Vem como uma ânsia

De dentro para fora

Vem como o desejo

De te ter aqui e agora.

Caroline se levantou avançando na direção de Nathaniel, enquanto o encarava com certa raiva.

-Foi você! Você os trouxe para cá! – gritou quase que enfurecida.

Nathaniel empurrou Caroline de volta para dentro e fechou a porta com uma velocidade incrível.

-Se continuar gritando deste jeito vai acabar chamando a atenção deles. – disse de forma passiva.

Os ruídos bem próximos a porta fez a jovem ficar calada durante alguns instantes.

-Eu sabia que eu não podia confiar em você, desde o início você escondia algo... – foi interrompida pela mão de Nathaniel que tapou lhe a boca.

-Não é nada disso que está pensando, eu estou tentando ajudar.

Rugas de expressão apareceram entre os olhos da jovem que não entenderá quem realmente ele era. As coisas nunca pareciam que ia fazer total sentido, quando conseguia a resposta de algo vinham vários outros questionamentos sem resposta.

Ele suspirou parecendo enxergar a confusão nos olhos da jovem que estava em uma estranha mistura de amarelo com azul-claro.

-Você já deve ter percebido qual é a minha verdadeira natureza, mas eu também não sou um canibal, vim aqui para pagar uma dívida que eu tenho com sua mãe.

A jovem balbuciou algo inaudível e chegou a morder a língua antes de se pronunciar.

-Minha mãe nunca se importou comigo, se fosse assim teria vindo me buscar a muito tempo, ou nunca teria me deixado aqui. – deu uma pequena pausa antes de prosseguir – Minha mãe verdadeira morreu quando eu era pequena... Alguém a matou.

Nathaniel iria revelar algo quando a porta quase cedeu à força de um canibal contra ela.

-Consegue tirar a gente daqui? – perguntou Isabele que havia se mantido calada até então.

Ele foi em direção a porta e se virou rapidamente antes de lançar-se sobre ela.

-Corram o mais rápido que puderem.

O estrondo causado pelo choque entre o corpo de Nathaniel e a porta foi o alarme para fazerem as jovens entrarem em ação, saindo pelo buraco que ele fizera e correndo de volta ao salão principal onde estava ocorrendo à festa.

Caroline deu uma rápida olhada sobre o ombro e viu uma forma cinza se formando no lugar de Nathaniel.

Curvou-se levemente para frente ao sentir novamente uma sensação estranha se remexendo dentro de si. Chocou-se contra as costas de Isabele, já que estava muito ocupada para perceber que ela havia parado.

-Mas porque você... – cortou-lhe ao ver o que a fizera parar.

Eram duas criaturas gigantes, do tamanho de um garanhão talvez, suas formas eram semelhantes a de um lobo, porém parcialmente humanas na região do tronco. Seus pelos eram arrepiados como se tivessem levado um choque e se alimentavam do que antes eram conhecidos como os comerciantes de peixe da parte nobre da cidade.

Isabele chegava a prender a respiração pra não chamar atenção dos canibais, que estavam a poucos metros delas.

O cheiro de sangue novamente fez Caroline ficar embriagada e seu corpo se curvou mais uma vez, fazendo-a ficar de joelhos no chão.

-Você está bem? – sussurrou Isabele sem tirar os olhos dos canibais.

A jovem apenas balançou a cabeça sem condições de falar e ouviu um de seus ossos da coluna estalando.

-Alguma coisa me diz para você ir embora na minha frente – Caroline disse ofegante.

Outro estalo.

-Mas e os... – o medo que Isabele exalava fez Caroline raspar as unhas no chão.

-Vai logo! – gritou chamando a atenção dos canibais.

Isabele correu na direção contrária a que estavam vindo os canibais sem nem ao menos olhar para trás, o medo falava mais alto do que a necessidade de ajudar Caroline.

A jovem não lembra muito bem o que aconteceu depois, apenas a terrível sensação de que todo o seu corpo estava se remontando, como se alguém quebrasse todos os seus ossos e depois os remontassem em posições diferentes.

Assim que conseguiu se estabilizar, percebera que seu corpo estava diferente, se sentia mais forte e rápida, como se pudesse correr quilômetros sem se cansar, ou melhor, ela podia.

Avançou como um raio para cima de um dos canibais, ela não precisava pensar muito, sua nova forma já sabia o que fazer antes mesmo dela mandar um músculo se mover.

Quando se deu conta, os dois canibais já jaziam mortos próximos aos seus pés... Ou seriam patas?

Caroline se encarou com estranheza e certo alívio em um dos espelhos do salão, sua forma era quase igual à de um lobo negro de olhos amarelos, se não fosse por seu tamanho incomum.

Sua cabeça estava confusa, a sensação que sua forma de loba sentia estava em conflito com suas emoções humanas, isso se ela pudesse se considerar uma humana ou loba... Enfim, era confuso para ela.

Escutou palmas não muito longe dali.

Virou-se exatamente na direção do som e viu Eric descendo as escadas carregando Chloe nos braços.

Havia uma faca perfurada no meio de seu peito e seu cabelo caramelo sempre perfeito, se encontrava bagunçado e com fios soltos do coque que fizera.

-Foi realmente maravilhoso! – disse com uma expressão entusiasmada, os olhos brilhavam e não parecia estar carregando um corpo nos braços.

Pelo estado dos dois, eles haviam lutado um contra o outro. Chloe conseguira acertá-lo pelo grande rasgo que havia sobre sua casaca, mas quem dera o golpe final fora Eric, que havia feito mais uma vítima.

“Você é um psicopata!” pensou Caroline, já que não podia se expressar em palavras naquela forma.

Ele parou no final das escadas com um largo sorriso no rosto.

-Ora, minha querida Caroline, eu sou muito mais do que isso.