I Don't escrita por Nihaxy


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Não, eu não sei por que escrevi em segunda pessoa. Mas essa coisinha minúscula aí embaixo não queria sair da minha cabeça, é .-.
Não revisei, perdoem os erros :)



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Ela está linda no vestido branco.

Na verdade, ela fica linda em absolutamente qualquer coisa. Desde uma camisa velha do Red Sox até o vestido curto preto. O único que ela admitiria possuir.

Você, mentalmente, agradece por ela não ser muito adepta ao uso de vestidos. É uma razão egoísta, sim, mas uma razão válida do mesmo jeito.

Ela já é uma visão e tanto sem ter que acrescentar no pacote um decote e pernas à mostra.

Mas Jane, num vestido de noiva... É uma visão. E você não tem adjetivos suficientes no seu vocabulário poliglota que consigam chegar aos pés de fazer uma descrição acurada.

Desde que ela entrou na igreja, você não consegue tirar os olhos dela.

Em qualquer outra situação, isso seria muito estranho e com certeza desencadearia perguntas. Mas é o dia do casamento dela, então é normal que todos fiquem prestando atenção à noiva para ver suas reações. Você sabe que pode ficar encarando-a sem pudor, porque todos estão fazendo o mesmo. Não pelas mesmas razões que você está, mas...

Ninguém, na verdade, tem muito em comum com você. Nunca teve, nunca terá.

Você sabe o que é ser sozinha.

Você sabe o que é passar aniversários e mais aniversários trancada no quarto, lendo. Você sabe o que é não criar laços nem se relacionar com pessoas porque elas te acham estranha demais. Você sabe o que é se destacar em tudo o que faz, mas não ter ninguém realmente próximo o suficiente para comemorar junto.

Você pensou que estava acostumada com tudo isso. Você pensou que, depois de anos de solidão, acabaria criando meios para se defender dela, para não a sentir mais de maneira tão aguda.

Você pensou que tinha conseguido, finalmente, chegar àquele patamar em que diria, com certeza, que estava feliz assim. Que aprendera a ignorar a apatia que parece te perseguir como uma sombra, que aprendera a apreciar o silencio absoluto.

Que aprendera a ficar mais próxima dos mortos do que dos vivos.

Afinal de contas, não é a toa que se ganha um apelido como Rainha dos Mortos.

Você pensou que estava feliz. Você se convenceu de que o que tinha era o suficiente para ser feliz. Você se enganou dizendo que não precisava de mais nada para ser, literalmente, feliz.

Então ela apareceu.

E você viu que toda a sua vida, tudo em que acreditava, tudo que aceitava não passava de uma grande farsa.

Ela te mudou de um jeito que você acharia impossível. Ela te cedeu coisas que você nunca, nunca sonhara que poderia ter. Ela te mostrou o que é ter uma família, o que é confiar nas pessoas, o que é ter um melhor amigo.

Ela te mostrou como afastar a solidão.

Quando você se deu conta, já era tarde demais.

Tarde demais para impedir-se de se apaixonar por ela.

Tarde demais para sequer pensar em negar a importância que ela assumiu na sua vida.

Mas, como as coisas nunca são tão fáceis quanto parecem, ela não pode ser sua.

Primeiramente, você sentiu com toda a força o peso da injustiça. Afinal de contas, era você que estava ao lado dela sempre. Quando ela atirou em si mesma, quando o pai dela foi embora, quando Casey voltou e praticamente a empurrou para fora da vida dele...

Casey.

Uma palavra. Cinco míseras letras.

Você nunca pensou que uma coisa tão pequena pudesse ser capaz de te trazer tanta dor.

Você nunca pensou que perder alguém, pouco a pouco, fosse capaz de provocar sofrimento tal que quase chega a ser algo físico, palpável, tangível.

Tecnicamente, você sabe que não a perdeu. Ela ainda é sua melhor amiga. A melhor que você poderia ter sonhado em achar.

Mas é impossível sentir outra coisa que não a dor da perda. De algo que você nunca teve.

Se é que é possível perder algo que nunca foi realmente seu.

Se é que é possível sentir falta de coisas que nunca aconteceram.

Possível ou não, é inegável que está acontecendo.

E você está ali, assistindo, da primeira fila. Literalmente.

Você está ali, escutando – mas não realmente ouvindo – o padre falar. Tudo se transformou há muito num borrão, e ela é a única coisa em que você consegue focar.

Ela sempre foi seu porto seguro mesmo.

Você sente uma vontade absurda de chorar. De gritar. De implorar de joelhos para que ela não prossiga com esse casamento.

Mas você não tem coragem de fazer nada disso.

Então você apenas saboreia a amargura ácida que é sentar na primeira fileira para assistir o casamento do amor da sua vida.

Continuar ali não é mais que puro masoquismo.

Mas você é, sim, a melhor amiga ela. É o esperado de você, sentar exatamente onde está e apreciar a cerimônia e, ao final, dar-lhe um abraço e desejar-lhes toda a felicidade do mundo.

Talvez você tenha que vomitar antes de fazer isso.

Talvez você ceda à covardia e simplesmente vá embora antes que isso possa acontecer. Antes que você tenha que encarar aqueles olhos castanhos e pensar em alguma meia-verdade para dizer que está feliz por ela ter achado alguém como Casey.

Então você a vê rapidamente virar e te dirigir um sorriso.

Você acha estranho as covinhas não aparecerem, os olhos não refletirem a felicidade que ela está sentindo.

Por uma fração de segundo, ela parece preocupada.

Ela fixa o olhar em seu rosto, uma expressão inquisitiva tomando conta de suas feições.

Você se força a sorrir, de uma maneira que, com um pouco de sorte, vai indicar que tudo está bem.

Você sempre pensou que o único jeito de mentir seria se utilizando de palavras, mas agora, quando um ardor característico começa a se manifestar por seu pescoço, você se pergunta se também é possível mentir por meio de ações.

Ela volta a olhar para o noivo quando o padre lhe chama a atenção. Se você estivesse realmente assistindo, teria com certeza notado que já fazem alguns segundos que a pergunta fatídica fora feita.

O padre pigarreia e repete a pergunta. A pergunta de que todos já sabem a resposta. Você segura com força no banco de madeira, e se prepara psicologicamente para ouvir o “sim” que ela vai dizer.

E então eles se beijarão e ela será a Sra. Casey Jones.

Os segundos passam. Seu coração já bateu o que parecem milhões de vezes. A igreja está em completo silêncio. Todos esperam apenas ela dizer o “sim”.

Ela olha para você outra vez. Você não consegue realmente identificar a expressão no rosto dela. Algo como... compreensão?

E, quando ela olha de novo para Casey – que espera ansioso pela resposta que já devia ter sido dada – não é o “sim” que sai de seus lábios.

Você – e todos os outros – param imediatamente. Parece até que todos prenderam a respiração, como se esperando as câmeras anunciarem que tudo é uma pegadinha.

Mas ela apenas repete, com um pouco mais de força na voz, o vocábulo que dissera ao ser perguntada se aceitava se casar com Casey Jones.

Dessa vez, porém, ela olha para você.

Tudo parece estar sobrecarregado, como um distúrbio no padrão da realidade.

Você pensa que tudo é um sonho, mas não.

Você realmente ouviu o “não” que ela disse. Você realmente ouviu a recusa, a negação a prosseguir com esse casamento.

Casey está completamente pasmo. Não só ele, mas sim todos os outros.

Você ainda não acredita no que acabou de ouvir.

Ela está sorrindo para você, agora.

E você não tem palavras para descrever o que está sentindo.

Mas tem a plena certeza de que nada nunca se igualou a tamanha felicidade.

E você sorri de volta.


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Notas finais do capítulo

Reviews, please? Mesmo que seja dizendo que tá uma porcaria (: