Assim como ontem, meu celular despertou me fazendo dar um pulo da cama. Isso foi o necessário para que eu chegasse na escola e percebesse que não estava atrasada. Vi minhas amigas e inclusive Adam, que estava de férias em São Paulo.

Bateu o sinal e eu tive que subir, enquanto meus amigos entravam nas turmas de 3° ano, eu subia para voltar ao 2° ano.

Entrei na sala, joguei minha mochila na mesa e quando sai de novo na porta, dei de cara com Lucas. Ele era tão perfeito. Eu costumava dizer que eu suspirava por ele. Mas, digamos que é quase isso. Ele era fofo e bem engraçado. Minhas amigas até ficavam me zuando por causa dele. —Bom dia. -Ele veio e me abraçou. -No começo desse ano, ele aprendeu que devemos comprimentar os amigos dos nossos amigos também. E agora, ele não quer outra coisa, á não ser abraçar a pessoa e dizer "bom dia". Só que dessa vez, foi um pouco diferente. Ele me abraçou e beijou os dois lados no meu rosto, e fez um carinho em meu ombro com seus dedos macios. -Será que ele fez de propósito?

Eu pensava que ele podería gostar de mim, porque a gente passou um ano trocando olhares, e no final, é que fomos falando umas palavras. Bem, eu acho que gostava dele, só queria que ele fosse logo me chamar pra sentar junto dele, ou ir embora juntos, já que o ponto do ônibus que eu pego, fica logo atrás do dele.

—Bom dia! -Sorri enquanto ele me apertava. Logo nosso lindo e não romantico bom dia, foi estragado quando outras alunas da nossa sala chegaram. Ele entrou e eu fiquei do lado de fora esperando o Johnny chegar. O professor apareceu e me colocou para dentro da sala.

"Ele não vem mais", eu pensei. Entrei e sentei-me na primeira mesa ao lado da porta. Pelo ao menos ali, dava pra se ver as pessoas que passavam, e isso era quase uma distração pra mim.

Tudo ia bem, até o professor de geografia interromper a minha leitura de "Garotas de Vidro", e pedir para que eu tirasse o fone do ouvido, guardasse o livro e o celular, e que só assim ele conseguiria dar continuidade á aula dele.

Eu odiava ser o centro das atenções, e era por isso que eu sempre ficava na minha. Ainda mais quando a turma era nova e tinha pessoas que eu gostasse. A aula dele acabou e eu resolvi esperar pelo próximo professor do lado de fora da porta, ali mesmo no corredor. Até que abriram a porta, olhei para o lado e lá estava ela. A loira de ontem. A que chegou atrasada. Meu coração disparou, e eu me senti mal. Não gostava daquela sensação estranha. Ela olhou pra mim e eu voltei minha atenção para o celular. Uma outra menina loira saiu da sala ao lado e foi correndo na direção de Juliana.

—Viada. Que saudades de você! -Disse a Juliana ao abraçar a outra loira. —Eu também estou com saudades, Ju. -Disse a loirinha. De repente, elas começaram a se beijar, ali, do meu lado. Era como se não se importassem nem comigo, e nem com a camera que filmava o corredor. Juliana esbarrou em mim, e logo parou de beijar a menina. —Desculpa colega. -Quando ela se dirigiu á mim, eu pude finalmente olhar em seus olhos, vê-la direito. Ela tinha um sorriso lindo, até mais, que o sorriso do meu Lucas. Os olhos pareciam vidro, de tão perfeitos. E o cabelo? Ah, o cabelo. Era um loiro mesclado, com luzes. Ela tinha um piercing no nariz. Não reparei isso ontem.

Elas continuaram se beijando comigo ali, e eu não saí do local. Depois que terminaram suas trocas de afeto, a loirinha desceu junto com a turma dela. Juliana estava toda boba, como se estivesse com saudades daquela menina. Lancei-lhe um olhar sem nenhuma intenção, e ela me perguntou o que eu estava ouvindo. —Bem, é, nada. Na verdade. Eu tava, mas não.. -Eu não entendi muito bem o por que da minha dificuldade em falar. Estava ficando nervosa. Era como se eu tivesse sido beijada e todos á minha volta, estivessem olhando.  Mas ela apenas riu.
Por que ela riu? Por que eu falei com ela se eu não fui com a cara dela?

Já tinham me falado dessa garota. Ela não era uma pessoa confiável e que só dava problema aos professores.

Voltei pra sala pra assistir aos tempos de Educação Física. Eu não conseguia prestar atenção na aula, porque algo me travava. Alguma coisa inundava meu cérebro e me colocava em outros pensamentos. Mas eu não sabia quais eram eles. Por fim, terminou a aula e eu só queria ir pra casa, aborrecida porque, Lucas não sentou comigo como ontem.

Á caminho para o ponto, ouvi alguém me chamar, e era Lucas. Se eu pudesse, desmaiava só pra ele me pegar no colo.

—Oi. Vai pra casa? —Sim. -Sorri tímida. —Hum. O que achou da aula de hoje? -Ele perguntou. Eu queria poder reponder "bem, você me deixou sozinha, então não foi tão legal assim. Quer dizer, não foi legal" , mas o máximo que eu consegui dizer foi. —Ah, um tédio. —Que saco heim. -Eu adorava olhar pra ele quando estava falando. Eu suspirava com a covinha que ele tinha. —Então, você vem amanhã? -Perguntei. —Sim.

Atravessamos a rua, e olhei para o relógio. Ainda eram 10hrs da manhã. Já que não tinha nada pra fazer em casa, resolvi dar uma volta de ônibus. Passei por uma rua que dava acesso á uma praça de skate e vi a tal da Juliana ali, sozinha. O ônibus parou, pois tinha um carro mal estacionado, então o motorista teve que ficar buzinando, até que a dona do veículo, o viesse tirar do caminho. Eu pensava em várias coisas, menos naquela cena de hoje no corredor.

Ela andava bem até. Eu nunca tinha visto uma garota em cima de um skate. Então, qualquer coisa que ela fizesse, até mesmo que ela não soubesse, eu iria achar o máximo. Fiquei a observando, e só fui perceber o que eu estava fazendo, quando ela ascenou pra mim. O ônibus no exato momento, continuou seu caminho. "Droga, será que ela me viu?"

Cheguei em casa e ninguém havia chegado ainda. Perfeito para mim.
Liguei o computador e entrei no msn pra conversar com Johnny, eu iria contar a ele, como foi meu dia na escola, já que ele não tinha aparecido por lá.

-AnnieMansoon ~~ Oii Jo. Por que não foi a aula hoje?

-Jojohnnyn ~~ Eu perdi a hora. O que teve de bom?

-AnnieMansoon ~~ Bem, nada. Foi um tédio sem você. Mas eu tenho que te contar uma coisa.

-Jojohnnyn ~~ Fala.

-AnnieMansoon ~~ Hoje eu vi a Juliana.

Jojohnnyn está digitando...
-Jojohnnyn ~~ Legal. Sempre vemos ela.

-AnnieMansoon ~~ Não Jo. Não dessa forma, na sala.
Jojohnnyn está digitando...
Jojohnnyn está digitando...

-Jojohnnyn ~~ Como então?

-AnnieMansoon ~~ Eu estava indo pra casa com o Lucas, mas resolvi passar o tempo em outro lugar. Peguei outro ônibus e ele parou em frente á uma praça de skate.

-AnnieMansoon ~~ Jo, ela tava lá! Andando de skate. Sozinha!

Jojohnnyn está digitando...
-Jojohnnyn ~~ Any, por que? Cara, sai dessa. Ela não presta. Ela não merece sua amizade.

-AnnieMansoon ~~ É, eu sei.

-Jojohnnyn ~~ Bem. Então, eu vou ter que sair.

-AnnieMansoon ~~ Tudo bem. Beijos.
Jojohnnyn acabou de se desconectar.

Entrei em um grupo de leitores, que me adicionaram, e vi que a autora do livro que eu gosto, estaria em um shopping um pouco longe. E eu tinha feito o Download o livro. Assim que minha mãe chegou em casa á noite, eu pedi á ela que me levasse no lançamento.

—Mãe, por favor. Eu preciso comprar meu livro pra levar, pra ela autografar. —Não, Annita! -Droga, odiava que ela me chamasse de Annita. —Mas mãe, não é caro. E é perto. -Insisti. —É onde e quanto? —É no Norte Shopping. E o livro custa vinte reais. -Menti sobre o preço. —E que livro é esse? -Minha mãe não ligava por eu ler livros, ver filmes e etc, com lesbianismo, bissexualismo e homossexualismo. Em fim, ela não ligava, desde que eu não transformasse as histórias, reais sendo eu, a personagem. —"Depois daquele beijo". É da Rafaella Vieira. -Implorei mais uma vez, quase chorando. —Quando que é? —Sexta-feira, oito horas da noite. —Nem sonhe. Não vai dar pra eu te levar. —Mas mãe, eu posso ir com o Johhny! —Nem pensar. Duas crianças no na rua uma hora dessa sozinhas? Você só pode estar maluca. —Mãe, nós não somos crianças. E além disso, a mãe dele também vai.

Se Johnny soubesse o que eu acabei de fazer, ele me mataria.

—Está bem. Já que ela vai, então você pode ir. -Eu fiz mais que uma cena dramatica ali. Eu fiz um filme completo. Chorei forçado e fiquei sorrindo por trás de seu ombro, enquanto á abraçava. —Te amo mãe.