Valerie's POV

Enquanto Hannah encarava seus problemas, eu encarava os meus. Só que, os dela foram emocionais, os meus foram físicos.

Cheguei no quarto, que eu estava achando incrível com as novas mudanças. Havia deixado a porta entreaberta e quando me virei, achei que tinha visto um vulto entrando no quarto. Deve ser impressão minha. Fechei a porta e me virei novamente.

Tive que botar a mão na boca para abafar um grito.

Um homem, de cabelos pretos bagunçados, um tapa-olho, cheio de cicatrizes, pele morena, hematomas e com um rosto malicioso e perverso estava parado na minha frente, segurando uma adaga apontada para mim. Apontada para o meu coração.

– Tão bonita, é uma pena ter esse maldito sobrenome – falou. Somente pisquei e ele avançou. Fez um corte na minha barriga, rasgando meu vestido lindo. Desculpe, amigo. Ninguém toca no meu vestido, e você se ferrou.

Segurei a mão dele com a adaga e apliquei um golpe paralisante. Ele gemeu de dor, mas foi rápido e tirou uma outra adaga de não sei aonde e a usou para fazer um corte na minha perna. Tentei criar aquela espada, consegui e avancei.

Só que, para meu azar, quando fui dar um golpe que com certeza arrancaria a cabeça desse infeliz, ele se transformou em sombras e eu comecei a atirar esferas d'água nele. Pelo menos isso dava certo para machucá-lo.

Vou poupar o gentil leitor da confusão que aconteceu no quarto por longos minutos. Só digo que ele me deixou em um péssimo estado e eu o deixei inconsciente em sua forma normal.

Teve um momento em que ele me distraiu, fazendo-me tropeçar naquele tapete do quarto. Eu caí e ele ficou em cima de mim, aproveitei para furá-lo com sua própria adaga.

Foi muita confusão e eu estava acabada. Saí correndo do quarto, trancando as janelas e a porta. Eu estava toda machucada e poderia desabar a qualquer momento.

Depois disso, segui para o restaurante em busca de gelo. Acabei vendo Hannah e sua luta com Brandon. Não pude deixar de sorri. Ela era tímida e falava muito pouco, mas com certeza era uma das pessoas mais corajosas que eu já conheci.

Quando ela encontrou meu olhar, ficou mais relaxada. Sorri reconfortante, e só me lembro de sentir uma dor enorme no meu ombro e escutar vários gritos aterrorizados.

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Acordei amaldiçoando fortemente o desgraçado do tapa-olho. Meu ombro estava muito dolorido e percebi que estava enfaixado.

– Eu juro por tudo que é mais sagrado, no dia que eu te encontrar você vai morrer, seja afogado ou não – resmunguei abrindo meus olhos.

Eu estava em um hospital (?). Aqueles fiozinhos transparentes estavam no meu nariz e tinha alguns desses fios ligados no meu braço. Usava aquelas roupas horríveis de hospitais.

– Valerie! Você acordou! – Hannah exclamou se levantando de uma poltrona que havia no quarto. Peter, Lunna e Andrew também estavam ali. Isso é perseguição, nem internada tenho paz?

– Meu Deus, que bom que você está viva! Achei que... – Lunna começou, respirando fundo. Ela tinha lágrimas nos olhos, enquanto eu apenas os encarava como se não entendesse nada. – Você morreu e reviveu várias vezes Val. Eu sentia toda vez... E toda vida que eu tentava me comunicar com seu estado em coma, você rejeitava!

– Bom pra mim – resmunguei. Tirei os fios que estavam presos em mim e usei meus poderes para mudar de roupa. Olhei-me no espelho e percebi que não tinha um único corte na minha pele.

– O que você pensa que está fazendo? – Um médico entrou na sala e me encarou espantado. – Sua situação é mais do que grave, Srta. Johnson! Aquelas lâminas estavam envenenadas e o veneno ainda pode estar correndo pelas suas veias! Está apagada a mais de uma semana, não pode sair assim!

Coloquei todos os remédios que haviam em cima de uma mesa ao meu lado dentro de uma bolsa cinza e a coloquei no meu ombro.

– Sabe como é, doutor. Odeio hospitais. Os médicos sempre falaram que eu era louca, e no momento, só quero encontrar o infeliz desgraçado que fez isso comigo e cometer um assassinato. E se não quiser ser a primeira vítima, saia da minha frente – fui fria e ríspida. Meus amigos arregalaram os olhos.

O médico saiu de frente da porta e eu saí rapidamente pela mesma. Percebi que ele começou a ter uma séria conversa com meus amigos traidores.

– Sinto muito pelo seu ombro – disse o dark aparecendo do nada. Não me surpreendi. – Você sabe que eu conheço ele, não sabe?

Parei e enviei um sorriso sínico na direção de Andrew, que engoliu em seco.

– Ah, sim. E como eu sei. Também sei que você ficará feliz em me apresentar seu amiguinho. Só não garanto que ele vá sair com vida – falei.

– Foi o que sua mãe falou para um amigo do meu pai, anos atrás. Antes de eles se conhecerem – sussurrou.

– Então você sabe da história?

– Eu não sabia. A diretora me contou logo depois de te trazermos ao hospital da cidade.

Assenti. Andrew estava tenso. Acho que até com certo medo. Não o culpo. Ele deve achar que eu fiquei louca.

– Você mudou tanto – sussurrou. – Você era indefesa, calma, quieta... Agora está mais explosiva, segura de si e mais teimosa do que nunca. Só tenho uma pergunta. Quem foi que mudou? A Valerie mesmo ou aquela água?

Refleti. Ele estava certo, afinal, eu mudei muito mesmo. Antes ele me dava medo, agora eu que o faço ficar com medo. E... Eu gritei com Annabelle... Ela sempre me ajudou, sempre me aconselhou. E eu retribuí gritando com ela.

– Foi ela – falei.

– Ela quem? – Se aproximou. Normalmente eu recuaria, mas permaneci onde estava. – A voz na sua cabeça? Quem é ela?

– Não sei. Só sei que foi ela que me mudou. No caso, eu nunca atacaria ninguém, mesmo se esse alguém quisesse me matar. É ela. Ela quer vingança. De tudo. De todos. Mas... Por mais estranho e confuso que seja, de você não.