sim. – corcordei. – Mas até lá, não pretendo tomar nenhuma decisão precipitada com o Kiddo. Não quero atrapalhar o que temos.

Tsubaki e Blair se entreolharam, mas não dei importância, apenas me recostei na espreguiçadeira e fiquei de olhos fechados.

Pouco depois, Kid voltou, andando silenciosamente até chegar onde estávamos e parar, constrangido.

A sunga que Liz havia trago para ele era justa e branca.

Encarei-o, minha boca ligeiramente aberta, sem saber direito o que fazer ou falar. Ele era... tinha um corpo lindo!

Não era muito musculoso, a ponto de parecer bombado ou algo do tipo, mas tinha músculos definidos e rígidos, que não o deixavam parecer magro. Os braços tinham o tamanho certo, os ombros eram largos, o peitoral e o tanquinho eram definidos o suficiente para parecer que malhava, mas não compulsivamente, e – graças a Kamisama! – suas pernas não eram esqueléticas. Corri meu olhar por todo seu corpo, corando de leve ao perceber como aquelas roupas sociais o escondiam, e sentindo vontade de agarrá-lo ali mesmo. Por fim, respirei fundo e encarei seus olhos, tentando evitar olhar pra certo lugar onde não devia. Ou talvez devesse, mas não em público. Foi então que reparei que ele também estava me encarando, os olhos passeando lentamente pelo meu corpo, e parecendo gostar. Ele ergueu os olhos ao notar que eu percebi, corando.

Kid sorriu de leve, passando a mão pelos cabelos.

– Isso é constrangedor. – disse.

– Muito. – concordei, rindo pra aliviar a tensão.

– Só uma pergunta, Kid-kun... – Blair disse. – Não foi você que escolheu essa sunga, foi?

– Não, Liz que trouxe. Vou ser obrigado a dar uns tapas nessa garota. – admitiu, sentando no chão á nossa frente, e jogando suas roupas no seu colo, de modo a esconder a sunga.

Bem, pra isso deu certo. Mas agora, parecia que estava pelado.

Respirei fundo e olhei para o mar, tentando controlar a vontade que senti de sentar no colo dele e abraçá-lo, e de repente me dei conta de uma coisa. Sentei-me, rapidamente, e encarei Kid, irritada.

– Peraí... Liz escolheu essa sunga? Como assim? – questionei, colocando as mãos na cintura. – Agora ela fica entrando no seu quarto e mexendo na sua roupa íntima assim?

Kid me encarou, assustado, então começou a rir.

– Princesa, você...

– Princesa o caralho! – interrompi, irritada. Qual era a daquela garota de querer ficar escolhendo a roupa íntima do Kid? Qual seria a próxima dela? – Você não tem vergonha não?

Kid riu mais ainda, e até Blair e Tsubaki começaram também.

– Acho que alguém está com ciúmes. – Blair riu.

Cruzei os braços, sem graça, e fiz bico, olhando pro lado.

– Fala sério.

Kid ignorou ela e colocou a mão no meu joelho, tentando se controlar.

– Olha só, eu não deixei ela pegar. – explicou, sorrindo carinhosamente. – Eu nem sabia que Liz tinha pego. Só descobri no carro, porque ela disse que deixou uma sunga no porta luvas pra mim, caso eu decidisse ficar. E não é como se você precisasse sentir ciúmes da Liz comigo, ele é como uma irmã pra mim.

Acabei aceitando, a contragosto. E me dei conta de que, se eu acabasse ficando com o Kid, teria de conviver muito com a Liz, afinal ela e ele moravam na mesma casa. Droga.

Kid colocou a bermuda de novo – disse que estava se sentindo estranho só de sunga – e ficamos ali um tempo, conversando sobre besteiras. Ele acabou sentado na beira da minha espreguiçadeira, e eu deitei de cabeça pra baixo, com os pés pendurados no encosto, minha cabeça ficando do lado da coxa dele. Tsubaki e Blair disfarçavam, mas eu podia vê-las nos avaliando, e parecia que a qualquer segundo uma delas ia vomitar um arco-íris.

Liz continuou deitada tomando sol, que finalmente apareceu, e vez ou outra olhava para nós ou para onde Soul lutava com Black. Aliás, Soul estava perdendo, mas aquilo não era nada demais: era de Black*Star que estávamos falando, e sendo sincera, o cara era ótimo. Patty estava pra lá e pra cá, fazendo um castelo de areia, até que destruiu ele e veio para perto de nós, se jogando na areia perto de Kiddo.

– Ah, isso está chato, gente! Vamos brincar de alguma coisa! – pediu, emburrada.

– Desculpa, Patty, eu tô com preguiça. – Tsubaki confessou, encolhendo os ombros.

– Não sou muito de brincar. – Blair disse.

Me virei, olhando pra Patty.

– Brincar de quê?

Ela sorriu, satisfeita, e sugeriu:

– Tem um kit de frescobol nas minhas coisas... vamos jogar?

– Vamos! – concordei, animada, me levantando.

Quando pisei no chão, Kid deitou onde eu estava, cruzando as mãos atrás da cabeça.

– Vou guardar pra você. – se explicou.

– Quero ver quando eu voltar. – disse.

Lancei um olhar de advertência ás minhas amigas, pra elas tomarem cuidado com o que iam falar na frente do Kid, e me afastei um pouco deles. Prendi o cabelo mais ou menos num rabo de cavalo enquanto Patty voltava correndo e assim que peguei minha raquete, começamos.

Patty jogava de um jeito engraçado, rápido. Era difícil acompanhar o ritmo, mas em compensação, ela não se esticava pra pegar a bola, e eu ia onde ela estivesse. Logo notei um padrão: eu ganhava as partidas que começava e perdia as que ela começava. Em algum momento, meu cabelo soltou e começou a bater no meu rosto e atrapalhar um pouco, mas ainda assim continuei indo bem. Só paramos quase uma hora depois, quando estava suada e com o braço doendo.

– Ok, chega, Patty. – arfei. – Você venceu.

– Fraquinha. – cantarolou, pegando a raquete da minha mão e rindo.

– Deixa eu recarregar a bateria que você vai ver. – ameacei.

Sentei na areia ali mesmo, aliviada, e notei que Black e Soul finalmente tinham parado de brigar. Agora Black tomava água, sentado na beira da espreguiçadeira da Tsubaki, e Soul estava sentado ao lado de Liz, passando bronzeador nas costas dela e rindo de algo que falou.

Desviei o olhar e fiquei encarando o mar. Ainda doía um pouco. Mas talvez fosse só eu me sentindo injustiçada, ou nostálgica. Ou talvez a raiva doesse. Eu só não queria me importar com eles.

Apoiei o queixo na mão, pensando que os dois talvez realmente fizessem um bom casal, até porque se mereciam, quando fui surpreendida por Tsubaki, que brotou do nada e sentou de pernas cruzadas do meu lado. Olhei pra ela, surpresa, e depois olhei para trás. Kid estava sentado no meu lugar, conversando com Black, que havia sentado no lugar da Tsubaki. Quando notou que eu o encarava, sorriu, e eu sorrí de volta, me virando pra minha amiga.

– Acho que tem algo errado nesse script. – brinquei. – Eu jurava que Kid que ia aparecer aqui.

Tsubaki concordou com a cabeça, e explicou:

– Ele parecia querer vir... mas ficou sem graça. Ele estava te olhando com cara de bobo desde que veio jogar com a Patty. – Tsubaki deu um sorriso fofo, e completou: - Ele realmente gosta de você.

Olhei para a areia á minha frente, desenhando uma carinha feliz com o dedo.

– Gosta. E eu também gosto dele. – disse, com um sorriso mole.

Tsubaki suspirou, e voltei meu olhar para ela.

– Você gosta dele, mas fica olhando com cara de “estou sofrendo” pra Soul e Liz.

Encarei-a, surpresa, minha boca se abrindo num O silencioso.

– Me desculpa, Maka, mas como sua amiga eu tenho que te falar isso. – explicou, sem graça. – O Kid está sendo um fofo com você. Está tendo uma paciência incrível, considerando que sabe que você gosta do Soul e mora com ele. O cara se derramou em elogios quando eu e Blair fomos sondar. E você fica aqui, olhando com essa cara de tacho pra seu parceiro.

Encarei Tsubaki, mais surpresa do que ofendida. Eu ouvi direito? Ela estava me dando um sermão?

– Tsu-chan, eu...

– Não, Maka, presta atenção. – Tsubaki me interrompeu. – Eu sei que você gosta do Kid também. De verdade. Dá pra ver no modo que você olha pra ele, como age com ele, e parece que eu vejo faíscas quando vocês se tocam. Sei também que você queria se resolver com o Soul antes de tomar uma decisão. Mas Maka, o Kid não vai esperar pra sempre. Só tome cuidado pra não perder ele, ok?

Concordei com a cabeça, ainda em choque, digerindo o que a Tsubaki falou. Será que eu perderia o Kid por ainda estar meio confusa?

Lembrei que ele havia me perguntado se eu queria que ficasse aqui só pra fazer ciúmes no Soul. Talvez Kid estivesse inseguro, mesmo. E eu... bem, eu realmente não estava ajudando muito. Agia estranho perto do Soul, o encarava ás vezes... Imaginei como seria se fosse a situação inversa, se eu estivesse apaixonada pelo Kiddo e ele por mim, mas também por outra garota, e ficasse estranho quando ela estivesse presente.

Quase tive um ataque só de imaginar.

– Tá, Tsubaki, eu vou tentar me controlar. – suspirei. – É só que... é difícil. Você sabe que é. Se eu pelo menos pudesse ficar longe do Soul, mas moro com ele, o vejo todo dia na escola... É complicado.

– Eu sei. – ela sorriu, pousando a mão no meu joelho. – Por isso que estou te avisando logo. Eu sei que você consegue. Só... não deixe o Kid escapar, ok? Ele é incrível.

Olhei em direção a ele, sorrindo docemente.

– Ele é.

Tsubaki sorriu, então levantou e me estendeu a mão.

– Vem, está na hora de almoçar.

***

Fomos comer pizza num restaurante que ficava do outro lado da praia, perto de onde Kiddo me encontrou, mas uns dois quarteirões pra dentro da cidade. Era pequeno e aconchegante, ao estilo italiano, todo decorado em tons de vermelho, verde e marrom-madeira. Sentamos numa mesa na calçada e pedimos pizzas – umas cinco tamanho família, de frango, quatro queijos, calabresa, portuguesa e muzzarela, porque Black*Star e Patty estavam presentes e com eles, toda comida é pouca.

Sentei entre Kiddo e Tsubaki. Eu estava alerta agora, com um medo meio insano e bobinho apertando meu peito. E se perdesse o Kid? E se nós acabássemos como eu e Soul, mal nos falando? Eu simplesmente não suportaria. Com Soul foi um pesadelo, mas eu ainda podia me consolar que foi tudo culpa dele. Se eu perdesse Kid – se perdesse esse garoto perfeito – seria unicamente por causa da minha maldita confusão.

Mas é que, no fundo, eu ainda tinha medo de fazer as pazes com Soul e acabar deixando Kid de lado. Isso seria ainda pior. Tinha que superar, e rápido.

Kid notou como estava meio nervosa, e quando apoiou o queixo na mão e perguntou “O que houve, princesa?” na frente de todo mundo, não sabia se ria ou se corava. Acabei fazendo os dois, e disse que estava tudo bem. Black zoou ele um pouco, por me chamar de princesa, e Liz olhou meio satisfeita, mas Kid se limitou a sorrir e piscar pra mim. Eu corei mais ainda. Não estava acostumada a ter alguém sendo fofo assim comigo em público – meus momentos legais com Soul costumavam acontecer quando estávamos sozinho – ainda assim, era legal. Constrangedor, sim, mas legal. Cada palavra de Kid só me fazia perceber mais o quanto se importava.

Notei que Soul nos olhava, disfarçadamente, mas não cheguei a cogitar que estivesse com ciúmes. Ele estava num clima com Liz que dava até nojo, os dois estavam sentados lado a lado, com ela apoiando a cabeça em seu ombro, de um jeito que, se eu visse aquilo a umas duas semanas atrás, teria um treco. Hoje, nem tanto.

Quando acabou, decidi ir comprar um sorvete, e fui sozinha. Kiddo, Blair, e Tsubaki se ofereceram pra ir comigo, mas declinei. Eu só queria pensar um pouquinho, sozinha, e sorvete me ajudava. Enquanto o pessoal voltava, fui na direção oposta, pra um lugar que eu tinha avistado uma sorveteria, a pouco mais de um quarteirão do restaurante.

Comprei uma casquinha mista, meio no mundo da lua, pensando em Soul. Ou melhor, me convencendo que eu não deveria mais pensar nele. Pensando racionalmente, ele não era a melhor opção, traria problemas demais morarmos juntos, sermos parceiros e ainda nos envolvermos. Eu estava com raiva dele, e mesmo que fizéssemos as pazes, não sei se nós dois, como casal, teríamos chances. Liz sempre estaria entre nós, e mesmo que ela sumisse da face da Terra, tinha o Kid. Meu Kiddo, aquele garoto fofo, legal e divertido, que eu não iria abrir mão nem pelo Soul.

Foi isso que começou a me mudar. Eu podia ficar de bem com o Soul de novo. Eu podia ter minha relação com ele igual ao que era antes. Mas eu não teria coragem de me afastar do Kid.

De repente, notei uma movimentação estranha com o canto do olho. Virei um pouco a cabeça, mas não havia nada lá, então continuei andando e tomando meu sorvete. No entanto, eu tinha uma sensação estranha. Como se estivesse sendo observada. Eu estava sendo seguida?

Sem me virar, dessa vez, ativei meu “sensor de almas”, tentando sentir alguma diferença ao meu redor. Então senti, forte como se estivéssemos ressoando, uma alma forte, porém presa, e parcialmente tomada pela loucura.

Aquilo era...?

Me virei, rápido, e comecei a correr na direção que eu a senti, sem nem me importar com meu sorvete que caiu no chão. Aquela alma. Eu tinha que saber. Ela comecou a se afastar, e corrí mais rápido, tentando seguir o rastro, mas não conseguia. Eu esbarrava nas pessoas, tropecei uma vez, e o dono daquela alma se movia rápido, com firmeza, se afastando mais. Por fim, parou.

É a minha chance, pensei. Apertei o passo de novo, minha animação voltando, mas quando me aproximei o suficiente, tudo que pude ver foi um reflexo rosa entrando num carro azul. Então, a alma se afastou, e eu sabia que por mais que quizesse, não devia seguí-la.

***

Pensei em ligar para o meu pai.

Na verdade, cheguei a pegar o celular e digitar o número dele. Eu conhecia o dono daquela alma. Sabia que tinha que contar a alguém sobre aquilo, mas não queria que ninguém soubesse. As pessoas têm o péssimo hábito de julgar alguém sem conhecer sua história, e por mais que essa frase soasse clichê, era verdade. Duvidava que alguém mais entenderia.

Por fim, guardei o celular no bolso. Minha decisão já havia sido tomada a muito tempo, e não iria voltar atrás.

A praia estava mais cheia agora que o sol havia aparecido definitivamente, e as pessoas andavam de um lado para o outro. Ainda assim, me sentia sozinha, como se não pudesse confiar em ninguém. Aquele era a linha de raciocínio errada, lembrei a mim mesma. Eu tenho meus amigos. Tenho pessoas que se importam. E sou forte.

Parei num quiosque, ignorando a música ruim que tocava, e comprei uma latinha de refrigerante. Beber aquilo me acalmou – não era sorvete, mas era doce e gelado. Funcionava bem, também, e aos poucos a adrenalina diminuiu. Comecei a andar mais devagar, apesar de uma ponta de medo que ficava me cutucando. Podia não ser nada. Podia ser só coisa da minha cabeça. Se bem que essa opção seria ainda pior.

Por fim, após algum tempo me convencendo que não devia me preocupar tanto – como se eu não tivesse nada pra me preocupar – finalmente avistei as quadras de vôlei, onde um pessoal que eu não conhecia estava jogando, e os carros. Dei uma olhada na praia, notando que todo mundo estava junto e parecendo até dormir. Menos Black*Star, claro, que estava nadando loucamente como uma sereia. E de Liz e Soul, sentados juntos perto das quadras, ele abraçado nela.

Não tem importância.

Mas teve importância quando ela se pendurou nos ombros dele e inclinou a cabeça em sua direção, falando algo que o fez rir. Parei, ainda estava longe o suficiente para que não me notassem, e fiquei olhando. Ele tocou o queixo dela de leve, diminuindo o sorriso, e Liz inclinou mais a cabeça. Soul lhe disse algo, ela concordou, e eles se beijaram. Simples assim.

Não foi como da primeira vez, que eu quase tive um ataque. Eu meio que já esperava por isso, pelo modo que os dois estavam se tratando. Eles vieram juntos pra praia, Soul ficou perto dela quase o tempo todo, e mal falou comigo – a não ser um ou outro comentário durante o almoço. Não é como se estivesse muito chocada com aquilo.

Pra falar a verdade, estava cansada, e finalmente me dei conta daquilo.

Estava cansada de deixar aquele amor que nunca aconteceu guiar as decisões que eu tomava. Estava cansada de imaginar como as coisas poderiam ser. Estava cansada de me preocupar com o modo como o Soul me olhava, como falava comigo, como agia perto de mim, e ficar me comparando com a Liz. Eu não sou a Liz, e nem quero ser. E também não quero um cara que torne as coisas mais complicadas. Chega.

Pulei da calçada para a areia ali mesmo, plantei um sorriso no rosto e fui em direção aos meus amigos, me sentindo como se um peso houvesse sido tirado das minhas costas. Soul não seria mais um problema.


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Notas finais do capítulo

AOOOOO, Maka tomou vergonha na cara xD
*cof cof* Enfim... estou pensando em colocar a música "tema" de cada capítulo, o que acham? (Porque se eu for colocar a playlist de cada capítulo a coisa vai virar uma balada)

Então, sem mais spoilers aqui xD
Até semana que vem o/