Everton

O fim de semana passou rápido. Enfim Raquel começaria a academia. Queria muito conversar com a amiga e saber como foi o fim de semana com Renato, mas achou melhor deixar para perguntar na terça. Ia aproveitar que segunda era uma aula parada na faculdade e ia direto do trabalho para a academia. Queria ver o limite inicial de seu corpo.

Assim que chega a academia é recepcionada pelo mesmo rapaz que fez sua matricula.

– Oi, boa noite. Lembra de mim? Fiz a matricula semana passada.

– Lembro sim... Raquel é isso?

– Isso mesmo.

– Bom, seja bem vinda. Pode começar a hora que quiser.

O rapaz pega uma chave com uma numeração no chaveiro e entrega para ela.

– Essa é a chave do seu armário, pode guardar suas coisas lá.

– Legal obrigada. Onde ficam os armários?

– No fim daquele corredor. A sala de musculação fica em frente.

– Obrigada.

Raquel sai e o rapaz a acompanha com os olhos. Alguns minutos depois Everton chega.

– Já ta na lua cara?

– Ah, é você Everton, que susto.

– Estava dando em cima das alunas novas, aposto.

– Ainda não, não tive tempo. Ah, a gata daquele dia já chegou.

– Que dia? Que gata?

– Nossa Everton, aquela que te falei. Ela fez a matricula dela, saiu e você chegou, lembra?

– Ah ta, lembro que você falou, mas não cheguei a ver.

– É sua chance então. Ela foi pra sala de musculação, não tem quase ninguém lá. Aproveita que estou no meu horário aqui ainda. – diz rindo.

– Tá bom, vou ver quem é a garota misteriosa. – diz rindo.

Ele vai até seu armário onde deixa algumas coisas e pega outras. Vai até a sala de musculação, onde vê dois rapazes conversando enquanto levantavam pesos e uma garota de costas aparentando dificuldade em ajustar a esteira.

Por dedução entendeu que ela deveria ser a tal aluna nova.

Entrou na sala e colocou suas coisas ao lado de uma mesa. Dirigiu-se até a garota que ainda lutava com a esteira.

– Precisando de ajuda?

– Por favor...

Dizendo isso a garota se vira, ficando de frente para o rapaz.

– Raquel?!

– Desculpa, conheço você? – pergunta confusa.

Ele a olhava atentamente. De perto ela estava ainda mais linda.

– Jura que não se lembra de mim?

Raquel olha o rapaz a sua frente, tenta puxar alguma lembrança da memória, mas nada vem.

– Te conheço faz tempo?

– Só desde criança... Magrela.

Os olhos de Raquel se arregalam e sua boca abre enquanto o rapaz a sua frente começa a rir.

– Everton?

– Agora lembrou né?

– Nossa, não acredito!

Eles se abraçam enquanto Raquel diz algumas palavras que ele não se atenta. Quer apenas se concentrar naquele abraço, se concentrar nela.

– Você está diferente, nem parece aquele franguinho.

– Academia faz milagres, só não sei se no seu caso vai dar jeito... – diz rindo, levando um tapinha de Raquel.

– E a Mariana? Está bem? – pergunta ela já sem o sorriso radiante no rosto.

– Não sei... Já tem uns dois anos que não estamos mais juntos.

– Foi mau, não sabia.

– Tudo bem. Você perdeu o contato com ela também?

– Nossa, faz muito tempo. Desde quando me mudei.

– Entendi... Raquel, você quer muito começar a malhar hoje?

– Pretendia, porque amanhã vou pra faculdade.

– Está na faculdade? Estuda o que?

– Administração.

– Legal. Eu comecei a fazer administração também, mas acabei trancando.

– Sério? Por quê?

– História longa... Por isso perguntei se você queria começar sua malhação hoje. Se quiser podemos sair pra tomar alguma coisa e colocar o papo em dia.

Raquel pensa um pouco a aceita.

Ela e Everton guardam as coisas em seus devidos armários e saem. Assim que chegam a recepção, o rapaz amigo de Everton o olha surpreso. Everton ri e sinaliza dizendo que depois explicaria tudo.

Eles vão até uma lanchonete próxima a academia. Pedem sucos e uma porção de batatas fritas. Enquanto o pedido não chega ficam conversando sobre como foi os últimos anos deles.

Everton explica porque o namoro com Mariana acabou, evitando citar um dos principais motivos.

– Ela sempre foi muito ciumenta, mas chegou uma hora que ultrapassou todos os limites. Se me via com o celular achava que era outra mulher.

– Nossa, a Mariana sempre se mostrou tão segura... Pra ela ter ciúmes assim de alguém devia ter motivos.

Everton ri afinal Raquel não fazia a menor idéia de que a garota que Mariana sempre morreu de ciúmes era ela mesma.

– Ah, eu já tinha te visto antes de hoje lá na academia, mas você não me viu.

– Sério? Onde?

– No aniversário da sua prima. Eu estava lá.

– E como eu não te vi?

– Eu fiquei o tempo todo lá com os caras. Aliás, eles não tiravam os olhos de você.

– Ah vá! – diz Raquel rindo.

– É sério... Você está muito linda. Seu namorado é um cara de sorte.

Raquel retira o sorriso do rosto.

– Falei alguma coisa que não devia?

– Nada não Everton, deixa pra lá.

– Pelo visto não devia ter tocado no assunto namorado... Desculpa.

– Relaxa, está tudo bem. Eu namorei um cara aí, mas não deu certo... Ele me fez muito mal e evito ao máximo tocar nesse assunto sabe?!

– Claro, desculpa. Vamos mudar de assunto então.

Eles continuam conversando descontraidamente, até que Raquel vê que algumas pessoas entrando na lanchonete.

– Esse pessoal é lá da faculdade – diz olhando o relógio do celular – Nossa Everton, está tarde, preciso ir agora.

– Posso ir com você? Te faço companhia até sua casa.

– Se não for te atrapalhar.

– Claro que não.

Ele a acompanha até sua casa. Não era tão longe da academia como ele pensava.

– Bom, é aqui. Não te chamo pra entrar agora porque está tarde e meus pais devem estar dormindo.

– Sem problemas. Posso vir outro dia, se você me convidar... – diz rindo.

– Considere-se convidado desde já – diz rindo também – Agora tenho que entrar.

– Tudo bem. Nos vemos na academia amanhã?

– Com certeza. Mas vou sair um pouco mais cedo por que tenho aula.

– Tudo bem então, nos vemos amanhã.

Ele da um beijo no rosto de Raquel, mas acaba demorando um tempo a mais lá. Ela se afasta sem jeito.

– Boa noite, até amanhã. – diz ela ao se afastar.

– Boa noite, durma bem.

No caminho de volta pra casa Everton não consegue tirar Raquel da cabeça. Estava feliz em saber que a veria sempre e que agora poderia fazer o que sempre quis desde quando eram adolescentes, porém o jeito com o qual Raquel falou com ele o deixou preocupado.

“- Eu namorei um cara aí, mas não deu certo... Ele me fez muito mal e evito ao máximo tocar nesse assunto sabe?!”

Ele sentiu dor nas palavras de Raquel, por isso achou melhor não prolongar o assunto. Porém aquilo foi o suficiente para que ele soubesse que o coração dela estava machucado.

Se ele queria mesmo conquista - lá, recuperar o tempo perdido no passado, antes de qualquer coisa teria que curar aquele coração e isso não seria uma tarefa fácil.