Um silêncio muito, muito estranho estava rolando.

- André? Você me ouviu? – Perguntei e nada.

Mas depois de alguns segundos ouvi uma risada. Ele parecia que estava morrendo de tanto que ele ria.

- Você? Apaixonada? – Pausa para rir. – Pelo Travis? – Pausa para rir. – Qual é a pegadinha Kat? – Revirei os olhos.

- André isso é bem sério. – Ele finalmente parou de rir.

- É sério mesmo? – Perguntou.

- Sim.

- E por que motivos você tava tão grudada com o Adam esses últimos dias?

- Ele tava me ajudando a conquistar o Travis, mas não deu em nada.

- E o que você quer que eu faça?

- Não é óbvio? – Revirei os olhos. – Dré, ele é seu primo. Você o conhece muito bem, eu quero que você me ajude a conquistar o Travis.

- Kat... – Ele fez uma pequena pausa. – Eu acho que ele está gostando da Carlie.

- Eu sei, mas eu não posso desistir sem tentar não é? – Falei esperançosa.

- Ta, vem aqui pra casa agora! Eu vou te ajudar. – Abri um sorriso.

- Ta bom. – Desliguei o celular. Troquei de roupa, peguei uma bolsa e desci.

Não vi ninguém. Na verdade eu não vejo ninguém dessa casa além do Dan.

Fui andando até a casa do André, que graças a deus, não era tão longe. Chegando lá o dré abriu a porta para mim e fomos até o seu quarto. O Travis estava no seu quarto, dormindo. Ainda bem, se não teríamos que arranjar um jeito de conversar em outro lugar.

Entramos e o André fechou a porta.

- Ok, agora me explica essa história direito. – Disse se sentando na cama e ficou me fitando.

Revirei os olhos. – Não tem muito o que explicar, eu só to apaixonada, isso é tão estranho? - Perguntei me sentando na cama também.

- Para você? Sim, é muito estranho. – Ele ressaltou o "muito".

- Por favor, eu não entendo NADA disso, eu... Eu gosto dele sabe? Têm aqueles troços dos elefantes, as mãos com terremotos... Eu não sei o que fazer dré, eu... Eu... – Parei de falar. Eu não sabia explicar nada do que eu estava sentindo. Como uma menina que não gosta de afeto, pode se apaixonar tão rapidamente?

- Kat, eu já entendi. Eu posso te dar alguns toques, mas não prometo se ele vai ficar com você ou não ok? – Assenti.

- Olha o Travis gosta de meninas românticas, que se cuidam. Talvez se você chegasse cedo ao colégio, usasse um pouco de maquiagem também ajuda, mais kat, o mais importante, você não pode deixar de ser você ok? Se o Travis for gostar de você, ele tem que gostar de como você realmente é. – Sorri e o abracei, ele retribuiu.

- Obrigada. – Disse por fim.

(...)

Depois que voltei da casa do André, estava pronta para mudar, para melhor, mas sem mudar como eu sou. Tá vendo? Eu entendo rápido.

Chegando lá, era bem tarde. Eu fiquei conversando com o André e acabei esquecendo totalmente o horário. Abri a porta bem devagar e fui andando com passinho de formiga. Subi as escadas e quando estava abrindo a porta do meu quarto e Adam abriu a do dele com cara de sono.

- Kat? Onde você estava? - Eu já falei que a voz rouca e o rosto de sono combinam perfeitamente com aqueles músculos do Adam? Tá parei. Balancei a cabeça fortemente para tirar esses pensamentos.

- Não te interessa. - Disse mostrando a língua e entrando no quarto, até que ouvi passos e quando eu estava fechando a porta o braço do Adam impediu. Revirei os olhos.

- Adam,  são 2 horas da manhã, eu to com sono e você ta fazendo muita zuada. Vai acordar alguém. - Sussurrei.

- Kat, que horas você saiu? E por que você chegou as duas da matina? - Perguntou sério.

- Sério isso? Virou meu pai agora? – Disse arqueado a sombracelha.

- Eu só estou preocupado.

- Até parece. Olha, eu não sou sua filha para você ter preocupação nenhuma.

- Para de se desviar da pergunta Kat, onde você tava?

- Num lugar, ora.

- Não vai me falar?

- Não, mesmo por que não é da sua conta. – Falei convencida. Esse menino tem sérios problemas de curiosidade.

- Pode arranjar outra pessoa para te ajudar com o Trav romanticosinho. –Disse com o olhar ameaçador. Coitado, já era tarde.

- Eu já arranjei. Agora solta à porta que eu vou dormir. – Ele largou o braço, fazendo o mesmo bater em suas pernas e sua boca estava aberta de surpresa. No momento em que ele tirou o braço fechei a porta na sua cara. Temos só ouvi um – AI KAT! Que porra! 

Joguei minhas coisas em qualquer lugar e me lancei na cama. Apagando logo depois.

(...)

Acordei bem cedo. Peguei minha toalha e meu nécessaire e fui para o banheiro. Nem o Adam tinha acordado ainda.

Comecei a tomar banho cantando Nirvana.

- I'm so happy, Cause today I've found my friends, They're in my head, I'm so ugly but that's okay, Cause so are you, we broke our mirrors, Sunday morning is everyday...  – Estava cantando animada até que ouvi várias batidas na porta, me enrolei rapidamente na toalha e abri.

- O que foi? – Perguntei docemente. Ninguém estragaria meu humor hoje.

Era o Adam. Ela parou alguns segundos. Olhou para mim e depois botou sua mão na minha testa.

- Você está doente? – Perguntou juntando as sobrancelhas. Sorri.

- Eu estou ótima, por quê? – Perguntei.

- Você acordou cedo e estava cantando, tem certeza que está tudo bem? – Perguntou ainda desconfiado.

- Está tudo bem Dan. – Tirei sua mão da minha testa molhada. – Agora, me deixa terminar meu banho, está bem? – Disse e fechei a porta, sem bater na cara dele dessa vez.

Terminei meu banho e vesti meu uniforme ridículo. Eu posso está de bom humor, mas sempre irei odiar esse uniforme. Botei uma meia de bolinhas coloridas e meu All star azul claro que combinava com o uniforme.

Estranhamente achei algumas maquiagens na minha mala. Peguei-as e fui tentar me maquiar.

Eu disse tentar.

- Como pode ser tão difícil passar esse lapisinho preto? – Disse quase enfiando a ponta no meu olho. No final até que ficou bonitinho. Passei um batom rosinha que também achei na mala.

Depois de pronta, peguei minha mochila e meu celular e desci. O Travis ainda estava no banho.

Sabe o que eu descobrir? Que passava um ônibus escolar. E tem mais ele para bem na frente do colégio.

Subi para o ônibus, que não tinha ninguém no momento. Até que paramos em um ponto antes do colégio.

E eu tive uma surpresa, muito, muito boa.

Subindo as escadinhas eu vi o Travis e o André atrás dele.

O Travis sorriu pra mim. Ele tava com o uniforme do colégio, mas com sua touca preta.

- Oi Kat, o que faz aqui? – Perguntou, se sentando do meu lado. O André olhou para mim por alguns segundos. Depois sorriu e falou mudo entre os lábios: -  Está linda. – Sorri.

O André se sentou em nossa frente e ficou ouvindo música pelo celular.

- Eu descobri que tem um ônibus que leva para a porta da escola... E aqui estou eu. – Sorri. Cara, alguém me ajuda a falar com ele? Por que ta difícil.

Ele riu. – Gostei dos olhos, ficou lindo. – Sorri e olhei para ele e depois para o chão. Cara eu amo o André. Tenho que me lembrar de agradecer ele depois.

- Então, vai para o show do Avenged Sevenfold? É daqui a alguns dias.

- Eu não gosto muito da banda, mas eu vou sim. – Disse e depois sorriu simpaticamente. Pontos a menos para o Trav. Ah qualé, o A7x é foda, não tem como não amar.

Chegamos ao colégio e adivinha? O Trav foi sentar comigo! Estava pulando internamente por conta disso.

O Adam quando chegou olhou feio para mim e se sentou ao lado dos meninos. Vi que a Carlie também em olhou feio. Eita preciso me benze antes de dormir.

Quando deu o intervalo o Trav foi falar com os meninos e eu fui até o banheiro, mas não sem antes ter que (infelizmente) encontrar Patty e companhia.

- O que vocês querem? – Perguntei impaciente.

- Kat, Kat, não pense que a gente não sacou qual é a sua... – Dizia Patty desafiadora, enquanto as outras tinham um sorriso de canto e a Carlie me encarava séria.

- Ah é Patty, você pode me dizer qual é a minha?

- Você gosta do Travis. – Espera, como ela sabe disso?

- Quem te disse isso?

- Um passarinho.

- Não sabia que passarinhos falavam, esqueceu de tomar o seu remédio hoje, Patty? – Ele me olhou com ódio.

- Você entendeu, vadia.

Ri. – Ah sério isso? EU que sou a vadia? – Ri de novo e ela me olhou com mais ódio.

- Olha aqui Kat, fique você sabendo que a Carlie está bem adiantada no plano de se vingar com você. O Travis já gosta dela. – Olhei espantada para Carlie. Então era isso. Era por isso que a Carlie estava com o Travis, por que queria se vingar de mim. Elas sabiam desde cedo que eu gostava dele. – Você vai ter que suportar ter um amor não correspondido. – Engoli seco. Eu tinha medo, muito medo. A Carlie ainda me encarava séria.

- Eu não acredito que você teve a coragem de fazer isso comigo. – Disse me dirigindo a Ela. Ela olhou para o chão, depois para Patty e depois para mim. Ela abriu a boca para falar alguma coisa e depois se fechou.

- Cala a Boca aberração. Sinta-se avisada. Esqueça logo o Travis, ele já tem dona. – Ela disse rindo e me empurrando no chão. Eu fiquei completamente sem reação.

Eu não acredito que ela pode fazer isso comigo. Tudo bem me largar, ficar com a Patty, mas isso? Já era demais não?

Corri para o banheiro e me tranquei na cabine. Fiquei encarando o teto. Desatei-me a chorar assim que essa cena se repetiu, senti o olhar frio de Carlie em cima de mim. Ela sempre foi minha amiga, por que isso agora?

- Ei carlie, está animada para ir para o ensino médio? – Perguntei enquanto devorava meu sorvete de chocolate.

- Tá de brincadeira? Vai ser demais Kat! Pessoas novas, colégio novo, tudo novo. – Disse sorrindo. A Carlie foi minha amiga desde sempre. Eu só tinha a ela, ninguém a mais ou a menos, só ela.

Depois que comemos o sorvete a carlie foi lá pra casa. Ficamos conversando até pegar no sono. No outro dia seria o primeiro dia de aula e tudo iria mudar.

- Vamos logo Kat, acorda! – Disse Carlie me balançando incansavelmente para eu levantar da cama.

- Só mais cinco minutinhos.

- Não KATRINA, levanta! – Disse, ah ela não disse o meu novo. Levantei furiosa.

- CARLIE, quer morrer? – Perguntei lhe lançando um olhar assassino. Ela riu e falou:

- Você sempre levanta quando te chamo pelo nome. – Revirei os olhos. Nós arrumamos e meu pai levou a gente para o colégio.

Éramos novas lá e os uniformes era horríveis, mas não ligamos.

Assistimos às aulas e no intervalo um grupo de meninas veio falar com a gente.

- Hey novatas!

- Oi. – Respondemos em coro.

- Então, que tal se juntarem ao nosso grupo? – Perguntou uma menina loira que parecia bem simpática.

- Claro. – Sorrimos animadas. Mal era o primeiro dia e já tínhamos feito novas amizades, nada podia ser melhor.

Até que os dias foram passando e como sempre ocorreu na minha vida, eu fui deixada como segunda opção.

- Kat, você fica aqui ok? É que você com essas mechas no cabelo e com o seu jeito não vai pegar bem você andar com a gente. – Disse Patty enquanto eu estava na sala. Então a Carlie sem olhar para mim se juntou a elas e foi se divertir no intervalo.

Desde daquele dia eu mal falo com ela. Ela não me deu explicações, nem nada. Só desapareceu da minha vida como qualquer um. Eu almoçava sozinha, ninguém queria se sentar comigo. Até que se passaram o primeiro ano.

Eu ainda tinha esperanças da Carlie voltar a falar comigo. Na verdade, até hoje eu tenho. Ela foi a minha única amiga.

No segundo ano, eu tinha mudado completamente. Eu rejeitava o amor, o afeto, o carinho de todas as formas. Fui me tornando fria, grossa e totalmente sozinha.

Até que conheci o André e o Felipe. Eles sempre me aceitaram pelo meu jeito e desde daquele dia de quarta feira onde eu joguei minha maça na cabeça do Felipe e bati no André eu nunca mais me separei deles.

Ouvi o sinal do final do intervalo tocar. Levantei-me e sequei as lágrimas. Eu não ia deixar aquele grupo de vadias me machucarem outra vez. Eu vou contar tudo para o Travis.

É agora ou nunca.