Esquilos corriam para suas casas, pássaros voavam rapidamente para seus ninhos, como se algo estive os perseguindo, não havia mais borboletas voando e arrancando sorrisos, já estavam acomodadas dentro das flores, flores estas que tremiam como a ponta de uma árvore em um dia frio de inverno. 

   Tudo estava escuro, o sol já havia se posto, liberando uma grande lua que iluminava a escuridão, me permitindo ver que uma pasta verde e escura cobria todo o solo que eu estava pisando – grama - logo percebi. Pequenas flores brotavam da pasta verde e escura, as pétalas se contorciam sob o frio da noite, pude observar - com bastante dificuldade - que não havia uma nem duas, eram milhares de flores. Algumas pétalas não agüentavam o vento forte e sufocante e acabavam rompendo-se e sendo levadas pelo vento, muitas ao mesmo tempo, elas pareciam dançar um antigo e elegante tipo de balé, uma delas passou bem diante dos meus olhos, perto o suficiente para que eu visse de que cor era – lilás – logo detectei.

   Havia uma grande campina, completamente coberta pelas flores, era onde eu estava enquanto observava tudo, uma luz saiu de dentro da floresta, uma floresta que rodeava toda a campina, a luz se movia devagar e delicadamente, parecia que estava flutuando. Uma voz ao longe me chamou a atenção.

    -Jake! Jake! 

   A voz gritava. Era uma voz muito conhecida, não era estranha, parecia ser de alguém muito próximo, aliás, só havia uma pessoa que eu conhecia com aquele nome. 

   Uma linda menina de cabelos dourados e escuros, saiu correndo de dentro da floresta, caminhando em direção á luz que eu tinha visto, ela era a dona daquela voz. A menina parou de correr e ficou apenas contemplando a luz com um enorme sorriso no rosto 

    - Jake! 

   A menina gritou novamente, não sei o porquê, mas estava com medo que ela me visse, mas isso era tolice, a menina não me via nem me escutava, como se eu não estivesse ali, naquela campina sozinha com ela. Ela me intrigava, era tão linda, seus cabelos formavam cachos grandes e pesados, que caiam pelo seu ombro como pluma aveludada, parecido com o das bonecas , e ele ainda era de um dourado perfeito, sua pele era branca e seus olhos eram de um castanho escuro apaixonante, ela era perfeita, tão perfeita que se pudesse passaria o resto da minha vida olhando ela e ainda não me saciaria. 

    A menina só precisou gritar mais uma vez

     – Jake! Venha aqui .

    Para que um rapaz alto e incrivelmente forte fosse atender ao seu chamado, seu cabelo era escuro como a noite, seus olhos mais ainda, ele era lindo mas tinha um cheiro estranho, não sei como explicar, ele fedia, mesmo eu estando do outro lado da campina podia sentir seu cheiro - ainda bem quem eu estava bastante acostumada com esse tipo de cheiro -  ele era familiar, parecia uma pessoa que é muito importante para mim, mas por causa da escuridão não conseguia identificá-lo. O rapaz chegou perto da menina e se abaixou, para que ficasse do tamanho dela.

     – O que foi meu amor? – perguntou com a voz mais doce que chocolate.

     – Olhe como é bonito! – a menina respondeu apontando para o que parecia ser uma luz á distancia.

    - É um vagalume Nessie – ele respondeu contemplando o sorriso no rosto da menina.

   Nessie? Esse era o meu apelido e só quem me chamava assim era o... 

   "Jacob! "

   Logo raciocinei.  Mas o que ele estaria fazendo ali? Aquele não era o Jake... Por que ele chamaria outra garota de Nessie? A menos que...

   "Aquela garota sou eu!"

    Pensei, mas isso era impossível, aquela menina tinha no máximo uns seis anos e eu tenho dezesseis! E como poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo? Não isso é impossível, eu devo estar ficando maluca!

   Tentei chamar a atenção do homem que parecia com o Jacob, era inútil, ele também não me via.

    - Nós podemos brincar com ele, Jake? - a menina perguntou

    - Mas é claro meu anjo! Deixa só eu pegar uma coisinha que irá ajudar...- o grandão atraente disse

   Escutei o barulho de um flash, o Sr. Atraente estava abrindo uma mochila que estava nas costas da menina, a qual eu ainda não havia percebido que estava lá até o atraente abri-la. Ele retirou um pote de vidro transparente - pelo menos é o que parecia ser - com uma tampa aberta, parecia que estava bem fechado, mas mesmo assim ele deu uma chance para a menina e colocou o pote nas mãozinhas dela.

   - Abra Nessie - Sr. Atraente disse

   A menina abriu sem a menor dificuldade e perguntou:

   - No que isso poderia nus  ajudar na ideia de brincar com o vagalume? - a cachinhos disse

   A menina falava como uma mulher fina de 34 anos, chegava á ser estranho frases tão bem elaboradas saírem de uma boca de alguém tão pequeno. Como não sabia o nome deles, os apelidei - para mim mesma-  respectivamente de "Sr. atraente" e " Cachinhos", me pareceram fazer juízo á eles.

   - Você vai caça-los - disse o Sr. Atraente colocando o braço no ombro da menina - vai colocar eles aí dentro - ele apontou para dentro do pote -  é divertido! 

   - Caça-LOS?  Mas Jake só tem um vagalume aqui! - disse a  menina parecendo irritada

   - Calma Ness! Vou lhe dar mais - Atraente disse 

   "Vou lhe dar mais" Quê? Ele também tinha vagalumes guardados na bolsa da menina para algum tipo de emergência? Onde ele iria achar mais? Ele estava mentindo para a menina? Meus pensamentos foram interrompidos quando escutei um barulho enorme de casca de quebrando. O Sr. Atraente havia se levantado e se dirigido á uma árvore próxima á eles, colocado o pé e estava mexendo a árvore de um lado para o outro, como alguém chutando um papel. Por que ele estaria fazendo aquilo? Ele achava que iria confundir a menina com folhas no lugar de vagalumes? Iria ele irritar a menina novamente? 

   Meus pensamentos foram novamente interrompidos - provavelmente eles estavam errados e o grande motivo vinha só agora - milhares de vagalumes saíram da árvore  e  voaram em todas as direções - eu não disse? - agora eu conseguia contar o número de folhas pressas a árvore nos dedos! 

   Eu estava emersa em meus pensamentos até que um grito me sacudiu para todos os lados até eu me acordar.

    - NOOOOOOOSA!!! Jake olhe isto é muito lindo - disse a menina que estava com os olhos arregalados e de boca aberta observando os bichinhos voadores

   - Pegue-os Nessie! - gritou o Sr. Atraente para ela

   Cachinhos saiu correndo em disparada para caçar os vagalumes, colocando mais de dez de uma vez dentro do pote, o sorriso na boca dela era de uma ponta a outra, agora eu entendia por que o atraente ficava observando-a, ela era perfeita! Linda. 

   O sorriso também era enorme no rosto do Sr. Atraente, ele não se aguentou e acabou se levantando para ir brincar junto com a menina, segurando cachinhos no alto para que ele pegasse os esperançosos vagalumes que estavam fugindo, os dois riam e brincavam juntos, o Sr. Atraente agitava ainda mais os bichinhos voadores com a mão para que a cachinhos se divertisse em dobro. Eu poderia passar a noite toda olhando eles se divertirem, era uma cena linda, parecia que tinha sido retirada de um filme ou alguma coisa assim, eu estava esperando que as câmeras, o roteirista e o diretor saíssem de dentre as árvores gritando "corta!" dando fim a cena perfeita.

   Eu tinha que saber o que estava realmente acontecendo comigo, por que Cachinhos e o Sr. Atraente não me viam nem me ouviam, saber o por que de estar ali á noite. Eu não me lembrava de nada, não sabia como eu tinha parado naquela campina, nem por que parecia que eu não estava ali, não me lembrava se havia comido macarronada ou um belo alce na noite passada, não me lembrava de nada.  

   Será que eu estava participando de algum tipo reality show? Ou haviam descoberto o meu segredo e de toda a minha família? Eu estava começando a me desesperar. Comecei a andar em direção a cena de filme, queria que eles me vissem, me dissessem aonde eu estava, mas era como se eu não estivesse ali. Fiz gestos, gritei, esperneei, mas não me escutavam, estavam completamente presos naquela cena, eu  estava começando a ficar sufocada, procurava o oxigênio acima de minha cabeça , mas não o achava, comecei a ficar tonta e ver tudo ficar preto, eu queria gritar para retomar o fôlego, mas não conseguia, era como se eu não estivesse ali. 

   A cachinhos, o Sr. atraente, os bichinhos voadores, a pasta verde.... Tudo foi consumido pela escuridão que invadia meus olhos e meus pulmões, me deixando cega e me matando aos poucos asfixiada. Tentei gritar novamente,  puxando o pouco de oxigênio que ainda me restava, não foi o suficiente, engasguei antes do grito poder sair pela minha boca e invadir a escuridão, estava sem ar e engasgada.   

   A dor era tanta que comecei a me contorcer até encostar meus joelhos na pasta verde, ficando de quatro e ainda tentando procurar o ar, me arrependi amargamente de ter saído do meu lugar para perguntar aonde eu estava. Eu ainda conseguia ver uma pontinha da grama escura e.... Pronto! Tudo foi coberto pela escuridão, eu agora estava completamente cega.

   Tentei gritar novamente, empurrando e puxando o ar que estava preso em minha garganta, expulsando-ô para fora, para que eu pudesse retomar o ar. O ar saiu da minha garganta permitindo que oxigênio invadisse os meus pulmões, a minha felicidade por estar respirando novamente era como a de uma criança na noite de natal. Não consegui dar um  grito, mas pelo menos estava respirando novamente. 

   Enquanto respirava profundamente percebi que meus olhos estavam fechados, a dor foi tanta que nem percebi que os tinha fechado. Os abri devagar e delicadamente, estava com medo do que estava me esperando atrás de minha pálpebras, quando os abri completamente percebi que estava no meu quarto, a mesma cama - na qual eu estava deitada - as mesmas paredes brancas, a mesma cômoda, o mesmo aquecedor....

   Nada havia mudado, foi apenas um...

   "Sonho!"

   Um estranho e terrível sonho. Se para ver Cachinhos e o Sr. atraente eu tiver que ficar sufocada, cega e engasgada novamente, aquela foi a minha primeira e ultima visita á eles, não queria mas nem um milésimo de segundo daquele sofrimento, mas pensando bem e conhecendo a mim mesma, aposto que eu seria idiota o suficiente para voltar naquele lugar para ficar olhando e admirando a menina, Cachinhos.

    - Que idiota! - respondi a meus pensamentos em voz alta