For Amelie - 2a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 19
XVIII – Cultivando a nova família


Notas iniciais do capítulo

Beta reader: Keli-chan
Música: The Boy With The Thorn In His Side (The Smiths)
Link: http://www.youtube.com/watch?v=DYp2LGKOF_M



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Acariciei seu curativo levemente.

De uma coisa ele tinha razão: eu não podia terminar com ele por ter se machucado.

Uma pessoa tão impulsiva e estabanada como ele? Não daria certo...

Tínhamos mesmo que entrar em um acordo.

_ Só me promete se comportar, tá? - “Não quero ter de conversar com a sua mãe novamente...”.

_ Prometer eu até prometo. Acontece que não sei o que você entende por “se comportar”...

_ Ok, mantenha sua integridade física. E emocional. Melhorou?

_ Ah, claro. Não deve ser muito difícil. Mas você tem que levar em consideração aquilo que está fora do meu alcance. Você não vai terminar comigo se eu for atropelado, não é?

_ Vai depender das circunstâncias.

_ Você não acabou de dizer que eu havia acabado com a sua racionalidade?

_ Sim. Esta sou eu sendo irracional.

Ele deu risada e me beijou.

_ Vamos subir antes que alguém nos acuse de atentado ao pudor? - pedi quando o ar começou a me faltar.

_ E se matarmos essa aula? - e prosseguiu antes de me deixar falar ao constatar minha expressão – Só uma vezinha... Quantas vezes você já faltou? Nenhuma? Uma?

_ Se fizermos uma vez, então faremos de novo e de novo... Esse é o nosso semestre mais importante.

_ É só aula de biologia, Mel...

Isso era verdade. Aula de biologia, em grupo, com a Bia.

_ Mesmo que fosse SIC. Vamos logo. - “Antes que eu desista.”.

Puxei-o pelo pulso enquanto subia a passarela.

Alguém tinha que ser o cérebro da relação, e o Aquiles nunca tivera muita vocação para tanto.

Ter de aturar a Bia realmente não era uma grande motivação para assistir a aula, mas ver sua cara de descontentamento ao constatar que estava tudo bem, e até melhor, entre nós dois foi realmente muito satisfatório.

Não falamos mais sobre a família dele nos dias seguintes. Fizemos um acordo não dito de primeiro reafirmarmos nosso relacionamento para então começarmos a pensar nisso novamente.

E para completar, tínhamos cada vez menos tempo para os vestibulares.

Por sorte essa preocupação acabou ocupando grande parte dos pensamentos de todos os formandos. Até mesmo a Bia andava às voltas com algumas anotações, sem muito tempo para me pentelhar.

O Aquiles entrou em uma dieta nesse período, trocando hamburgões por uma tabela com fórmulas de física.

_ Fórmula do sorvete, Aquiles. - tentei ajudá-lo.

_ Sim, movimento uniforme. S = s0 + vt.

_ E o variado?

_ É o sorvetão, oras.

_ Tá, mas você não vai escrever isso!

_ S = s0 + v0t + (at²)/2

_ Olha só! Certinho. Consegue lembrar a do Torricelli? 

_ Ah, Mel...

_ Ela não tem tempo.

Queria muito que ele lembrasse. Era uma equação importante.

_ Em função da velocidade... - ajudei mais uma vez.

_ V²...

_ Que mais?

Ele tentou se lembrar. Seu semblante ficou pensativo por alguns segundos até ele dizer:

_ Oxidação é a perda de elétrons. E oxirredução o contrário.

_ Aquiles, estamos revisando física... E isso é química. - informei com medo que ele estivesse ficando louco.

_ Não, eu sei. Mas é só o que me vem à cabeça agora.

_ Tá certo. Acho que por hoje chega. Antes que você comece a recitar versos neoclássicos também.

_ Acho que foi porque a química nos aproximou. Então podemos dizer que entre nós rolou muita química. Muita química mesmo. E um pouco de matemática, biologia. E inglês! Lembra...

Eu não conseguia parar de rir.

_ Não se esqueça de educação física. Foi a mola propulsora. - acrescentei.

_ Mas você sabe que não fui eu, né?

_ Sei. Mas a culpa foi sua, portanto... - massageei meu septo. – Sabe que eu ainda posso sentir?

_ Depois de sete meses?

_ Meu organismo é sensível.

_ Você tá me saindo uma perfeita palhaça!

_ Você sempre foi um.

_ Ahh! Vem cá!

Ele me abraçou e tentou me fazer cócegas. Consegui me livrar das gracinhas antes que começasse a fazer escândalo.

_ Hoje eu vou ter um simulado lá no cursinho. Não quer ir fazer também? - convidei.

_ Eu adoraria fazer uma prova com você – disse bem humorado. -, mas o nível do seu simulado é bem diferente do meu.

Ele tinha razão.

_ E também, logo aparecerão centenas de simulados. Prefiro me preparar mais.

_ Tem razão.

_ Ah, o que eu faria sem você?

_ Não muito, acredito eu. - Em seguida ri da minha resposta totalmente desprovida de modéstia.

Ficamos mais algum tempo apenas abraçados, dando um tempo dos estudos, até voltarmos para a aula.

Chegando em casa depois da aula, dei uma conferida nas minhas anotações enquanto almoçava. Queria ter um bom resultado no simulado que estava marcado para aquela tarde.

Li uma apostila sobre geografia econômica no ônibus para o cursinho enquanto ouvia música. Não, ela não me atrapalhava em nada.

Ao chegar na escola, fui direto para o auditório e acomodei-me perto da porta. Pretendia terminar logo.

_ Ah, droga... - praguejei baixinho me dando conta que acabara não trazendo todo meu material.

Como teria apenas uma prova, decidi não levar a mochila, mas só uma pequena bolsa com documentos e celular. E esqueci o mais importante... Canetas, lápis, borracha...

Enrolei a apostila e batuquei os dedos sobre o apoio para braço. Teria de pedir emprestado para alguém...

Instantaneamente, a imagem do Caio me veio à cabeça, mas sacudi-a de um lado a outro, tentando me livrar da ideia. Não queria dever favores para ninguém. Principalmente para alguém como ele.

 

The boy with the thorn in his side

O garoto eternamente atormentado

Behind the hatred there lies

Por trás do ódio jaz

A murderous desire for love

Um desejo homicida por amor

 

_ Hum. Oi. - ouvi.

_ Oi. - respondi no mesmo tom contrariado.

O Caio passou por mim e se sentou duas cadeiras abaixo.

Pensando melhor, ele nem precisava estar fazendo o simulado...

_ Oi de novo... - comecei parando na fileira dele.

Ele só me encarou inexpressivamente.

_ E então... Vai fazer o simulado também? - perguntei.

_ Não, só vim te ver, mas já que vai ter um simulado...

Contraí as sobrancelhas, expressando meu ódio, mas não disse nada a respeito. Relaxei, e devolvi:

_ Ah, eu tenho namorado Caio. Melhor não se iludir.

_ Eu me conformo.

Então voltou a olhar para frente, me ignorando completamente.

_ Eu não pediria para você, se tivesse opção, pode ter certeza... Mas... - cocei a cabeça e continuei. – Eu estava tão atolada nos livros que acabei esquecendo meu material...

_ Tá, toma.

Ele me estendeu uma lapiseira como se tentasse me fazer calar.

_ Obrigada.

_ Hum-hum. - respondeu impaciente.

_ Você não podia ser um pouco menos desagradável?

Senti-me fuzilada com o olhar quando ele se virou para mim.

_ Poxa, nossos pais estão levando o relacionamento tão a sério... Você já pensou se eles se casam? - Era horrível ter de pensar nisso, mas era uma realidade.

Mas ele continuava em silêncio.

 

How can they look into my eyes

Como eles podem olhar em meus olhos

And still they don't believe me

E continuar sem acreditar em mim?

How can they hear me say those words

Como eles podem me ouvir dizer aquelas palavras

And still they don't believe me

E continuar sem acreditar em mim?

 

_ Quer saber, que seja!

Dei as costas e voltei para o meu lugar. Se ele queria que fosse assim, tudo bem. Só me restava ignorá-lo também enquanto nossos pais se relacionassem.

Consegui esquecer o assunto por completo assim que as provas foras distribuídas.

As primeiras questões não foram tão difíceis, mas foram dando trabalho a medida que eu avançava. Felizmente não tinha redação. Esta estava marcada para outro dia.

Massageei as têmporas quando deixei o auditório. O simulado tinha me deixado com uma dor de cabeça irritante.

_ Você ainda está com a minha lapiseira.

“Ah, não...”

Desisti de lutar, apenas abri minha bolsa e procurei pelo objeto.

_ Obrigada. - agradeci quando estendi a lapiseira para ele.

Continuei andando em direção ao portão de saída.

_ Sua mãe não vem te buscar?

Por que ele queria saber?

_ Não. Ainda está trabalhando. - Virei rapidamente para responder e voltei a andar.

_ Meu pai vem me buscar, se quiser carona...

Estaquei. Agora, por que ele estava sendo gentil?

_ Você tem transtorno do humor bipolar? - Não pude deixar de perguntar encarando-o aturdida.

_ Se não quer, vai de ônibus mesmo. Só achei que como ele vai ser seu padrasto, não teria problema.

_ E a minha mãe a sua madrasta, mas não vou te oferecer carona por causa disso.

Ele deu de ombros e continuou recostado na parede do estacionamento. Ele queria, ou não queria que eu dialogasse com ele?

Inspirei profundamente e soltei o ar vagarosamente pela boca. Nossos pais não podiam se casar...

_ Foi bem? - perguntei, vencida.

_ O suficiente.

_ Isso é bom. Posso perguntar se você vai prestar a federal ou a estadual?

_ As duas. Já prestei como treineiro ano passado.

Isso sim me interessou.

_ Ahn, é mesmo? - Me aproximei um pouco. – E como é a prova?

_ Parecida com o simulado.

_ E como você foi?

Ele ergueu as sobrancelhas, curioso sobre a minha mudança de postura, então pigarreei e me justifiquei:

_ Tudo pelo bem da família.

 

And if they don't believe me now

E se eles não acreditam em mim agora

Will they ever believe me?

Eles vão acreditar algum dia?

And if they don't believe me now

E se eles não acreditam em mim agora

Will they ever will they ever believe me?

Eles vão acreditar, eles vão acreditar algum dia?


Ele deixou escapar algo parecido com uma risada, mas muito breve, e me contou sobre seu desempenho, que fora muito bom para um estudante do primeiro ano.

Perguntei sobre os livros, se ele havia lido, se havia gostado, e surpreendentemente as respostas foram todas positivas.

_ Isso significa que você também não tem uma vida social, não é? - Mas me arrependi depois de perguntar.

_ Também? Você não tem uma vida social?

_ Não tinha. Acho que posso considerar que tenho uma agora... E não é tão ruim assim, você podia tentar. Claro, se deixar de ser tão...

Parei antes de continuar. Agora que as coisas estavam indo bem, eu precisava cuidar para que continuasse assim.

_ Retraído.

_ Que bom que consertou a tempo.

Não deu pra evitar, me vi nele. Sempre tão arisco e mal-humorado. Porém dono de uma capacidade e dedicação invejáveis.

 

And if they don't believe us now

E se eles não acreditarem em nós agora

Will they ever believe us?

Eles vão acreditar algum dia?

And when you want to Live

E quando você quer viver

How do you start?

Como você começa?

Where do you go?

Onde você vai?

 

_ Bom, mas e seu pai... Não desistiu da minha mãe mesmo depois de ter conhecido sua descendência?

_ Por quê? Foi o que aconteceu com a sua mãe?

_ Não... Pelo contrário, ela até queria saber o que achei e tudo... Ela está mesmo entusiasmada.

_ É, meu pai também. - Mas ele não parecia feliz.

_ Ah não, vai dizer que essa sua... Retração toda é porque não quer que seu pai namore minha mãe? - “Que infantil!”.

_ Por mim, ele pode fazer o que bem entender. Mas...

Tive a impressão que ele se arrependeu do “mas”, pois eu fiquei aguardando o resto.

_ Não é nada.

Ele também estava achando que o pai dele o trocaria?

_ Eu também fiquei meio chocada quando percebi a seriedade da “coisa”. Mas relaxei depois de entender que eu vou ser pra sempre a filha dela.

_ Hum-hum. Mas não estou precisando de terapia. Pode poupar seu discurso, pois não é nada disso.

_ Então o que é?

_ É meio egocêntrico achar que meu comportamento depende exclusivamente de você ou de sua mãe.

É verdade. Eu não precisei de ninguém para me tornar uma chata...

Não parecia que tínhamos conversado por tanto tempo, mas já estava quase na hora de saída habitual.

_ Já está tarde. Até logo, Caio.

_ Meu pai já está chegando, por que não espera?

_ Não precisa.

_ Ele vai ficar... Feliz. Você deve saber como é.

Feliz? Por me levar pra casa? Bem, a cabeça dos homens me parecia ser tão primitiva, que não deveria ser mentira.

E seria uma boa oportunidade de estreitarmos aqueles laços tão esdrúxulos...

 

The boy with the thorn in his side

O garoto eternamente atormentado

Behind the hatred there lies

Por trás do ódio jaz

A plundering desire for love

Um desejo de roubar amor

 

_ Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação...  - consenti.

_ Você deve ser bem nerd para fazer piadas de D. Pedro I.

_ E você deve ser bem nerd pra ter entendido tão rápido.

Ele deixou de me dar atenção quando um carro adentrou o estacionamento. Reconheci o Fred atrás do volante, e me lembrei de sentir vergonha.

_ Amélia Cristina! Oi! - ele parecia surpreso com o encontro.

_ Oi... Tudo bem, Fred?

Eu já estava vermelha.

_ Tudo sim. Está esperando a Diângeles?

_ Bem, não... Hoje ela achou que eu fosse sair mais cedo...

_ Ela vai com a gente, pai.

_ Ah, que ótimo!

Ele também parecia não saber mais o que falar. Ficou apenas sorrindo feito bobo olhando de mim para o filho. Eu achei engraçado. Uma pessoa como ele sem graça comigo.

_ Então... Podemos ir? - ele finalmente perguntou.

_ Claro. - concordei.

O Fred fez questão de abrir a porta de trás para mim, e aquele cavalheirismo todo só contribuiu para a graça que eu via nele.

_ E aí? Está gostando do curso, Amélia?

Ele perguntou, me encarando brevemente pelo retrovisor.

_ Sim. É realmente muito bom.

_ Eu indiquei para a sua mãe quando ela me perguntou se eu conhecia algum. Já que o Caio está aí há quase um ano e sempre diz que é muito bom...

_ Ela me disse.

Depois achei ter sido meio fria com a resposta.

_ Obrigada, Fred. - forcei um sorriso.

Dissemos mais algumas bobeiras extremamente superficiais até chegar em casa.

_ Bem, obrigada.

Por sorte o carro dela não estava na garagem, então eles não seriam convidados a entrar.

Despedi-me de longe quando desci do carro, e ele ainda aguardou que eu entrasse para poder ir embora.

Meneei a cabeça ao trancar a porta, achando toda aquela situação muito engraçada.

Ainda tive tempo de tomar um banho antes da minha mãe chegar.

_ Ei! E aí gatona? - cumprimentou ela trancando a porta.

Trazia um pacote numa das mãos.

_ Mãe, isso é um mousse de chocolate? - perguntei apreensiva.

Ela olhou para o pacote em sua mão.

_ Na verdade, é de limão.

“Oh-oh!”. Da última vez que ela trouxe um mousse, foi para dizer que estava namorando...

 

Who do you need to know?

Quem você precisa conhecer?


Continua

 

 

*

N/a: Olá pessoinhas mais lindas!

Awn, vcs não sabem como me deixaram felizes com os últimos reviews. Juro q achei q ninguém voltaria. Mesmo q isso venha a acontecer, já até prometi pra Deh-Cullen-chan q continuarei a postar mesmo q haja somente nós 2 aki, hohoho!

//Masissonãovaiacontecer,né?!

//Parei

Bem, xô perguntar uma coisinha, quem de vcs é de SP? Alguém ilhado? =/

 

Bem, é isso aí, kissão amorecas!

 


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