Você sai cambaleando. Aquela era uma tarde terrivelmente quente, porém, você já podia notar as nuvens de chuva se acumulando no céu. Você não deu a minima. Você foi até o portão da Academia Aria e saiu, pela primeira vez desde que...desde... você nem se lembra, você nunca precisou realmente sair, você sempre teve tudo aqui dentro.

A Academia ficava em um lugar tranquilo, com poucas casas ao redor. Você nem se lembrava que havia alguma casa, mas era um lugar ajeitado, e com pouquíssimo movimento. Você teve que andar um pouco até a "civilização", onde havia carros e pessoas andando para lá e para cá. Algumas olhavam para você, um pouco intrigadas talvez, você não sabe.. deve ser o seu cabelo ou sua expressão de raiva e confusão. Você até perdeu as contas de quantos esbarrões você deu. Era tudo tão tenso, e você não via a hora de alguém te xingar e você descontar toda sua agonia seja lá em quem for.

Logo a frente havia uma sorveteria. Ah, Fuusuke adora sorvete, você sabe disso, houve um tempo em que ele vivia com um picolé. O dia estava quente e a chuva provavelmente só surgiria mais tarde, então você resolveu entrar.

Esse era um lugar agradável que, em qualquer outra circunstância, você poderia trazer Fuusuke. Havia poucas pessoas, para sua sorte, e muito sabores para escolher. Era um estabelecimento com cores agradáveis. Você deu uma volta e ficou olhando para o balcão, cabisbaixo. Você não ia curar suas magoas com sorvete, isso não tinha sentido. Com esse pensamento, você se virou rápido e acabou esbarrando em alguém que vinha atrás.

– Oh, desculpe - disse o garoto, esfregando a testa.

– Tá tudo bem - disse você. A alguns minutos você estava disposto a comprar uma briga com o primeiro que desse uma brecha, mas ao olhar para esse rapaz, você não sentiu vontade de esmurra-lo. Ele era um rapaz bonito, um bom garoto pelo jeito. Sua voz era calma e soava educada e serena. Para seu espanto, ele era albino também (AAAAAAAAAAAH VOCÊ É CERCADO POR ESSA RAÇA, COMO PODE?), porém sua aparência era bem mais simpática do que o albino que você conhecia. Os cabelos dele eram um tom de cinza LEVEMENTE azulado, um pouco curto e penteado para baixo, apenas as pontas eram espetadas. Seus olhos eram cinza-azulados, quase a mesma cor dos de Suzuno, mas eram um pouco caídos, ele usava um cachecol branco. Você tinha a impressão de que ele era meio familiar.

Ele te olhou um pouco curioso, pelo visto ele tivera a mesma impressão.

– Eu não conheço você?? - perguntou ele, gentilmente.

– Talvez - respondeu você, ainda meio pra baixo, mas você não podia deixar alguém perceber isso - eu não me lembro.

– Eu sou Fubuki Shirou, de Hokkaido - disse ele estendendo a mão e sorrindo.

Você não é muito acostumado com estranhos aparecendo do além e te cumprimentando tão gentilmente, mas você apertou as mãos deste. Elas eram frias, como as de Suzuno.

– Nagumo Haruya, daqui mesmo - diz você. Talvez sua voz tenha saído um pouco grosseira.

– Ah, você é da Academia Aria, não é? - perguntou ele - eu sabia que conhecia você.

– Huh, sim...

– Eu sou da Raimon, meu tive esta enfrentando sua escola - disse ele.

Você o olhou de novo. Agora você se lembra, ele era aquele de quem alguns idiotas de sua escola estavam falando..ou pelo menos você só pode imaginar ser ele.. Fubuki não é um nome TÃO comum. Ele era o "Príncipe dos campos de gelo".

Você não estava muito interessado em nenhuma conversa, mas, quando você se deu conta, Fubuki e você já estavam perambulando juntos. Você estava tão tenso, que nem percebeu que só falava asneiras, e acabou contando a ele sua situação..claro, você não citou nenhum nome, muito menos o fato de Fuusuke ser um garoto.

Ele escutava tudo atentamente. Parecia até estar se divertindo um pouco com a maneira que você falava. Como você já disse, ele era uma espécie de bom rapaz, mas você sentia um pouco irritado com o fato dele parecer tão tranquilo.

– Putz, eu não sei mais o que eu estou falando.. o que estou fazendo aqui?? - perguntou você, em algum momento - eu sai para encher a cara e não andar tranquilamente pelo parque com um estranho.

– Oh - ele deu um sorriso sem graça - sinto muito, eu acho que eu estou fazendo perguntas demais..? Você queria beber?

– SIM, eu quero - disse você, com firmeza, apertando os pulsos - eu não ligo se isso é uma grande de uma merda, e coisa para perdedores, eu quero ficar um caco..

Fubuki te olhou pensativo. Ele não tinha cara de quem bebia.. talvez você tenha dito muita merda já, você nunca bebeu, mas você sabia que as pessoas ficavam terrivelmente idiotas bebadas.. e você já se sentia uma grande bosta, você queria apenas chamar atenção talvez, quem se importa?

– Talvez eu saiba um lugar - disse ele finalmente, um pouco sério - digo, eu nunca fui.. mas..

– Sério? Me leve lá - mandou você.

Fubuki acenou com a cabeça e vocês seguiram em frente. Ele começou a falar também, sobre alguns problemas que ele vinha tento durante os jogos. Claro, naquele momento vocês dois começaram uma especie de desabafo. Foi muito tosco, agora que você pensa, e ele provavelmente não vai querer olhar sua cara depois, mas vocês estavam se sentindo tão lixo, que quando você percebeu, estava sentados em um balcão em um lugar sujo, com um copo de álcool (você nem se lembra o nome da maldita bebida). O garçom nem se quer se importou com o fato de vocês serem menores de idade, pelo visto isso não era nenhuma surpresa para ele.

Vocês olharam aquele liquido dourado e quente. Não parecia nada bom.

– Você tem certeza disso? - perguntou ele, encarando o copo.

– Você não precisa fazer isso se não quiser - falou você, olhando o copo da mesma forma que ele.

– Eu acho que não vai fazer diferença, uma vez que eu já não sou necessário para ninguém - falou ele, triste.

– O que nos temos a perder então? Ninguém vai se importar se a gente fazer isso! - disse você, pegando o copo - apenas.. dane-se.

Fubuki te olhou, seus olhos pareciam decididos. Vocês engoliram em seco, e levaram o copo até os lábios e engoliram aquela coisa na mesma hora. Você sentiu sua garganta queimar. Era a pior coisa que você já tinha feito em sua vida. Fubuki teve a mesma reação que você, fazendo uma careta horrível e apertando o cachecol. Vocês pareciam se esforçar para não tossir e jogar o liquido infernal para fora e passar vergonha, mesmo que o maldito bar estava praticamente vazio (era umas 3 da tarde, geralmente bares nem abrem a essa hora, meu deus). Depois de um tempo fazendo caras e bocas, vocês finalmente respiraram e voltaram a realidade.

– Cara.. - você começou, se virando para ele - o que diabos a gente esta fazendo? Isso é ridículo!

– Ninguém nunca deve saber disso - disse ele.

– Como as pessoas tomam isso? - você riu indignado.

Ele riu também.

– Você tinha que ver a sua cara - disse ele.

– E a sua então, eu quase engasguei para não rir de você - você respondeu.

Vocês dois começaram a rir, aquela situação era tão idiota que você não tem ideia do que levou vocês a repetirem ela algumas vezes, até que de repente a tarde se foi e vocês estavam caminhando de volta, cantarolando pelas ruas e atraindo olhares indignados.

Você nem se lembrava o caminho de casa.

– Eu estou ferrado - disse ele, debochando de si mesmo - eu acho que nem Atsuya quer meu corpo agora..

– Hã? O que? Ele não quer mais você - dizia você, confuso como nunca - Eu acho que Fuusuke não vai querer o meu também..

– Quem é Fuusuke?

– Ele é o meu... - você parou por uns instantes, para pensar um pouco, mas você estava cagado de bêbado aos 16 anos de idade, e você nem lembrava mais o nome do seu colega de bar, que parecia estar começando a se arrepender do que vocês fizeram - ele é o meu garoto, cara, só meu, porque você quer saber sobre ele?

– O que?

– Você também esta atrás dele? Eu vou bater em você - dizia você, cambaleando - e no Shigeto também, aquele *$&)(*#*@($)&*#@(&$#*@( maldito traidor, eu vou arrancar o &$¨##$*¨dele e jogar no rio para as piranhas comerem..

– Não tem piranhas no rio.

– Então os tubarões.

– Também não tem.

– Merda, então as sereias ou o que tiver lá, eu não sei.. - você estava começando a se irritar.

– Talvez eu devesse pular no rio também.. e deixar as piranhas acabarem comigo..

– Mas não tem piranhas no rio..

– Oh..

Você tropeça e Fubuki, não se sabe como, segura você. Ele parecia um pouco mais "firme" do que você.

– Todo mundo é um idiota - disse você, se levantando - isso já perdeu a graça.

Fubuki tentava ajudar você.

– É verdade, eu quero ir para casa..

– Nós não estamos indo?

– Sim.. mas eu não moro por aqui - disse ele.

– Onde você mora?

– Eu estou em uma pousada em algum lugar para lá - ele aponta em alguma direção, você nem olha.

– Eu moro com Fuusuke.

– Quem é Fuusuke?

– Minha boneca.

Fubuki te olha um pouco intrigado. Talvez essa seja a unica coisa nas ultimas horas que ele tenha realmente entendido vindo de você.. ou melhor, ele pensou que entendeu, porque ele não sabia muito bem o que "ser sua boneca" poderia querer dizer. Você continuou andando sem rumo, enquanto Fubuki parou. Você nem deu 3 passos e esbarrou em alguém.

– Maldito - disse você se virando.

Era um cara um pouco mais alto do que você. Seu olhar dizia que ele estava muito bravo.. REALMENTE muito bravo, e seus braços estavam cruzados. Depois de um tempo, você finalmente conseguiu processar a cena em sua mente, e reconhecer a pessoa.

– Fuu...uu.. - disse você, assustado.

Ele estava tão irritado, que você sentiu ele te espancando apenas de olhar para ele. Fuusuke lançou um olhar mortal para Fubuki também, que veio até vocês.

– Eu preciso ir - disse Fubuki, olhando para Fuusuke - eu sinto muito..

Ele se distanciou. Se você tivesse totalmente consciente, teria notado ele ir na direção oposta da que ele havia apontado mais cedo.

Fuusuke não falou nada. Apenas te pegou pelo braço e te pôs de pé. Você mesmo em seu estado deplorável, sabia que estava ferrado.

Depois de um tempo, vocês já estavam perto do prédio da Academia Aria, e você estava sonolento e acabou tropeçando, de novo, quase caindo. Fuusuke segura você e te guia para "casa", em silêncio. Você podia sentir ele com raiva de você. Provavelmente ele estava planejando matar você da forma mais dolorosa possível. Bom, se você sobrevivesse, você usaria tal experiencia como inspiração, para planejar a morte de Shigeto.

Depois de um tempo, vocês estavam entrando no dormitório. Para a sorte, ninguém pareceu ter prestado atenção em vocês durante o caminho, não havia muitas pessoas desocupadas andando pelo prédio. Suzuno joga você na cama, e te lança outro olhar mortal.

– Fuusuke - disse você, em tom de arrependimento - oh jesus.

– Cale a boca - disse ele, sua voz chegava a você como um soco na cara - que merda você estava fazendo?

– Eu só estava...aaa nada..

– O que você estava fazendo, Nagumo Haruya.? Onde você estava? Porque sumiu a tarde toda? Quem era aquele cara? Você esta zoando com a minha cara?

Você se levanta desajeitado e fica de joelhos na cama, você tenta pensar em alguma coisa para responder, mas você ainda não esta nada bem. Você conseguia compreender o que Suzuno dizia, mas sua cabeça doia muito para pensar em alguma coisa, tudo era confuso demais agora. O que você fez? Você é apenas um perdedor agora.. talvez da próxima você se atire no rio, com ou sem piranhas.

Você agarra Fuusuke pela cintura e o abraça num pedido de desculpas abafado. Você sentiu uma coisa estranha, uma sensação como se você fosse chorar. Mas você não o fez.

Fuusuke tentou se livrar de você.

– Sai fora - dizia ele - você não esta me respondendo!

– Eu não fiz nada, Fuusuke - dizia você - eu nem sei o que eu estava pensando..eu só..*$%$#(*%$(*%..

– Você esta bebado, merda - disse ele - porque você fez isso, Haruya, qual é o seu problema ?

Você baixou a cabeça, encostada na barriga de Suzuno. Ele parou te tentar de empurrar. Agora que você pensa sobre isso, se ele quisesse ele poderia ter te jogado longe, mas ele não fez isso.

Você puxou ele para baixo. Ele falou algumas coisas que você não entendeu enquanto caia na cama.

– Você esta enlouquecendo, idiota?- gritou ele, quando você o derrubou, e continuou abraçado a ele - me solta!

Agora ele parecia tentar se livrar de você. Ele usava a força e você por impulso acabou segurando ele pelos braços. Você nem sabe como, mas você ficou em cima dele.

Ele te olhou surpreso. Não era nada comum ele te olhar assim. Agora ele parecia um pouco assustado, indefeso, e bastante nervoso. Mas você só estava o olhando com uma cara de bobo arrependido, e totalmente confuso, você não tinha a intenção de ficar em cima dele, de modo tão... hum.. "quente", mas ao vê-lo lá, te olhando tão frágil, você foi tomado por uma onda de uma felicidade estranha. Era como uma troca de papeis, você estava por cima dele agora, como ele sempre pareceu estar por cima de você. Era uma especie de fetiche se realizando. Porém, no pior momento.

Você ainda esta confuso, porém, totalmente bobo com a situação agora. Era hora de fazer alguma besteira.

– Eu amo você - disse você - Fuusuke.

Ele continuou em silêncio te olhando. Ele chegou a abrir a boca para falar algo, mas nada saiu.

– Eu só.. só fui um otário - você continuou - ciumento, um merda, mas.. eu não fiz nada além de engolir aquelas merdas e virar um babaca ainda maior.

Você não se lembra bem, mas sabe que fez um discurso.. um discurso patético. Fuusuke apenas ficou olhando você, até que você finalmente calasse a boca.

– Haruya - disse ele, ainda parecendo meio bravo.

Você continua em cima dele. Ele parece bem desconfortável.

– Você me odeia agora? - perguntou você.

Você realmente merece uma faixa de "Babaca do Ano".

Ele te lança um olhar de repreensão.

– Não - respondeu.

Você se sentiu aliviado.

– Agora me solte - falou ele, finalmente.

Você pensou em fazer isso, mas a sensação de dominância foi mais forte, ao invés de solta-lo, você segurou com mais força, e o beijou.

Mesmo com raiva de você, ele te correspondeu.

Depois você volta para a posição anterior, ainda o segurando. Ele voltou a ter o mesmo olhar surpreso de antes, sem dizer nada.

–Ah, eu amo você Fuusuke - você repetiu, bobamente.

Ele parecia bastante nervoso. Virou a cara para você, e deu um suspiro.

– Eu também amo você seu babaca - disse ele, se virando de novo.

Então você o beijou de novo, sorrindo. Ele fez o mesmo, e quando vocês pararam, você pode notar que ele nunca estivera tão vermelho. Você estava adorando isso, talvez não tenha sido uma ideia tão terrível você ter bebido. Você podia sentir que agora era ele quem estava inseguro sobre tudo, era ele quem estava com vergonha, indefeso, e você estava louco demais para sentir isso agora, você só.. só tinha um monte de pensamentos pervertidos em sua cabeça e começou a beija-lo como um louco, e quando você soltou seus pulsos, levou suas mãos para seu peito. Fuusuke não se mexeu por um tempo, até que de repente você sente ele abraçar você com força e agarrar seu cabelo. Você estava começando a perder o controle de si mesmo, sentindo o coração de Fuusuke batendo muito rápido em sua mão, mas você já estava cansado de sentir o tecido entre vocês.

Você pensou que poderia ser uma ótima ideia, e você poderia realizar alguns de seus desejos ocultos sobre Fuusuke, então você levou suas mãos para baixo e as colocou por baixo da camisa do outro. Ele de repente segurou seus ombros e te puxou para frente com força, tentando te afastar. Você se separou dele, triste, e ele te olhou irritado.

– O que você esta fazendo? - perguntou ele, bravo.

– Eu.. - você quase falou alguma besteira, ele provavelmente sabia o que você ia dizer. Você viu ele corar bruscamente como nunca, até mais do que antes. Aquilo era tão bonito, você pensou que nunca conseguiria fazer ele ficar daquele jeito, mas sua felicidade não durou muito, pois Fuusuke te deu um tapa.

Não doeu, pelo menos não no momento, mas você sabia que mais tarde, quando toda essa "adrenalina" passasse, aquilo iria arder, junto com sua consciência.