Um Estranho no Ninho escrita por Goldfield
Ato II
Bar do Aroldo. Este se encontra ao fundo, limpando um balcão, onde se encontra Geraldo. Numa mesa encontram-se sentados Harry William e Ângela, cada um segurando uma latinha de refrigerante.
Cena I
Harry William e Ângela. Depois Geraldo.
HARRY WILLIAM – Esta cola ter gosto bem diferente da cola de England... Em compensação, a guaraná ser bem melhor!
ÂNGELA – Você já terminou seu refrigerante? Meu Deus...
HARRY WILLIAM – É que eu estava com muita sede! Você nem me serviu água quando eu cheguei em sua casa! Oh, Dear Lord...
ÂNGELA – Eu já falei... Desenrosca o disco... Vou até ser mais atual: desenrosca o CD!
HARRY WILLIAM – Eu não entender...
ÂNGELA – Então você é mesmo primo da velha?
HARRY WILLIAM – Mas sua mãe ser velha?
ÂNGELA – É maneira de dizer... Afinal, você é primo ou não da minha mãe?
HARRY WILLIAM – Eu ser primo de sua mother sim! Por falar nisso, quando vamos voltar para sua casa?
ÂNGELA, à parte – Que cara chato! (Alto:) Logo nós voltaremos pra lá. Fica frio.
HARRY WILLIAM – Como, se está tão quente?
ÂNGELA – Deus...
HARRY WILLIAM – Oh, Dear Lord...
GERALDO, embriagado, se levantando do balcão e cambaleando até a mesa – Quem é o gringo?
ÂNGELA – Que é isso, Geraldo? Tá num fogo só!
GERALDO – Eu só tomei uma pinga ali, um conhaque aqui, uma cervejinha lá na outra esquina...
ÂNGELA – Se sua mulher o ver assim...
GERALDO – A Joana está muito ocupada pilotando o nosso Concorde... Cadê minha limusine? (Sai, cambaleando).
ÂNGELA, balançando a cabeça negativamente – Deus...
HARRY WILLIAM – Sabe, miss? Os pubs de England serem bem melhores do que este centro alcoólico... (Fungando). – Que cheiro ruim ser este que chega a meu nariz?
ÂNGELA – É o aroma do ambiente... Ou o bafo do Geraldo que ainda não saiu...
HARRY WILLIAM – Oh, Dear Lord! Save the Queen!
ÂNGELA – Desenrosca o CD...
AROLDO, terminando de limpar o balcão – Hei! Ângela! Não vai pagar os refrigerantes?
ÂNGELA, com as mãos nos bolsos da calça – Oh, não... Estou sem nenhum dinheiro...
HARRY WILLIAM – Estamos no mesmo barco, dear miss...
ÂNGELA – E agora?
Cena II
Entra Marcos.
MARCOS, se aproximando do balcão – Aroldo! Quero dois refrigerantes!
AROLDO – Garrafa ou lata?
MARCOS – Lata!
ÂNGELA, se levantando da mesa, correndo na direção do irmão – Marcos! Você tem dinheiro?
MARCOS – Só para pagar os meus refrigerantes. E você, por onde esteve, mocinha?
ÂNGELA – Se pagar os dois refrigerantes que eu e aquele cara pedimos, (Aponta para Harry William) prometo que lhe contarei tudo, mano!
MARCOS – Quem é esse cara? Você tem saído com homens mais velhos de novo, mocinha?
ÂNGELA – Esfria a cuca... Esse aí é o primo da velha!
MARCOS – Primo?
HARRY WILLIAM, se levantando da mesa, indo cumprimentar Marcos – Muito prazer em conhecê-lo, Zulmira’s son.
MARCOS, cumprimentando Harry William – Ele é estrangeiro?
ÂNGELA – Sim, ele é gringo.
HARRY WILLIAM – Eu não entender o que ser “gringo”.
ÂNGELA – Vê se esfria a cabeça!
MARCOS – A mamãe já sabe que ele está aqui?
HARRY WILLIAM – Ainda, não, Zulmira’s son!
MARCOS – E o que deseja aqui?
HARRY WILLIAM – Isso eu só posso dizer para sua mãe!
MARCOS – Então vamos até a nossa casa...
ÂNGELA – Primeiro tem que pagar os nossos refrigerantes!
AROLDO, de braços cruzados – É mesmo! Não vão pagar não?
MARCOS – Creio que não tenho dinheiro suficiente.
ÂNGELA – Nos lascamos!
HARRY WILLIAM – Oh, Dear Lord...
AROLDO, batendo no balcão – Quem vai pagar?
HARRY WILLIAM, revistando os bolsos da calça – Esperem a minute, please. Eu devo ter algumas libras em algum lugar... (Retira algumas moedas de um dos bolsos). Isto serve?
AROLDO – Claro! (Sai de trás do balcão e apanha as libras). Querem mais alguma coisa?
ÂNGELA – Não, obrigada. Esta espelunca me dá náuseas...
HARRY WILLIAM – Repito: prefiro os pubs de England!
Cena III
Entra Joca, correndo.
JOCA – Por favor, me escondam!
MARCOS – Arrumou encrenca de novo?
JOCA – Depois eu explico, mas, por favor, me escondam!
AROLDO – Abaixe-se aqui, atrás do balcão! (Joca corre para trás do balcão e se abaixa). Vem alguém aí!
POLICIAL – Aquele pivete entrou aqui! Eu vi!
MARCOS, à parte – Eu já vi este filme... (Alto:) O que deseja, caro policial?
POLICIAL – Você é filho da dona Zulmira, não? Pois bem! O mesmo camelô que perseguia na hora do almoço acabou de entrar aqui!
AROLDO, limpando o balcão – Aqui não entrou ninguém!
POLICIAL, olhando para o lado da rua – Será que ele já fugiu? (Joca espirra atrás do balcão). O que foi isso?
MARCOS, fingindo limpar o nariz – Fui eu, policial. Peguei um resfriado ontem à noite!
POLICIAL – Não parecia resfriado na hora do almoço!
MARCOS – É que piorei agora...
POLICIAL, à parte – Aí tem truta! (Alto:) Seu Aroldo, me dê um copo d’água, pois estou um caco!
AROLDO – É pra já! (O policial se aproxima do balcão e bebe o copo d’água com vontade). O caro policial ainda tenta prender esses camelôs?
POLICIAL – Sim, mas é difícil, amigo. Eles sempre encontram um meio de fugir!
AROLDO – Eu sei... Eles sempre vendem muamba do Paraguai sem autorização e depois querem escapar das conseqüências...
POLICIAL – É verdade. (Joca espirra novamente). O que foi isso?
MARCOS, fingindo que limpa o nariz – Fui eu novamente, policial!
POLICIAL, à parte – Eu digo: aí tem truta! (Alto:) Vê se toma algum remédio!
AROLDO – Por que o policial não dá uma volta pelo quarteirão? O camelô ainda pode estar por aqui.
POLICIAL – Boa idéia! Obrigado pela água. (Sai).
Cena IV
Entra Joana.
AROLDO – O que a senhora deseja aqui, dona Joana?
JOANA – Por que você vendeu bebida para o meu marido? Quantas vezes eu tenho que dizer que o médico dele recomendou que ele não tomasse álcool?
AROLDO, à parte – Mulher chata! (Alto:) Eu me esqueci, dona Joana...
JOANA – É bom que isto não se repita, senão...
AROLDO – Senão?
JOANA – Senão eu chamo a vigilância sanitária!
AROLDO, à parte – Eu duvido que ela tenha coragem! (Alto:) Por favor, dona Joana, não faça tal coisa!
JOANA – Então não dê mais bebida a meu marido, está claro?
AROLDO – Claríssimo!
JOANA – Acho bom! (Chega perto de Marcos, Ângela e Harry William). – Como vai sua mãe, Marcos?
MARCOS – Ela ficará bem! (À parte:) Até que descubra o que aconteceu com Ângela no colégio hoje...
JOANA – E você, Ângela? Como vai?
ÂNGELA – O mesmo de sempre!
JOANA – E quem é este rapaz que não conheço?
HARRY WILLIAM – Meu nome ser Harry William, cara dama.
JOANA – Oh, mas como é educado...
HARRY WILLIAM – A senhora conhecer dona Zulmira?
JOANA – Sim, rapaz. Sou vizinha dela.
HARRY WILLIAM – Eu sou primo dela. Venho de England.
JOANA – Vem de onde?
HARRY WILLIAM – De England!
MARCOS – Ele vem da Inglaterra!
JOANA – Ah, bom... A Inglaterra é aquele país da África, não?
HARRY WILLIAM – What?
MARCOS, à parte – Ela realmente precisa de algumas aulas de Geografia... (Alto:) A Inglaterra, dona Joana, é um país da Europa.
JOANA – Então deve ficar pra lá dos Estados Unidos. A Inglaterra é bonita?
HARRY WILLIAM – Sim, ser um país muito bonito.
JOANA – O que o senhor faz lá?
HARRY WILLIAM – Tenho uma pequena fazenda. Meu pai foi consagrado “sir” pela Rainha. (Joca, atrás do balcão, se levanta por um instante para espiar). O nome completo dele é Sir John Paul Simon McGregor Lancaster Cambridge McDonald Liverpool William.
JOANA, à parte – Deve ser muito rico para ter um nome desses. (Alto:) Vocês estão em boa situação financeira?
HARRY WILLIAM – Sim. Temos muitas libras.
JOANA – O que são libras?
ÂNGELA, à parte – Ô, mulher sem noção! (Alto:) A libra é a moeda da Inglaterra, dona Joana.
JOANA – Ah, bom... Seu pai tem mesmo muitas libras?
HARRY WILLIAM – Sim, senhora.
JOANA – Interessante...
HARRY WILLIAM – Por quê?
JOANA – Porque eu tenho uma filha, sabe...
HARRY WILLIAM – A girl? Quantos anos ela ter?
JOANA – Ela tem vinte e, apesar de ser bonita, é uma encalhada!
HARRY WILLIAM, à parte – Me dei bem! As brasileiras são umas deusas! (Alto:) Como sua filha se chamar?
JOANA – Ela se chama Madalena.
HARRY WILLIAM – Madalena. Belo nome. (Joca se levanta novamente para espiar). Qual é a ocupação dela?
JOANA, à parte – E agora? (Alto:) Bem... Ela... Ajuda-me muito em casa!
HARRY WILLIAM, à parte – Ótimo! Ela poderá cuidar de minha casa em minha fazenda. (Alto:) Mas, afinal, o que a senhora pretende me descrevendo sua filha?
JOANA – Você tem mãe?
HARRY WILLIAM – Mamãe se foi há três anos... Que Deus a tenha...
JOANA – Ela poderia cuidar muito bem de seu pai!
HARRY WILLIAM – Oh, Dear Lord!
JOANA – O que o senhor disse?
HARRY WILLIAM, à parte – Que interesseira! (Alto:) Eu creio que my father não precisar de cuidados.
JOANA – Como não? Ele já não é de idade? Todos os homens de idade precisam de cuidados, como meu finado pai...
HARRY WILLIAM – Eu sinto muito pelo seu pai, mas meu pai não precisar de cuidados!
JOANA – Eu acho que ele precisa sim!
HARRY WILLIAM – Mas...
JOANA – Espere aí, que vou buscar minha filha!
HARRY WILLIAM – Espere! (Sai Joana). E agora?
MARCOS – Agora que você e seu pai se lascaram. A Madalena é bonita, mas é burra como uma porta. E, quando a Joana encafifa com alguma coisa, ela vai até o fim!
HARRY WILLIAM – Oh, Dear Lord! Oh, Paul Macrtney! Oh, Ringo Star!
ÂNGELA – E o Joca, que até agora está atrás daquele balcão?
MARCOS – É mesmo!
JOCA, saindo de trás do balcão – A barra está limpa?
AROLDO – Afirmativo. Pode ir embora.
JOCA – Valeu, Aroldão! Devo-te uma!
AROLDO – Disponha. (Sai Joca).
Cena V
Entra Joana puxando Madalena pelo braço.
JOANA, puxando Madalena – Vem logo, peste!
MADALENA – Calma, mãe. Afinal, quem é esse cara que tem um pai milionário que você quer que eu conheça?
JOANA – Ele está ali. (Aponta para Harry William).
MADALENA, desinteressada – Muito prazer, inglês...
HARRY WILLIAM – Estou encantado, miss.
MADALENA – Pronto, mãe? É só isso?
JOANA – Filha, não seja grosseira como seu pai!
MADALENA – Não adianta ficar me comparando com o papai, pois você sabe que eu puxei muito para ele em matéria de caráter.
JOANA – Só se for caráter de cavalo!
HARRY WILLIAM – Por favor, não briguem.
AROLDO – O inglês está certo. Se quiserem brigar, saiam daqui!
JOANA – Desculpe-me por minha filha, Harry William. É que ela é um pouco tímida...
HARRY WILLIAM – Tímida? Eu pensei que as brasileiras fossem todas extrovertidas!
MARCOS – O que faz você pensar assim?
HARRY WILLIAM – É que elas sempre tiram a roupa no Carnaval! (Marcos e Ângela riem).
JOANA – Você não está comparando minha filha com uma daquelas mulheres, está?
HARRY WILLIAM – De modo algum, cara dama.
MADALENA – Mãe, ainda vai demorar muito?
JOANA – Minha filha, por favor, seja educada!
MADALENA – Eu não quero me casar com o pai desse cara!
JOANA – Por que não?
MADALENA – Porque eu já tenho um namorado!
JOANA – E quem é?
MADALENA – O Joca, filho da dona Zulmira!
JOANA – Aquele estrupício? Está brincando comigo?
MADALENA – Não, falo sério. Ele tem um futuro promissor no mercado de trabalho informal.
JOANA, puxando Madalena pela orelha – Você só me faz passar vergonha! Vamos embora! (Saem as duas).
HARRY WILLIAM – Obrigado, Dear Lord!
Cena VI
Entra Joca sendo perseguido pelo policial.
JOCA – É o fim! Não há escapatória! (Correm pelo bar, derrubando mesas e cadeiras). Polícia, por favor, dá um desconto!
POLICIAL – Nem morto! O meu único objetivo na vida desde hoje cedo é pegar você, camelô!
JOCA – Afinal, o que você tem contra os camelôs?
POLICIAL – Eles vendem muamba sem autorização, e isso é contra a lei!
AROLDO – Assim vocês vão acabar com o meu bar!
POLICIAL, ainda correndo atrás de Joca – Você sabia que posso multá-lo porque escondeu um infrator?
AROLDO – É assim que agradece o copo d’água que lhe dei?
POLICIAL – A lei tem de ser cumprida!
AROLDO – Você parece político em época de eleição! Deixe o pobre rapaz em paz!
JOCA, ainda correndo – É mesmo, seu guarda! Ouça a voz da razão!
POLICIAL – O que eu ganho se deixar o camelô ir embora?
AROLDO – Uma caixa de cerveja!
POLICIAL, parando de correr – Negócio fechado!
JOCA, parando de correr, à parte – Mais um corrupto! (Alto:) Valeu mais uma vez, Aroldo!
AROLDO – Disponha novamente.
POLICIAL – Passo depois para pegar a caixa! (Sai).
Cena VII
Os mesmos da cena anterior.
HARRY WILLIAM – Em meu país a polícia não é corrupta como aqui!
MARCOS – Bem-vindo ao Brasil, meu caro! E você, Joca? Quando vai parar de vender muamba sem licença?
JOCA – Quando legalizarem a coisa! Aroldo, por favor, me dê um refrigerante!
AROLDO – É pra já! Garrafa ou lata?
JOCA – Lata!
ÂNGELA – Já conhece Harry William?
JOCA – Sim, apesar de não termos sido apresentados pessoalmente.
HARRY WILLIAM – Muito prazer, Zulmira’s son.
JOCA – O cara é gringo mesmo!
HARRY WILLIAM – Você esteve mesmo em apuros, caro rapaz.
JOCA – Eu sempre escapo ileso... São ossos do ofício.
ÂNGELA – E que ofício... A mãe deve estar uma pilha de nervos de tanta preocupação...
JOCA – Acho que não, mana! Hoje é o penúltimo capítulo da novela dela e nada a tiraria da frente da TV.
ÂNGELA – Será?
HARRY WILLIAM – O que ser “novela”, dear miss?
ÂNGELA – É um programa de TV, parecido com uma peça de teatro, que só dá maus exemplos.
HARRY WILLIAM – My Dear Lord... Que coisa! Não temos coisas assim em England!
ÂNGELA – Vocês são felizes. Lá o teatro é muito mais valorizado do que aqui.
MARCOS – Nós precisamos levar Harry William até a mamãe.
AROLDO – Hei! Aquele policial está voltando, junto com o delegado e mais dois homens!
JOCA, se escondendo atrás do balcão – Sujou, de novo!
Cena VIII
Entra o policial, algemado, junto com o delegado, o escrivão da polícia e o funcionário de alfândega.
AROLDO – O que fazem aqui? Só darei uma caixa de cerveja ao policial!
DELEGADO – Isso prova tudo!
AROLDO – Prova o quê?
DELEGADO – Que o policial aqui presente desistiu de prender o camelô Joca Silvério em troca de uma caixa de cerveja! (Para o escrivão:) Tome nota! (O escrivão escreve rapidamente com um lápis num bloco de notas).
JOCA, se levantando de trás do balcão – Deixe o coitado do policial ir embora! Ele não fez nada de errado...
DELEGADO – Sim, ele fez! Mas você, rapaz, não será punido. Deixarei passar só desta vez porque ajudou a me mostrar o corrupto que este policial é, mas, na próxima...
JOCA – Por que o senhor está sendo tão bonzinho comigo?
DELEGADO – É que no natal passado minha mulher comprou um brinquedo de você para presentear meu filho e ele adorou o presente, entende?
JOCA – Eu me emendarei, senhor delegado! (À parte:) Assim veremos...
DELEGADO, para o escrivão – Continue tomando nota!
ESCRIVÃO, tomando nota rapidamente – Sim, senhor delegado!
MARCOS, apontando para o funcionário de alfândega – Mas o que este outro homem faz aqui?
DELEGADO – Ele trabalha na alfândega e descobriu que os documentos do senhor Harry William, que creio aqui estar presente, estão irregulares!
MARCOS – O quê?
HARRY WILLIAM – Dear Lord... Deve haver algum engano!
FUNCIONÁRIO – Creio que não há nenhum engano, senhor Harry William. Seus documentos estão irregulares. Além disso, o pessoal da alfândega descobriu que o senhor Harry William está na Inglaterra, estudando em Oxford.
MARCOS – Então quem é este suposto inglês?
ÂNGELA – É mesmo! Quem será ele?
HARRY WILLIAM – Pessoal, eu posso explicar...
FUNCIONÁRIO – De fato, a senhora Zulmira Silvério tem um primo inglês, mas não é este homem!
DELEGADO – Acho que vou ter de prendê-lo.
HARRY WILLIAM – Esperem! Deixe-me explicar!
MARCOS – Então se explique de uma vez!
HARRY WILLIAM – Eu... Bem... Eu sou...
ÂNGELA – Desembucha! (Harry William sai, correndo).
DELEGADO – Pega! (Marcos, o delegado e Aroldo correm atrás de Harry William, saindo).
ÂNGELA – E eu pensando que esse sujeitinho era inglês!
DELEGADO, ao longe – Escrivão! Tome nota!
ESCRIVÃO, tomando nota rapidamente – Sim, senhor delegado!
Cena Última
Os mesmos. Depois Marcos, Aroldo, o delegado, Harry William e Zulmira.
ÂNGELA – Será que eles pegam o impostor?
JOCA – Meu irmão é bom na corrida!
ÂNGELA – Bem que você poderia ter ido ajudar!
JOCA – Eu? No cansaço em que me encontro?
ÂNGELA – Folgado!
ESCRIVÃO – Calem-se! (Escrevendo rapidamente no bloco de notas). Com vocês falando tanto eu não consigo me concentrar!
ÂNGELA – Lá vem eles! (Entra Harry William, algemado, com seus perseguidores).
DELEGADO – Pegamos o meliante! Ele confessou ser um golpista das redondezas, que conseguiu libras de um colega inglês! Queria se apoderar das economias da dona Zulmira Silvério!
MARCOS – Ele queria enganar a mamãe! Agora irá para a cadeia!
HARRY WILLIAM – Eu estava tão perto... Quase consegui! Se não fosse por essa filha de Zulmira, que não me apresentou a ela...
ÂNGELA – Eu desconfiava que havia truta nisso tudo, desde o início!
DELEGADO, para o escrivão – Escrivão, tome nota!
ESCRIVÃO, tomando nota rapidamente – Sim senhor!
FUNCIONÁRIO – Tudo está bem quando acaba bem...
MARCOS – Creio que nem tudo acabou! Eu falei para a mamãe que a Ângela tinha tirado nove em Estudos Sociais...
ÂNGELA – Como pôde fazer isso?
MARCOS – Lá vem ela!
ZULMIRA, entrando – O que todos fazem aqui? É alguma festa? E estes dois homens algemados?
MARCOS – É uma longa história. Mãe, eu tenho que confessar algo...
ZULMIRA – Vai em frente.
MARCOS – Eu menti para proteger Ângela! Ela foi suspensa!
ZULMIRA – Eu já sabia!
MARCOS E ÂNGELA – O quê?
ZULMIRA – Isso mesmo. A Joana, que tudo vê e tudo sabe, me contou. Eu não estou zangada. Fiquem tranqüilos.
MARCOS – Ufa! Que alívio!
ÂNGELA – Eu que o diga!
ZULMIRA – Mas, você, Joca... Não lhe darei segunda chance...
JOCA, à parte – Lá vem bomba! (Alto:) O que vai fazer, mãe?
ZULMIRA – Amanhã mesmo você vai legalizar sua muamba!
JOCA – Está bem, mãe... (À parte:) Assim veremos...
AROLDO – Ainda bem que tudo terminou bem... Alguém quer refrigerante de graça?
MARCOS – Sério?
AROLDO – Sim. Refrigerante de graça para todo mundo!
DELEGADO – Só um minuto. (Leva o policial algemado à parte). Divida a caixa de cerveja comigo e esquecerei tudo, OK?
POLICIAL – Sim, senhor delegado.
DELEGADO – Tudo bem... Vamos tomar os refrigerantes e esquecer esse indesejável estranho que hoje esteve em nosso ninho!
ÂNGELA – E que estranho! Poderia jurar que é inglês!
MARCOS – Eu notei que o sotaque dele era meio fajuto...
AROLDO, colocando várias garrafas sobre o balcão – Aqui estão os refrigerantes! Vamos brindar! (Cada um pega uma garrafa).
DELEGADO – Um brinde a mais uma captura bem-sucedida da polícia!
ZULMIRA – Vamos brindar também ao povo brasileiro, que não se deixa enganar tão facilmente!
TODOS – Um brinde!
FIM
Luiz Fabrício de Oliveira Mendes – “Goldfield”.
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