The Devil's Daughter escrita por Ninsa Stringfield


Capítulo 9
Capítulo 9




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Ela estava parada na frente de uma das portas do complexo da caverna, uma das muitas entre várias jaulas que ela sabia que aprisionavam monstros.

Ao entrar naquela sala, ela se sentiu ruim por um momento. Mesmo sabendo que as criaturas que estavam ali não eram nada amigáveis, ela sabia que não mereciam o que estavam tendo, mas tentou ignorá-las ao atravessar o salão ao lado de Blake.

Ele não falou para onde estavam indo, mas quando ela viu a caverna, já pensou que poderia ir parar onde estavam. Mas diferente do que ela pensou, ele não a conduziu para a porta que tinha algo a ver com a localização das bruxas, mas para uma outra, entre duas jaulas vazias.

Katherine tentou ler a inscrição da porta, mas ela estava meio apagada, e a maçaneta estava um pouco enferrujada, mas não de um modo natural, e sim como se alguém a tivesse forçado a ficar assim para impedir a entrada de qualquer estranho. Blake abriu a porta apenas com o toque e estendeu o braço fazendo uma reverência para ela.

– Primeiro as damas.

Ela olhou para ele, incrédula. Ele poderia estar levando-a direto a um abismo, ou a qualquer outra armadilha, porque ela estava confiando nele?

Se você confiou em Finn para te ensinar a lutar mesmo sem ter certeza de que ele não a mataria primeiro, pensou ela, você posso confiar em qualquer um.

Ela atravessou a porta e quase deixou o queixo cair no chão. Ela estava diante do jardim mais perfeito que ela já virá em toda a sua vida. O campo era imenso, e as poucas árvores que cobriam o local eram tão altas e tão perfeitamente moldadas, que alguém até tinha pendurado algumas cordas e feito um balanço nela.

Katherine correu na direção da árvore mais próxima, esmagando algumas flores num tom de violeta pelo caminho mas não se importando. A quando tempo ela não ia em algum lugar como aquele? Ela não conseguia se lembrar. Talvez nunca, mas mesmo se tivesse ido, nada se compararia aquilo. Ela chegou na árvore e sorriu do próprio cansaço, correr ao ar livre tendo certeza de que estava segura não tinha sido algo que ela faria se atravessasse aquela porta novamente.

O céu era tão limpo e claro que Katherine teve dificuldades em achar alguma nuvem, tudo parecia tão bem feito e no lugar, que poderia até mesmo ser um quadro. Quanto ela daria para descrever um lugar como aquele em uma de suas histórias, se ela ao menos estivesse com seus cadernos...

Desde pequena Katherine escrevia, sua mãe sempre a incentivará muito em relação a isso. "Você será uma grande escritora um dia", dizia ela, "Não se esqueça de me contar quando suas palavras mudarem o mundo, porque elas vão mudar!". Era nisso que ela se agarrava, na imagem de uma mãe protetora e que ela poderia confiar, que sempre a apoiava e a ajudava quando ela precisasse, não nessa nova, a que ela estava começando a descobrir, mesmo relutante.

Ela voltou a se concentrar na paisagem. Havia a margem de um rio bem perto de onde ela estava, e se ela olhasse para o horizonte, ela conseguiria ver o brilho do sol refletindo em suas águas cristalinas, uma súbita vontade de pular no lago se prendeu nela, e ela teve que se encostar no tronco da árvore para que não fizesse isso.

Blake parou ao seu lado sorrindo. Seu sorriso parecia mais real, mesmo com os olhos vermelhos, ali ele parecia vivo, e o sol dava alguma coloração em sua pele. Ele olhou para o topo da árvore onde Katherine estava encostada e depois olhou para ela.

– Quer subir? - perguntou ele, já se pendurando em um galho mais próximo a eles.

Os olhos dela brilharam.

– Claro!

Ela começou a escalar atrás dele, e depois se sentou ao seu lado, quando ele parou e encontrou um galho incrivelmente resistente que suportava o peso dos dois. Dali, a vista conseguia ser ainda melhor, ela ainda conseguia ver a porta por onde entraram, que estava ali, no meio das flores tão aleatória e magicamente parada que Katheirne teve que se virar para o outro lado, para não ter que perguntar sobre a ela.

– Que lugar é esse? - perguntou ela por fim, não se aguentando.

– Eu não sei exatamente onde, mas sei que fica em algum lugar no seu mundo - ele suspirou. - Algum lugar lindo.

Ela olhou para ele. O sol batia em seu rosto e fazia com que a luz refletisse em seus olhos vermelhos e o vento de fim de tarde fazia com que seu cabelo dançasse no ar. Se Katherine não soubesse quem ele realmente era, ela pensaria que ele era um anjo.

Toda aquela áurea e beleza sombria faziam com que ela ficasse curiosa ao seu respeito, ela não queria parar de encará-lo, mas virou o olhar quando viu que ele tinha percebido.

– Quando nos conhecemos na floresta - começou ela. - Quer dizer, na hora em que pensei que estava sendo sequestrada, eu olhei para o seu rosto, e seus olhos estavam como os meus, verdes.

Ele sorriu como se achasse aquilo uma piada.

– Niah - ele disse como se explicasse tudo, depois olhou para a cara dela e continuou: - Cada um de nós, os Filhos do Diabo, temos uma... um "dom", somos bons em alguma coisa. O de Niah é esse, ela consegue criar uma ilusão, meus olhos nunca foram verdes, eles sempre estavam vermelhos. É o que eu faço quando me infiltro no meio dos Caçadores, eles não sabem que Niah tem esse poder.

Katherine colocou a mão na lateral de seu rosto automaticamente, naquele momento, pensando bem, o tapa não tinha sido tão forte assim. É claro, pensou ela, Ele não poderia ter sido tão forte assim.

– Ótimo - resmungou ela - Além de incrivelmente controladora, ela ainda consegue entrar na minha cabeça.

Blake sorriu de novo e Katheirne não resistiu, sorrindo também.

– Niah está melhor? - ela engoliu em seco ao perguntar isso. Ela não queria admitir, mas de algum jeito, Niah era sua irmã e alguém precisava se preocupar com ela.

– Ela parou de fingir assim que você saiu.

– Fingir o que?

– Que ela estava com raiva - replicou ele, mas ao ver a cara confusa de Katherine ele suspirou e completou: - Filhos do Diabo não tem sentimentos, nem os bons nem os ruins, somos soldados perfeitos.

Ela pensou a respeito. Estar sem nenhum sentimento deveria ser doloroso (ou talvez não, já que eles não poderiam sentir nada, ou esses sentimentos eram só os emocionais? Não importa.), ela não conseguia se imaginar sem sentimentos, ela se tornaria um monstro... Assim como Niah.

Talvez sua irmã um dia tivesse sido boa como ela ou pelo menos um pouco mais humana, mas segundo Finn, Niah estava no Inferno desde bebê, e Katherine não conseguia pensar como seria um bebê sem sentimentos, ou o quão fria aquela criança devia ter sido.

Soldados perfeitos, ela repetiu mentalmente, para que o Diabo, aquele que todos temem, precisaria de alguma guarda em seu nome? Já que, é só você pronunciar seu nome que as pessoas já se encolhem, ou te mandam calar a boca, já que as palavras tem poder (o que na opinião dela era ridículo.) e que sua vida acabaria nas chamas se ousasse o pronunciar (mais ridículo ainda.). Quantas coisas ruim alguém que não se importa poderia fazer?

Ela entendia as bruxas nesse caso, deixar pessoas como Finn soltas por ai não deveria ser algo muito saudável. Ela ficou tanto tempo pensando em como o mundo cairia em ruínas se pessoas sem sentimentos começassem a sair matando a todos por ai, que não percebeu Blake a estudando.

– O que foi?

– Nada. - ele virou o olhar para a paisagem novamente e ela fez o mesmo.

– Porque me trouxe aqui?

Ele deu de ombros.

– Achei que ia ser bom para você - disse ele - Estar um dia em sua casa e no outro no Inferno deve ser chocante para qualquer mortal, estou tentando não te levar a loucura.

– Tarde demais.. - murmurou ela, mas ele conseguiu ouvi-lá e riu.

– Você se refere a mim ou a este lugar? - perguntou ele rindo - Porque se for de mim, eu...

– Não! - ela praticamente gritou enquanto se sentia corar - Não, de jeito nenhum, eu estava me referindo ao Inferno, claro...

Ele assentiu com a cabeça no meio de um sorriso afetado, como se sentisse uma pontada no coração, como se estivesse desapontado.

– Acho melhor irmos então - ele se levantou do galho e pulou direto para o chão, depois se virou e olhou para Katherine, estendendo os braços. - Pode pular que eu te seguro.

– Você está louco? - perguntou ela - Eu não vou pular dessa altura!

– Porque? Tem medo de altura?

– Não, é claro que não - ela disse tão rapidamente que ficou com medo dele pensar que era mentira - Você só não aguentaria meu peso.

Ele sorriu.

– Quer apostar que eu aguento?

– Quando você estiver numa cama de um hospital porque foi esmagado por uma baleia - exagerou ela - Não vai adiantar nada você me pagar.

– Vamos logo, pule - ele fez um gesto com a mão, tentando incentivá-la. - É apenas uma queda livre de uns dez metros, no máximo, pode vir, eu prometo que não mordo.

Ela o encarou, se lembrando de quando Finn disse isso para ela, no momento ela confiou nele, então porque não confiar em Blake? Talvez até o pior dos monstros tenha coração.

Ela deu impulso para a frente e se soltou do galho, sentindo o vento bater fortemente em seu rosto e bagunçar seus cabelos para cima em quanto caia. Ela não tinha calculado a queda, não estava com medo, apenas não confiava em Blake tanto assim.

Ele a segurou no momento certo, colocando os dois braços ao redor de sua cintura, Katherine olhou para cima, não acreditando que tinha feito isso e principalmente na força do garoto. Ela virou o rosto para baixo e olhou para Blake.

Os dois estavam muito próximos, talvez essa era a menor distância que ela tinha chegado de um garoto sem contar Chris (já que, bom, ele era seu namorado!). Os olhos escarlate dele cintilavam e ele retorcia os lábios como se estivesse esperando aquele momento desde que se conheceram, se chagassem só um pouco mais perto...

De repente o vento ficou mais forte e Blake a soltou imediatamente, ela caiu desajeitada no chão e cambaleou para trás. Ela conseguia ouvir os chiados de alguns pássaros a distância e de toda a vegetação se movendo lentamente, ela tentou se concentrar nisso ao invés da cena que tinha acabado de acontecer.

Ele limpou a garganta e começou a atravessar o campo indo em direção a porta, com Katherine logo em seu encalço.

Eles não falaram muito na viagem de volta, mas ela já se sentia triste por ter que voltar para aquele lugar, seus olhos se adaptaram rapidamente quando ela passou pela escuridão do floresta, mas mesmo assim ela sentia um vazio no peito, ela sentiria saudade daquele jardim e talvez de qualquer outro lugar que apresentasse qualquer sinal de vida.

Quando Katherine finalmente se deitou novamente, ela sentiu todo o cansaço do dia cair em suas pálpebras, e fechou os olhos. E graças a Deus, não teve nenhum pesadelo.


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