POV MADALENA

Estava acompanhada de Lucas quando me deparei com meu quarto virado do avesso. E quando digo do avesso digo mesmo completamente destruído. Suspeitava que o panorama com que eu e Lucas nos deparávamos naquele momento era ainda pior que a destruição causada pelas tropas militares da primeira ou segunda guerra mundial.

_ Nossa! Alguém pegou pesado, hein! – o idiota do Lucas apenas coçou a cabeça.

_ E eu apenas quero saber quem!

Caminhei pelo meio da bagunça arrumando algumas coisas no lugar. Não tudo porque isso era impossível e trabalho para o resto da tarde.

_ Acho que vai ter que arrumar tudo isso.

_ Oh, sério? Garoto, tá achando que eu ainda não entendi isso?

_ Não, tou arranjando uma forma de falar que nosso trabalhinho estupido e pateta de filosofia está adiado. Para nunca mais.

_ Que bom pra você! – estava enervada e ele ainda se dava ao trabalho de zoar de minha situação. E pra Lucas tinha apenas um concelho: Ou ele voava rumo a seu quarto, ou então se arriscava a levar com um frasco de creme na cabeça.

ele aproximou seu rosto de meu ombro e sua boca de meu ouvido e com um ar de xingação falou:

_ Quer ajuda?

Sua idiotice e seu sarcasmo foram ao limite, mas como eu ainda me considero uma pessoa minimamente calma e civilizada, apenas sorri amarelo, sem vontade nenhuma de exercer meus músculos da boca e falei.

_ Quero, mas é pra te jogar janela fora.

_ Nossa, ela tá brava!

_ E vou ficar ainda mais se você não vazar já! Rua de meu quarto agora! – caminhei até ele com um ar malvada obrigando Lucas a ficar pra lá da soleira da porta de meu dormitório.

Ficamos olhando um para o outro mas daquele jeito de “eu vou terminar com você se não se puser em andamento corredor fora”. Eu dentro do espaço de meu quarto e ele pra lá da fronteira. Fiz um ar minimamente sínico e bati a porta na sua cara sem cortesia nenhuma. Garoto idiota, otário e estupido.

Começando arrumando a roupa, depois os livros que seja quem for que os deitou pro chão dobrou as folhas. Depois minhas caixinhas ( sim, toda a menina tem caixinha), depois as fotos que devolvi aos lugares certos e por fim fiz a cama. Olhei em volta, tudo parecia arrumado, e a bagunça já não era tanta.

Estive três horas arrumando tudo, e quando cheguei no fim estava realmente cansada. Que trabalheira.

Só faltava um lugarzinho onde eu não tinha entrado nem visto o estado. Exatamente o banheiro. Abri a porta com cuidado e…

Não sei onde eu fui buscar tanta velocidade e tanta força nas pernas o certo é que corri até ao quarto de Tiago, abri a porta tão rápido e só parei no colo dele, com as mãos rodeando seu pescoço e fazendo o máximo de força, me mantendo longe do chão assustador, com criaturinhas de cinco centímetros de comprimento e mais dois ou três de altura, que têm dentes que em comparação com o corpo são do tamanho da Torre Eiffel, e que emitem barulhos apavorantes que furam os ouvidos de um lado ao outro.

_ Que foi linda! – Tiago perguntou, me agarrando.

Meu coração e mais um pouco saltava fora. O ar que eles exigiam que entrasse por meu nariz e saísse por minha boca não tinha espaço suficiente para assim o fazer e eu estava seriamente sujeita a ter um infarto naquele momento.

Descolei minha cabeça do ombro dele e obriguei meu cabelo a desgrudar de seu pescoço, que com minha respiração colou na pele.

Tiago estava já se preparando pra me devolver no chão, mas eu depois disso acho que nunca mais vou caminhar em paz seja onde for.

_ Não, não, não! – abanei com os pés suplicando que ele esquecesse a ideia de me assentar na vertical.

_ Mas que foi! – Tiago falou rindo. Só eu que não estava com vontade de rir.

_ Tem um exército de pequenos ogros invadindo meu dormitório.

_ Ogros?

_Tem – ratos – se – apoderando –de – meu – quarto! – falei bem devagar e sem descolar meus dentes, pra não cair no risco de vomitar as tripas naquele momento.

Ratos, aranhas e Vanessa eram os únicos animais nesse mundo que não venerava, nem que fossem um material essencial do manual de sobrevivência!

_ Ratos? Como assim?

_ Você não sabe o que são ratos? Animaizinhos malvados do tamanho de seu estômago, que se divertem roendo tudo o que é queijo e roupa, que fazem um sonido horrível, que dormem em buraquinhos na parede e que eu detesto! Já identificou que tipo de bicharoco é ou preciso botar na wikipédia pra você ver a carta cientifica dele?

_ Como podem haver ratos em seu quarto?

_Com certeza mais que a absoluta não fui eu que despejei aquelas mini criaturinhas maléficas, apavorantes, nojentas, com patas do tamanho de suas unhas e com narizes que nem de mini palhaços em meu banheiro.

_ Banheiro? – Lucas, a alma penada que eu mandei chatear outro e que nesse momento estava otimamente acomodado na estante de Tiago, se mostrou surpreendido quando falei a palavra banheiro.

Banheiro é assim uma palavra tão estranha, pra fazer alguém alcançar um nível de surpresa muito elevado?

È que pra mim é uma palavra como as outras, com letras, silabas, significado, e todas as caraterísticas de uma palavra.

_ Sim. Mal abri a porta de meu rico banheiro eles saltaram pra chão que nem as bolinhas dos armazéns de educação física.

_ Eles? Eram muitos? – eles aperceberam-se que o lance era mais sério do que eles pensaram, e eu agradeci a deus, á fadinha, ao anjinho da guarda, ou seja lá quem for que está lá em cima tomando conta de minha triste e pobre alma.

_ Muitos? Eu acho que, nesse momento essa palavra é tão pequena pra descrever a quantidade deles. Eram tantos mostrengos correndo em todas as direções que eu também corri, mas foi porta fora!

_ Vamos, mas é até lá, pra ver onde estão esses tão desprezados ratinhos.

_ Tanta fofura, pra demónios capaz de com aqueles dentes afiados tornarem seu pé com o dobro do tamanho e mil vezes a largura.

Tiago também concordou com Lucas e os dois foram caminhando á minha frente, comigo sempre agarrando forte o braço de meu namorado, caso algum soldado miniatura fosse atacar.

Passamos umas quantas portas e quando estávamos já perto da de meu quarto uma menina se joga na nossa frente e eu e Tiago gritamos ao mesmo tempo. Eu por ver que ela estava carregando entre os dedos um ratinho, que de pequeno não tinha nada e Tiago, gemeu por eu cravar minhas unhas em seu braço.

Lucas, pelo contrário, apenas abriu a boca, e ficou quieto no meio do corredor babando pela garota que eu não conhecia de lugar nenhum.

_ Tá vendo eu falei, que tinha ratos! – apontei para o animalejo que ela segurava, e que se divertia mexendo o nariz de um lado para o outro que nem convencido.

Fiquei com a sensação que ele não gostou muito de mim, mas paciência eu também não curti nada ele, nem curto o resto de sua numerosa família roedora!

_ Não precisa estar com todo esse medo. São apenas doceis criaturas. Olha só nem mordem. – a garota foi aproximando de mim aquela criatura pensando o quê? Que nos tornaríamos amigos logo, com uma simples troca de olhares.

Eu e Rato inimigos pra sempre. Me escondi um pouco mais atrás de Tiago, que ainda se estava queixando da braço.

Lucas aprecia uma alma morta, e somente os olhos pareciam ter vida. Olhava para a garota que nem comida e eu tinha certeza que se naquele momento tocasse com a ponta do dedo em sou braço, não fazendo o mínimo de força ele tombaria e continuaria olhando a menina, que parecia estar ligando mais pro rato do que para o Gato de seu lado.

_ Mas esse, é um! Tem muitos mais, sabe! – falei ainda não acalmando de todo o pânico.

_ Sério? Tem uma família de ratos aqui? Que legal. – essa devia ser mesmo uma aluna nova.

_ Tem e sabe aonde, dentro de meu banheiro. Mas se você quiser eu posso trocar de dormitório contigo e você faz companhia a todos esse animaizinhos, que alguém, sei lá quem decidiu botar em meu dormitório.

Falei grosso? Paciência. Estava tentando resolver um problema grave e sério mais ninguém parecia botar olho. Um estava que nem bobo apaixonado, outra estava feita veterinária e outro estava se queixando do braço, enquanto alguns outros quem sabe estavam devorando minhas roupas.

Estramos em meu quarto e parecia estar tudo tranquilo e normalizado sem vestígios de ratazana.

_ Mesmo assim, eu não durmo aqui hoje! – comentei olhando em volta muito silenciosa.

_ Isso é a forma que arranjou pra perguntar se pode ficar dormindo comigo por hoje? – Tiago veio por trás e amarrou minha cintura, beijando meu pescoço.

_ Se quiser eu apanho todos os bichos que possam estar fazendo de habitat seu quarto. Tem é apenas de me dar pelo menos uma noite. – a… a menina que eu ainda não sei o nome propôs.

_ Fica com o quarto. – arrebatei, não dando espaço pra mais tipo discussão.

_ O tempo que quiser, ela tem onde passar a noite, isso não é problema. – Tiago sempre engraçada e com um lado um pouco safado tinha que também falar.

Ela apenas riu, percebendo a perversão dele e trocando um olhar comigo falando “ Eles são todos iguais ” e é verdade, garoto nunca perde hipótese e então Tiago não desperdiçava nem uma!

_ Mas quem é você? – perguntei curiosa, ainda com a cabeça de Tiago apoiada em meu ombro.

_ Me chamo Valéria! Sou nova aqui no colégio. – ela se apresentou enquanto acarinhava o pelo ao montinho de pelos que segurava. – E vocês?

_ Eu sou Madalena!

_ E eu Tiago!

_ E você? – Lucas pela primeira vez desde que eu o conheci esteva mis de meia hora calado. Sem mexer a boca. Estranho isso, não? Eu será que não é tão assim.

_ Ah… - ele falou acordando para a vida, com o maior ar de confundido e de quem estava bem longe e quando falo longe, não é em Marte, e muito menos na Lua é assim tipo em Neptuno ou Urano, ou até mesmo navegando entre os anéis de Saturno. – Lucas!

_ E de que ano você é?

_ Terceiro.

_ Ué, a gente também! E já sabe que turma?

_ Pois isso é o que eu não sei, minhas aulas apenas começam na segunda e só no dia é que saberei que turma eu vou parar.

_ Bom, e se a gente fosse indo, pra dar mais tempo pra Valéria desabitar os ratos? – Tiago sugeriu.

Peguei uma roupa e uns produtos de higiene, como uma escova de dente, perfume e xampu, peguei meus livros e uma bolsa, umas vans e estava minha roupa de amanhã feita e pronta.

…

Estava sentada no colo de Tiago, enquanto nos olhávamos fixamente, e víamos nossas mãos dançarem juntas no ar. Tiago deixou eu encostar minha cabeça em seu ombro e começou fazendo carinho em meu cabelo.

_ Quem terá feito isso? - perguntei rouca.

No principio eu estava mais preocupada com os terroristas dos ratos, mas agora o que não consigo tirar da cabeça são hipóteses de quem poderá ter desengaiolado os ratos lá e aproveitando pra destruir tudo.

Me ergui de seu ombro e juntamos nossas testas. Tiago passou sua mão por meu rosto e eu brinquei com seu cabelo, com a minha. Ele humedeceu os lábios ao mesmo tempo que fechou os olhos. Fechei os meus também e respirei fundo. Ele puxou meu queixo ainda mais e nossos lábios acabaram colidindo. Inicialmente um selinho tímido, mas depois as coisas foram aquecendo e suas mãos navegaram por minhas laterais.

Ele aproveitando o fato de eu já me estar acomodando em seu colo, se levantou, me levantando junto. Caímos na cama e ele tratou de sacar minha blusa, depois minha calça. Pegou numa camiseta qualquer perdida e encaixou em mim. Fazendo tudo isso com calma, e entre beijos.

Depois foi minha vez de arrancar a camiseta a Tiago. Ele abriu a cama se deitando, deixando depois eu deitar por cima dele. Entrelacei meus pés com os seus e minhas pernas encaixaram perfeitamente entre as dele. Nossas bocas se grudaram de novo e minhas mãos percorreram o peito descoberto dele. E ficamos conversando, rindo, beijando, olhando um pro outro até ás tantas.

A ultima coisa que eu lembro foi de trocarmos um leve selinho e depois, depois tudo ficou escuro…