- Droga! – Alguém exclamou, apesar de ser em voz baixa.
Reinald acordou meio desnorteado ao ouvir aquilo, grunhiu pensando em voltar a dormir, mas notou que algo estava errado: Lucius ainda não tinha tentado acordá-lo.
O loiro se virou vagarosamente e viu seu marido sentado ao seu lado, na cama, com o laptop no colo.
- Lucius? – Murmurou esfregando os olhos.
- Ah, eu te acordei, Ri-chan? – Perguntou sorrindo. – Desculpa, me estressei com essa porcaria de computador.
- Tudo bem. – Disse ainda sonolento, sentando-se na cama.
- Mas que bom que acordou! – Lucius deu-lhe um selinho, que foi retribuído com um beijo de verdade. – UAU, nem parece que acabou de acordar!
- Eu ainda estou com sono... Sinto como se estivesse sonhando. – Reinald bocejou e se espreguiçou.
- Percebi. – Lucius voltou novamente sua atenção para o computador. – Estava me perguntando quanto tempo eu ia ficar aqui te esperando.
- O que está fazendo, amor?
- Trabalhando. E tentando descobrir como essa merda de computador funciona! – Ele falou apertando com força as teclas, por pura raiva.
- Trabalhando? – Ele se controlou para não rir. – Que dia é hoje?
- Quinta-feira. – Olhou de canto de olho para Reinald. – Dia 3.
- QUINTA?! – Reinald perguntou por reflexo. – Que horas são?!
- Hã, - Ele olhou no canto da tela do laptop. – quase meio dia.
- Ai meu Deus! – Reinald, literalmente, pulou da cama. – Por que não me acordou antes?! Tenho que ir trabalhar!
- Não tem, não. – Respondeu calmamente ainda mexendo no computados, sem dar importância ao loiro desesperado que vestia a primeira camisa social que via pela frente.
- Ta louco?! Claro que tenho! – Reinald pegou uma gravata na gaveta, tentado colocá-la desesperadamente. – Tenho que visitar um cliente em uma hora! E é do outro lado da cidade! Lucius, me ajuda a dar um nó nessa gravata antes que eu me enforque?!
- Cancelei. – Lucius sorriu. – Cancelei todos os seus compromissos para hoje. – Então relaxa, Ri-chan. – Ele tirou o laptop do colo, colocando-o na mesinha ao lado da cama, levantou-se e foi até o outro retirando a gravata dele.
- Por quê? O que ta acontecendo, Lucius?! Qual seu plano maligno de hoje?
- Não é nada.
- Não, tem que ser alguma coisa! Você ta trabalhando e eu não, isso ta errado!
- Adoro gente grossa. – Ironizou, começando a desabotoar a camisa de Reinald. – Bom dia, querido.
- Bom dia. – Respondeu meio abestalhado pelo sono.
- Você não sabe mesmo que dia é hoje? – Lucius perguntou com um suspiro quando percebeu que Reinald ainda não havia se tocado.
- Quinta-feira, dia 3. – Claro que ele só sabia porque Lucius tinha dito antes.
- De que mês, ein?
- Hum... – Ele parou para pensar. – não sei. Setembro?
- Como você consegue se vestir de manhã, seu idiota?! Tem certeza que se formou na faculdade?! – Lucius gritou inconformado. – Estamos em Novembro!
- É algum tipo de feriado? – Ele perguntou curioso.
- É, - Lucius sorriu. – o feriado mais importante do ano. – A ficha de Reinald caiu, ele sabia que Lucius só dizia isso quando era aniversario de alguém, mas não custava nada continuar fingindo que não sabia do que se tratava.
- Dia da pátria?
- Seu aniversario, loiro burro. – Lucius corrigiu sem paciência. Quem esquece o próprio aniversario merece um pouco de grosseria gratuita.
- Mesmo? Meu aniversario?! Já estamos em Outubro? – Brincou.
- Novembro, ô animal! Como não se lembra da data do próprio aniversario?!
- Ah, agora eu só tava brincando com você. – Reinald riu. – Mas juro que tinha esquecido completamente do meu aniversario!
- Mas eu não esqueci. – Lucius sorriu. Se pôs nas pontas dos pés e o beijou calorosamente enquanto retirava por completo a camisa de Reinald. – Parabéns... Feliz aniversario!
- Estou ficando velho.- Ele comentou ignorando completamente o marido.
- De nada. – Lucius revirou os olhos.
- Quantos anos eu estou fazendo, Lucius?
- Nem isso você sabe?!
- Parei de contar depois dos 35... Devo estar fazendo uns 50 anos! Devo estar decrépito!

- Hei hei, pode parar por aí! Eu sou só dois anos mais novo que você! Não em ofenda por causa dessa sua crise de meia idade!
- Crise de mais idade?! Eu acertei? É mesmo cinqüenta?!
- Sabe pelo menos quantos anos eu tenho? – Lucius tentou por outro caminho. Sabia que Reinald não prestava atenção em quase nada... E quando digo QUASE nada, significa que ele presta atenção somente no trabalho, na Allinton e, claro, em Lucius.
- Sei, fez 38 no dia 18 de março. – Respondeu com um sorrisinho orgulhoso.
- Como consegue lembrar do meu aniversario e não do seu?!
- É porque eu te amo. - Ele falou meigo.
- Arrã, vou fingir que acredito. – Lucius respondeu não muito satisfeito com a explicação. Até onde ele se lembrava tinha um cantor bonito aí que nasceu no mesmo dia... E que por acaso era mais um dos poucos caras por quem Reinald babava. – Menos papo e mais conta. Pegue meus 38 aninhos e some mais dois, e, BINGO, temos a sua idade!
- Deu 40... Estou fazendo 40 anos?!
- É, mas se te consola, você continua lindo e gostoso como sempre...
- Quanto tempo eu tenho até os cabelos brancos e as rugas?! – Reinald sentou na cama enquanto o outro ficou de pé de frente para ele. Bom, só assim ele conseguia se sentir alto...
- Reinald, para de exagerar! Está começando a parecer comigo e isso está me assustando! – Lucius parou e refletiu no que tinha acabado de dizer. – Eu sou tão escandaloso assim?!
- Você ainda tem a mesma cara de quando a gente se casou há 15 anos!
- Controle-se homem! – Lucius ordenou segurando o rosto de Reinald. - Hoje era para ser um dia legal! Deixei você dormir até a hora que quisesse e fiz um bolo de chocolate que está te esperando lá embaixo! Quer, por favor, parar de estragar o clima?!
- Desculpa. – Reinald abaixou a cabeça com ar de arrependido. – Exagerei...
- Pois é. – Ele deu um beijo da cabeça do loiro, acariciando seu cabelo. – Eu vou descer e tirar o bolo do forno. Se arruma e desce. – Ordenou. O outro assentiu com a cabeça e Lucius saiu andando.
- Lucius, - O maior chamou e ele se virou. – eu te amo.
- Ah, - Ele olhou para o sorriso meigo desenhado no rosto do aniversariante e não teve duvidas do que fazer. – o bolo pode esperar.
Então ele, literalmente, pulou em cima do outro, derrubando-o na cama e ficando por ciam dele.
- A cada ano que passa você fica mais lindo, mais fofo e eu te amo cada vez mais. Não sei por que tanto drama pelo seu aniversario... Ele só traz coisas boas!
- É só que... – Reinald corou envergonhado. – Esse ano me pegou de surpresa.
- Como consegue ser tão fofo? – Lucius encostou a sua cabeça na dele com um sorriso bobo. – Posso contar isso para a Allinton?
- Claro que não! – Respondeu mais envergonhado ainda.
- E sobre o seu surto?
- Muito menos!
- E sobre o que vamos fazer agora? – Perguntou com um sorriso malicioso.
- Só se você se responsabilizar pelos danos psicológicos causados. – Brincou.
- Ah, é uma pena. Acho que é melhor isso ficar só entre nós, então... – Lucius falou devagar passando o polegar pelos lábios do marido, em seguida, beijando esses mesmos lábios.


- Feliz aniversario, pai! – Allinton gritou ao chegar em casa e abraçar Reinald.
- Obrigado, filha! – Ele deu um beijo em seu rosto com um grande sorriso. – Como foi o seu dia, linda?
- Ta animado, é? – Ela comentou sentando-se ao lado dele no sofá. – Não quero nem saber o que Lucius fez para te deixar assim.
- Allinton! – Ele exclamou sentindo que ficara vermelho.
- To só brincando. – Ela riu. – Bom, meu dia foi normal. É uma pena que seu aniversario tenha caído numa quinta-feira, justamente o dia que eu fico até mais tarde no colégio com a banda. – Uma pena para ela... Para os dois era mais uma vantagem...
- É uma pena, mas no domingo vamos a casa da sua vó comemorar e aí a gente passa o dia juntos. – Ele sorriu.
- Claro. Alias, como foi o seu dia?
- Eu não fiz absolutamente nada... Só vagabundeei o dia todo com seu pai e comi bolo de chocolate. Mas foi bom, às vezes é bom descansar da rotina.
- Lembrei que me esqueci de comprar seu presente! – Ela bateu a mão na própria cabeça. – Ia ser uma cesta de chocolate ou algo assim.
- Ah, não tem problema, você me dá ano que vem. O presente do seu pai já foi o suficiente.
- Exatamente. – Lucius disse em tom convencido ao entrar na sala segurando um pratinho com um pedaço de bolo. – Meu presente compensa a ausência do seu!
- Aposto que seu presente foi você mesmo nu e com uma fita amarrada na cintura! – Ela retrucou cruzando os braços e fazendo uma cara de nojo.
- Quase isso... Não tinha a fita. – Ele respondeu com um sorriso provocador.
- Lucius, cala a boca. – Reinald mandou sem graça. – Eu estava me referindo ao bolo quando falei de presente. Estava tão bom que só sobrou esse pedaço para você, filha.
- Isso porque eu impedi seu pai de atacar o coitado. – Lucius sorriu e entregou o pratinho para a Allinton.
- Ah, é? Ta tão bom assim? – Ela perguntou.
- Magnífico! – Reinald respondeu roubando um pedacinho do bolo da filha. – Desculpa, é um impulso mais forte que eu...
- Tudo bem, pode comer tudo. – Allinton entregou o pratinho a ele. – É seu presente de aniversario. Parabéns!
- Você não presta! – Reinald comentou rindo. – E a culpa é sua! – Acusou Lucius que fez a melhor cara de ofendido possível.
- Minha?! Oh, que calunia! Difamação de caráter!
- Você que ensinou esse tipo de coisa para ela! – Retrucou colocando um pedacinho do bolo na boca.
- Mas se eu não tivesse ensinado, você estaria sem esse pedaço de bolo agora... Devia me agradecer, isso sim!
- Obrigado. – Ele respondeu ainda meio que mastigando. – E obrigado a você também, filha. Vocês dois aqui já são o suficiente para tornar isso um ótimo aniversario.