Você sabe do que eu sei

Mas eu não sei tudo o que você sabe

Você sabe o que eu sou

Mas não sabe toda a verdade...

Um som irritante de garfo riscando o prato de porcelana ecoou pela sala, Caroline ficou estática durante algum tempo antes de recompor sua expressão. Seu cérebro tentava buscar uma resposta de como Eric havia descoberto que ela fugira, e o pior, que falara com um desconhecido.

–Você não sabe do que está falando. – a resposta escapuliu entre seus lábios involuntariamente.

–Está achando que eu não sei das suas fugas e de seus comportamentos selvagens?! Mentir não é uma opção ao se tratar de mim. – ele se levantou elevando a voz.

–Como se você também não fosse um mentiroso! – gritou

Caroline deu as costas a ele e saiu da sala segurando o impulso de bater o pé, já que era um gesto um tanto desnecessário.

–Caroline! – escutou os berros estressados de seu tutor se aproximando.

Ela apenas o ignorou e pôs-se a subir a escadaria principal da mansão. Seus passos foram paralisados pelo tranco de uma bala a perfurando, seu corpo caiu para frente e depois rolou de volta ao pé da escadaria.

O ar faltava-lhe, a visão ficou momentaneamente embaçada, suas unhas, que agora mais pareciam garras, arranhavam o chão como se buscasse algo para se agarrar, decorrente da falha no sistema nervoso causada pelo tiro.

Ela ouvia os movimentos de Eric, que se ajoelhava sobre o sangue que escorria de suas costas e depois acariciava a cabeça dela.

–Porque me obriga a fazer esse tipo de coisa? – perguntou com uma falsa tristeza na voz erguendo o queixo da jovem.

Em um movimento reflexo, ela morde a mão dele.

–De todos acho que você é o mais falso deles. – ela cospe as palavras.

Eric analisa as marcas em sua mão e a olha com desprezo e diz antes de deixar a sala:

–Esta noite você dorme lá fora, talvez assim aprenda a se comportar como gente... Ou se transforme em um animal de uma vez... – murmurou a última parte para si mesmo.

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Lena foi obrigada a trancar Caroline do lado de fora da propriedade da mansão por ordens de Eric, algo que não era de seu agrado, mas como ela era apenas uma subordinada dele não havia nada que ela pudesse fazer a respeito da situação.

–Tem certeza de que ficará bem, querida? – perguntou do outro lado dos portões já trancados.

–Já disse que vou, não sou nenhuma menininha indefesa e quando eu tirar essa bala vou ficar bem melhor. – reconfortou-a.

–Eu achava que ele havia te matado – olhou para o pequeno buraco que havia do lado esquerdo das costas de Caroline.

–Não atingiu o coração. – deu de ombros – Agora volte logo para dentro, não quero que ele encontre você conversando comigo, já arranjei problemas demais para você.

Foi embora sem despedidas, mesmo temendo de que aquela fosse a última vez que falaria com Lena...

Arranjou uma pequena caverna para se alojar e começou seu meticuloso trabalho para retirar a bala. Eric sabia que aquela não a mataria, já que apenas prata era capaz de fazer isso, mas ainda assim era um grande incomodo para ela. Afinal, não era a toa que um homem como ele fosse pegar uma criança de rua para criar, com, é claro, uma pequena insistência por parte da esposa, que não podia ter filhos.

Mas inicialmente ele não estava ciente sobre a verdadeira natureza dela, ninguém estava, nem mesmo ela. Ou pelo menos é isso que ela achava...

–Vá embora. – falou sem olhar para quem estava entrando na caverna.